1 NAYOLE AKELLO
Olho para a janela pensativa, não sei de que forma irei convencer Simba da ideia de aceitar gravar o comercial, isso seria muito bom para nós dois principalmente na questão financeira. Simba e eu somos de Namíbia, dois miúdos imaturos que queriam mudar de vida, foi isso que os pais deles disseram quando ele contou sobre a viagem. Embora dona Luciana e senhor João fossem uns bons pais para ele, nunca aceitaram a ideia do filho mudar de país ainda mais Europeu. Quando Simba e eu nos conhecemos éramos adolescentes ele estava nos seus dezassete anos e eu quinze. Fomos grandes amigos antes de tudo isso se transformar em um romance, estudavamos na mesma escola, ele é vem de uma boa família com uma condição financeira estável e eu bem... Eu era só uma rapariga que fazia de tudo para sobreviver. Hoje com vinte e quatro anos e vinte e seis nos tornamos noivos e realizamos o sonho de vir para cá. Os anos não tem sido fácil, ele trabalha em dois empregos para nos sustentar, já dialoguei diversas vezes sobre eu também trabalhar, porém sem sucesso. Nisso acredito que ele é seu pai. Tem uns dias desde aquela discussão feia, ainda não sei como agir diante dele, fico com medo sempre que tento tocar no assunto, mas acabo por recuar, pois tenho medo dele ter a mesma reação de dias atrás. Eu sei que ele nunca faria nada para me machucar, afinal o entendia, os dias tem sido estressantes, também não comentei isso com Manuela, porque sei o que ela diria. Suspiro e respiro fundo, olhos para o espelho colada a porta do guarda-fato, tomo um susto com a minha aparência. Meus cabelos pareciam um ninho de avestruz, sou negra, de altura mediana... daria um e sessenta— talvez, meus cabelos são lizados, gostaria de voltar aos meus crespos, entretanto Simba gosta dele desse jeito, não havia muito o que fazer, então acabei por ceder isso também porque é muito mais fácil cuidar dele assim. Se não fosse por Manuela que smepre me dizia que sou bonita obviamente não aceitaria fazer tal comercial, meus olhos são castanhos amendoim enquanto que minha amiga era loira de olhos azuis igual o céu. Ela sim é extremamente bonita e tem um corpo de dar inveja, não que o meu também não fosse, pelo contrário sempre me senti desconfortável por chamar tanta atenção por onde passava, odiava o facto de sempre me olharem como se fosse um pedaço de carne pronto a ser devoravado. Isso sempre foi a minha maior insegurança não só mas também o facto de ser negra bem negra, assim muito retina. Meu noivo também não fica fora,porem ele é um pouco mas claro que eu, isso de facto nunca me importou porque ele é muito bonito, alto, corpo atlético forte não muito forte, cabelos rasgando ele é o tipo de homem que qualquer mulher se apaixonaria e eu sei bem disso porque sempre que saimos vejo como as mulheres sueca olham para ele. Isso me deixa com ciúmes sim e de alguma forma insegura também, no entanto não há muito o que fazer. Saio do meus devaneios com o alarme das sete, tocando, olho para o telemóvel por cima da mesinha sem muita animação, o dia será o mesmo. —Terça feira, ódio terça feira e todos os dias da semana. — Digo, me levando na força do ódio, preciso arrumar a casa e preparar alguma coisa para comer. Saio do quarto e vou directamente para casa de banho. Faço a minha higiene matinal logo depois vou a cozinha fazer um meu pequeno almoço. Estou sozinha então não precisa de arrumar a casa tão cedo. Faço panqueca de canelas sigo o processo todo e depois disso vou me sentar em frente a pequena televisão. A casa não é tão grande assim. Dois quartos, uma cozinha e um banheiro, ela é bem confortável o único problema é quando é inverno fica muito frio, ainda esta um pouco frio. Estamos no verão. Aqui o verão é uma época muito aguardada e apreciada pela população, devido às características únicas que o acompanham. Alguns aspectos distintivos do verão sueco incluem: Noites claras: Devido à localização geográfica do país, especialmente nas regiões mais ao norte, o fenômeno do sol da meia-noite ocorre durante o verão, resultando em noites que permanecem claras e iluminadas pelo sol durante grande parte da noite. Durante o verão, a Suécia é palco de inúmeros festivais e celebrações ao ar livre, incluindo festivais de música, eventos culturais e comemorações tradicionais, aproveitando as longas horas de luz do dia. É a época ideal para explorar a deslumbrante natureza sueca, com suas florestas verdes, lagos cristalinos e arquipélagos deslumbrantes. Muitos suecos aproveitam para realizar atividades ao ar livre, como caminhadas, passeios de barco e acampamentos. Férias prolongadas assim como em muitos países europeus, o verão na Suécia é frequentemente associado a férias prolongadas, com muitas pessoas aproveitando para viajar e relaxar durante esse período. É importante ressaltar que as características do verão na Suécia podem variar de acordo com a região do país, sendo mais pronunciadas no norte em comparação com o sul. Pego meu telemóvel e vejo uma chamada perdida da minha amiga Manuel, ela sempre me dá um jeito de alegrar o meu dia, afinal é a única pessoa que eu posso contar nesse país. Ligo de volta e ela atende animada do outro lado da linha. — Oi amiga! Finalmente atendeu o telefone, estava preocupada. Vamos sair hoje à noite para comemorar o sucesso da minha folga? Fico surpresa com a notícia, o comercial foi um sucesso? Como assim? Fico ainda mais confusa e curiosa com a situação. — Folga? Que folga? Não estou entendendo nada.— Manuela, ri e explica que a empresa finalmente que seu chefe aceitou a proposta de dela- la folga as terça feira . Estou incrédula com a notícia, não consigo acreditar em suas parábolas, ou ela é uma ótima manipuladora ou ela esta dando para o tal chefe dele. — É sério? — É claro que é sério! Achas que eu ia brincar com isso? — Perguntou ela, e podia imaginar revirar os olhos de tédio. — Você não tem que ir trabalhar amanhã? — também não! — Ue porquê ? — Interrogo, agora preocupada. Porque isso não deve ser normal. — As folgas não deveriam ser só apenas um dia? —Sim ... A verdade é que eu pede demissão! — O quê? Como assim? — Sim, sim e porquê esta tão supresa? já devia ter o conhecimento que um ou outro eu teria feito isso. — Constatou ela. — Bem... Eu.. So achei que isso não iria ser tão cedo, mas assim você esta certa disso? — Cloro que sim, e por outra se arruma e ne encontre no café perto do parque hoje o dia é nosso amiga. – Diz ela cantarolando as últimas palavras, sorrir com o seu jeito muito alegre. Desligo o telefone com um sorriso no rosto, animada pelo menos não ficarei trancada aqui o dia todo. Começo a arrumar a casa com um ânimo diferente, pensando em como contar ao Simba sobre o sucesso do comercial. À noite, saio com a Manuela para comemorar em um restaurante elegante. Tomamos vinho, comemos bem e rimos muito. Manuel sempre tem esse poder de me fazer esquecer dos problemas e aproveitar o momento. Quando chego em casa, já tarde da noite, encontro Simba sentado no sofá, com uma expressão fechada no rosto. Fico nervosa, pois não sei como ele irá reagir à notícia do comercial. — Oi amor, como foi o seu dia? — pergunto, tentando quebrar o clima tenso no ar. Ele não responde de imediato, apenas me encara com um olhar penetrante. Sinto um arrepio na espinha, pois sei que algo está errado. — Simba, tem algo errado? Aconteceu alguma coisa? — pergunto, com medo da resposta. Ele se levanta do sofá e começa a andar de um lado para o outro, como se estivesse pensando em algo. Finalmente, ele se vira para mim e desabafa. — Onde você estava? — Indagou, enquanto passeava seus olhos em mim. — ONDE VOCÊ FOI VESTIDA ASSIM? — Senti o meu sangue gelar. Ele esta muito furioso, e não sei o que fazer. Eu olho para os lados numa tentativa falha de não ver seus olhos vermelho de raiva. — Eu.. Eu...— Meu rosto virou com o impacto do tapa. Fiquei completamente em choque e desacreditada no que havia acontecido. Levantei a cabeça e olhei para ele. Meus olhos estava marejados . Simba ao ver minha expressão de tristeza e medo voltou a sim e tentou me segurar no entanto sai correndo para o quarto.2 NAYOLE Não falei com Simba desde o ocorrido, estava completamente embriagada de medo e de tristeza, ele tentou falar comigo durante a noite, porém eu não deixei. Fiquei decepcionada e magoada, nunca pensei que ele fosse levantar sua mão para mim um dia. As lágrimas escorriam do meu rosto ao lembrar da cena. Eu sei que devia ter chegado cedo ontem, porém isso não justificava a agressão física. Estou consciente de que ele talvez não tenha feito por mal, entretanto não posso tolerar isso. No quarto de banho, olho a minha imagem, a marca do tapa ainda estava lá teria que fazer muito esforço para esconder isso. Suspirei fundo, só queria que isso tudo fosse um sonho, um sonho ruim que a qualquer momento poderia acordar. Sai do meus decênios com uma batida fraca na porta, e em seguida a voz de Simba chamando por mim.— Amor. Sou eu! Por favor vamos conversar. — Não respondi, nada, não queria vê-lo, estou com medo e não sei se ele vai voltar a ser agressivo comigo. — P
3Atenção Atenção:capítulo contém informação sobre agressão física. O vapor ainda saía debaixo da porta do quarto de banho, criando uma névoa que parecia carregar o peso das nossas discussões passadas. Eu me aproximei, a mão trêmula estendida em direção à maçaneta. Havia uma hesitação em meus movimentos, um medo que me fazia questionar se eu realmente tinha o direito de exigir mais, de querer mais.- Simba. - comecei, minha voz vacilante, mas mais firme a cada palavra. - nós precisamos conversar.Ele emergiu, envolto em uma toalha, com gotículas de água ainda percorrendo seu torso definido. Seu olhar era de confusão, mas logo se transformou em irritação quando percebeu o tom da minha voz.- O que agora? - ele perguntou, a impaciência evidente em cada sílaba. Eu engoli em seco, sentindo o clima ficar pesada. - Não podemos continuar assim. Eu me sinto sufocada, controlada. Eu preciso de espaço, de liberdade. Preciso respirar sem sentir que estou te desapontando- Simba riu, um som que
4 NAYOLLE AKELLO O cheiro de pão fresco era convidativo, mas eu não sentia vontade nenhuma de comer. A mesa estava posta com um café fumegante, pães quentinhos e frutas coloridas, mas tudo aquilo parecia uma cena pintada, um cenário de filme que eu não fazia parte. Manuela, com sua energia contagiante e jeito protetor, tentou mais uma vez me convencer a comer.— Ei! — chamou ela, com um olhar determinado, como se eu pudesse ouvir suas palavras. — Você precisa comer, aquele trapo de homem não merece seu sofrimento, amiga.Apenas balancei a cabeça, reprimi a sensação de que a resposta não era uma resistência, mas sim a conclusão da minha alma, silenciada por muito tempo. O peso do meu passado ainda pairava sobre mim, feito uma nuvem escura pronta para despencar.Manuela continuava ali, alinhando os pratos na mesa, seus movimentos eram rápidos e decididos, como se estivesse em um combate contra a minha dor. O jeito que ela ajeitava os talheres, com pequenas batidinhas nas bordas, pareci
5Nayole AKELLO Três dias que se sucederam aoacontecimento do meu rompimento com Simba, os dias têm sido bons para mim, Manuela tem feito de tudo para me ajudar a não entrar numa depressão social. Agora cá estou em frente a uma enorme casa que fica no meio do nada para um entrevista. É isso minha vida é uma maravilha. Quando soube dessa entrevista no jornal lia não perdi tempo e liguei rapidamente para eles. Sabia que um dia o hábito de ler jornais iria me ser útil. Quem não ficou muito feliz com isso foi Manu, pois seu medo era de que encontrasse Simba no caminho e me fizesse algum, entretanto não podia viver a minha vida toda com medo dele. Algum dia teria que sair de casa. Enquanto eu aguardava que os grandes portões se abrissem e eu entrasse naquela casa imponente, não pude deixar de sentir um misto de ansiedade e curiosidade e uma grande sensação tomou conta de mim, é como se já estivesse aqui antes. O lugar, cercado por árvores altas que sussurravam com o vento, tinha um ar
NAYOLLE AKELLO Estou com as malas abertas, em meio a roupas dobradas e objetos pessoais, lutando contra a sensação de que estou indo embora de algo que nunca realmente deixei. Manuela está atrás de mim, os olhos arregalados como os de um gatinho prestes a perder seu tutor. Sua preocupação é palpável, mas não vou deixar que a dúvida dela atrapalhe meu novo começo.— Você tem certeza disso? Olhe, acho que deveria pensar bem sobre esse emprego- Evidenciou seu ponto de vista, a voz trêmula com uma mistura de felicidade e apreensão.—Eu tenho, Manu. Além disso, vai ser bom finalmente colocar em prática tudo o que aprendi na escola. -- respondo, enquanto coloco um vestido azul na mala, seu tom vibrante contrastando com o marasmo da nossa sala.—Eu sei, mas…— Ela hesita, levando a mão ao quadril, uma expressão de desconfiança se formando em seu rosto. —Acho que é muito estranho, sabe? O lugar é afastado da cidade e eu nunca conheci ninguém que vive lá.—Pois é, mas você não pode achar que,
Nayole AKELLO — Então, já viu o seu chefe? Ele é bonito? — Tagarelou Manu na outra linha, sua voz soando como uma música distante e inquieta.— Não vele esconder nada em? — Vou esconder o que? Aqui não tem nada demais a não ser só um pouco assustador. — Respondi, subindo as escadas tortuosas daquela clínica. Cada passo parecia ressoar com a expectativa e o medo do desconhecido. O ar estava carregado, como se as paredes absorvessem os sussurros dos pacientes e deixassem escapar uma energia inquietante.Assim que cheguei ao segundo andar, o eco dos meus pensamentos foi quebrado por um som distante. Era uma cadeira de rodas girando, a madeira rangendo sob o peso de algo que não conseguia ver. A conexão com Manu sempre me trouxe conforto, mas, naquele momento, suas perguntas apenas aumentavam minha ansiedade.— Nayole, você está ainda aí? — A voz de Manu havia mudado, a preocupação crescia.— Estou. Só... um pouco tensa. Aqui não é o que eu esperava. Estou constantemente a ter sensações
NAYOLE AKELLO Respirei fundo, essa era a centésima vez que fazia isso. Depois de ontem, fiquei muito pensativa sobre continuar ou não com esse trabalho. Recordo-me do porquê da escolha dessa profissão; mesmo sem nunca ter tido a oportunidade de exercer como profissional, a paixão pelo que faço ainda queimava em mim. Mas a ideia de largar tudo e voltar para a Namíbia seduzia, como um canto distante que não sabia se realmente existia. Olhei em volta, para as paredes opulentas da mansão e logo percebi: esse lugar não era um lar, mas uma prisão disfarçada.Com um uniforme que refletia a formalidade exigida, pus-me a caminho do quarto dele, que eu carinhosamente chamava de “quarto das sombras”. Os corredores eram longos e afastados, com uma luz tênue que criava mais silêncio do que conforto. Na verdade, eu sentia que o próprio ar estava carregado com um tipo de treva que se infiltrou em mim a cada passo. Era como se a mansão tivesse a capacidade de respirar seus próprios segredos obscuros
NAYOLE AKELLO Sento-me na cama, os lençois ainda quentes ao meu redor, mas meu corpo parece um frágil palácio de emoções destroçadas. A luz da lua consegue atravessar as cortinas, derretendo-se em um tom suave e quase dolorido, e eu não consigo escapar da presença dele em meus pensamentos. Apollo Mthunzi. Só o nome me provoca sensações inusitadas, como se mil borboletas dançarem em meu estômago.Fecho os olhos, tentando, em vão, afastar seus ecos da minha mente. Já não sei como viver assim, constantemente assombrada por um desejo que mistura conforto e desespero. Ouvindo o tique-taque do relógio, me vejo proibida de avançar, de recuar, como se algo invisível mantivesse meu corpo na borda do precipício.Olhei para o telemóvel e bufo chateada, ainda madruga. Levanto-me da cama, a superfície macia do colchão se desfazendo sob mim, e caminho hesitante até a porta. Ao abri-la, uma brisa fresca parece acariciar minha pele, mas não me engano, é também uma lufada de ansiedade. Jogo a cabe