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Atenção Atenção:capítulo contém informação sobre agressão física. O vapor ainda saía debaixo da porta do quarto de banho, criando uma névoa que parecia carregar o peso das nossas discussões passadas. Eu me aproximei, a mão trêmula estendida em direção à maçaneta. Havia uma hesitação em meus movimentos, um medo que me fazia questionar se eu realmente tinha o direito de exigir mais, de querer mais. - Simba. - comecei, minha voz vacilante, mas mais firme a cada palavra. - nós precisamos conversar. Ele emergiu, envolto em uma toalha, com gotículas de água ainda percorrendo seu torso definido. Seu olhar era de confusão, mas logo se transformou em irritação quando percebeu o tom da minha voz. - O que agora? - ele perguntou, a impaciência evidente em cada sílaba. Eu engoli em seco, sentindo o clima ficar pesada. - Não podemos continuar assim. Eu me sinto sufocada, controlada. Eu preciso de espaço, de liberdade. Preciso respirar sem sentir que estou te desapontando- Simba riu, um som que não alcançava seus olhos. - Você está sendo dramática. Eu faço tudo por você, e ainda assim, você quer mais? E o que aconteceu no restaurante foi culpa sua. - Eu balancei a cabeça, tentando manter a compostura. - Não é sobre o que você faz por mim, é sobre como você me faz sentir. Como se eu fosse ... fosse sua propriedade. Ele deu um passo em minha direção, e eu recuei instintivamente. - O que você quer dizer com isso? - Indagou, sua voz baixa e ameaçadora. - Calme... olha só para você. - Contínuo, as lágrimas já escorrendo pelo rosto . - Você não é o homem que eu me apaixonei. - talvez seja hora de você aprender o seu lugar. - Foi então que eu percebi que não havia mais espaço para diálogo. A expressão no rosto dele era uma mistura de desdém e fúria, e eu sabia que qualquer palavra adicional poderia ser o gatilho para algo que eu temia. Sua mão se fechou em um punho e minha respiração acelerou. Olhei ao redor, buscando alguma saída, mas ali estava apenas eu e ele, presos naquele cenário opressivo. O ar parecia pesado, quase tangível, como se o medo estivesse sufocando cada canto da sala. - Você está me assustando, por favor, pare. - Minha voz tremia, mas ainda assim tentei manter a firmeza. Ele se aproximou mais, sua presença imponente me intimidando. Seu rosto estava contorcido de raiva, os olhos fixos nos meus, sem nenhum vestígio do homem gentil que eu costumava conhecer. - Você está me traindo, né vadia sem vergonha? É por isso que veio com essa conversa de espaço e tempo e bla e bla. - Berrou ele, encurralada-me na cama e eu caí sentada. Sem aviso, sua mão se fechou em torno do meu braço, apertando com tanta força que a dor cortou meu peito. Gritei, tentando soltar-me, mas suas outras mãos me seguraram com força. - Quem é? - Rosnou, fazendo-me virar o rosto para o lado. - Chega de joguinhos, você sabe o que eu quero. - Sua voz era um sussurro ameaçador, e eu podia sentir o cheiro de álcool em sua respiração. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, misturando-se com a dor e o medo que tomavam conta de mim. Eu estava completamente vulnerável, à mercê daquele monstro que se escondia por trás da máscara do homem que eu pensava amar. - Por favor, me solte. Eu não fiz nada. - Minha voz era um sussurro rouco, quase inaudível. - É aquele homem do restaurante né?- Ele riu, um som frio e cruel que me arrepiou até o último fio de cabelo. Sua mão subiu até meu pescoço, apertando com tanta força que minhas pernas fraquejaram. Eu não conseguia respirar, meus olhos arregalados de puro terror. - Você vai fazer o que eu quero, do jeito que eu quero. Você me pertence. - Sua voz era um rosnado baixo, seus olhos lívidos de puro ódio. - Eu nunca. Entenda isso muito bem, Eu nunca vou deixar você ir NUNCA. - Eu estava presa naquele pesadelo, à mercê daquele monstro que eu não conhecia. E quando a escuridão finalmente tomou conta de mim, eu só pude rezar para que aquela tortura acabasse logo, mesmo que fosse da pior maneira possível. Sem pensar duas vezes acertei seu amigo, me virei e corri em direção ao quarto de banho. ouvindo os passos pesados dele atrás de mim. Meu coração batia contra o peito, cada batida ecoando o terror que eu sentia. Eu alcancei o quarto de banho, minha única rota de fuga, e tranquei a porta atrás de mim. Tremendo, eu peguei meu telemóvel e disquei o número de Manuela, minha melhor amiga, a única pessoa em quem eu sabia que podia confiar. - Manu, por favor, me ajude. - eu sussurrei no telefone, enquanto recuperava o fôlego. Minha voz estava embargada pelo medo . - Do que você precisa? - ela respondeu, sua voz imediatamente alerta. - Eu preciso sair daqui. Simba... ele está fora de controle. Ele vai me matar Manu. - Estou a caminho. - ela disse, e eu podia ouvir o som das chaves e a determinação em sua voz. - Aguente firme. Eu me encolhi no canto, ouvindo os socos e pontapés na porta, cada impacto um lembrete de que eu estava encurralada. Meu coração batia descompassado, e eu mal conseguia respirar. A voz dele, carregada de raiva e violência, ecoava pelo pequeno espaço, fazendo-me tremer. - Abra essa merda, Nayole! - berrou ele, dando socos na porta. - Ou você sai ou arrombo essa porra e arrasto você daí! Eu não respondi, apenas abracei meus joelhos, tentando me tornar invisível. Sabia que, se abrisse a porta, seria o fim. Ele já havia me machucado antes, mas algo me dizia que, desta vez, seria pior. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, e eu sussurrava uma prece silenciosa por ajuda. De repente, ouvi outro som, algo que não se encaixava naquele cenário de terror. Era a campainha. Ele parou os socos por um instante, e eu ouvi passos se afastando. Arrisquei um olhar pela fresta da porta e vi a sombra de uma pessoa do lado de fora. Meu coração se encheu de esperança. - Manuela - Sussurrei para mim mesmo. - Quem é? - a voz dele estava impaciente e suspeita. - Sou eu, Manuela. Preciso falar com a Nayole. - A voz da minha amiga era firme, mas eu podia detectar um tremor que denunciava seu medo. - Ela não quer falar com ninguém. Vaza daqui! - Ele estava prestes a se virar quando a porta se abriu bruscamente. Manuela entrou com um taco de beisebol em mãos, sua expressão era de pura determinação. Ele riu com desdém, mas antes que pudesse reagir, ela o atingiu com um golpe certeiro na cabeça. Ele caiu no chão, inconsciente. - Nayole, vamos! - gritou Manuela, correndo até mim. Ela me ajudou a levantar e me puxou em direção à saída. Eu estava em choque, ainda processando o que havia acontecido. Manuela me arrastou para fora da casa e corremos até o carro. Ela destravou as portas e entramos rapidamente, saindo dali a toda velocidade. - Você está bem? - perguntou Manuela, olhando para mim com preocupação enquanto dirigia. - Eu... eu não sei. - Minha voz era um sussurro quebrado. - Ele ia... - Eu sei, eu sei. - Manuela me interrompeu, sua voz suave, mas firme. - Mas você está segura agora. Vamos para a minha casa. Você pode ficar lá o tempo que precisar. Chegamos à casa dela, e ela me conduziu para dentro, me levando direto para o sofá. Sentei-me, ainda tremendo, enquanto ela buscava um cobertor e um copo de água. - Obrigada, Manuela. Eu não sei o que teria feito sem você. - As palavras saíram entrecortadas pelo choro. - Shh, não precisa agradecer. - Ela me abraçou, e eu me permiti chorar, liberando todo o medo e a tensão acumulados. - Vamos cuidar de você agora. Tudo vai ficar bem. Manuela ficou comigo a noite toda, conversando e me assegurando de que eu não estava sozinha. Ela me ajudou a ver que eu não precisava me encolher por medo de Simba ou qualquer outro homem. Eu era forte, e com amigos como Manuela, eu nunca estaria sozinha.4 NAYOLLE AKELLO O cheiro de pão fresco era convidativo, mas eu não sentia vontade nenhuma de comer. A mesa estava posta com um café fumegante, pães quentinhos e frutas coloridas, mas tudo aquilo parecia uma cena pintada, um cenário de filme que eu não fazia parte. Manuela, com sua energia contagiante e jeito protetor, tentou mais uma vez me convencer a comer.— Ei! — chamou ela, com um olhar determinado, como se eu pudesse ouvir suas palavras. — Você precisa comer, aquele trapo de homem não merece seu sofrimento, amiga.Apenas balancei a cabeça, reprimi a sensação de que a resposta não era uma resistência, mas sim a conclusão da minha alma, silenciada por muito tempo. O peso do meu passado ainda pairava sobre mim, feito uma nuvem escura pronta para despencar.Manuela continuava ali, alinhando os pratos na mesa, seus movimentos eram rápidos e decididos, como se estivesse em um combate contra a minha dor. O jeito que ela ajeitava os talheres, com pequenas batidinhas nas bordas, pareci
5Nayole AKELLO Três dias que se sucederam aoacontecimento do meu rompimento com Simba, os dias têm sido bons para mim, Manuela tem feito de tudo para me ajudar a não entrar numa depressão social. Agora cá estou em frente a uma enorme casa que fica no meio do nada para um entrevista. É isso minha vida é uma maravilha. Quando soube dessa entrevista no jornal lia não perdi tempo e liguei rapidamente para eles. Sabia que um dia o hábito de ler jornais iria me ser útil. Quem não ficou muito feliz com isso foi Manu, pois seu medo era de que encontrasse Simba no caminho e me fizesse algum, entretanto não podia viver a minha vida toda com medo dele. Algum dia teria que sair de casa. Enquanto eu aguardava que os grandes portões se abrissem e eu entrasse naquela casa imponente, não pude deixar de sentir um misto de ansiedade e curiosidade e uma grande sensação tomou conta de mim, é como se já estivesse aqui antes. O lugar, cercado por árvores altas que sussurravam com o vento, tinha um ar
NAYOLLE AKELLO Estou com as malas abertas, em meio a roupas dobradas e objetos pessoais, lutando contra a sensação de que estou indo embora de algo que nunca realmente deixei. Manuela está atrás de mim, os olhos arregalados como os de um gatinho prestes a perder seu tutor. Sua preocupação é palpável, mas não vou deixar que a dúvida dela atrapalhe meu novo começo.— Você tem certeza disso? Olhe, acho que deveria pensar bem sobre esse emprego- Evidenciou seu ponto de vista, a voz trêmula com uma mistura de felicidade e apreensão.—Eu tenho, Manu. Além disso, vai ser bom finalmente colocar em prática tudo o que aprendi na escola. -- respondo, enquanto coloco um vestido azul na mala, seu tom vibrante contrastando com o marasmo da nossa sala.—Eu sei, mas…— Ela hesita, levando a mão ao quadril, uma expressão de desconfiança se formando em seu rosto. —Acho que é muito estranho, sabe? O lugar é afastado da cidade e eu nunca conheci ninguém que vive lá.—Pois é, mas você não pode achar que,
Nayole AKELLO — Então, já viu o seu chefe? Ele é bonito? — Tagarelou Manu na outra linha, sua voz soando como uma música distante e inquieta.— Não vele esconder nada em? — Vou esconder o que? Aqui não tem nada demais a não ser só um pouco assustador. — Respondi, subindo as escadas tortuosas daquela clínica. Cada passo parecia ressoar com a expectativa e o medo do desconhecido. O ar estava carregado, como se as paredes absorvessem os sussurros dos pacientes e deixassem escapar uma energia inquietante.Assim que cheguei ao segundo andar, o eco dos meus pensamentos foi quebrado por um som distante. Era uma cadeira de rodas girando, a madeira rangendo sob o peso de algo que não conseguia ver. A conexão com Manu sempre me trouxe conforto, mas, naquele momento, suas perguntas apenas aumentavam minha ansiedade.— Nayole, você está ainda aí? — A voz de Manu havia mudado, a preocupação crescia.— Estou. Só... um pouco tensa. Aqui não é o que eu esperava. Estou constantemente a ter sensações
NAYOLE AKELLO Respirei fundo, essa era a centésima vez que fazia isso. Depois de ontem, fiquei muito pensativa sobre continuar ou não com esse trabalho. Recordo-me do porquê da escolha dessa profissão; mesmo sem nunca ter tido a oportunidade de exercer como profissional, a paixão pelo que faço ainda queimava em mim. Mas a ideia de largar tudo e voltar para a Namíbia seduzia, como um canto distante que não sabia se realmente existia. Olhei em volta, para as paredes opulentas da mansão e logo percebi: esse lugar não era um lar, mas uma prisão disfarçada.Com um uniforme que refletia a formalidade exigida, pus-me a caminho do quarto dele, que eu carinhosamente chamava de “quarto das sombras”. Os corredores eram longos e afastados, com uma luz tênue que criava mais silêncio do que conforto. Na verdade, eu sentia que o próprio ar estava carregado com um tipo de treva que se infiltrou em mim a cada passo. Era como se a mansão tivesse a capacidade de respirar seus próprios segredos obscuros
NAYOLE AKELLO Sento-me na cama, os lençois ainda quentes ao meu redor, mas meu corpo parece um frágil palácio de emoções destroçadas. A luz da lua consegue atravessar as cortinas, derretendo-se em um tom suave e quase dolorido, e eu não consigo escapar da presença dele em meus pensamentos. Apollo Mthunzi. Só o nome me provoca sensações inusitadas, como se mil borboletas dançarem em meu estômago.Fecho os olhos, tentando, em vão, afastar seus ecos da minha mente. Já não sei como viver assim, constantemente assombrada por um desejo que mistura conforto e desespero. Ouvindo o tique-taque do relógio, me vejo proibida de avançar, de recuar, como se algo invisível mantivesse meu corpo na borda do precipício.Olhei para o telemóvel e bufo chateada, ainda madruga. Levanto-me da cama, a superfície macia do colchão se desfazendo sob mim, e caminho hesitante até a porta. Ao abri-la, uma brisa fresca parece acariciar minha pele, mas não me engano, é também uma lufada de ansiedade. Jogo a cabe
NAYOLE AKELLO Olhei pela janela e a chuva caía com força, batendo nas vidraças com um ritmo quase hipnótico. Levantei-me da cama, sentindo cada movimento como se um peso invisível estivesse grudado em meus ombros. Após um breve momento de hesitação, decidi que precisava de algo para me reanimar e fui em direção à cozinha.Duas semanas se passaram desde que cheguei aqui e a sensação de que o tempo deslizava entre meus dedos, como areia numa praia deserta, tornou-se insuportável. O verão se despediu, dando lugar ao outono, e eu me encontrava em uma batalha interna, lutando para entender o que estava acontecendo dentro de mim.Os passos silenciosos pelo corredor pareciam ecoar em um vazio que só crescia. Cada batida do meu coração ressoava, e eu mal podia concentrar-me na tarefa simples de encher uma garrafa de água. Enquanto esperava a torneira encher, percebi que minha mente divagava, viajando até ele. Sua presença, sombria e cheia de enigmas, havia se infiltrado nos meus pensamentos,
00 NAYOLE AKELLOFalta menos de uma hora para a minha entrevista de emprego, que na verdade é um teste para um comercial. Estou muito ansiosa e nervosa, muitas emoções para um dia só. Simba, meu noivo saiu muito cedo antes mesmo eu despertar. Olho para o relógio na paredes amarela a direita e quase infarto. — Ai! Droga. Vou me atrasar. – Praguejo em mil idiomas, que não sei falar enquanto pego minha bolsa e saio a correr do apartamento do de Simba. Se não fosse pela insistência dele, provavelmente não estaria nesta situação. Simba não gostou muito da ideia quando apresentei para ele e tenho quase a certeza de que fez de propósito. Mas fazer o que? É assim que homens apaixonado agem na tem muito o que falar. Já na portaria, cumprimento o senhor Romeu, ele sorri para mim e faço o mesmo. O carro de Emanuela, esta estacionando um pouco distande da portaria do prédio. Ela bosina fazendo correr ate ela, entro no corro e olhos para ela que esta com o rosto tranco e uma so