— Não achei que você fosse ligar — exclamou a loira, surpresa. — Eu poderia jurar que você ia desistir. — Sabia que Joanne preservava sua vida pessoal, e certamente para a morena chegar ao ponto de aceitar uma de suas sugestões, era porque obviamente não haviam muitas opções, e a opinião dada por Cassie até então havia sido a melhor.
Joanne Jones estava sentada em frente à sua grande mesa, um pouco fora de si, alheia e perdida em seus pensamentos. Havia passado toda a noite pondo em questão os prós e contras daquela situação que diante da verdade para seu pai seria desonrosa. Pagar por um noivo na teoria era horrível, e na prática pior ainda. No entanto, naquele momento era necessário.— Meio dia e meia aqui embaixo? — Cassie Foz a olhava surpresa. Agora sim conseguia enxergar nitidamente o desespero da amiga. Não que não visse antes, mas o desespero que emanava dela agora era quase palpável. Cassie cerrou os olhos. — Você marcou com ele? Meu Deus!— Shhhh, desse jeito o andar inteiro vai escutar! — Pediu em tom de súplica. Sabia que seria complicado, mas a questão no momento era um tudo ou nada, ela precisava encontrar o suposto acompanhante para saber o quão diferente aquela teoria seria da prática. — Do jeito que aumentam as coisas aqui, vão me chamar de maníaca.A mais velha das irmãs Jones sempre fora o orgulho do pai, nunca pregara nenhuma peça a seu patriarca, era sempre educada e vencia cada obstáculo à sua frente, nunca havia levado um desagrado ou infelicidade sequer para a casa de seu progenitor. Ela era a filha que ele sempre quis, e mediante àquela postura jamais deixava a desejar, não poderia perder a postura diante do primeiro amor de sua vida.— Mas você vai realmente levar ele para passar as férias com a sua família? — Perguntou Cassie já sabendo que provavelmente aquela pergunta não teria resposta, não ainda. — Já parou para pensar que se realmente for levar ele, vai ter que agir como se ele fosse seu noivo? — Sorriu para logo se perder em suas próprias palavras. — Já parou para pensar se ele for feio? Vale lembrar que eu nunca o vi.Os olhos de Joanne procuraram o teto cor de marfim a fim de se tranquilizar, mas o nervosismo era inevitável diante das suposições da amiga, que tinha toda razão. Fitou Cassie afoita, não tinha pensado naquilo ainda. Certamente não seria tão fácil assim, apenas levar um homem até seu pai e apresentá-lo como seu noivo, deveria mostrar a toda sua família que ele era o amor de sua vida, nunca fora boa com mentiras dentro do âmbito familiar, mas para o bem dessa imagem ela deveria ser.— Eu não consigo acreditar na loucura que eu estou fazendo, eu juro pra você. — Seus pés transitavam com vida própria pela sala. — Quando vi, já tinha ligado.— É seu interior querendo desencanar, mesmo que de mentirinha.— Não estou achando graça nenhuma, Cassie.— Só pra descontrair. — A loira abaixou a cabeça. — Mas sabe que não é casada porque prefere assim.— Ou cuido dos negócios ou cuido de um marido.— Sem desculpas, Joanne. — A amiga salientou. — Sabe que eu te conheço como a palma da minha mão, — continuou — tire esses dias para relaxar, mesmo que a situação não seja lá as melhores.— Isso não pode sair do controle. — Mas em sua percepção já estava saindo. Respirou fundo ao olhar para o relógio e ver que já estava doze minutos atrasada para sair para seu encontro com o suposto futuro noivo. Olhou para a amiga que aguardava um movimento, rezando internamente para que seu noivo fosse ao menos um homem com uma boa aparência, pois aquilo já bastava. — Eu preciso ir, estou atrasada.Cassie pigarreou.— Se quiser e se sentir melhor, eu te acompanho.— Vou sozinha. — Joanne desceu pelo elevador, mas seus pensamentos continuavam altos, mirando o mais alto céu. Respirou fundo, na tentativa falha de acalmar sua respiração que saía do controle, assim como toda a situação. Ajeitou seu vestido de algodão cor de vinho, que se estendia pelo corpo até seus pés; a peça se sustentava apenas por uma alça grossa no ombro direito, escondendo o busto cheio, herdado de família. Seria direta e passiva.Caminhou através dos corpos que tinham tanta pressa quanto ela de forma afobada. Estava tão ilhada em seus pensamentos que quase passou do ponto de encontro. O grande letreiro do famoso “Cheap Coffee” brilhando em vermelho anunciava que havia chegado. Ela olhou para o estabelecimento um pouco vazio, frequentado por algumas mulheres na entrada e alguns homens sentados no bar aos fundos. O relógio já marcava a primeira hora da tarde em ponto, ele estava atrasado, e o interior dela suplicando que ele tivesse desistido.— Um suco de maracujá, sem açúcar ou adoçante, por favor — pediu ao garçom sorridente que a seguiu ao entrar na cafeteria. Seria certo que nem mesmo aquele suco a tiraria do estado de nervos em que se encontrava. Talvez uma boa dose de gin, mas jamais faria aquilo naquele momento, pois o contato deveria ser profissional, e uma dose de álcool poderia soltá-la mais do que deveria.Uma e onze da tarde. Ethan estava completamente atrasado. Talvez tivesse realmente desistido. Aquilo mais parecia obra do destino mostrando à doce Joanne que aquela ideia era loucura, levar um homem que mal conhecia para conhecer sua família, sabendo que este poderia ser um psicopata ou um assassino? Definitivamente quando sua melhor amiga lhe dizia que setenta por cento das coisas que ela fazia sem pensar era propício a dar problema, ela não estava errada. Ethan realmente poderia ser mais um dos milhares de problemas que ela arrumaria por acidente.Estava decidida a pedir a conta e ir embora, quando um homem entrou pela porta roubando a atenção de algumas mulheres que tomavam seus respectivos cafés perto da entrada. Mais ou menos um metro e noventa, dentro de uma blusa social azul escura, dobrada até um palmo acima da altura do pulso, onde marcava os músculos que sumiam dentro da blusa. Seus ombros eram firmes, usava uma calça social preta e um par de sapatos de couro cor de vinho. Ela rezou para que aquele não fosse o acompanhante atrasado, mas as chances de não serem foram aniquiladas no momento em que o homem cravou os olhos nos seus e andou em sua direção para sentar na mesma mesa que ela. Ela riu, aquilo só poderia ser uma pegadinha.— Senhorita Jones? — A voz melodiosa e grave era muito mais saliente ao ouvido pessoalmente, nem se comparava a como era por telefone. Ele possuía uma postura impecável, os cabelos acinzentados, desgrenhados como linho de ouro, se destacavam na pele bronzeada, harmonizando com a sutileza de seu olhar. A sobrancelha era grossa, o rosto viril e moldado, os lábios rosados e cheios, a barba por fazer. Não havia como não a notar. — Não contava com todo o engarrafamento, me perdoe pela demora. — Ele sorriu e pediu um drink desconhecido ao garçom, que não tardou a buscar.Até seus dentes cintilavam de tão brancos.— Prazer em te conhecer! — Reuniu todas as forças para lhe fazer uma saudação amistosa. Não era aquele tipo de imagem que ela esperava.— Chaos, Ethan Chaos. — Ele assentiu, observando-a. Joanne não deixava a desejar quando o termo era beleza, não era de nenhuma capa de revista, mas sua beleza chamava atenção entre as muitas mulheres da cidade. — Ao que me devo a sua chamada, senhorita Jones?Joanne assentiu e prosseguiu.— Vou explicar de forma resumida. — Respirou fundo. — Contei a minha irmã que tenho um noivo, e que iria passar as férias com a minha família. O problema é que esse noivo não existe, e eu não contava que ela contaria a todo mundo antes de eu voltar atrás, e dessa forma eu não posso mais desmentir. — Ethan brincou com a borda do copo passando o dedo sobre ele, analisando a história recém ouvida. Ele a encarou e as palavras soaram como ironia.— E para você seria melhor mentir contratando alguém a contar a verdade. — Ele riu. — Precisa então que eu seja seu noivo? — Indagou o homem obtendo uma confirmação da morena. — Já está bem grandinha para ficar mentindo assim para a família, não acha?Ele começou sério. Ela mirou um instante seus olhos azuis, e só então perce
Ele estava atrasado, de novo. Faltava uma hora para o embarque e nem sinal do homem loiro. O tempo estava ficando apertado e ele sequer havia aparecido para despachar a bagagem. O frio dentro do aeroporto jogava sujo, seu queixo já quase batia automaticamente. Seu telefone tocou, e depois da dificuldade de achar o aparelho dentro da bolsa larga, ela atendeu. — Alô? — Houve um grande silêncio para depois seus tímpanos quase serem destruídos pelo barulho extremo vindo da ligação. — Alô? Está me ouvindo? Alô? — Cassie conseguia ser irritante quando queria. Suas brincadeiras, embora muito engraçadas, às vezes eram acompanhadas também de um pouco de extravagância. Era escandalosa em tudo, afinal. — Desse jeito eu vou chegar surda no Texas! — Riu. — Está tudo bem por aí? — Está sim, na verdade estou ligand
— Fico feliz que tenham vindo, o restante estará chegando daqui a pouco. — Onde está Juliett? — Indagou Joanne. — Foi à cidade, mas já já ela está de volta — pigarreou Jonathan. Ele tinha muito mais a perguntar e falar. — Bem, Ethan, embora tenha sido pego de surpresa, eu fiquei muito feliz que Joanne esteja com um bom homem, mas não vou negar que gostaria de te conhecer mais. Só confio em você porque sei que Joanne jamais traria alguém estranho ou de má índole para nossa casa. A morena quis enfiar a própria cabeça num buraco. Seu semblante ganhou um tom sem graça, e ela sentia como se tivesse apenas aquela fisionomia, como se seu rosto fosse incapaz de transmitir qualquer outra emoção. As pequenas mãos de Joanne, pousadas em seus joelhos, suavam, seus olhos sequer piscavam. Ao contrário de outras ve
Ethan se levantou pela manhã certo de que seria o primeiro a acordar e o primeiro a dormir. Dormiu no mesmo quarto que ela, na mesma cama e em perpétuo silêncio. Mesmo que estivesse disposto a deixar Joanne conduzir os limites, ele não queria desrespeitá-la ou deixá-la embaraçosa por compartilhar da mesma cama que ele, já que, de acordo com ela mesma, que não tinha o hábito, era algo estranho. Uma vez sendo um homem de princípios, ele aceitou sem dúvidas, mesmo que ela não fosse a primeira estranha a dormir em sua cama. Deveria se acostumar, afinal, ficaria um certo tempo longe de casa, com pessoas estranhas e outro clima. Adorava Nova York, era sem dúvidas sua primeira casa, mas a alegria que tinha em conhecer novos lugares e costumes, fazia qualquer saudade se tornar um reles grão de areia.Era cedo, fez sua higiene matinal, passou um café quentinho e o tomou observa
— Ah é? E por que você acha que eu não sou médico? — Porque se você fosse médico, não estaria trabalhando como acompanhante. Ele riu mais uma vez e se sentou por cima de Joanne, na altura do seu diafragma, sustentando o próprio peso para não sufocá-la. Colocou as mãos no alto da lateral de sua cabeça, chegou próximo de seu rosto e pode notar como Joanne era bonita; seus olhos perolados, a pele cor de leite e os cabelos negros e finos contornavam o rosto jovial.— É aí que está, eu sou realmente médico. — Ele afirmou vendo os lábios da morena formarem um círculo em espanto com a confissão do doutor. — O que disse para seu pai era verdade. — Impossível! Ele assentiu.— Não é porque a sua profissão é mentir que a minha também seja.
Não seria exagero algum dizer que o clima do interior do Texas era bem mais frio e estável do que o indeciso clima de Nova York, onde em uma manhã o Sol escalava o céu tão quente quanto um maçarico e no dia seguinte podia-se ver nos noticiários como as estradas estavam interditadas pelo denso nevoeiro. Ethan era acostumado a viajar, porém para lugares onde se pudesse comparar o clima ao de Nova York, para que não se sentisse um estrangeiro reprimido, como naquele momento.A semana se estendeu de forma lenta. Os dias frios eram um verdadeiro castigo para ele, o ar gelado tornava tudo muito fúnebre. Era o completo contrário do Sol, que trazia sempre consigo um pouco de esperança, por assim dizer. Joanne se retraiu durante a semana toda pelo acontecimento atípico entre ambos de dias antes. Embora ela tivesse gostado, Ethan havia também tirado uma casquinha da situação, a
Ouviu-se um barulho das unhas de Juliett na mesa de madeira. — Um namoro de um ano e nem sequer sabe as coisas básicas da Joanne? Que tipo de relacionamento é esse?Naquele momento Ethan teve vontade de pular no pescoço de Juliett e quebrá-lo como se faziam no Texas com os das galinhas. No entanto, o loiro apenas pigarreou.— Joanne trabalha demais e eu também, pelo fato de ficarmos muito agitados durante a semana, eu procuro sempre levá-la a bons restaurantes no fim de semana, afinal, que tipo de namorado seria eu se a obrigasse a cozinhar cansada ao chegar em casa?Juliett o fitou ainda desconfiada, mas Ethan soube se esquivar com sabedoria. A cunhada observou como o homem tinha lábia, ela já vinha percebendo isso desde o primeiro dia em que trocaram palavras. Sabia o que falar e quando falar, tudo na ocasião certa. Para Joanne, ele era quase perfeito. Quase. — Por que n&oac
— Eu juro que só não te mato porque você some igual fumaça — bufou. — Você sumiu e deixou um recém-formado responsável pela pediatria do hospital sem nem me avisar? Como tem a cara de pau de dizer que não se esqueceu de mim?Ele respirou fundo, sabia que estava errado. Ao telefone era ninguém mais ninguém menos que Enilah, a diretora do hospital onde trabalhava como chefe da pediatria. Ele riu desconcertado, embora fosse um adulto, às vezes se comportava como uma criança sem mesmo se dar conta. — Você deveria confiar mais nas pessoas — sibilou sério. — Sei que você é a diretora, mas jamais deixaria alguém incapaz responsável.— Eu nunca disse que não confiava em você — reforçou ela. — A grande questão é: eu não o conheço.— Você a