— Fico feliz que tenham vindo, o restante estará chegando daqui a pouco.
— Onde está Juliett? — Indagou Joanne.— Foi à cidade, mas já já ela está de volta — pigarreou Jonathan. Ele tinha muito mais a perguntar e falar. — Bem, Ethan, embora tenha sido pego de surpresa, eu fiquei muito feliz que Joanne esteja com um bom homem, mas não vou negar que gostaria de te conhecer mais. Só confio em você porque sei que Joanne jamais traria alguém estranho ou de má índole para nossa casa.A morena quis enfiar a própria cabeça num buraco. Seu semblante ganhou um tom sem graça, e ela sentia como se tivesse apenas aquela fisionomia, como se seu rosto fosse incapaz de transmitir qualquer outra emoção. As pequenas mãos de Joanne, pousadas em seus joelhos, suavam, seus olhos sequer piscavam. Ao contrário de outras vezes, ela nem precisou digerir as palavras, já que dessa vez estas entraram em sua cabeça feito fogo num palheiro.— Pai, eu-— Eu só gostaria de conhecer mais o seu noivo. — Jonathan prosseguiu até ser interrompido pela voz inconfundível de Ethan.— Seu pai está certo, Anne. Fomos mal educados em não ter contado antes. — Ethan esfregou as mãos em um sinal de preparação, iria lançar todas as informações como uma bomba, de uma vez só. — Moro em Nova York há mais de dez anos, meus pais faleceram quando eu era novo e uma tia me criou, eu sou médico, para ser mais exato sou pediatra e clínico geral no hospital Clear York, em Nova York, praticamente em frente ao Central Park. — Aquilo parecia mais ser uma pegadinha, e nem era primeiro de abril.Os olhos de Jonathan brilharam, afinal, Ethan era um homem honroso, mas Joanne sabia que além daquilo ser parte do plano, não deixava de ser mentira. Chaos sabia mentir, isso ela devia admitir. Até que ele seria bem bonito para um médico. Os pensamentos em sua cabeça pareciam ter vida própria, e não pôde deixar de mentalizá-lo em um jaleco branco, junto de um estetoscópio em seu pescoço. Isso seria no mínimo, interessante. Teria sonhado alto se o barulho do tamanco contra a madeira não tivesse chamado sua atenção. Era Juliett. Seus cabelos negros e curtos na altura dos ombros, possuíam uma franja curta que tampava a testa larga. Os olhos acinzentados, característicos da família Jones, eram presentes nela também. A irmã era sua cópia fiel, porém mais nova, diabólica e imperdoável.— Sou Juliett, sua cunhada — se apresentou, estendendo-lhe a mão. Não precisaria ser vidente para saber que o olhar da mais nova das irmãs Jones era avaliativo.Ele apertou a mão de Juliett que nada disse, apenas assentiu. Ela estudava cada traço de Ethan.— Ethan. — Sorriu amistoso. — Gostaria de dizer que ouvi muito sobre você. — Seu semblante se tornou incrivelmente sarcástico, enquanto Joanne seguia impactada, sem saber a ousadia que viria a seguir. — Mas Joanne preferiu te esconder.— Juliett! — Exclamou a advogada.— Quanto tempo, doce irmã! — Lançou seu veneno abraçando a irmã mais velha.— Joanne só é reservada demais.— Que seja. — O tom de desdenho soava mais como uma inveja. — Vou tomar um banho, fico feliz que tenham vindo. — Finalizou dando as costas, subindo as escadas.Alisha surgiu na sala de fininho, enquanto puxava Joanne na mesma velocidade que chegara.— Você some por meses e me aparece com um homem... desses? — Joanne riu, sabendo o que ela queria dizer. Alisha era uma mulher de pele negra, talvez um metro e sessenta, com cabelos incrivelmente lisos e longos, seu corpo magro cabia em qualquer roupa da sessão infantil. Ainda assim era linda, mas o que mais chamava a atenção era seu par de olhos cor de avelã, que pareciam cintilar quando estava feliz.A advogada até teria pensado em algo para responder, mas Jonathan chamou antes sua atenção.— O restante da família já já chegará — ele avisou, sério. — Deixarei que descansem, eu sei que a viagem foi longa.Joanne sorriu feliz. Abraçou mais uma vez o pai de forma confortante e agradeceu.— Ao acordar amanhã pela manhã, me encontre no celeiro, Ethan, mostrarei a você a fazenda — convidou antes de sumir pelo corredor.Ethan fechou a porta do quarto, que era bem amplo. O guarda-roupas de madeira maciça era embutido na parede e consistia em oito portas. No chão, havia um grande tapete de camurça sobre o assoalho envernizado muito bem colocado. A cama box de tamanho queen era extremamente macia e espaçosa, assim como os travesseiros. A luz do quarto era quente, dada por um abajur em uma bancada ao lado da cama.— Essa madeira tem uma qualidade impressionante! — Exclamou o loiro passando os pés no assoalho, pisando duro feito uma criança pirracenta.Joanne riu, era sinceramente engraçado.— Médico e marceneiro? — Balbuciou. — Você é um ótimo ator!As sobrancelhas se ergueram.— Não tanto quanto você.— Eu não sou mentirosa — respondeu, sentida.— Você é advogada, então dizer que não mente é bastante contraditório.De certa forma, ele tinha razão.— Mentir não é primordial na advocacia, é só saber o que se falar e quando se falar.— Mentir. — Ele sorriu novamente, insistindo. — E ponto final. Fale de você.— Você não me disse muito sobre você. — Um sorriso bobo invadiu seus lábios. Sabia que se pretendessem passar as férias juntos, ela precisaria saber ao menos um mínimo sobre ele, para que não tornassem o convívio dos dois num inferno.Ele retirou os sapatos de forma desajeitada, os jogando em um canto qualquer. Tirou a camisa, se jogando feito criança sobre a cama macia, se sentindo engolido por ela.— Eu não sou do tipo que fica contando histórias tristes, Joanne.— Por que eu te contratei mesmo? — Ela o indagou.— Porque precisava do noivo perfeito — respondeu. — Vai ver com os dias que eu sou melhor calado do que falando.A morena o observou falar, quase desdenhando.— Independentemente de qualquer coisa, não acha que eu preciso conhecer o homem com quem noivei? — Seguiu desfazendo as malas. Por que havia trazido tantas coisas? Com certeza usaria apenas metade daquilo, e olhe lá.Ouviu a porta bater e antes mesmo que pudesse levantar-se da cama para poder abrir, uma longa cabeleira loira passou por ela se jogando na cama sobre a morena, que quase veio a óbito sem um pingo de oxigênio. Beatrice era uma de suas primas de segundo grau por parte de pai. Tinha olhos esverdeados como esmeraldas e aproximadamente um metro e setenta de altura. Era a namorada de Castle.— O seu cabelo cresceu tanto, Jojo! — Seus olhos brilhavam de saudade. — Você está linda, meu Deus!Joanne já estava sem ar.— Desse jeito você vai me matar! — Ethan estava estirado na cama assistindo à cena, com as mãos atrás da cabeça e o dorso viril desnudo, sério e calado enquanto a euforia não passava. — Bea, este é o meu noivo.A loira o olhou dos pés à cabeça, analisando o suposto noivo de sua prima, que já se sentia em casa esparramado na cama.— Beatrice Jones, a seu dispor. — Expôs os dentes brancos, o saudando.— Chaos, Ethan Chaos — disse, apertando sua mão. Houve uma troca fria de olhares entre Joanne e Beatrice que não passou desapercebido pelo único homem no recinto, ele certamente estava sobrando. Se levantou, pegando uma toalha de banho no cabideiro e se direcionando ao banheiro para se banhar. — Vou deixá-las sozinhas.Beatrice era a sexóloga da família e terapeuta de casais nas férias. Era inteligente e por mais incrível que pudesse parecer, havia sempre sabedoria em suas dicas e ensinamentos. Literalmente uma professora do sexo, não apenas na forma física mas na teórica também, era dona de muitos fundamentos com sentido. Mesmo que falasse bobagens em boa parte do tempo e não tivesse trava em sua língua afiada, ela era também uma boa amiga.— Jojo. — Ela suspirou em um sussurro, o quarto fazia eco. — Que noivo é esse?Jones corou.— Oras, que tipo de pergun-— Não há como passar desapercebido! — Arfou a loira.— Ethan é um amor. — Tentou despistar.— Não poderia esperar menos de você. — Beatrice agarrou Joanne em um abraço apertado. — Some durante meses e quando volta, traz um filé mignon!Vestiu um sorriso envergonhado.— Ele tem muitas outras qualidades.A loira sorriu assanhada e cerrou os olhos, a fim de encontrar alguma expressão a mais em Joanne que talvez lhe pudesse arrancar mais que apenas as palavras robóticas que ela dizia.— Muitas, eu aposto. — O duplo sentido era evidente, e causou uma crise de risos na loira. — Mas fico feliz que tenha finalmente encontrado alguém.— Eu também.— Eu e Castle apostamos vinte dólares que você era lésbica. — Ela sacodiu a cabeça.— Vocês o quê?— E então, eu ganhei vinte dólares — disse, animada. — Eu sabia que você só precisava de alguém para domar esse coraçãozinho. Você trabalha demais.— Quando ficou tão competitiva? — Beatrice nunca fora de ligar para essas coisas. — Estou finalizando um punhado de processos, por isso sumi por semanas.— Meses — corrigiu Beatrice. — Quase um ano.— O importante é que estou aqui!— Sabia que é muito estranho te ver assim, com alguém? Não me entenda mal, Jojo, mas é que você nunca trouxe ninguém pra cá. — Ela se certificou que Ethan ainda estivesse no banheiro para continuar a falar. — Aí, você me aparece com um cara super gostoso, que parece ser feito para o sexo, que nem você. — Ela riu, ironicamente. — A transa deve ser maravi-O loiro as interrompeu, saindo do banheiro apenas de toalha. Os cabelos claros caíam sobre a testa bronzeada, as gotas de água se salientavam descendo pelo pescoço, lambendo o peitoral marcado pelos músculos definidos, e sumindo feito fantasmas na toalha grossa enrolada em sua cintura.— Ethan! — Se espantou Joanne. — Uma roupa, coloque uma roupa, por favor! — Gritou, tampando os olhos.Ele gargalhou, não esperava que uma mulher de quase trinta anos ficasse envergonhada daquele jeito.— Vocês falam alto demais! — Ele vestiu uma calça de moletom por baixo da toalha molhada, insistindo em continuar deixando sua parte superior desnuda. — Aliás, Beatriz, você não está errada, Joanne é mesmo feita para o sexo.— Beatrice, por favor — corrigiu.O rosto perolado da jovem se tornou um verdadeiro tomate. O médico havia entrado muito no personagem e a essa altura as coisas já pareciam querer passar dos limites.— Ethan! — Gritou em reprovação.Beatrice riu junto do noivo de sua prima, mas notou que o clima estava ficando fora de órbita e resolveu deixar os dois pombinhos a sós.— Joanne, te aguardo na sala depois — sussurrou enquanto saía em passos leves.— Por que disse aquilo? — A advogada indagou Ethan, séria.— Entrei demais no personagem — riu. Vestiu sua camisa e antes de sair completou: — Mas mesmo assim, acabei de te provar que sou melhor de boca fechada.Ethan se levantou pela manhã certo de que seria o primeiro a acordar e o primeiro a dormir. Dormiu no mesmo quarto que ela, na mesma cama e em perpétuo silêncio. Mesmo que estivesse disposto a deixar Joanne conduzir os limites, ele não queria desrespeitá-la ou deixá-la embaraçosa por compartilhar da mesma cama que ele, já que, de acordo com ela mesma, que não tinha o hábito, era algo estranho. Uma vez sendo um homem de princípios, ele aceitou sem dúvidas, mesmo que ela não fosse a primeira estranha a dormir em sua cama. Deveria se acostumar, afinal, ficaria um certo tempo longe de casa, com pessoas estranhas e outro clima. Adorava Nova York, era sem dúvidas sua primeira casa, mas a alegria que tinha em conhecer novos lugares e costumes, fazia qualquer saudade se tornar um reles grão de areia.Era cedo, fez sua higiene matinal, passou um café quentinho e o tomou observa
— Ah é? E por que você acha que eu não sou médico? — Porque se você fosse médico, não estaria trabalhando como acompanhante. Ele riu mais uma vez e se sentou por cima de Joanne, na altura do seu diafragma, sustentando o próprio peso para não sufocá-la. Colocou as mãos no alto da lateral de sua cabeça, chegou próximo de seu rosto e pode notar como Joanne era bonita; seus olhos perolados, a pele cor de leite e os cabelos negros e finos contornavam o rosto jovial.— É aí que está, eu sou realmente médico. — Ele afirmou vendo os lábios da morena formarem um círculo em espanto com a confissão do doutor. — O que disse para seu pai era verdade. — Impossível! Ele assentiu.— Não é porque a sua profissão é mentir que a minha também seja.
Não seria exagero algum dizer que o clima do interior do Texas era bem mais frio e estável do que o indeciso clima de Nova York, onde em uma manhã o Sol escalava o céu tão quente quanto um maçarico e no dia seguinte podia-se ver nos noticiários como as estradas estavam interditadas pelo denso nevoeiro. Ethan era acostumado a viajar, porém para lugares onde se pudesse comparar o clima ao de Nova York, para que não se sentisse um estrangeiro reprimido, como naquele momento.A semana se estendeu de forma lenta. Os dias frios eram um verdadeiro castigo para ele, o ar gelado tornava tudo muito fúnebre. Era o completo contrário do Sol, que trazia sempre consigo um pouco de esperança, por assim dizer. Joanne se retraiu durante a semana toda pelo acontecimento atípico entre ambos de dias antes. Embora ela tivesse gostado, Ethan havia também tirado uma casquinha da situação, a
Ouviu-se um barulho das unhas de Juliett na mesa de madeira. — Um namoro de um ano e nem sequer sabe as coisas básicas da Joanne? Que tipo de relacionamento é esse?Naquele momento Ethan teve vontade de pular no pescoço de Juliett e quebrá-lo como se faziam no Texas com os das galinhas. No entanto, o loiro apenas pigarreou.— Joanne trabalha demais e eu também, pelo fato de ficarmos muito agitados durante a semana, eu procuro sempre levá-la a bons restaurantes no fim de semana, afinal, que tipo de namorado seria eu se a obrigasse a cozinhar cansada ao chegar em casa?Juliett o fitou ainda desconfiada, mas Ethan soube se esquivar com sabedoria. A cunhada observou como o homem tinha lábia, ela já vinha percebendo isso desde o primeiro dia em que trocaram palavras. Sabia o que falar e quando falar, tudo na ocasião certa. Para Joanne, ele era quase perfeito. Quase. — Por que n&oac
— Eu juro que só não te mato porque você some igual fumaça — bufou. — Você sumiu e deixou um recém-formado responsável pela pediatria do hospital sem nem me avisar? Como tem a cara de pau de dizer que não se esqueceu de mim?Ele respirou fundo, sabia que estava errado. Ao telefone era ninguém mais ninguém menos que Enilah, a diretora do hospital onde trabalhava como chefe da pediatria. Ele riu desconcertado, embora fosse um adulto, às vezes se comportava como uma criança sem mesmo se dar conta. — Você deveria confiar mais nas pessoas — sibilou sério. — Sei que você é a diretora, mas jamais deixaria alguém incapaz responsável.— Eu nunca disse que não confiava em você — reforçou ela. — A grande questão é: eu não o conheço.— Você a
Diria que Chaos estaria pigarreando se alguém não tivesse atraído tanto seus profundos olhos azuis. Viu Joanne parada na varanda da enorme casa, com os cotovelos apoiados sobre a mesa de madeira envernizada. Trajava um vestido preto com rosas vermelhas bordadas, havia uma fenda sensual na perna esquerda, um decote tomara que caia, que valorizava o busto cheio da advogada e mangas folgadas que caíam gentilmente sobre os ombros. Seus cabelos, soltos e livres, desciam quase explicitamente entre o busto e os ombros, seu rosto era tão perfeito que sequer precisava de maquiagem, afinal, já era dona de uma beleza sem igual. Não queria disfarçar seu olhar para ela, muito pelo contrário, queria que ela soubesse como ele admirava cada pedaço, até mesmo a boca, que ele nem sabia o sabor.Ela sentou-se graciosamente ao lado direito dele, calada. A família toda se acomodava nos banquinhos, pois o patriarca d
A situação em que se encontrava era tão delicada quanto o próprio bebê que ela carregava. Sua cabeça tentava ao máximo tentar encontrar uma solução para aquilo, e aquele turbilhão de pensamentos estava lhe tirando a atenção de absolutamente tudo. Ter uma resposta era difícil, mas não impossível. Um fio de esperança pareceu brotar quando a secretária dele a retornou, informando que conseguira um horário em sua agenda escassa. Saiu da fazenda de sua família ainda cedo com o taxista, o caminho do interior até o centro da cidade era longe. Os efeitos da gestação já a afetavam, mais do que ela imaginava. Seus seios já se encontravam doloridos e inchados, e sua digestão, por conta dos hormônios gestacionais, estava péssima, o que lhe causava enjoos. Foram incontáveis as vezes em que precisou
— Sim, eu estou — ela respondeu. — Não paguei para que me beijasse, eu paguei para que fosse meu noivo, e por isso eu quero que me desculpe. — Considere o beijo um brinde — respondeu fazendo aspas com os dedos. — Eu sei que foi errado, e que você não queria. — E como não querer? — Você se joga tão fácil assim para todas as mulheres? — Ela riu sozinha, como se tivesse contado a mais engraçada das piadas. — Eu estou te passando a impressão de ser um galinha? — Com toda certeza — garantiu. — Joanne, você é uma mulher linda e atraente, como eu poderia não querer corresponder a um beijo seu? — Ele a fitou nos olhos para que ela enxergasse que aquilo era livre de mentiras. — Se passasse algumas horas com você, como passo com as demais clientes, seria estritamente profission