Bianca Santoro, A madrugada estava silenciosa, com apenas o som leve do vento lá fora. Tudo parecia calmo, mas então ouvi um pequeno resmungo vindo do berço ao lado da cama. Abri os olhos lentamente, piscando contra a luz suave do abajur que eu havia ligado. Meu corpo ainda estava cansado dos últimos dias, mas Alejandro precisava de mim, e eu precisava me levantar.Virei-me para o outro lado da cama, e lá estava Aléssio, deitado de qualquer jeito, completamente apagado. Ele provavelmente tinha adormecido enquanto balançava o berço. Ri baixinho ao vê-lo naquela posição. Ele ainda estava vestido com as roupas do dia e, para minha surpresa, os sapatos ainda estavam nos pés dele.Suspirei, tentando não fazer barulho, e me levantei com cuidado. Antes de ir até Alejandro, decidi cuidar de Aléssio. Ele fazia tanto por mim e pelo bebê que merecia descansar confortavelmente, mesmo que ele fosse teimoso o suficiente para apagar com os sapatos nos pés.Ajoelhei-me ao lado da cama e comecei a ti
Aléssio Romano,O sol já estava alto quando Bianca e eu finalmente decidimos levantar da cama. Era nossa primeira manhã completa em casa com Alejandro, e queríamos fazer tudo do nosso jeito. Lupi, sempre prestativa, já estava circulando pela casa, oferecendo ajuda a cada momento, mas Bianca e eu sabíamos que o banho do pequeno Alejandro seria um momento especial para nós.— Senhor Romano, posso preparar o banho para o bebê? Já deixo tudo pronto enquanto vocês tomam café — disse Lupi, aparecendo na porta do quarto com seu sorriso característico.— Não dessa vez, Lupi — respondi, enquanto vestia uma camiseta. — Bianca e eu queremos fazer isso sozinhos. Precisamos aprender.— Sim, Lupi. Agradeço pela oferta, mas acho que já está na hora de testarmos nossas habilidades de país — acrescentou Bianca, com um sorriso, enquanto ajeitava o cabelo e colocava um roupão.Lupi riu e balançou a cabeça, como se dissesse "boa sorte" sem precisar de palavras. Enquanto ela se afastava, virei-me para B
Bianca Santoro, Os últimos anos passaram como um piscar de olhos, mas cada momento foi uma mistura de amor, desafios e aprendizado. Alejandro já tinha três anos e era a energia da casa. Um menino curioso, cheio de vida, que sabia como conquistar todos ao seu redor com um sorriso banguela e um olhar maroto. Ele era a mistura perfeita de mim e de Aléssio, e todos que o conheciam diziam que ele tinha o charme natural do pai. Hoje era um dia especial. Estávamos comemorando não só as conquistas da nossa família, mas também a chegada de um novo capítulo: outro bebê estava a caminho. Eu estava grávida de quatro meses, e a felicidade transbordava em cada canto da nossa casa. A manhã começou com Alejandro correndo pelo corredor, com os passinhos apressados que ecoavam pela mansão. Aléssio e eu já estávamos na sala, tomando café e discutindo alguns planos para os próximos meses. Ele pegou Alejandro no colo, tentando fazer o pequeno se concentrar em um pedaço de pão com geleia, mas nosso filh
Bianca Santoro,A chuva fina caía sobre os telhados enferrujados da cidade. Eu estava encostada na parede de tijolos sujos, respirando devagar. Minhas mãos estavam frias, mas não era só por causa do tempo. Era sempre assim antes de um roubo. A adrenalina corria pelas minhas veias, e meu coração batia forte, quase como se quisesse pular do meu peito. Mas o que eu sentia, mais do que qualquer coisa, era fome. Não de comida, mas de algo maior. Algo que fizesse meu mundo caótico ter sentido por um momento.Olhei para o lado, certificando-me de que ninguém estava me observando. A rua estava vazia, exceto por alguns carros velhos estacionados e uma lixeira que transbordava. A loja de conveniência na esquina estava aberta, como sempre, com o dono, um homem gordo e careca, distraído com um jogo de futebol na pequena TV pendurada atrás do balcão."Agora ou nunca, Bianca" — sussurrei para mim mesma, enquanto ajeitava a touca sobre o cabelo molhado. Eu precisava daquele dinheiro. Precisava mais
Aléssio Romano,O poder é uma coisa curiosa. Quando você tem o controle, tudo parece estar à sua disposição. As pessoas abaixam a cabeça quando você passa, e ninguém ousa olhar nos seus olhos por muito tempo. Mas, por dentro, é diferente. Por dentro, você carrega um peso que ninguém vê. Um peso que, no meu caso, tem o rosto de uma garotinha de seis anos, deitada numa cama de hospital, lutando contra algo que nenhum poder, nenhum dinheiro, pode derrotar.Meu nome é Alessio Romano, e eu sempre soube o que era o controle. Desde jovem, fui criado no mundo do crime, onde força e lealdade eram tudo. Vi meu pai comandar com mão de ferro, e quando ele morreu, não havia dúvida de que eu seria o próximo a carregar o fardo da família. Aprendi rápido que nesse mundo, ou você controla, ou é controlado. E eu nunca fui bom em ser controlado.Hoje, eu tinha saído de mais uma dessas reuniões intermináveis. Homens de terno, conversas sobre territórios e negócios. Eu os controlava, mas por dentro, minha
Bianca Santoro,A porta de casa bateu atrás de mim com um estrondo. O som ecoou pelas paredes sujas e cheias de manchas, o tipo de coisa que ninguém mais notava, exceto eu. Aquele lugar me sufocava. Cada centímetro, cada cheiro, cada lembrança. Meu corpo estava molhado pela chuva, mas a dor que eu sentia não vinha disso. Minha cabeça estava a mil desde o encontro com aquele homem estranho na rua, mas eu mal tinha tempo para processar aquilo. Porque logo que entrei, senti o peso da presença dela.Minha tia estava no meio da sala, com uma garrafa de cerveja na mão, olhando para mim com aqueles olhos vidrados de ódio misturado com o álcool. Ela sabia. Não sei como, mas sabia. E quando ela sabia de algo, o inferno logo começava.— Você acha que eu sou burra, fedelha? — sua voz saiu num rosnado, arrastando as palavras como quem já tinha bebido demais. — Você acha que eu não sei o que você fez hoje?Ela deu um passo à frente, seu corpo cambaleando um pouco. Não respondi. Sabia o que vinha a
Aléssio Romano,O carro deslizou silenciosamente até a frente da clínica. Era um trajeto que eu já conhecia de cor, como se meu corpo soubesse exatamente a hora de desligar a mente e entrar no modo automático. Não importava quantas reuniões eu tivesse, quantos negócios fossem fechados ou quantas vidas fossem tiradas ao meu redor, quando eu chegava ali, tudo parava. O peso do mundo do lado de fora ficava pequeno, insignificante. Ali, o mundo era só ela.Vito, meu soldado mais fiel, saiu do carro antes de mim, abrindo o guarda-chuva e caminhando até minha porta. Ele era eficiente, como sempre. Um homem de poucas palavras, mas de ações precisas. Abri a porta e, em segundos, o guarda-chuva estava sobre minha cabeça. A chuva ainda caía devagar, mas para mim, era como se fosse invisível. Meus olhos estavam fixos na porta da clínica, e minha mente estava no quarto dela.Entramos. O ambiente cheirava a álcool, o tipo de cheiro que grudava na pele e nos ossos. As enfermeiras me cumprimentaram
Bianca Santoro,O dia amanheceu, mas para mim parecia que a noite ainda se arrastava. Eu estava deitada na cama do mesmo jeito que me joguei nela na noite anterior, sem me mover, sem fechar os olhos nem por um segundo. A escuridão já tinha se esvaído pela janela, mas o vazio dentro de mim continuava. Fitei o teto por horas, tentando encontrar respostas, tentando entender por que eu continuava nesse ciclo de dor e culpa. O rosto do meu irmão, o tapa da minha tia, tudo se misturava na minha cabeça, uma tortura silenciosa que eu não conseguia afastar.Meu corpo estava pesado, como se eu estivesse presa naquele colchão velho e afundado. Eu sabia que deveria me levantar, fazer algo, qualquer coisa. Mas a verdade é que, por mais que o mundo lá fora estivesse vivo, eu não me sentia parte dele. Eu era um fantasma em minha própria vida.De repente, ouvi batidas fortes na porta.— Anda, levanta dessa cama! — a voz da minha tia soou áspera, cheia de desprezo. — Aqui não é a casa da mãe Joana! Va