Capítulo 5

Bianca Santoro,

O dia amanheceu, mas para mim parecia que a noite ainda se arrastava. Eu estava deitada na cama do mesmo jeito que me joguei nela na noite anterior, sem me mover, sem fechar os olhos nem por um segundo. A escuridão já tinha se esvaído pela janela, mas o vazio dentro de mim continuava. Fitei o teto por horas, tentando encontrar respostas, tentando entender por que eu continuava nesse ciclo de dor e culpa. O rosto do meu irmão, o tapa da minha tia, tudo se misturava na minha cabeça, uma tortura silenciosa que eu não conseguia afastar.

Meu corpo estava pesado, como se eu estivesse presa naquele colchão velho e afundado. Eu sabia que deveria me levantar, fazer algo, qualquer coisa. Mas a verdade é que, por mais que o mundo lá fora estivesse vivo, eu não me sentia parte dele. Eu era um fantasma em minha própria vida.

De repente, ouvi batidas fortes na porta.

— Anda, levanta dessa cama! — a voz da minha tia soou áspera, cheia de desprezo. — Aqui não é a casa da mãe Joana! Vai comprar uns pães pra mim, vai!

Fechei os olhos por um segundo, desejando que ela sumisse, que aquela vida sumisse. Mas o que eu queria nunca importava. O que ela queria, sim. Suspirei fundo, puxei o cobertor de cima do meu corpo e me arrastei para fora da cama. Meus músculos estavam rígidos, como se eu tivesse corrido por quilômetros, mas tudo o que eu fiz foi ficar deitada a noite toda, perdida em pensamentos que só me afundavam mais.

Passei pela porta sem olhar para a cara dela, mas senti seus olhos cravados em mim, como se estivesse me julgando a cada segundo. Peguei o dinheiro amassado que ela jogou em cima da mesa e saí.

A rua estava mais movimentada do que o normal. O sol mal havia surgido por entre as nuvens cinzentas, e eu já sentia o peso do dia nas minhas costas. Caminhei sem pressa, com os ombros encolhidos e a cabeça baixa. A padaria ficava a algumas quadras de distância, mas parecia que cada passo que eu dava me levava para mais longe, como se o caminho se estendesse diante de mim, sem fim.

Enquanto eu me aproximava da esquina, senti aquela sensação que me dizia que algo estava errado. Era como se o ar ao meu redor estivesse diferente, carregado de uma tensão diferente. Olhei discretamente por cima do ombro e vi dois homens parados do outro lado da rua. Os mesmos homens da noite anterior.

— Caramba, de novo não ... — murmurei para mim mesma, o coração começando a bater mais rápido.

Tentei acelerar o passo sem parecer que estava fugindo, mas eles não eram idiotas. Eles começaram a se mover, atravessando a rua lentamente, como predadores que sabem que a presa não tem para onde correr. Eu tinha duas opções: correr e tentar despistá-los de novo ou enfrentar a situação de frente. Eu já estava cansada de correr. E o medo... bem, o medo tinha se tornado uma parte constante da minha vida. Talvez fosse hora de encarar isso.

Cruzei a rua rapidamente, meus olhos vasculhando ao redor em busca de uma saída ou de alguma ajuda. As pessoas passavam apressadas, ninguém notava a garota problemática que tentava se manter viva mais um dia.

Quando cheguei na calçada do outro lado, senti um puxão forte no braço. Um dos homens estava mais rápido do que eu esperava.

— Achou que ia escapar fácil, garota? — ele disse, apertando meu braço com força. — Você tem uma dívida a pagar. O dinheiro não estava completo, não foi suficiente.

— Não devo nada a vocês! — respondi, puxando meu braço, tentando me soltar.

O outro homem apareceu ao meu lado, bloqueando minha saída.

— Não adianta correr dessa vez, mocinha. — Ele sorriu, o sorriso mais cruel que já vi. — Queremos o restante do dinheiro, ou você servirá para nós 4 de outra forma, será bem divertido brincar com você.

Eu não tinha o que eles queriam. E mesmo que tivesse, não daria. Minha mente trabalhava rápido, buscando qualquer rota de fuga, qualquer oportunidade. No desespero, fiz a única coisa que pude pensar: puxei meu braço com toda a força que tinha e corri em direção à rua.

A adrenalina tomou conta de mim, e por um segundo, pensei que poderia escapar.

Mas foi nesse segundo que tudo aconteceu.

O som de um carro freando bruscamente encheu meus ouvidos, e tudo ao meu redor pareceu desacelerar. Senti algo me atingir com uma força tão grande que foi como se o mundo tivesse desmoronado sobre mim. Fui arremessada para trás, caindo no asfalto molhado da chuva da noite anterior. Minha cabeça bateu no chão, e a última coisa que vi foi o céu nublado, antes de tudo se apagar.

。⁠◕⁠‿⁠◕⁠。

Quando acordei, tudo estava nebuloso. Minha cabeça latejava, e uma dor lancinante atravessava meu corpo. O som da rua estava distante, como se eu estivesse ouvindo tudo debaixo d'água. Pisquei algumas vezes, tentando focar minha visão. Aos poucos, vi aquele homem da noite anterior, ali próximo a mim. Seus olhos azuis intenso encontram os meus, e neles haviam preocupação.

Ele estava cercado por outros homens de terno. Meu cérebro levou um segundo para processar o que havia acontecido.

— Você está bem? — ele perguntou, a voz baixa, mas firme, como se já soubesse que a resposta era não.

Tentei falar, mas minha garganta estava seca, e tudo o que saiu foi um murmúrio sem sentido. Minha visão ainda estava turva, mas eu percebi que estava cercada. Os homens que me perseguiam não estavam mais lá. Provavelmente fugiram no momento do impacto. Eu havia escapado deles por sorte, ou por azar, dependendo de como se olhasse.

Aquele homem abaixou-se ao meu lado, seus olhos me analisando com cuidado.

— Você precisa de um hospital. — Ele fez um sinal com a mão, e um de seus homens se aproximou.

— Chame uma ambulância, rápido.

— Sim senhor!

Eu queria dizer que não precisava de ajuda, que podia me virar sozinha. Mas, naquele momento, meu corpo não me obedecia. A dor e o cansaço eram maiores do que o orgulho.

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