Bianca Santoro, Aquela noite foi uma tortura. O filho de uma vaca sem chifres não apareceu para me tirar da delegacia. Esperei praticamente a noite inteira sentada, com os nervos à flor da pele, mas, com o passar das horas, o cansaço venceu. Quando acordei no dia seguinte, o policial já estava abrindo a cela com um olhar de tédio, como se aquilo fosse apenas mais uma tarefa rotineira. — Acorda aí, garota. — ele murmurou, dando um leve chute na cama de pedra. — Você tem sorte, sabia? Não sei como consegue tanto, de ter um homem como o senhor Romano pra vir te salvar. Olhei para ele com desdém. Sorte? Isso não era sorte. Era uma dívida. — O senhor Romano é importante pra você? — perguntei, minha voz carregada de sarcasmo. — Porque, pra mim, ele é só mais um homem como qualquer outro. O policial apenas riu, um som seco e sem humor, enquanto abria a cela para que eu saísse. Passei por ele com passos firmes, mesmo que o cansaço ainda estivesse grudado no meu corpo. Quando saí, lá esta
Aléssio Romano, Ela estava ali, bem na minha frente, sentada na cadeira do meu escritório, completamente diferente da garota que vi semanas atrás. Não parecia mais a garota ousada e de língua afiada que sempre tinha uma resposta pronta para qualquer coisa que eu dissesse. Agora, era apenas mais uma peça no meu jogo, alguém que tinha sido encurralada e não tinha para onde fugir. Era quase engraçado ver como as pessoas mudam quando percebem que estão sem saída. Por um momento, quase ri ao vê-la tão controlada. Todo aquele orgulho que ela carregava parecia ter evaporado assim que percebeu que a única maneira de sair dessa era obedecer às minhas regras. Claro, Bianca ainda tinha aquele brilho de desafio no olhar, mas agora estava quieta, absorvendo a realidade em que se encontrava. Era uma santa do pau oco, fingindo que estava calma, mas eu sabia que, por dentro, ela estava fervendo. Eu gostava disso. Gostava de ver como as pessoas tentam esconder seu verdadeiro estado quando são pegas
Bianca Santoro, Observei aquele contrato diante de mim, mas sinceramente, eram tantas palavras e cláusulas que eu nem me dei ao trabalho de ler tudo. A questão era simples: obedecer Aléssio até que ele decidisse que minha dívida estava quitada. Quando isso tudo acabasse, estaria livre dele. E, no momento, isso era tudo o que eu queria. Aléssio pegou o telefone que estava em cima da mesa e fez uma ligação rápida, sem tirar os olhos de mim. Ele falava em um tom calmo, mas firme, e, em questão de minutos, a porta do escritório se abriu. Uma mulher de cabelos grisalhos, presos em um coque impecável, entrou com passos firmes e silenciosos. Ela usava uma roupa perfeitamente ajustada, seu porte elegante e disciplinado, como se estivesse sempre preparada para qualquer ordem. — Sim, senhor. — respondeu ela com um leve aceno de cabeça, as mãos cruzadas atrás das costas, em uma postura que exalava respeito e profissionalismo. — Lupi, esta é nossa nova hóspede, Bianca — Aléssio disse, me lanç
Aléssio Romano, Assim que fiquei sozinho no escritório, peguei meu celular e liguei para Vito. Ele sempre sabia que, quando eu chamava, algo importante eu queria que ele fizesse. Não demorou muito até que ele chegasse, eficiente como sempre. Sentou-se de frente para mim, com aquele olhar sério e concentrado, esperando que eu lhe desse as próximas instruções. — Senhor. — disse ele, sempre direto ao ponto. Eu o observei por alguns segundos, considerando o que precisava ser feito. Bianca agora estava sob o meu controle, e para que isso se mantivesse, havia algumas peças que precisavam ser removidas da vida dela. — Quero que vá até a casa da tia de Bianca. — comecei, indo direto ao ponto. — Ofereça dinheiro para que ela saia da cidade. Diga a ela para não se preocupar com Bianca, que está em boas mãos. — Fiz uma pausa, sabendo que a mulher provavelmente não ligava para o paradeiro da sobrinha. — Se bem que ela nunca se importou de verdade com a sobrinha. Para ela se Bianca sumisse, er
Bianca Santoro, Aquela noite, depois de ser levada ao quarto por Lupi, tomei um banho longo. A água quente escorrendo pelo meu corpo parecia aliviar um pouco a tensão acumulada, mas minha mente ainda estava a mil. Escolhi uma roupa confortável do closet, algo simples, mas de qualidade superior ao que eu estava acostumada. Era estranho usar roupas caras, como se de repente eu tivesse sido lançada em um mundo que não era o meu. Me deitei na cama, sentindo o conforto que ela oferecia. Não me lembro da última vez que dormi em algo tão macio. Para minha surpresa, acabei dormindo tranquilamente. Acordei na manhã seguinte com a claridade invadindo o quarto. A governanta da mansão, Lupi, já estava de pé, abrindo as cortinas. Ela fazia isso com a eficiência e elegância de sempre, como se fosse uma rotina perfeitamente calculada. — Bom dia, senhorita Bianca. — disse ela, em um tom formal, mas educado. Eu resmunguei e virei para o outro lado da cama, tentando ignorar o mundo por mais alguns
Bianca Santoro, A ideia de uma aula de etiqueta me deixou perplexa. Eu, uma garota que mal conseguia seguir regras nas ruas, agora estava sendo moldada para agir como uma dama em algum tipo de alta sociedade que Aléssio parecia querer me inserir. Me senti deslocada, irritada e, acima de tudo, desconfortável. Mas o contrato que eu assinara me obrigava a seguir em frente com isso, e essa era uma lembrança constante na minha mente. Se eu quisesse alguma liberdade, teria que aguentar. Cumpro com a minha parte da dívida, e ele com a dele. A professora Elenice era impecável, como uma daquelas figuras perfeitas de revista. Vestido elegante, corpo esguio e um olhar que parecia me julgar desde o momento que entrei. Ela não era como ninguém que eu já tinha conhecido. Seus olhos me examinavam, e eu sabia que ela estava ali para me moldar. Eu odiava isso. — Vamos começar com algo essencial: postura e maneiras à mesa. — Elenice começou, sem perder tempo. — Como você se apresenta em um jantar
Aléssio Romano, Estou no pior dia da minha vida. Nunca imaginei que fosse dizer isso, mas hoje a dor que sinto é profunda demais, até para mim. Passei o dia inteiro ao lado de Sofia, minha irmã, que estava completamente destruída pelo funeral de nossa pequena Lia. Ela desmaiou, simplesmente não conseguiu lidar com a realidade de enterrar a própria filha. E eu não pude deixá-la sozinha.Meus pais não estavam presentes no funeral. Eles estão viajando e, por mais que tentassem voltar, não conseguiram chegar a tempo para o enterro. Estão a caminho, mas sei que isso não faz diferença. O que aconteceu hoje vai marcar nossas vidas para sempre. Lia se foi, e não há nada que eles possam fazer, nada que ninguém possa fazer. Só resta a dor.Agora estou aqui no quarto de Sofia, sentado ao lado da cama, enquanto o médico a examina. Ela está apagada, pálida como a morte. Eu queria ser capaz de afastar a dor dela, mas não posso. Essa é a realidade que enfrentamos: a perda de alguém que significava
Aléssio Romano,Assim que o carro estacionou na frente da mansão, saí rapidamente, minha mente focada em uma única coisa: tomar um banho e tentar relaxar. O peso do dia estava sobre meus ombros, e eu precisava de um momento para organizar meus pensamentos. Caminhei direto em direção ao meu quarto, determinado a me livrar daquele cansaço que parecia me consumir. Mas, enquanto passava pelo corredor, algo me fez parar. Um som de choro.O som vinha do quarto de Bianca. Ele me paralisou por um instante, antes que eu percebesse o que estava acontecendo. Algo dentro de mim reconheceu a dor naquele choro. Não era o choro de alguém com raiva ou aborrecida. Era profundo, quase desesperado. Imediatamente, o cansaço que me dominava desapareceu, substituído por uma preocupação súbita. Fui até o quarto dela, meus passos rápidos, mas silenciosos.Quando entrei, Bianca estava deitada na cama, se debatendo, como se estivesse lutando contra algo invisível. Seus murmúrios eram quase incompreensíveis, ma