Bianca Santoro, — O que aquele homem pensa que sou? — murmurei, sentindo o desconforto do soro preso à minha veia. — Não vou ficar aqui, só porque ele quer. A sala branca e fria do hospital me fazia sentir ainda mais sufocada. Eu odiava hospitais, e o fato de estar ali, sob o olhar daquele homem misterioso, me deixava ainda mais agitada. Não era apenas a dor física que me incomodava, era o peso de estar constantemente sob o controle de situações que pareciam fugir do meu alcance. Eu não queria a ajuda dele, muito menos precisava de sua piedade. Não precisava de ninguém.Com um movimento brusco, arranquei a agulha do soro do meu braço. O pequeno ponto de sangue apareceu na pele, mas eu não me importei. Era uma dor insignificante comparada ao que eu já havia suportado. Respirei fundo e balancei a cabeça. Precisava sair dali, e rápido. O que quer que estivesse acontecendo, eu não queria fazer parte disso. Aquela cama de hospital me fazia lembrar da fragilidade da vida. E fragilidade er
Aléssio Romano,A sala de reuniões estava silenciosa, exceto pelo som do ar-condicionado zumbindo no canto. Ao redor da mesa de mármore polida, homens de terno esperavam para que o Don Rick finalmente continuasse a tratar do assunto dos carregamentos, suas expressões sérias. Já fazia a mais ou menos 1 hora de reunião. Don Rick estava sentado na ponta da mesa. Ele era um dos mais antigos aliados da família, mas também era o mais cauteloso. Sabia como medir cada palavra e gesto, o que o tornava um aliado perigoso, mas essencial.— Os últimos carregamentos chegaram, mas houve um problema com a alfândega no porto. — A voz de Don Rick soava como um trovão suave, mas com peso de comando. — Precisamos ter certeza de que os "contatos" estão fazendo o que foi combinado. Se não, vamos perder uma boa quantia.— Já esperava por isso. — Minha voz era calma, mas firme. — Eu tinha algumas suspeitas de que alguém estava tentando desviar a atenção da alfândega, talvez nos testar. Já mandei uma equip
Aléssio Romano,Assim que cheguei à mansão, o peso do dia começou a se fazer sentir sobre meus ombros. A reunião com Rick, o desenrolar dos problemas com os carregamentos, e, é claro, Bianca. Tudo parecia estar se acumulando em um ritmo que eu não podia controlar, e isso era algo que me incomodava profundamente. Eu sempre controlei todas as variáveis da minha vida, mas, ultimamente, sentia que as coisas estavam fugindo de minhas mãos. Eu prometi a minha sobrinha Lia, que iria na clínica quando saísse da reunião, mas com tudo que aconteceu, acabei não podendo ir. Caminhei direto para meu quarto, sem nem mesmo notar os olhares dos seguranças que estavam de plantão. Precisava de um tempo para mim. Assim que fechei a porta atrás de mim, o silêncio me envolveu, um silêncio que eu costumava apreciar, mas que hoje parecia mais pesado.Tirei minha roupa lentamente, desfazendo o nó da gravata, desabotoando o paletó e jogando-o sobre a cadeira ao lado da cama. Cada peça de roupa que removia er
Aléssio Romano,As últimas três semanas passaram em um ritmo lento, quase arrastado. Viajei, tratei de negócios importantes, participei de festas e jantares de interesse. Negociei contratos significativos e mantive minha presença no mundo dos negócios como de costume. Minha rotina seguia inabalável, com a exceção de um detalhe: nada de Bianca. Nenhum sinal, nenhuma palavra. Ela parecia ter desaparecido completamente. Meu pai sempre dizia que a pressa é inimiga da perfeição, e talvez ele estivesse certo. Algum momento, ela iria precisar de mim. Isso era inevitável. No final, todos precisam de algo. Bianca não seria diferente.Enquanto aguardava esse momento, segui com meus compromissos, concentrando-me nos acordos em andamento. O controle sempre foi a base de tudo para mim. Eu me assegurava de que cada movimento fosse calculado e eficiente. Por trás dos jantares de negócios e das festas de aparências, sempre havia uma nova negociação, uma nova aliança a ser formada. Cada passo no mundo
Bianca Santoro,Essas semanas se arrastaram como se o tempo estivesse preso, me sufocando a cada segundo que passava. Minha vida não mudou muito desde a última vez que vi aquele homem arrogante. Continuei fugindo dos canalhas a quem eu ainda devia uma boa parte do dinheiro. Sempre que achava que tinha escapado deles, apareciam em alguma esquina, prontos para me lembrar de que minha dívida estava longe de ser paga.Hoje não era diferente. Estava vestida de preto, com uma toca que cobria meu cabelo e uma máscara no rosto. Sentada em um banco em frente a uma loja de roupas, observava o movimento da rua. Minha mente estava focada em um plano. Nas últimas três semanas, estive arquitetando como conseguir o dinheiro para pagar aqueles desgraçados de uma vez por todas. Não era fácil, mas eu precisava arriscar. Precisava agir.O barulho das pessoas andando pela rua e o som dos carros ao fundo ajudavam a disfarçar minha ansiedade. Meu alvo era simples: a loja à minha frente. O caixa dela estava
Aléssio Romano,Assim que entrei no meu escritório após a visita à clínica, recebi uma ligação de Vito. Já era tarde, e eu esperava que o dia estivesse acabando, mas parecia que a noite ainda me reservaria algumas surpresas.— Senhor, Bianca se meteu em uma fria. — disse ele, com aquele tom calmo, quase indiferente. — A molecada chama assim, não é? Ela entrou em uma loja de roupas, pegou o dinheiro do caixa, e assim que saiu, o alarme disparou. A polícia foi acionada e prendeu ela. Levaram-na para a delegacia.Suspirei, sem surpresa. Eu sabia que isso iria acontecer eventualmente. Bianca não era o tipo de pessoa que conseguia se manter longe de problemas. Ela estava presa naquele ciclo autodestrutivo, e, por mais que resistisse, o fim sempre seria o mesmo. Era inevitável.— Não faça nada. — respondi a Vito. — Ela vai ter que me procurar. Eu sei que vai dar um jeito de me ligar.Desliguei o telefone e caminhei até a janela do meu escritório, olhando para o jardim lá fora. Uma parte de
Bianca Santoro, Aquela noite foi uma tortura. O filho de uma vaca sem chifres não apareceu para me tirar da delegacia. Esperei praticamente a noite inteira sentada, com os nervos à flor da pele, mas, com o passar das horas, o cansaço venceu. Quando acordei no dia seguinte, o policial já estava abrindo a cela com um olhar de tédio, como se aquilo fosse apenas mais uma tarefa rotineira. — Acorda aí, garota. — ele murmurou, dando um leve chute na cama de pedra. — Você tem sorte, sabia? Não sei como consegue tanto, de ter um homem como o senhor Romano pra vir te salvar. Olhei para ele com desdém. Sorte? Isso não era sorte. Era uma dívida. — O senhor Romano é importante pra você? — perguntei, minha voz carregada de sarcasmo. — Porque, pra mim, ele é só mais um homem como qualquer outro. O policial apenas riu, um som seco e sem humor, enquanto abria a cela para que eu saísse. Passei por ele com passos firmes, mesmo que o cansaço ainda estivesse grudado no meu corpo. Quando saí, lá esta
Aléssio Romano, Ela estava ali, bem na minha frente, sentada na cadeira do meu escritório, completamente diferente da garota que vi semanas atrás. Não parecia mais a garota ousada e de língua afiada que sempre tinha uma resposta pronta para qualquer coisa que eu dissesse. Agora, era apenas mais uma peça no meu jogo, alguém que tinha sido encurralada e não tinha para onde fugir. Era quase engraçado ver como as pessoas mudam quando percebem que estão sem saída. Por um momento, quase ri ao vê-la tão controlada. Todo aquele orgulho que ela carregava parecia ter evaporado assim que percebeu que a única maneira de sair dessa era obedecer às minhas regras. Claro, Bianca ainda tinha aquele brilho de desafio no olhar, mas agora estava quieta, absorvendo a realidade em que se encontrava. Era uma santa do pau oco, fingindo que estava calma, mas eu sabia que, por dentro, ela estava fervendo. Eu gostava disso. Gostava de ver como as pessoas tentam esconder seu verdadeiro estado quando são pegas