O Mafioso e a Ladra
O Mafioso e a Ladra
Por: NairaSousa
Capítulo 1

Bianca Santoro,

A chuva fina caía sobre os telhados enferrujados da cidade. Eu estava encostada na parede de tijolos sujos, respirando devagar. Minhas mãos estavam frias, mas não era só por causa do tempo. Era sempre assim antes de um roubo. A adrenalina corria pelas minhas veias, e meu coração batia forte, quase como se quisesse pular do meu peito. Mas o que eu sentia, mais do que qualquer coisa, era fome. Não de comida, mas de algo maior. Algo que fizesse meu mundo caótico ter sentido por um momento.

Olhei para o lado, certificando-me de que ninguém estava me observando. A rua estava vazia, exceto por alguns carros velhos estacionados e uma lixeira que transbordava. A loja de conveniência na esquina estava aberta, como sempre, com o dono, um homem gordo e careca, distraído com um jogo de futebol na pequena TV pendurada atrás do balcão.

"Agora ou nunca, Bianca" — sussurrei para mim mesma, enquanto ajeitava a touca sobre o cabelo molhado. Eu precisava daquele dinheiro. Precisava mais do que queria admitir. Era por sobrevivência.

Entrei na loja sem fazer barulho, as botas molhadas escorregando levemente no piso de azulejos. O sino acima da porta tilintou, mas o dono mal olhou para mim. A loja cheirava a cigarro barato e salgadinhos velhos. Caminhei direto para a prateleira dos doces, pegando algumas barras de chocolate só para disfarçar. Meu objetivo não era esses trocados. Estava de olho na caixa registradora.

Fingi estar interessada em uma revista, folheando as páginas enquanto meu olhar analisava os movimentos do dono e de alguns clientes que entravam para comprar alguma coisa. Ele estava completamente imerso no jogo. A qualquer momento, ele poderia gritar com raiva ou comemorar um gol. Era o momento perfeito.

Coloquei a revista de volta no lugar e me aproximei do balcão com as barras de chocolate nas mãos. O dono ainda não tinha me notado direito. Ele estava absorto no jogo, praguejando algumas palavras

para a televisão. Quando ele finalmente se virou para mim, coloquei minha melhor cara de garota inocente.

— Só isso — murmurei, jogando as barras no balcão.

Ele pegou as barras com uma mão e começou a registrar a venda com a outra, sem sequer olhar para mim. Era minha chance. Meu coração batia mais rápido, mas minhas mãos estavam firmes. Com um movimento rápido e preciso, estendi a mão para o lado do balcão, alcançando a gaveta de troco que estava entreaberta. Meus dedos tocaram as cédulas frias e eu as puxei antes que ele percebesse.

Quando me virei para sair, o sino da porta tocou de novo. Eu estava quase livre.

Quase.

— Ei! — gritou o homem atrás de mim.

Merda.

Corri. Meus pés se moveram antes mesmo que meu cérebro processasse o que estava acontecendo. Eu não olhei para trás. Apenas continuei correndo, ouvindo o som dos passos pesados dele atrás de mim. Não era a primeira vez que eu fazia isso, mas algo estava diferente dessa vez. Talvez fosse o cansaço, ou talvez eu simplesmente estivesse perdendo o toque. As ruas molhadas escorregavam sob meus pés enquanto eu virava a esquina, meu pulmão queimando com o esforço.

Virei outra esquina, correndo pelas ruas estreitas, sentindo o vento e a chuva no rosto. Não havia tempo para pensar. Meus pés sabiam o caminho, e eles me guiavam pelas vielas e becos que eu conhecia como a palma da minha mão. Ouvi o grito distante do homem, mas ele estava ficando para trás. Eu o tinha despistado.

Parei por um segundo, encostando-me em uma parede de tijolos, respirando fundo. As notas estavam firmes na minha mão, encharcadas, mas ainda serviam. Era o suficiente para pagar a dívida que eu tinha com um cara perigoso. Alguém que não aceitaria um "não" como resposta. Eu havia pegue drogas para vender, e perdi para a polícia, agora tinha que me virar para pagá-los.

— O que temos aqui? — A voz veio da escuridão à minha esquerda.

Merda de novo.

Eu me virei rapidamente, mas já era tarde demais. Dois homens altos e fortes saíram da sombra, bloqueando minha saída. Eles vestiam ternos escuros, mas o que realmente chamou minha atenção foram os olhares frios e calculistas. Esses caras não eram como o dono da loja. Eles jogavam em outra liga.

— Não queremos problemas — disse um deles, dando um passo à frente. — Só queremos o que é nosso, princesinha do tráfico.

Eu dei um passo para trás, tentando calcular a distância até a próxima esquina, mas sabia que não conseguiria correr. Eles estavam me cercando como predadores cercam uma presa. Engoli em seco, tentando pensar em uma saída, mas minhas opções estavam se esgotando rapidamente.

— Então estava roubando?

— Não sei do que você está falando — tentei responder, minha voz soando muito mais firme do que eu realmente me sentia. — Eu só estava fazendo umas compras.

Um deles olhou para o outro e riu. Um riso seco e sem humor.

— Claro. E o dinheiro que você pegou da loja? Isso é só parte das suas "compras"?

Droga. Eles tinham visto tudo.

— Olha, eu não quero confusão — comecei a dizer, tentando ganhar tempo.

— Isso é bom, porque nós também não queremos — ele interrompeu, aproximando-se mais. — Só queremos nosso dinheiro. Ou você paga, ou …

Ele deixou a frase no ar, mas o significado era claro.

Eu estava cercada. Sem saída. Sem ninguém para me ajudar. Mas, ainda assim, alguma coisa dentro de mim se recusava a desistir. Eu podia ser problemática, podia ser uma ladra, mas não ia deixar esses caras me fazerem de idiota. Não sem lutar.

— Vocês querem o dinheiro? — perguntei, levantando o punhado de notas encharcadas. — Então venham pegar.

Antes que pudesse pensar no que estava fazendo, joguei as notas para longe e corri. Mais uma vez, meus pés se moveram antes que minha mente pudesse acompanhar. Eu ouvi o som dos dois correndo atrás de mim, mas não me importava. Eu sabia que não podia vencer na força. Mas na velocidade, talvez eu tivesse uma chance.

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