A viatura parou no antigo boliche de seu João. A fachada continuava a mesma, exceto pela placa que identificava o novo negócio. “Ferro Velho João Bolicheiro”. Era a forma como conheciam seu pai e Mauro manteve como homenagem. A porta do antigo bar estava fechada, mas era o portão lateral a principal entrada do novo estabelecimento. Deixaram o carro no mesmo lugar e dobraram a esquina. Ramon pediu que Carlos e Henrick ficassem na viatura.
— Bom-dia! disse Ramon entrando no estabelecimento. — O Seu Mauro está?
Um homem, sentado em um pequeno banco, mal levantou a cabeça. Desmontava um painel de carro e sem parar o trabalho respondeu em tom mal-humorado.
— O patrão não está! Se quiser alguma coisa, fala com o outro lá no fundo.
— Oh! Muito obrigado, respondeu Ramon.
O outro de que ele falava era um sujeito de raça negra, bastante forte e que separava peças em lotes. O ferro-velho continha peças usadas de todas as marcas de automóveis. Não aparent
Não eram 11 horas ainda. Assim, a equipe resolveu não perder tempo. De acordo com a conversa de Ramon com o funcionário do ferro-velho, Mauro não dera previsão de retorno. O jeito era voltarem no riacho da floresta e prosseguirem na busca. Assim fizeram. Já haviam caminhado por duas horas aproximadamente, dentro do seu leito. Era muito tempo a mais do que haviam caminhado em 86. Além disso, o riacho começava a se transformar em um pequeno rio, atingindo dimensões de quatro metros de largura e profundidade, em alguns pontos, de quase um metro e meio. A paisagem estava totalmente mudada. Diferente de qualquer coisa registrada em suas memórias. Resolveram retornar pelo mesmo caminho até chegarem à pequena estrada. Era uma estrada recentemente aberta por trator de esteira. — Quem sabe essa estrada não seguiu o curso da vala? sugeriu Willdson. — Sabe de uma coisa, San? Não é má essa sugestão, observou Ramon. A vala de que falavam fora descobe
Nove de julho de 1990. Finalmente as idéias começavam a surgir. A equipe havia conversado muito na noite anterior. Se o Mauro estava descartado, por que não o Ariovaldo? Afinal, o Ariovaldo conhecia o Ponto M tanto quanto o Mauro e, por ser domingo, com certeza seria encontrado em casa na fazenda. A conclusão estava correta. Ariovaldo recebeu-os muito bem e alegrou-se com a visita. Conversaram por muito tempo relembrando aquela empreitada. — Almoçam com a gente, não e´? perguntou com clara satisfação. Afinal de contas, hoje é domingo! — Está certo, Ari, assentiu Ramon. Acho que estamos precisando mesmo relaxar um pouco. O almoço foi servido. A mesa era farta e toda a família e também amigos se reuniram em companhia dos arqueólogos. — E o Mauro, Ariovaldo? Como ele está? A pergunta era um tanto capciosa. Dependendo da resposta, Ramon poderia analisar o relacionamento dos dois nos tempos atuais. Ariovaldo baixou a cabeça demonstr
Dez de julho. Mal amanhecera e a equipe já iniciava os trabalhos de busca. Ariovaldo penetrava na selva como se conhecesse cada arbusto. — É aqui! gritou ele. A vala está aqui. Bem do lado dessa estradinha. Em seguida completou: — Puxa vida! Mais um pouquinho e o trator que abriu a estrada caía na vala... Interessante! Estava muito mais perto do que a equipe imaginara. A vala, provavelmente, fora usada para transporte de equipamentos, munições ou mesmo mantimentos durante a guerra do Paraguai. Teria sido ponto de defesa das construções maiores, onde tranquilamente transitaria homens e seus pertences. Do outro lado, ao sul da vala, finalmente o chamado Ponto M, batizado pela equipe em função do nome da cidade de Miranda. Durante três dias os arqueólogos transitaram tão próximos que não conseguiam acreditar. As ruínas estavam lá. Aparentemente intactas. Magníficas construções de pedra com encaixes perfeitos. Grandes muralha
Os arqueólogos jantaram mais cedo naquela noite. Tinham muito o quê preparar para o dia seguinte. Cláudio estava na capital e, portanto, não lhes fez companhia. — Preparem tudo pra nossa mudança amanhã, ordenou Ramon. Vou ligar pro Marcos e saber o que ele descobriu. Depois, dirigindo-se ao Henrick, completou: — Separe as fotos da Polaroid. Quero vê-las antes de dormir. Os outros foram para seus aposentos enquanto Ramon se encaminhou para o telefone. — Alô! Marquinhos? Espero não tê-lo acordado! — Ramon! Puxa vida! Estava mesmo esperando o seu telefonema. Tenho descobertas interessantes pra você. Marcos relatou em detalhes todas as informações que havia conseguido. — E quanto ao chefe da segurança? O que mais você descobriu? — Eu levantei a ficha do Manoel. Ele foi admitido na CIFEC em 84. Tinha boas referências. Foi da S1 durante o serviço militar e antes de vir pra cá trabalhou na segurança da Refinaria
Ramon entrou no quarto e percebeu um certo desconforto no ar. — E então, pessoal? Posso saber da notícia pra ficar chateado também? perguntou Ramon tentando amenizar o clima. — Mostra pra ele, Henrick! pediu Willdson. Henrick espalhou as fotos na cama como num jogo de cartas. Todos se voltaram para o chefe aguardando a sua reação. Ele ficou impassível. Colocou a mão na barba como sempre fazia enquanto analisava alguma coisa. — E aí? perguntou Willdson. O que é que você acha? As fotos, apesar do tempo que fazia dentro da mata, estavam bem definidas. — Pra ser sincero, eu já esperava por isso, comentou Ramon. Em três das fotos colocadas sobre a cama era possível visualizar um vulto por trás dos arbustos. — Por isso você queria tanto ver as fotos? perguntou Henrick. — Na verdade já estava sentindo a falta do nosso amigo federal. Ele deve estar nos seguindo durante todo o tempo. — Nesse caso, ele dev
O dia amanheceu belo e brilhante. A chuva dera trégua e as roupas poderiam secar ao sol. A viatura estava pronta e, após o desjejum, partiram. Em pouco tempo estavam de volta ao Ponto M. Montar acampamentos já fazia parte incontinente de suas vidas e, assim, tudo estava pronto rapidamente. — Bem, parece que finalmente estamos em “casa”. San, Henrick, vocês vêm comigo. Carlão, como diria o Sargento Gilmar, hoje você é a “mãe do dia”. Carlos cuidou de arrumar a base enquanto os outros três partiam rumo à trincheira. Não ficava longe de onde haviam montado a base, mas era preciso todo cuidado, afinal, poderia ter visita a qualquer momento. — Sabe o que me intriga, Ramon? É que a área não é tão grande... — Não se esqueça, San, que há quatro anos aqui era uma floresta só. — Está certo, você tem razão. Só que o desmatamento começou seis meses depois que nós dois saímos daqui. Assim, só me ocorre uma explicação. Eles foram mortos pelo
Tão logo os três partiram em direção à trincheira, Carlos começou a estruturar o acampamento base. Era importante estabelecer certo conforto, afinal, não tinha idéia de quanto tempo ficariam ali. Primeiramente fez o fosso do lixo, o que evitaria animais indesejáveis e insetos perniciosos. Depois iniciou a construção do fogão. Quatro forquilhas de sustentação e uma plataforma de galhos para o forro de folhas. Colocou a terra por cima e separou algumas pedras para o suporte da grelha aonde iriam a lenha e as panelas. A altura estava adequada para não cansar o cozinheiro. No entanto, alguma coisa o estava incomodando. Um sexto sentido lhe dizia que estava sendo observado. Decidiu manter a calma continuando o trabalho como se nada estivesse acontecendo, mas com os ouvidos atentos. Sabia que por ali deveriam existir inúmeras trilhas de animais da selva que iam até o riacho em busca de água. Contudo, sabia também que os animais levariam algum tempo até se acostumarem com sua prese
A manhã transcorrera normalmente e Marcos, absorto em seus pensamentos, aguardava o retorno de Fredy a qualquer momento. Não tinha ainda a menor idéia de quais atitudes tomaria. Por isso ouviria primeiro as explicações, se é que Fredy daria alguma. O telefone tocou. Era a secretária de Fredy. — Senhor Marcos? O Senhor Fredy acabou de chegar. O Senhor pediu que eu lhe avisasse... — Oh!, sim! Obrigado. A propósito: como ele está? — Não parece de bom humor. — Está bem, Valkíria. Obrigado. Vou subir agora mesmo. Marcos tomou o elevador refletindo nos últimos acontecimentos. No entanto, o que mais intrigava era a maneira como Fredy vinha agindo. Algo muito estranho estava acontecendo e ele teria de descobrir. — Bateu na porta e entrou. Fredy estava ao telefone e deixou transparecer nitidamente a sua ansiedade. Estava pálido quando, sem dizer uma palavra, colocou o aparelho no gancho. — Algum problema, Fredy? — Oi, Ma