A manhã transcorrera normalmente e Marcos, absorto em seus pensamentos, aguardava o retorno de Fredy a qualquer momento. Não tinha ainda a menor idéia de quais atitudes tomaria. Por isso ouviria primeiro as explicações, se é que Fredy daria alguma.
O telefone tocou. Era a secretária de Fredy.
— Senhor Marcos? O Senhor Fredy acabou de chegar. O Senhor pediu que eu lhe avisasse...
— Oh!, sim! Obrigado. A propósito: como ele está?
— Não parece de bom humor.
— Está bem, Valkíria. Obrigado. Vou subir agora mesmo.
Marcos tomou o elevador refletindo nos últimos acontecimentos. No entanto, o que mais intrigava era a maneira como Fredy vinha agindo. Algo muito estranho estava acontecendo e ele teria de descobrir.
— Bateu na porta e entrou. Fredy estava ao telefone e deixou transparecer nitidamente a sua ansiedade. Estava pálido quando, sem dizer uma palavra, colocou o aparelho no gancho.
— Algum problema, Fredy?
— Oi, Ma
Ramon deu ordem para que os trabalhos recomeçassem. A terra foi retirada pouco a pouco liberando pelo menos cinco degraus de uma escada. A parede que continha a pequena inscrição terminava como uma laje superior de uma abertura, possível de passar um homem. — Meu Deus, San! Isso aqui mais parece a entrada da tumba de Tutancamon descoberta por Howard Carter! Era como um túnel que se aprofundava terra adentro sustentado por colunas de pedras. — Pode me dizer o que isso significa? perguntou Willdson tentando acostumar a vista na escuridão. O túnel tinha pouco mais de dois metros de largura e o teto era arredondado, demonstrando elevados conhecimentos em arquitetura e engenharia. Com três metros de altura deveria estar há aproximadamente quatro metros abaixo da superfície. A escadaria se apresentava, agora, longa e bem talhada num total de dezoito degraus. Ramon acendeu o isqueiro para iluminar um pouco mais, afinal, as lanternas estavam na base,
A tarde caía rapidamente. Assim, os três apertaram o passo, pois na mata a escuridão da noite chega mais rápido. O cansaço tomava conta deles, mas a explicação era bastante lógica. O esforço empreendido na abertura do túnel justificava plenamente. Chegando próximo à base, podiam sentir o aroma de churrasco que exalava pelo ar. — Epa! Parece que o Carlão caprichou no jantar hoje, hein? — Calma, Henrick, comentou Willdson. Não fique tão entusiasmado. É churrasco de carne seca. E, pode acreditar, não se parece com nenhuma picanha. — Seja como for, Henrick, é melhor do que bicho de pau podre, completou Ramon. E, acredite, seu pai comeu e não reclamou. Gargalhando entre histórias e brincadeiras, os três chegaram à clareira do acampamento onde Carlos assava alguns espetos no braseiro do fogão. Imediatamente, Ramon notou os estranhos amarrados junto a uma árvore. — Hmm! murmurou com a calma e tranquilidade de sempre. Isso não é o jeit
A noite havia sido relativamente tranquila exceto para os dois hóspedes. Willdson ficara com a última ronda e, portanto, como era o costume, cuidara do dejejum.— Henrick, disse Ramon entre um gole e outro de café, solte as mãos de nossos amigos e dê a eles um pouco também. Não quero que tenham má impressão de nossa hospitalidade.Enquanto os outros terminavam o dejejum, Ramon entrou na barraca e apanhou as fotos separadas na noite anterior.— San, disse ele com certa tranquilidade. Você vai fazer um pequeno passeio. Se tudo correr bem, antes do anoitecer você estará de volta.— Está bem! E o que é que você quer que eu faça?— Vá até o quartel em Aquidauana. Da sede da fazenda até lá você faz em menos de duas horas. As dez em ponto você chama o Marcos pelo computador do Coronel K
Willdson apanhou suas informações e tomou o caminho de volta. Sabia que próximo à fazenda encontraria problemas. Talvez não pudesse chegar ao Ponto M antes que a Polícia Federal concluísse o cerco na tal usina. Se tudo corresse de acordo com os planos do Tenente Lauredson, nas duas horas de viagem até a fazenda Miranda Estância, tudo estaria concluído, pois a operação tinha de ser rápida e bem sincronizada, antes que a informação da apreensão dos caminhões frigoríficos chegasse aos ouvidos de Ramos de Ávila.Procurou cronometrar sua viagem, pois tinha consciência que dali em diante o problema não mais seria seu.Duas horas depois, segundo o previsto, visualizou a entrada da fazenda. Aparentemente tudo estava dentro da normalidade. Aliás, normal até demais. Assim, procurou aumentar a atenção.
Parte II Tudo estava correndo na mais perfeita tranquilidade. A Polícia Federal havia concluído com sucesso o que fora considerada uma das maiores operações já realizadas. Com a prisão de Ramos de Ávila e seus filhos, as fazendas seriam controladas pela Dra. Lígia, após constatado seu total desconhecimento das operações ilícitas do pai. Assim, com a morte do marido, e considerando suas atividades médicas, passaria a administração das terras para profissionais da área. Quanto a Roberto Paschoal, seria indiciado por conivência e, como primário, responderia em liberdade. Afinal, ele apenas havia cumprido ordens sem qualquer envolvimento nos negócios ilegais. Desta forma, com a fazenda praticamente vazia, a equipe da CIFEC ficaria isolada na floresta. Como o prometido, Marcos havia mandado o equipamento de comunicação, que dentro do mesmo princípio via satélite seria ativado sempre às 10:00 e às 22:00 horas. Marcos e Fredy
Marcos chegou cedo na Central e deu continuidade ao seu trabalho. Estava mais sossegado agora que enviara melhores equipamentos à equipe. O contato dessa noite seria com ele e queria ter alguma resposta; a equipe talvez estivesse tranquila após o sucesso da operação, mas ele ainda mantinha uma preocupação extra que só o abandonaria após identificar o terceiro elemento da foto. Há dois dias analisava aquela foto. O trabalho não estava sendo fácil. Afinal, a imagem se apresentava por trás de arbustos e folhagens. Assim, a parte visível do rosto ia do pescoço à ponta do nariz, deixando à mostra o queixo e a boca. Notava-se uma barba espessa e mal aparada, mas os olhos estavam totalmente encobertos até uma pequena parte da cabeça, parcialmente calva. Pelas informações que tinha recebido da equipe, restava-lhe duas alternativas. Seria um federal ou um traficante. Assim, resolveu ponderar melhor o quadro. Considerando-se que fosse um federal, provavelmente ele teri
A equipe, silenciosamente, buscava o caminho de volta. Cada um de seus elementos pensava em uma explicação para o fenômeno que acabaram de presenciar. Como poderia o tempo se processar de maneira diferenciada no mesmo ambiente? Ramon olhou no relógio para certificar-se do tempo de retorno. Alguma coisa o estava preocupando. — O tempo é uma coisa interessante, comentou sem reduzir o passo. Na verdade, ele não existe. Quer dizer. Existe, mas de forma diferenciada. — Quer dizer em relação ao referencial? — Mais ou menos isso, San. Analise essas aranhas, por exemplo. Elas estão no mesmo ambiente, mas em tempos diferentes. — Podemos até entender isso, Ramon, ponderou Carlos. Mas como explicar a interferência? Quero dizer: se compararmos a primeira aranha, a da entrada, ela sofreu a reação imposta pelo nosso tempo. A segunda aranha, a do meio do caminho, sofreu a mesma reação, porém, com efeito retardado. E a última, mais retardado ainda...
As coisas estavam se complicando cada vez mais. Ramon pediu calma nas ações. Procuraram refletir primeiro antes de tomarem qualquer atitude. Pela lei da Física, toda ação produz uma reação igual e contrária. E essa lei não era diferente ali. No entanto, descobriram, rapidamente, que a reação igual e contrária, se processava sempre 15 minutos depois. Assim, era preciso planejar muito bem cada movimento e analisar a reação que ele causaria para evitar acidentes desagradáveis ou mesmo letais. A força empreendida para mover um objeto qualquer tinha que ser equacionada. Ramon fez um primeiro teste. Viu uma pequena pedra no chão. — Olhem bem para essa pedra, disse ele. Vou tentar empurrá-la. Observem que mesmo usando toda a minha força não conseguirei movê-la. Os três ficaram observando inertes. Ramon encostou a mão e, com toda a sua força, tentou empurrá-la. Nenhum movimento. Deu um tapa nela na tentativa de aumentar a força de impacto. Nada. — Ago