Willdson apanhou suas informações e tomou o caminho de volta. Sabia que próximo à fazenda encontraria problemas. Talvez não pudesse chegar ao Ponto M antes que a Polícia Federal concluísse o cerco na tal usina. Se tudo corresse de acordo com os planos do Tenente Lauredson, nas duas horas de viagem até a fazenda Miranda Estância, tudo estaria concluído, pois a operação tinha de ser rápida e bem sincronizada, antes que a informação da apreensão dos caminhões frigoríficos chegasse aos ouvidos de Ramos de Ávila.
Procurou cronometrar sua viagem, pois tinha consciência que dali em diante o problema não mais seria seu.
Duas horas depois, segundo o previsto, visualizou a entrada da fazenda. Aparentemente tudo estava dentro da normalidade. Aliás, normal até demais. Assim, procurou aumentar a atenção.
Parte II Tudo estava correndo na mais perfeita tranquilidade. A Polícia Federal havia concluído com sucesso o que fora considerada uma das maiores operações já realizadas. Com a prisão de Ramos de Ávila e seus filhos, as fazendas seriam controladas pela Dra. Lígia, após constatado seu total desconhecimento das operações ilícitas do pai. Assim, com a morte do marido, e considerando suas atividades médicas, passaria a administração das terras para profissionais da área. Quanto a Roberto Paschoal, seria indiciado por conivência e, como primário, responderia em liberdade. Afinal, ele apenas havia cumprido ordens sem qualquer envolvimento nos negócios ilegais. Desta forma, com a fazenda praticamente vazia, a equipe da CIFEC ficaria isolada na floresta. Como o prometido, Marcos havia mandado o equipamento de comunicação, que dentro do mesmo princípio via satélite seria ativado sempre às 10:00 e às 22:00 horas. Marcos e Fredy
Marcos chegou cedo na Central e deu continuidade ao seu trabalho. Estava mais sossegado agora que enviara melhores equipamentos à equipe. O contato dessa noite seria com ele e queria ter alguma resposta; a equipe talvez estivesse tranquila após o sucesso da operação, mas ele ainda mantinha uma preocupação extra que só o abandonaria após identificar o terceiro elemento da foto. Há dois dias analisava aquela foto. O trabalho não estava sendo fácil. Afinal, a imagem se apresentava por trás de arbustos e folhagens. Assim, a parte visível do rosto ia do pescoço à ponta do nariz, deixando à mostra o queixo e a boca. Notava-se uma barba espessa e mal aparada, mas os olhos estavam totalmente encobertos até uma pequena parte da cabeça, parcialmente calva. Pelas informações que tinha recebido da equipe, restava-lhe duas alternativas. Seria um federal ou um traficante. Assim, resolveu ponderar melhor o quadro. Considerando-se que fosse um federal, provavelmente ele teri
A equipe, silenciosamente, buscava o caminho de volta. Cada um de seus elementos pensava em uma explicação para o fenômeno que acabaram de presenciar. Como poderia o tempo se processar de maneira diferenciada no mesmo ambiente? Ramon olhou no relógio para certificar-se do tempo de retorno. Alguma coisa o estava preocupando. — O tempo é uma coisa interessante, comentou sem reduzir o passo. Na verdade, ele não existe. Quer dizer. Existe, mas de forma diferenciada. — Quer dizer em relação ao referencial? — Mais ou menos isso, San. Analise essas aranhas, por exemplo. Elas estão no mesmo ambiente, mas em tempos diferentes. — Podemos até entender isso, Ramon, ponderou Carlos. Mas como explicar a interferência? Quero dizer: se compararmos a primeira aranha, a da entrada, ela sofreu a reação imposta pelo nosso tempo. A segunda aranha, a do meio do caminho, sofreu a mesma reação, porém, com efeito retardado. E a última, mais retardado ainda...
As coisas estavam se complicando cada vez mais. Ramon pediu calma nas ações. Procuraram refletir primeiro antes de tomarem qualquer atitude. Pela lei da Física, toda ação produz uma reação igual e contrária. E essa lei não era diferente ali. No entanto, descobriram, rapidamente, que a reação igual e contrária, se processava sempre 15 minutos depois. Assim, era preciso planejar muito bem cada movimento e analisar a reação que ele causaria para evitar acidentes desagradáveis ou mesmo letais. A força empreendida para mover um objeto qualquer tinha que ser equacionada. Ramon fez um primeiro teste. Viu uma pequena pedra no chão. — Olhem bem para essa pedra, disse ele. Vou tentar empurrá-la. Observem que mesmo usando toda a minha força não conseguirei movê-la. Os três ficaram observando inertes. Ramon encostou a mão e, com toda a sua força, tentou empurrá-la. Nenhum movimento. Deu um tapa nela na tentativa de aumentar a força de impacto. Nada. — Ago
Marcos abriu o canal de comunicações. O sistema era um dos mais modernos. Tinha uma câmera acoplada capaz de fornecer as imagens de transmissão e recepção. Garantiu que tudo seria gravado, áudio e vídeo, e aguardou pacientemente. Devido ao fuso horário, eram 23:00 horas no estado de São Paulo. Pacientemente aguardou o primeiro minuto. Ajeitou-se na cadeira e continuou observando a tela. — 23:03 horas? Bem! Ramon é sempre pontual... Além disso, ele sabe que só temos l5 minutos de satélite... Talvez eu esteja exagerando. Alguns minutos de atraso não quer dizer nada... Marcos aguardou mais um pouco. Depois tentou novos comandos. Checou o programa no sistema e tudo estava na mais perfeita ordem. 23:10 horas e nenhum contato na tela. — Teria acontecido algum problema mais sério? Ramos de Ávila estaria por trás disso? No íntimo sabia que não. Ramos de Ávila estava preso com toda a sua quadrilha. O fato é que uma equipe já havia desaparecido misterio
Marcos chegou cedo à Central apesar de ter saído tão tarde na noite anterior. Estava preocupado por não ter conseguido contato. Queria checar novamente o sistema pra ter certeza de que o problema não estava nele. Apanhou um café e entrou em sua sala. Não eram oito horas e, portanto, o expediente não havia começado. Ligou os equipamentos e iniciou uma batelada de testes. Antes que pudesse concluir o primeiro, o telefone tocou:— Alô!— Marcos?— Fredy? O que houve? Caiu da cama?— Oi! Bom dia Marcos, respondeu Fredy em tom alegre e despreocupado. Estou ansioso por notícias da equipe. Falou com eles ontem à noite?Marcos silenciou por um instante.— E então? insistiu Fredy. Estou curioso! Está tudo bem, não está?A pergunta foi feita como se ele já soubesse a resposta. Como escreveu o fil&oa
O telecomunicador foi desligado e a equipe retrocedeu para o túnel. Estavam famintos. Juntaram a ração que cada um tinha em suas mochilas e fizeram a distribuição de forma racionada. O mesmo destino foi dado à água. Enquanto comiam, pensando cada qual em suas suposições, Henrick fez uma observação que já havia incomodado a todos, mas que ninguém se atreveu a comentar. — Pai! Acho que estou ficando surdo! Willdson virou-se para o garoto tentando interpretar melhor o comentário. — Surdo? Por quê? Não está me ouvindo? — Você sim. Aliás, a todos vocês e muito bem. O que eu não estou ouvindo mais é o barulho lá de fora. O barulho das folhas das árvores, dos passarinhos... Willdson abaixou a cabeça. — Então você também? Eu pensei que fosse só eu... — Não é não, interviu Ramon. Isso está acontecendo com todos nós. O som foi desaparecendo gradativamente desde que saímos do túnel. Aliás, não poderia ser diferente. A origem dele
Marcos ainda tinha uma hora antes do próximo contato. Incansável no seu trabalho, resolveu checar novamente as imagens. Passou pausadamente analisando cada frase até chegar na última cena. Aquela em que Willdson sai da frente da câmera, deixando pequena parte do cenário visível. Parou a imagem instantaneamente. — Fredy. Observe essa imagem. — O que tem ela? — Está vendo esses arbustos atrás de Ramon? Fredy sorriu. — Não é muita coisa, mas estou vendo sim. O que têm eles? — Sem brincadeira, Fredy. Eles são diferentes. — Diferentes? Diferentes como? — Lembra-se da foto que analisamos do Júlio? — Claro que lembro. E o que tem a ver? — Como Willdson ocupou todo o campo de visão durante quase todo o tempo, não percebemos antes. Mas agora, analisando melhor, os arbustos têm uma nitidez mais apurada que Willdson e Ramon, mesmo com a compensação do sistema. — Pelo amor de Deus, Marcos. Você não está quer