A equipe, silenciosamente, buscava o caminho de volta. Cada um de seus elementos pensava em uma explicação para o fenômeno que acabaram de presenciar. Como poderia o tempo se processar de maneira diferenciada no mesmo ambiente?
Ramon olhou no relógio para certificar-se do tempo de retorno. Alguma coisa o estava preocupando.
— O tempo é uma coisa interessante, comentou sem reduzir o passo. Na verdade, ele não existe. Quer dizer. Existe, mas de forma diferenciada.
— Quer dizer em relação ao referencial?
— Mais ou menos isso, San. Analise essas aranhas, por exemplo. Elas estão no mesmo ambiente, mas em tempos diferentes.
— Podemos até entender isso, Ramon, ponderou Carlos. Mas como explicar a interferência? Quero dizer: se compararmos a primeira aranha, a da entrada, ela sofreu a reação imposta pelo nosso tempo. A segunda aranha, a do meio do caminho, sofreu a mesma reação, porém, com efeito retardado. E a última, mais retardado ainda...
As coisas estavam se complicando cada vez mais. Ramon pediu calma nas ações. Procuraram refletir primeiro antes de tomarem qualquer atitude. Pela lei da Física, toda ação produz uma reação igual e contrária. E essa lei não era diferente ali. No entanto, descobriram, rapidamente, que a reação igual e contrária, se processava sempre 15 minutos depois. Assim, era preciso planejar muito bem cada movimento e analisar a reação que ele causaria para evitar acidentes desagradáveis ou mesmo letais. A força empreendida para mover um objeto qualquer tinha que ser equacionada. Ramon fez um primeiro teste. Viu uma pequena pedra no chão. — Olhem bem para essa pedra, disse ele. Vou tentar empurrá-la. Observem que mesmo usando toda a minha força não conseguirei movê-la. Os três ficaram observando inertes. Ramon encostou a mão e, com toda a sua força, tentou empurrá-la. Nenhum movimento. Deu um tapa nela na tentativa de aumentar a força de impacto. Nada. — Ago
Marcos abriu o canal de comunicações. O sistema era um dos mais modernos. Tinha uma câmera acoplada capaz de fornecer as imagens de transmissão e recepção. Garantiu que tudo seria gravado, áudio e vídeo, e aguardou pacientemente. Devido ao fuso horário, eram 23:00 horas no estado de São Paulo. Pacientemente aguardou o primeiro minuto. Ajeitou-se na cadeira e continuou observando a tela. — 23:03 horas? Bem! Ramon é sempre pontual... Além disso, ele sabe que só temos l5 minutos de satélite... Talvez eu esteja exagerando. Alguns minutos de atraso não quer dizer nada... Marcos aguardou mais um pouco. Depois tentou novos comandos. Checou o programa no sistema e tudo estava na mais perfeita ordem. 23:10 horas e nenhum contato na tela. — Teria acontecido algum problema mais sério? Ramos de Ávila estaria por trás disso? No íntimo sabia que não. Ramos de Ávila estava preso com toda a sua quadrilha. O fato é que uma equipe já havia desaparecido misterio
Marcos chegou cedo à Central apesar de ter saído tão tarde na noite anterior. Estava preocupado por não ter conseguido contato. Queria checar novamente o sistema pra ter certeza de que o problema não estava nele. Apanhou um café e entrou em sua sala. Não eram oito horas e, portanto, o expediente não havia começado. Ligou os equipamentos e iniciou uma batelada de testes. Antes que pudesse concluir o primeiro, o telefone tocou:— Alô!— Marcos?— Fredy? O que houve? Caiu da cama?— Oi! Bom dia Marcos, respondeu Fredy em tom alegre e despreocupado. Estou ansioso por notícias da equipe. Falou com eles ontem à noite?Marcos silenciou por um instante.— E então? insistiu Fredy. Estou curioso! Está tudo bem, não está?A pergunta foi feita como se ele já soubesse a resposta. Como escreveu o fil&oa
O telecomunicador foi desligado e a equipe retrocedeu para o túnel. Estavam famintos. Juntaram a ração que cada um tinha em suas mochilas e fizeram a distribuição de forma racionada. O mesmo destino foi dado à água. Enquanto comiam, pensando cada qual em suas suposições, Henrick fez uma observação que já havia incomodado a todos, mas que ninguém se atreveu a comentar. — Pai! Acho que estou ficando surdo! Willdson virou-se para o garoto tentando interpretar melhor o comentário. — Surdo? Por quê? Não está me ouvindo? — Você sim. Aliás, a todos vocês e muito bem. O que eu não estou ouvindo mais é o barulho lá de fora. O barulho das folhas das árvores, dos passarinhos... Willdson abaixou a cabeça. — Então você também? Eu pensei que fosse só eu... — Não é não, interviu Ramon. Isso está acontecendo com todos nós. O som foi desaparecendo gradativamente desde que saímos do túnel. Aliás, não poderia ser diferente. A origem dele
Marcos ainda tinha uma hora antes do próximo contato. Incansável no seu trabalho, resolveu checar novamente as imagens. Passou pausadamente analisando cada frase até chegar na última cena. Aquela em que Willdson sai da frente da câmera, deixando pequena parte do cenário visível. Parou a imagem instantaneamente. — Fredy. Observe essa imagem. — O que tem ela? — Está vendo esses arbustos atrás de Ramon? Fredy sorriu. — Não é muita coisa, mas estou vendo sim. O que têm eles? — Sem brincadeira, Fredy. Eles são diferentes. — Diferentes? Diferentes como? — Lembra-se da foto que analisamos do Júlio? — Claro que lembro. E o que tem a ver? — Como Willdson ocupou todo o campo de visão durante quase todo o tempo, não percebemos antes. Mas agora, analisando melhor, os arbustos têm uma nitidez mais apurada que Willdson e Ramon, mesmo com a compensação do sistema. — Pelo amor de Deus, Marcos. Você não está quer
A equipe penetrava no túnel afoitamente. Sabiam, os seus integrantes, que se houvesse uma solução estaria em algum ponto daquela trajetória. O caminho era igual a cada passo. Reto. Totalmente reto. Estavam andando há quatro horas, portanto, duas horas além do último ponto conhecido. Os relógios continuavam marcando a hora segundo seus próprios relógios biológicos. A bússola era consultada constantemente, apenas para ter certeza de que a direção magnética permanecia a mesma. Oeste. Ramon determinou a primeira parada para que pudessem angariar forças. Dez minutos seriam o bastante. — Até quando vamos andar? perguntou Henrick. Não houve resposta, e nem precisava haver. O retorno não os levaria a nada e eles sabiam disso. Portanto, andariam até enquanto suas pernas aguentassem. Parar significava morte certa. Assim, se tivessem que morrer, que morressem tentando. Willdson acendeu seu penúltimo cigarro. — Bem, Ramon, disse ele, só tem mais u
PARTE III Ramon sentiu-se meio tonto. Anestesiado era a palavra exata. Abriu os olhos com cautela. Estranhamente estava em pé. Olhou para si próprio vagarosamente e ainda teve tempo de ver seu corpo se formando. Como se estivesse se materializando. Aguardou alguns segundos e só então tateou alguns passos. Analisou o cenário e, apesar da familiaridade, alguma coisa estava confusa. Estava nas ruínas do Ponto M e disso não tinha dúvidas, mas... por que tudo estava tão esquisito? Não sabia explicar o que lhe dava essa sensação. No entanto, o mais importante agora era encontrar os outros integrantes. Sabia que o acampamento estava em linha reta da posição em que se encontrava e partiu em direção a ele. Teria voltado ao tempo normal? O pesadelo teria acabado? Com certeza não. Sua missão era encontrar o paradeiro da equipe do Projeto INCA e disso ele estava convicto. Só não conseguia imaginar como os encontraria. Vivo
Willdson abriu os olhos vagarosamente. Seu rosto estava voltado para o chão. Sem levantar a cabeça, procurou primeiro analisar o cenário. Estava caído como se tivesse sido atirado ao solo por uma imensa força. Só se lembrava que, antes de tudo desaparecer dentro do túnel, agarrara o braço de Carlos tentando o caminho de retorno. Lembrava-se ainda de uma mudança brusca na luminosidade, no momento da transição. Era como se tivesse mudado de faixa, ou seja, retornado à faixa do vermelho. Levantou-se vagarosamente e bateu a poeira da roupa numa atitude habitual. Passou os olhos pelo cenário à procura de alguém, sem perceber, no entanto, que nenhuma nuvem de poeira havia levantado de suas roupas. — Droga, Carlão! O que houve com você, cara? Vamos! Levanta, homem! Carlos estava inerte. Willdson chegou até ele e procurou reanimá-lo. Respirava, portanto estava vivo. Willdson abriu o cantil e despejou um pouco de água no rosto do amigo. Carlos abriu os olh