Dez de julho. Mal amanhecera e a equipe já iniciava os trabalhos de busca. Ariovaldo penetrava na selva como se conhecesse cada arbusto.
— É aqui! gritou ele. A vala está aqui. Bem do lado dessa estradinha.
Em seguida completou:
— Puxa vida! Mais um pouquinho e o trator que abriu a estrada caía na vala...
Interessante! Estava muito mais perto do que a equipe imaginara.
A vala, provavelmente, fora usada para transporte de equipamentos, munições ou mesmo mantimentos durante a guerra do Paraguai. Teria sido ponto de defesa das construções maiores, onde tranquilamente transitaria homens e seus pertences.
Do outro lado, ao sul da vala, finalmente o chamado Ponto M, batizado pela equipe em função do nome da cidade de Miranda.
Durante três dias os arqueólogos transitaram tão próximos que não conseguiam acreditar. As ruínas estavam lá. Aparentemente intactas. Magníficas construções de pedra com encaixes perfeitos. Grandes muralha
Os arqueólogos jantaram mais cedo naquela noite. Tinham muito o quê preparar para o dia seguinte. Cláudio estava na capital e, portanto, não lhes fez companhia. — Preparem tudo pra nossa mudança amanhã, ordenou Ramon. Vou ligar pro Marcos e saber o que ele descobriu. Depois, dirigindo-se ao Henrick, completou: — Separe as fotos da Polaroid. Quero vê-las antes de dormir. Os outros foram para seus aposentos enquanto Ramon se encaminhou para o telefone. — Alô! Marquinhos? Espero não tê-lo acordado! — Ramon! Puxa vida! Estava mesmo esperando o seu telefonema. Tenho descobertas interessantes pra você. Marcos relatou em detalhes todas as informações que havia conseguido. — E quanto ao chefe da segurança? O que mais você descobriu? — Eu levantei a ficha do Manoel. Ele foi admitido na CIFEC em 84. Tinha boas referências. Foi da S1 durante o serviço militar e antes de vir pra cá trabalhou na segurança da Refinaria
Ramon entrou no quarto e percebeu um certo desconforto no ar. — E então, pessoal? Posso saber da notícia pra ficar chateado também? perguntou Ramon tentando amenizar o clima. — Mostra pra ele, Henrick! pediu Willdson. Henrick espalhou as fotos na cama como num jogo de cartas. Todos se voltaram para o chefe aguardando a sua reação. Ele ficou impassível. Colocou a mão na barba como sempre fazia enquanto analisava alguma coisa. — E aí? perguntou Willdson. O que é que você acha? As fotos, apesar do tempo que fazia dentro da mata, estavam bem definidas. — Pra ser sincero, eu já esperava por isso, comentou Ramon. Em três das fotos colocadas sobre a cama era possível visualizar um vulto por trás dos arbustos. — Por isso você queria tanto ver as fotos? perguntou Henrick. — Na verdade já estava sentindo a falta do nosso amigo federal. Ele deve estar nos seguindo durante todo o tempo. — Nesse caso, ele dev
O dia amanheceu belo e brilhante. A chuva dera trégua e as roupas poderiam secar ao sol. A viatura estava pronta e, após o desjejum, partiram. Em pouco tempo estavam de volta ao Ponto M. Montar acampamentos já fazia parte incontinente de suas vidas e, assim, tudo estava pronto rapidamente. — Bem, parece que finalmente estamos em “casa”. San, Henrick, vocês vêm comigo. Carlão, como diria o Sargento Gilmar, hoje você é a “mãe do dia”. Carlos cuidou de arrumar a base enquanto os outros três partiam rumo à trincheira. Não ficava longe de onde haviam montado a base, mas era preciso todo cuidado, afinal, poderia ter visita a qualquer momento. — Sabe o que me intriga, Ramon? É que a área não é tão grande... — Não se esqueça, San, que há quatro anos aqui era uma floresta só. — Está certo, você tem razão. Só que o desmatamento começou seis meses depois que nós dois saímos daqui. Assim, só me ocorre uma explicação. Eles foram mortos pelo
Tão logo os três partiram em direção à trincheira, Carlos começou a estruturar o acampamento base. Era importante estabelecer certo conforto, afinal, não tinha idéia de quanto tempo ficariam ali. Primeiramente fez o fosso do lixo, o que evitaria animais indesejáveis e insetos perniciosos. Depois iniciou a construção do fogão. Quatro forquilhas de sustentação e uma plataforma de galhos para o forro de folhas. Colocou a terra por cima e separou algumas pedras para o suporte da grelha aonde iriam a lenha e as panelas. A altura estava adequada para não cansar o cozinheiro. No entanto, alguma coisa o estava incomodando. Um sexto sentido lhe dizia que estava sendo observado. Decidiu manter a calma continuando o trabalho como se nada estivesse acontecendo, mas com os ouvidos atentos. Sabia que por ali deveriam existir inúmeras trilhas de animais da selva que iam até o riacho em busca de água. Contudo, sabia também que os animais levariam algum tempo até se acostumarem com sua prese
A manhã transcorrera normalmente e Marcos, absorto em seus pensamentos, aguardava o retorno de Fredy a qualquer momento. Não tinha ainda a menor idéia de quais atitudes tomaria. Por isso ouviria primeiro as explicações, se é que Fredy daria alguma. O telefone tocou. Era a secretária de Fredy. — Senhor Marcos? O Senhor Fredy acabou de chegar. O Senhor pediu que eu lhe avisasse... — Oh!, sim! Obrigado. A propósito: como ele está? — Não parece de bom humor. — Está bem, Valkíria. Obrigado. Vou subir agora mesmo. Marcos tomou o elevador refletindo nos últimos acontecimentos. No entanto, o que mais intrigava era a maneira como Fredy vinha agindo. Algo muito estranho estava acontecendo e ele teria de descobrir. — Bateu na porta e entrou. Fredy estava ao telefone e deixou transparecer nitidamente a sua ansiedade. Estava pálido quando, sem dizer uma palavra, colocou o aparelho no gancho. — Algum problema, Fredy? — Oi, Ma
Ramon deu ordem para que os trabalhos recomeçassem. A terra foi retirada pouco a pouco liberando pelo menos cinco degraus de uma escada. A parede que continha a pequena inscrição terminava como uma laje superior de uma abertura, possível de passar um homem. — Meu Deus, San! Isso aqui mais parece a entrada da tumba de Tutancamon descoberta por Howard Carter! Era como um túnel que se aprofundava terra adentro sustentado por colunas de pedras. — Pode me dizer o que isso significa? perguntou Willdson tentando acostumar a vista na escuridão. O túnel tinha pouco mais de dois metros de largura e o teto era arredondado, demonstrando elevados conhecimentos em arquitetura e engenharia. Com três metros de altura deveria estar há aproximadamente quatro metros abaixo da superfície. A escadaria se apresentava, agora, longa e bem talhada num total de dezoito degraus. Ramon acendeu o isqueiro para iluminar um pouco mais, afinal, as lanternas estavam na base,
A tarde caía rapidamente. Assim, os três apertaram o passo, pois na mata a escuridão da noite chega mais rápido. O cansaço tomava conta deles, mas a explicação era bastante lógica. O esforço empreendido na abertura do túnel justificava plenamente. Chegando próximo à base, podiam sentir o aroma de churrasco que exalava pelo ar. — Epa! Parece que o Carlão caprichou no jantar hoje, hein? — Calma, Henrick, comentou Willdson. Não fique tão entusiasmado. É churrasco de carne seca. E, pode acreditar, não se parece com nenhuma picanha. — Seja como for, Henrick, é melhor do que bicho de pau podre, completou Ramon. E, acredite, seu pai comeu e não reclamou. Gargalhando entre histórias e brincadeiras, os três chegaram à clareira do acampamento onde Carlos assava alguns espetos no braseiro do fogão. Imediatamente, Ramon notou os estranhos amarrados junto a uma árvore. — Hmm! murmurou com a calma e tranquilidade de sempre. Isso não é o jeit
A noite havia sido relativamente tranquila exceto para os dois hóspedes. Willdson ficara com a última ronda e, portanto, como era o costume, cuidara do dejejum.— Henrick, disse Ramon entre um gole e outro de café, solte as mãos de nossos amigos e dê a eles um pouco também. Não quero que tenham má impressão de nossa hospitalidade.Enquanto os outros terminavam o dejejum, Ramon entrou na barraca e apanhou as fotos separadas na noite anterior.— San, disse ele com certa tranquilidade. Você vai fazer um pequeno passeio. Se tudo correr bem, antes do anoitecer você estará de volta.— Está bem! E o que é que você quer que eu faça?— Vá até o quartel em Aquidauana. Da sede da fazenda até lá você faz em menos de duas horas. As dez em ponto você chama o Marcos pelo computador do Coronel K