Capítulo 11 -
― Moonlit Flowers on Cliffside's Edge, em outras palavras ‘Flores enluaradas na beira do penhasco’... ― James murmurou para si mesmo.

Aquela pintura era a herança mais importante de sua família e o Dragão General se lembrava nitidamente do que o seu avô tinha dito, antes de morrer. Segundo o idoso, mesmo que toda a família Caden fosse exterminada, a pintura era tão valiosa que deveria ser preservada. Mesmo depois de dez anos, esse pensamento ainda impressionava James.

― Prepare-se, Henry. Agiremos, hoje à noite. ―

― Entendido ― o homem negro assentiu.

― Estamos combinados, mas agora você deve ir. Minha esposa está prestes a sair do trabalho e ela não quer que eu me relacione com arruaceiros. Vestido dessa forma, você não parece uma pessoa bem intencionada e, se ela ver que estamos conversando, eu vou ficar em apuros. ―

O sorriso de Henry se desfez. Tudo bem que ele andava por aí de regatas e boné, mas isso era o suficiente para que ele fosse chamado de arruaceiro? Por que seu jeito de vestir faria dele um cara mau?

― Não fique aí parado, vá embora! ― James falou, olhando para o relógio, preocupado que sua mulher poderia aparecer a qualquer segundo.

Henry ligou o veículo blindado e partiu bem a tempo. O trabalho de Thea havia terminado e ela sairia a qualquer momento.

James montou na motocicleta elétrica e foi até a sede da Eternality, da família Callahan, mas, antes que se aproximasse da entrada, avistou uma mulher saindo do prédio.

Ela tinha um metro e sessenta e cinco e vestia um traje formal de negócios que consistia em uma camisa branca de botão, uma saia lápis preta e saltos vermelhos. O cabelo castanho ondulado emoldurava seu rosto, e a maneira como andava, com uma pasta na mão, transmitia uma poderosa confiança.

― Thea! ―

James preparava-se para acelerar em sua direção quando notou um homem que se aproximava dela, segurando um buquê de flores e dizendo:

― São para você, Thea. Você está livre esta noite? Eu reservei uma sala privativa no The Drunken Fairy esta noite. Eu adoraria levá-la para jantar. ―

Este homem era Brandon, da família Frasier, uma das famílias restantes dos Quatro Grandes de Cansington.

A partir do momento em que Thea obteve a prioridade dos contratos com a Celestial e que sua aparente amizade com Alex Yates, o presidente da Celestial, foi exposta, a fama da família Callahan cresceu exponencialmente e Thea se tornou a mulher mais desejada da cidade. Afinal, ela era tão competente, como presidente da Eternality, que conseguiu colocar a empresa em ordem, em apenas meio mês, além disso, sua aparência física era magnifica.

Embora ela fosse casada, James era praticamente desconhecido e não vinha de nenhuma família importante. Por isso, os herdeiros das famílias ricas ignoravam sua existência e continuavam cortejando Thea, na esperança de eventualmente conquistá-la.

Ignorando o homem com o buquê estendido, Thea avistou James e sua motocicleta elétrica e deu um sorriso deslumbrante. James encostou a moto e foi recebido com um beijo e um abraço cheios de carinho.

― Querido, este é Brandon Frasier. Ele acabou de me convidar para jantar no The Drunken Fairy. Eu nunca estive lá. ―

― Que ótimo que ele a convidou, então! Se você tem vontade, deveria ir. Eu também nunca estive lá, se ele não se opuser, eu gostaria de ir também. ―

A expressão de Brandon ficou amarga e ele começou a se apresentar, com a arrogância típica de quem não está acostumado a ser contrariado:

― James Caden? Eu sou Brandon Frasier ― ele estendeu um cartão, como se Thea não o tivesse apresentado. Então, limpou a garganta e continuou: ― eu te ofereço quinhentos mil dólares, se você deixar Thea! ―

― Eu devo aceitar, querida? ―

― Depende de você ― disse Thea, com um sorriso divertido brincando em seus lábios ― eu acho que você deveria, assim, você poderia reservar uma mesa no The Drunken Fairy e ainda sobraria um bom dinheiro. ―

― Vou levar, então. ―

James sorriu para Brandon ao aceitar o cartão:

― Então, qual é a senha? ―

Brandon torceu o nariz para James, sem entender se o casal falava sério ou se estavam debochando de sua oferta. Por isso, quando respondeu, sua voz soou mais áspera do que antes:

― Aqui está. Tem meio milhão aí. Pegue o dinheiro dessa conta e suma daqui. De agora em diante, Thea não terá mais nada a ver com você! ―

― Sim! Claro! ― James assentiu, com os olhos arregalados, como se prestasse muita atenção a cada palavra dita. Então, completou ― vamos resolver nosso divórcio agora mesmo. Suba, querida. ―

Thea sentou no banco de trás da motocicleta, passou os braços em volta da cintura de James e eles foram embora, sob o olhar perplexo de Brandon.

Brandon ainda ficou observando o casal se afastar, por alguns segundos, antes de finalmente concluir que tinha sido enganado. O empresário jogou o buquê de flores no chão e praguejou, gritando com raiva:

― Ora! Seu verme! Isso não vai ficar assim! ―

James e Thea chegaram em casa, ainda dando risadinhas debochadas, até que a mulher se sentou no sofá e, ainda sorrindo, estendeu a mão para James.

― O quê? ― James disse, apertando o cartão em seu bolso ― Foi para mim que Brandon deu o dinheiro do divórcio. Esta é a minha aposentadoria, agora. ―

― Que dinheiro de divórcio que nada. Dê aqui! ― Thea fez beicinho e continuou ― Eu pago por sua comida, suas bebidas, suas amenidades, suas roupas. Para que você precisa de dinheiro? Vou guardar para quando tivermos filhos. Eles são caros, sabe? ―

Relutante, James entregou o cartão de Brandon, comentando:

― Isso não para de acontecer, querida! Somando todo o dinheiro que me deram para que eu me separasse de você, só nesses dez dias, seriam mais de dois milhões. Esse dinheiro é meu... ―

Antes que o homem completasse a frase, uma voz veio da direção da porta da frente:

― Que dinheiro? ―

Reconhecendo a voz da mãe, apressadamente, Thea enfiou o cartão no bolso e respondeu, com uma voz que soou mais insegura do que o esperado:

― Não é nada... ―

Gladys caminhou até o casal, falando brava, com a filha:

― Desde quando você aprendeu a mentir para mim? Eu ouvi tudo! Dois milhões, para que aconteça um divórcio? Cadê esse dinheiro? ―

― Mãe, realmente, não foi nada! ― Thea protestou.

E James assentiu:

― Tá vendo? Não foi nada. ―

Gladys lançou um olhar furioso na direção do genro:

― Estou falando com minha filha e isso não é da sua conta! Você não deveria estar fazendo o jantar, uma hora dessas? Vá em frente, então! ―

― Sim, sim ― James foi para a cozinha e começou a cozinhar.

Depois de trinta minutos, a comida estava pronta e o grupo se sentou para jantar. A refeição ocorreu sem que Gladys voltasse a questionar sobre o dinheiro ou criticar o genro.

Assim que terminaram de comer, James levou Thea para o quarto quando e perguntou:

― Você não disse nada para ela, não é, querida? ―

Thea lançou um olhar bravo na direção do marido:

― Foi tudo culpa sua por falar tão alto. Mamãe pegou todo o dinheiro! Disse que era o pagamento por ter me criado e que eu não precisava de nada daquilo porque agora tenho um emprego. ―

― O quê? ― James a encarou, com os olhos arregalados ― Você deu tudo a ela? ―

O homem deixou os ombros caírem pesados. Desempregado, desde que deixara as forças armadas e se juntara aos Callahan, James estava falido. Até mesmo seus cigarros já tinham todos sido fumados por ele e Henry. Ele realmente pretendia ficar com um daqueles cartões e usar o dinheiro, pelo resto da vida.

― Eu tive que fazer isso ― Thea disse, impotente ― os cem mil de Astor, duzentos e cinquenta mil de Bertrand, trezentos mil de Oswald e quinhentos mil de Frasier... mamãe levou todos. ―

James suspirou:

― Espero que algum outro cara rico venha e me faça outra proposta para que eu me separe de você, mais uma vez. Eu preciso desse dinheiro! Aliás, me dê algum dinheiro, querida. Eu não tenho mais nem para comprar cigarros. ―

― Eu não acredito em você. Eu vi um cartão preto em seu bolso, outro dia, enquanto lavava sua roupa. Não me diga que não há nada nele. Dê aqui! Eu vou guardar para você. ―

Thea estendeu a mão, esperando o cartão de James e, sem questionar a esposa, o homem pegou a carteira e retirou um cartão preto fosco, com a insígnia de um dragão brilhante. Não havia nome nem números no cartão.

Quando lavava as roupas, Thea tinha olhado o cartão sem dar muita atenção, mas agora que o observava com atenção, ficou confusa e perguntou:

― Que tipo de cartão é esse? Por que não tem nada escrito? ―

― Bem... ― James hesitou ― Ele é vinculado a todos os grandes bancos, então posso usá-lo em qualquer lugar. Além disso, ele possui um chip de identificação, portanto não há necessidade de números. Afinal, estamos no século XXI. ―

Thea guardou o cartão no bolso, meio convencida:

― Qual é a senha dele? ―

― São oito oitos. Quanto ao valor da conta... não sei quanto tem. ―

― Oito oitos é o seu nariz! ― Thea retorquiu ― Senhas não têm oito dígitos! ―

― Desculpe, então são seis oitos. ― disse James, com um sorriso tímido.

Na verdade, o cartão não possuía senha, afinal era um cartão único e o número de série seria irrelevante. O objeto único era uma confirmação da identidade e do poder de James. Quanto à quantia disponível na conta, o homem realmente não sabia, afinal, ainda não o tinha usado, nem para ver o saldo. No entanto, como o cartão era o resultado de dez anos de serviço e honra, provavelmente haveria um saldo bastante substancial. Era só que, agora que ele havia subido tão alto, o dinheiro não significava nada para ele, então ele nunca se importou com o cartão.

Thea poderia ficar com o objeto, afinal, sem ela, James estaria morto e não haveria cartão. Thea foi quem deu a ele tudo o que tinha.
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