Capítulo 12 -
James fez beicinho, impotente, enquanto sua carteira era devolvida, sem o cartão preto.

― Traga-me o vestido do meu armário ― disse Thea, mudando de assunto ― há um banquete importante esta noite. ―

James se levantou e caminhou em direção ao armário, perguntando:

― Qual deles, querida? ―

Olhando de longe, para as opções disponíveis, Thea disse:

― O branco, com decote em V. ―

― Esse daqui? Eu nunca tinha reparado nele antes, mas vai ficar muito bonito em você! ― James pegou o vestido e levou até a companheira, sondando ― Um banquete importante... Mas, qual será a ocasião? ―

― Rowena Xavier está organizando um banquete de leilão. A família possui muitos itens raros e de valor inestimável, então quase todos os participantes são poderosos, de uma forma ou de outra. Então, vou expandir minha rede de contatos, enquanto estiver lá. ―

James fez uma pausa quando ouviu isso, mas se recuperou imediatamente.

― Precisa que eu te dê uma carona? ― Ele perguntou.

― Não, obrigada. Vou pegar o táxi. ―

― Ah, tudo bem, então. ―

Thea tomou um banho e colocou o vestido branco. Como previsto, a mulher ficou deslumbrante. Debaixo de uma chuva de elogios de James, ela entrou no táxi e partiu. Alguns minutos depois, sem ser visto por mais ninguém da família Callahan, James também deixou a mansão.

Quase todos os ativos da família Xavier tinham sido liquidados, incluindo os imóveis, entretanto, a família tinha preservado sua mansão.

Todos os membros relevantes da família tinham se reunido no pátio e ocupado seus lugares na grande mesa. O lugar antes ocupado por Warren, o idoso assassinado, destinado ao líder da família, era ocupado por um homem de meia-idade vestido com uniforme militar.

Trent Xavier, servia na fronteira ocidental e não pôde estar presente na festa de aniversário do pai, quando o crime aconteceu. Entretanto, assim que soube, pediu dispensa e retornou para o lar, mesmo que não pudesse voltar no tempo, ainda haviam coisas a serem feitas. Afinal, o assassino tinha deixado uma pista. Ele era um remanescente da família Caden, exterminada em um incêndio.

Percebendo se tratar de uma vingança, Trent foi para a Capital procurar o verdadeiro mandante do extermínio da família Caden. Em sua investigação, o militar descobriu duas informações valiosas, a primeira foi o valor inestimável do quadro Moonlit Flowers em Cliffside's Edge para a família Caden e a segunda é que, de fato, uma pessoa poderia ter sobrevivido e a responsável era uma jovem chamada Thea Callahan. Trent Xavier tinha descoberto que a jovem havia sido desfigurada pelo fogo na tentativa de tirar alguém de dentro da mansão em chamas. Entretanto, ao que parecia, a pessoa salva tinha sumido sem deixar vestígios.

O influente homem da Capital ordenou uma investigação, na tentativa de descobrir quem era o sobrevivente do incêndio e Trent voltou para Cansington, apenas para descobrir que no pequeno período em que estivera ausente, sua família tinha falido e que o mesmo nome reaparecia. Thea Callahan estava envolvida.

Ocupando outro assento de prestígio estava Rowena Xavier, uma mulher de aparência tão impecável que até mesmo o passar do tempo não ousava afetar sua beleza. Entretanto, o brilho no seu olhar era de raiva, enquanto dizia:

― Trent, o assassino do nosso pai pode ser um mistério, mas quem nos levou à falência foi Thea Callahan. Joel disse que Alex Yates só nos derrubou por causa de um telefonema daquela mulher! ―

A expressão de Trent se tornou sombria e ele cerrou os punhos, dizendo, entredentes:

― Ninguém é capaz de nos suportar como inimigos, nem mesmo Alex Yates. Vou mostrar ao mundo que nossa família não é mole não. Hoje à noite, os Callahan caem! ―

O banquete e o leilão da família Xavier eram realizados no Cansington Hotel.

Do lado de fora, carros de luxo se alinhavam por toda a rua e celebridades circulavam pelo prédio. Todas pessoas convidadas por Rowena estavam presentes, pois, embora os Xavier tivessem falido e as pessoas estivessem relutantes em comparecer, a notícia de que Trent Xavier havia retornado os convenceu do contrário.

O militar havia contribuído muito para a ascensão dos Xavier na cidade, já que servia na fronteira oeste e ocupava um cargo bastante alto na hierarquia militar.

Vestindo sobretudos pretos, Henry e James se aproximaram do Hotel Cansington e pararam, prestando atenção na presença militar do lado de fora do prédio. Henry, então, comentou:

― Ei, James, eles usam as insígnias das tropas ocidentais. Isso significa que Trent Xavier está de volta? Tenho certeza de que ele é o conselheiro do Rei Alegre. A patente dele também é muito alta, se eu não me engano, ele é vice comandante. ―

― Conselheiro do Rei Alegre? ― James zombou. ― Mesmo que o próprio comandante estivesse aqui esta noite, eu o faria se ajoelhar diante de mim, se ele ousasse ficar no meu caminho. ―

O país de Sol era governado pelo Imperador que, com sede na Capital, comandava todas as tropas militares da região interna do país, mas cada uma de suas regiões fronteiriças estava sob o comando de um poderoso general. Assim, os Cinco Comandantes eram famosos em Sol.

O Dragão Negro das Planícies do Sul, o Centurião do Norte, o Rei Alegre do Oeste, o Rei Bárbaro do Leste e o Imperador da Capital.

Em termos de influência, o Imperador era o mais forte. No entanto, embora, dos cinco, o Dragão Negro fosse quem estava no poder a menos tempo, ele era o mais forte em termos de força bruta e juventude. Mesmo que todos os outros comandantes o desafiassem, ao mesmo tempo, eles poderiam não ser páreo para ele.

Outro motivo que fazia o Dragão Negro ser tão temido e respeitado eram seus infindáveis conhecimentos em medicina, que o tinham rendido o título de Asclépio, o deus da medicina.

Circulava a lenda de que James Caden era, até mesmo, capaz de reviver os mortos. Tratava-se de um exagero, mas parecia que, realmente, se o paciente chegasse em suas mãos, com uma última centelha de vida, Asclépio interromperia o golpe de foice da Morte.

James não sentia nenhuma ameaça em saber que o conselheiro do Rei Alegre pudesse estar presente, pois sabia que nenhum dos comandantes iria intervir em um ato seu.

— Alguém tem que morrer esta noite, James? ―

― A prioridade é recuperar a pintura. Se alguém se opuser e acabar morrendo, paciência. ―

― Quando entramos? ―

― Não há pressa. Entraremos quando o evento começar. ―

― Entendido! ―

Assim, eles permaneceram fora do hotel, observando a entrada dos convidados e a presença constante dos soldados que montavam guarda no hotel, deixando os poderosos desconfortáveis com aquela demonstração ostensiva de forças. Trent Xavier queria mostrar que estava de volta e, mesmo que seu pai estivesse morto e sua família falida, sua presença representava que haveria tempestade em Cansington.

Os convidados se reuniam no último andar do hotel. Thea tinha chegado a algum tempo. O vestido branco e longilíneo acentuava sua figura esbelta e seu cabelo amarrado a deixava com um ar gracioso e elegante. Ela se misturou à multidão repleta de estrelas, expandindo sua rede pessoal, como queria. Entretanto, em dado momento, a jovem se afastou dos outros convidados para apreciar a vista da cidade.

A atenção da jovem foi chamada quando dois trabalhadores, que passavam perto dela, deixaram escapar a pintura que carregavam.

A pintura caiu no chão, quebrando a caixa de transporte e a redoma de cristal que a protegia das intempéries. Um fragmento cortou a pintura, enquanto a obra de arte terminava de tombar aos pés de Thea.

― Que diabos foi isso? ― Um trabalhador olhou para o vidro quebrado e a pintura cortada no chão, então olhou para Thea ― por que você esbarrou em mim?! ―

― O quê? Eu não esbarrei em ninguém! ― Thea disse, confusa, sabendo que não havia tocado em ninguém ― eu realmente não esbarrei. Você não encostou em outra coisa? ―

― De jeito nenhum. Só deixei cair porque você esbarrou nos meus braços. Você ao menos sabe o que é isso? É a Moonlit Flowers on Cliffside's Edge! Ela tem mais de dois mil anos! E é uma das relíquias mais valiosas de todo o país! ―

O outro trabalhador juntou-se a eles, apontando para Thea e acusando:

― Isso foi culpa sua, Thea Callahan. Você fez isso! ―

Ouvindo a comoção, os convidados começaram a se aglomerar:

― O que está acontecendo aqui? ― Um homem de meia-idade vestido com uniforme militar falou, com grosseria ― o que há com toda essa gritaria? Você esqueceu como deve agir na frente dos convidados? ―

― Chefe, estávamos transportando a pintura quando Thea Callahan a derrubou. E agora, ela está... Está arruinada. ―

Trent se ajoelhou e franziu a testa para o corte na pintura:

― Foi a Moonlit Flowers on Cliffside's Edge... Ela realmente está arruinada ― e virando-se para Thea, disse ― ela foi avaliada em um ponto oito bilhões de dólares! ―

― Mas, não fui eu! ― Thea disse, enquanto se afastava, com medo do alto preço citado. Se aquilo fosse cobrado dela, a jovem jamais seria capaz de pagar, mesmo que vendesse até a alma das pessoas de sua família.

Trent se levantou e olhou para ela, com indiferença:

― Não pretendo acusar ninguém com leviandade. Este lugar está equipado com câmeras de vigilância. Saberemos a verdade assim que revisarmos a filmagem. Traga isso aqui! ―

Alguns minutos depois, alguém trouxe a filmagem. Empolgados pelo fato, os convidados se aglomeravam em torno do telão onde o vídeo seria exibido.

Nas imagens, os trabalhadores passaram por Thea, quando a jovem se moveu esbarrando em um deles, aparentemente, com a intenção de derrubar a pintura.

Trent olhou friamente para Thea.

― Um ponto oito bilhões, Thea Callahan ― ele disse, então se virou para seus homens ― leve-a embora. Mande alguém visitar os Callahan. Se eles não puderem pagar, traga-os todos aqui. ―

Thea segurou as lágrimas, enquanto os soldados se aproximavam dela.

― Realmente não fui eu! Não fui eu, General Xavier! eu não fiz isso! Eu não o derrubei! ―

A aglomeração havia crescido consideravelmente, mas ninguém falou nada para se opor ao tratamento rude dado à convidada, estavam todos contentes em apenas sentir pena de Thea.

― Que pena. Os Callahan tinham acabado de começar a prosperar e agora vão para o ralo... ―

― Sim! Um ponto oito bilhões! Eles definitivamente vão à falência. Eles seriam capazes de conseguir tanto, depois de vender tudo? ―

― Thea não teve sorte, eu acho. Isso foi descuido dela. ―

A cor sumiu do rosto da jovem, enquanto ouvia as conversas, sendo escoltada pelos soldados. Em algumas ocasiões, chegou a cogitar se embrenhar entre os convidados e escapar, mas a forma com que os soldados empunhavam as armas dava a entender que não hesitariam em atirar.

― Leve-a para a sala dos fundos! ― Trent comandou. ―

Em desespero e desamparo, Thea apenas acompanhou os homens. Os convidados manifestavam expressões de choque e surpresa, mas secretamente, tinham se divertido com o espetáculo e aquilo se tornaria uma boa história para contar para os amigos e familiares.

O incidente não afetou o evento e Rowena Xavier apareceu para anunciar o início do leilão.
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