Capítulo 2

**Maria Silva**

Ele apertou mais o meu braço, seus olhos penetrantes me encarando com desdém. "Vamos, me diga quem você é," ele repetiu, sua voz carregada de ameaça.

"Eu..." minha voz falhou. Não sabia o que responder. Estava apavorada.

"Você não deveria estar aqui," ele rosnou. "Eu vou fazer da sua vida um inferno se não me disser o que sabe." Ele se aproximou ainda mais, sussurrando no meu ouvido. "Mal posso esperar para descobrir o que está escondendo."

Minhas pernas começaram a tremer, o medo me consumindo por completo. Eu não deveria ter vindo. Estava claro que eu havia cometido um erro terrível. Mas antes que eu pudesse reagir, ele me puxou para mais perto.

"Você vai sair daqui agora, e vamos conversar em um lugar mais privado," ele disse, guiando-me em direção à saída. O pânico me dominou, e minha mente começou a correr em busca de uma saída. Não podia deixar que ele me levasse.

Eu me sentia como se estivesse flutuando em um mar de confusão e angústia. As memórias da minha vida se misturavam com a realidade, e a pressão da situação me esmagava como uma maré implacável. Eu não deveria ter vindo aqui, sabia disso, mas algo mais forte que o medo me levou até aquele lugar. O velório de Matheus de Alcântara e Leão, ou Bruno, como ele se apresentou a mim no passado, era a última coisa que eu esperava enfrentar.

Quando o homem me agarrou pelo braço, exigindo saber quem eu era, senti o chão fugir de meus pés. A dor do aperto no braço não se comparava à dor interna ao perceber que Bruno nunca foi quem dizia ser. Ele era Matheus, o delegado que tinha arruinado minha vida. Aquele encontro, que deveria ser apenas uma despedida silenciosa, como eu queria dizer em seu ouvido, mesmo sabendo que ele não ia ouvir, que perdeu tantas coisas, rapidamente se transformou em um pesadelo.

Antes que eu pudesse responder, uma mulher loira, magra, alta e com uma aura de autoridade, surgiu ao lado do homem. Com um vestido preto que acentuava sua figura e um batom vermelho que contrastava com a palidez do rosto, ela olhou para mim com desdém.

"Quem é essa mulher, Bruno?" a loira perguntou, com uma voz fria e calculada. “Como deixaram isso passar pelos seguranças?”

"É isso que estou tentando descobrir," o homem respondeu, ainda segurando meu braço.

“Uma pessoa como ela não deveria nem ter entrado aqui, vai nos envergonhar.”

O medo e a adrenalina fizeram minhas pernas tremerem. O nome "Bruno" ecoava na minha mente, e então a revelação veio como um soco no estômago. Bruno, o homem com quem eu tinha tido um relacionamento, acreditando que me amava, que me fez acreditar que o amor não existe, era na verdade Matheus. Por isso nunca encontrei nada sobre ele, nenhuma pista e ninguém sabia ou conhecia Bruno. 

Como fui tola, como ele me enganou. Por que Matheus, por que você fez isso comigo? Tive vontade de ir até lá, de bater, de questionar e de… O choque foi demais para mim, e a visão escureceu até que tudo ao meu redor desapareceu.

Quando recobrei a consciência, estava deitada em um sofá macio, em uma sala desconhecida. O cheiro de perfume floral era suave, mas nauseante, misturando-se ao medo que me dominava. Ouvi vozes próximas, falando sobre mim, e o pânico voltou com força total. Precisava sair dali, não importava como. Com as mãos ainda trêmulas, levantei-me do sofá e fui até a janela, que estava aberta. Não havia grades, o que significava uma rota de fuga, mas quando me inclinei para ver o lado de fora, percebi que estava em um andar alto.

"Ela está aqui. Não sei quem ela é, pai..." A voz do homem chamado Bruno soou tão perto que eu mal tive tempo de pensar antes de me lançar pela janela, caindo pesadamente no chão do lado de fora.

Uma dor aguda atravessou meu tornozelo, mas ignorei. Eu precisava escapar, custasse o que custasse. Mancando, me arrastei para uma moita próxima, onde me escondi, tentando controlar a respiração ofegante. Os passos e vozes se aproximaram, e eu ouvi Bruno, que estava na janela, dar ordens para que me encontrassem.

“Ela não está aqui, senhor.”

“Encontrem aquela mulher, nem que tenham que revirar túmulo por túmulo desse cemitério.”

O tempo parecia se arrastar enquanto eu permanecia imóvel, rezando para que não me descobrissem. Cada segundo se tornava uma eternidade, mas finalmente, as vozes começaram a se afastar. A escuridão e o silêncio eram meus únicos aliados, e eu estava determinada a usar isso a meu favor.

Ouvi o choro de uma mulher e soube que o funeral estava se aproximando do fim. O caixão de Matheus foi carregado por homens silenciosos, vários policiais estavam ali, e eu, apesar de todo o terror que sentia, não pude deixar de sentir uma pontada de tristeza. Aquele homem que eu odiava e, de alguma forma, ainda amava, estava morto. Sua presença na minha vida tinha sido devastadora, mas agora, vendo o fim dele, tudo parecia sem sentido.

"Eu perdoo você. Que Deus lhe dê um bom lugar," sussurrei, quase inaudível, enquanto as lágrimas desciam pelo meu rosto. 

Ouvi os tiros, que ecoavam no cemitério como uma forma tradicional de homenagem ao falecido. O som era profundo e reverente, um ritual comum em funerais para marcar a despedida de alguém importante para a polícia. As explosões reverberavam pelo fim da tarde, misturando-se ao murmúrio das últimas palavras de homenagem e ao sussurro das despedidas dos presentes.

As pessoas começavam a se dispersar lentamente, o burburinho das conversas e os passos apressados substituindo a solenidade do momento anterior. 

O cheiro das flores misturava-se com o aroma da pólvora dos tiros, criando uma combinação estranha e perturbadora. As vozes que antes eram baixas e respeitosas agora se tornavam mais altas, com algumas pessoas expressando seu alívio por finalmente poderem ir embora, enquanto outras se reuniam em pequenos grupos, discutindo o que havia acontecido.

 Matheus estava em seu descanso eterno. Quando as luzes se apagaram e o cemitério ficou mergulhado na escuridão, soube que era hora de fugir. A dor em meu tornozelo era insuportável, mas eu me forcei a caminhar, afinal eu estava presa dentro de um cemitério. Não havia mais tempo a perder. A única saída era um muro próximo, com uma árvore que poderia me ajudar a subir e escapar. Mas quando me lancei da árvore, mal percebi o vulto que se aproximava.

O impacto da queda foi amortecido por um par de mãos fortes que me seguraram no ar. Senti um arrepio correr pela espinha quando ouvi a voz familiar. Meu corpo deslizou no dele.

"Pensou que poderia escapar de mim tão facilmente? Acha mesmo que eu não ficaria de olho ele você"

Meu coração parou por um momento. O homem à minha frente era idêntico ao Matheus. Eu lutei para me soltar, as mãos grandes dele segurava os meus braços, mas ele era forte demais.

"O que você quer de mim?" sussurrei, sentindo o desespero crescer dentro de mim.

“Eu perguntei primeiro, lá dentro, quem é você e o que estava fazendo aqui? Por que estava no velório do meu irmão?”

Meu mundo girava fora de controle. Minha mente estava a mil, tentando encontrar uma saída. Mas agora, estava presa em uma armadilha que eu mesma havia construído ao procurar pelo passado.

“Foi aquele traficante filho da puta que te mandou aqui, não foi?” Ele me olhou de cima a baixo. “Olha para você, garota. O que ele quer agora? Vamos me fala, eu vou acabar com você. Assim como ele acabou com meu irmão.”

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