**Maria Silva**
Eu estava nervosa, as mãos tremendo enquanto tentava manter a compostura. Não errar as palavras e saber o que falar aquele homem imponente à minha frente era crucial naquele momento. "Não, eu não vim aqui a mando de ninguém,” O que eu diria para ele? Tive um caso com seu irmão e ele me enganou e vim aqui só para ver se ela realmente estava morto? A voz dentro da minha cabeça me alertava, tentando encontrar uma saída para aquela situação insana. Diante de mim, o homem que parecia ser a sombra viva de Matheus me encarava com uma intensidade perturbadora. "Sou uma jornalista e queria uma foto." Era a desculpa mais plausível que consegui formular naquele momento. “Só isso.” "Foto? Como assim? Você acha mesmo que sou idiota, garota? Até parece que você não sabe com quem está falando" A voz dele era um misto de desprezo e desafio. Ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós. "Você queria tirar foto da minha família num momento frágil como esse. Era para eu estar indo para minha casa depois de enterrar meu irmão, mas estou aqui, segurando uma maluca que eu tenho certeza que veio a mando daquele desgraçado que matou meu irmão." Eu me mantive firme, embora por dentro estivesse desmoronando. "Você pode me soltar, por favor?" Minha voz saiu mais firme do que eu esperava, e, surpreendentemente, ele me soltou. Meu corpo relaxou, mas minha mente permanecia em alerta. "Eu... Eu sou uma jornalista, e queria a matéria. Não vim a mando de ninguém." Ele me olhou de cima a baixo, seus olhos carregados de ceticismo. "Para que jornal você trabalha?" Ele se aproximou mais, sua presença era imponente, como uma parede de força que me cercava, me sufocava. "Me diga, pra quem você trabalha?" O rosto dele estava tão próximo que eu podia sentir o calor da sua respiração. Bruno de Alcântara e Leão. Será que esse era o nome dele? Tão parecido com Matheus que eu precisei de todas as minhas forças para não recuar. Será que eram gêmeos? "Eu..." Minha voz falhou, minha garganta estava seca. “Eu sou uma jornalista freelance, não trabalho para um jornal específico. Estou tentando vender uma foto boa para quem pagar mais." Bruno sorriu, mas não era um sorriso amigável. "Você espera que eu acredite nessa história?" Ele estava tão perto que eu podia ver as pequenas rugas na sua testa, detalhes que me lembravam Matheus. E eu tive vontade de passar os dedos ali. "Por que eu acho que você está mentindo para mim?" Ele começou a subir a mão vagarosamente pelos meus braços, até chegar ao meu rosto. Cada toque parecia queimar minha pele, uma mistura de repulsa e desejo que me deixava confusa. Sua mão chegou à minha nuca, os dedos se entrelaçando nos meus cabelos, puxando-os suavemente, me prendendo em um lugar que eu não queria estar, mas do qual não conseguia me mover. Os olhos dele devoravam os meus, como se quisesse ver dentro da minha alma, descobrir meus segredos mais profundos. "Eu não trabalho para ninguém," consegui dizer devagar, com a voz trêmula, quase sussurrando. "O que você estava fazendo no velório do meu irmão? Quem é você?" Ele não estava apenas me interrogando. Estava me caçando, jogando um jogo que eu não sabia se conseguiria vencer. "Eu… já lhe disse, se não quiser acreditar não acredite," As palavras pularam da minha boca. Bruno se aproximou ainda mais, os lábios quase tocando os meus. O ar entre nós parecia eletrificado, como se a qualquer momento ele pudesse fazer algo inesperado, algo que eu não queria, mas que de alguma forma meu corpo parecia desejar. "Por que eu acho que você está mentindo para mim?" Ele me perguntou, mais uma vez. Sua voz estava mais baixa, mais rouca, carregada de uma tensão que me fez querer fugir. "Vamos, me diga quem mandou você aqui, um jornalista tem uma câmera e você não tem uma." A proximidade dele era sufocante, seus olhos me prendiam, sua presença me consumia. "Eu já te disse. Sou uma jornalista e não trabalho para ninguém, só queria uma foto boa para vender para quem pagasse mais, iria tirar do meu celular. E agora já chega dessa história e das suas perguntas," Eu precisava me afastar. Não podia deixar ele se aproximar mais. Eu já havia caído nas mentiras de Matheus uma vez e não permitiria que isso acontecesse de novo. Bruno não encostou a boca na minha, mas estava tão perto que parecia que o calor dele poderia me incendiar a qualquer momento. Ele estava jogando comigo, me provocando, me testando, e eu sabia que estava à beira de perder o controle. “Qual é o seu nome?” Algo dentro de mim estalou. A raiva que eu mantinha reprimida desde que tudo aconteceu, desde que Matheus entrou na minha vida e destruiu tudo, explodiu em um impulso de autopreservação. Eu o empurrei com toda a força que consegui reunir, fazendo-o recuar alguns passos. "Pare de me torturar! Eu não estou mentindo! Você não pode fazer nada contra mim, me deixe ir embora ou vou ligar para a polícia.” Minha voz era quase um grito, cheia de emoção e desespero. “Você vai ligar para a polícia?” Ele riu. “Acha que pode me enganar se passando por uma mulher ingênua?" Havia algo sombrio em seus olhos, algo que me fez lembrar que aquela família podia ser perigosa, afinal eles eram ricos e poderosos, precisava pesquisar sobre eles, urgentemente, eu não devia estar ali, se eles descobrissem o meu segredo, eu estaria arruinada. “Vai me dizer que não sabe que a minha família tem muito poder e pode acabar com você num piscar de olhos.” “Você não pode me prender, não fiz nada de errado, e já chega disso tudo. Se vier atrás de mim ligo para polícia e digo que tem um louco me seguindo,” mostrei o celular para ele. Eu o empurrei novamente, e, sem pensar, comecei a andar pela calçada do cemitério, as pernas trêmulas, a cabeça rodando. "Estou exausta," pensei. Não tinha dormido, tinha ficado o dia inteiro naquela moita, agachada, esperando que aqueles seguranças idiotas saíssem de lá. Eu precisava ver o enterro do homem que arruinou minha vida, mesmo que fosse para ter certeza de que ele estava realmente morto. "Ah, Deus, eu já o perdoei. Não me deixe falar mal dele. Que ele encontre a luz e vá para bem longe." Fiz o sinal da cruz, pedindo para que ele encontrasse a paz, enquanto eu caminhava para longe daquele inferno. De repente, um carro preto e luxuoso parou ao meu lado. O vidro se abaixou, revelando Bruno, seu olhar fixo em mim. "Entra, eu vou te levar em sua casa." Eu dei uma risada nervosa. "Não, nem sei quem você é. Acha que vou entrar no seu carro? Tá louco? Ainda mais com você falando que vim a mando de não sei quem, sai fora cara." Ele suspirou, como se eu estivesse sendo irracional. "Essa região é perigosa, você não pode ficar aqui sozinha, entra no carro." Eu olhei ao redor, consciente de que ele estava certo. O cemitério era grande, mal iluminado, e as poucas casas residenciais ao redor não ofereciam muita segurança. Meu medo aumentava a cada segundo, mas o medo de Bruno ainda era maior. "Eu vou para o ponto de ônibus, logo ele passa" murmurei, caminhando na direção oposta ao carro dele. Minha madrinha já tinha ligado várias vezes, mas eu não atendi. Apenas enviei uma mensagem rápida dizendo que estava bem e que estava fazendo um bico no hotel. "Eu odeio mentir," pensei, mas não tive escolha. Bruno não desistiu. Ele continuou me seguindo com o carro, os faróis iluminando meu caminho. "Entra nesse carro, garota. Você já percebeu que esse lugar não é confiável?" "Sim, mas eu também não conheço você. E não entro no carro de pessoas que não conheço," respondi, lembrando do maldito dia que eu tinha feito essa mesma bobagem e entrado no carro irmão dele, e me arrependi amargamente, pensei, mas mantive a boca fechada. Ele suspirou novamente, mas não insistiu. "É melhor entrar no carro, ou você vai ser assaltada ou coisa pior.” Assim que as palavras saíram da boca dele, lá estava o destino brincando comigo. Dois caras acabaram de virar a esquina, vindo em minha direção. Senti o frio na espinha. "Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come," pensei, sem saber o que fazer. “Oi gracinha, não sai com ele não vem brincar com a gente, estamos em dois vai ser mais divertido,” escutei o grito de um dos idiotas. "Eu não posso," disse com medo, tentando manter a distância. Mas, sem dizer uma única palavra, Bruno desceu do carro, caminhou rapidamente até onde eu estava e, antes que eu pudesse reagir, me jogou em seu ombro como se eu fosse um saco de batatas. Em seguida, abriu a porta do carro e me colocou lá dentro, com uma firmeza que não deixava espaço para protestos. O som da porta se fechando ecoou na minha mente, sinalizando que eu estava presa, sem saída. E agora, dentro do carro com Bruno de Alcântara e Leão, eu só podia esperar pelo que viria a seguir.Maria SilvaEu me joguei no banco do carro, ofegante, tentando processar tudo que havia acontecido nas últimas horas. Não era apenas a tensão de estar no velório do homem que destruiu minha vida. Agora, eu estava à mercê de um completo estranho, ou melhor, do irmão do daquele que eu tanto queria esquecer. A presença dele ao meu lado era sufocante, e o silêncio que dominava o carro era ainda pior."Você não pode fazer isso, me jogar dentro do seu carro," disse, tentando soar mais firme do que me sentia.Ele me olhou de soslaio, os olhos estreitos e a mandíbula cerrada. "Você queria que eu te deixasse lá para ser... Deveria ter deixado aqueles homens fazerem o que quisessem com você, talvez você deixasse de ser tão teimosa." Ele estava furioso, mas eu não conseguia rebater, pois sabia que ele estava certo. Se Bruno não tivesse ali, o que teria acontecido? Nem queria imaginar.Ele continuou, sua voz carregada de desconfiança. "A não ser que eles estivessem com você e tudo aquilo era uma
Maria Silva**Assim que Vivian falou, senti um calafrio subir pela espinha. Benício era mesmo a cara de Bruno, cada traço dele me lembrava Matheus, o pai de Ben. Eu mal conseguia pensar em como eu ia esconder isso. Meus pensamentos corriam, e quando ela mencionou o quanto Ben se parecia com Bruno, senti meu coração disparar.“Se ele ver o moleque, ele vai saber na mesma hora. Quase caí pra trás, quando prestei atenção no rosto dele,” Vivian comentou, balançando a cabeça como se estivesse em choque.“Vivian, o pai do Ben morreu,” murmurei, tentando processar tudo.“Como assim, morreu?” Ela arregalou os olhos.“Você assistiu os noticiários hoje? Viu o filho de um ricaço que mataram? Ele é o pai do meu filho,” expliquei, ainda incrédula.“Caralho, eu não acredito que o pai do Ben é rico?” Vivian estava pasma, e antes que eu pudesse responder, o cliente dela apareceu no topo da escada.“Vivian, eu paguei pela hora e você fica aí de papo com a sua amiga,” ele resmungou.“Espera aí, bebezão
**Maria Silva**Eu era uma mãe desesperada naquele momento, sentindo-me a pior de todas. Havia negligenciado meu próprio filho, deixado ele de lado enquanto me envolvia nas complicações do velório do pai dele e na tentativa de fugir de Bruno de Alcântara e Leão. As lembranças de tudo o que havia acontecido nas últimas horas rodavam em minha mente, me afogando em culpa e desespero. Como pude ser tão egoísta? Meu pequeno Ben precisando de mim, e eu fugindo, me escondendo, vivendo na sombra de um passado que parecia sempre me alcançar.“Venha, Maria, eu levo você,” a voz suave e acolhedora de seu João, nosso vizinho, me tirou de meus pensamentos sombrios. Ele era um senhorzinho gentil, dono de um Fusca preto que, embora velho e barulhento, sempre estava à disposição para ajudar quem precisasse.“Obrigado, eu vou aceitar,” respondi, forçando um sorriso enquanto lutava para segurar as lágrimas que ameaçavam cair. Entrei no Fusca, o barulho do escapamento pipocando e me lembrando da fragili
Bruno de Alcântara e Leão Eu não era um homem dado a devaneios. Sempre fui prático, focado, e implacável quando necessário. Um juiz nato. Mas ali, parado diante do caixão do meu irmão, toda a minha razão parecia esvair-se, substituída por uma fúria que queimava em meu peito. Matheus, o irmão que eu deveria ter protegido, estava morto. Metade de seu corpo queimado, desfigurado, um aviso claro para mim. A vida dele foi o preço por minha cruzada contra aqueles que acham que estão acima da lei. Eu sabia que o preço seria alto, mas nunca imaginei que seria ele a pagá-lo.Olhei ao redor, a expressão dos meus pais, da esposa de Matheus, a dor estampada em cada rosto familiar. Eu era o juiz Bruno de Alcântara e Leão, temido e respeitado, mas naquele momento, eu não era mais do que um homem devastado. Eu prometi a mim mesmo que faria qualquer coisa para destruí-los, aqueles que tiraram Matheus de nós. Mas minha atenção foi desviada por uma figura entre as pessoas da alta sociedade carioca que
**Maria Silva**Dois dias se passaram desde que recebi a notícia devastadora de que Benício, meu pequeno guerreiro, precisava de um transplante de rim. Cada minuto desde então parecia uma eternidade, uma sequência interminável de exames e consultas médicas, onde a incerteza me consumia. O que antes era uma vida comum agora se resumia a salas de espera e corredores de hospital, onde o cheiro de desinfestante e as paredes brancas frias me lembravam constantemente da fragilidade da nossa existência.Fazia parte do meu ser lutar, e era isso que eu estava fazendo agora: lutar por Benício com todas as minhas forças, mesmo que minhas forças estivessem se esvaindo, mesmo que eu estivesse me sentindo exaurida, em frangalhos, como se a vida estivesse me arrancando pedaço por pedaço. Aquele hospital havia se tornado minha casa temporária, onde eu me refugiava no único lugar onde sentia alguma conexão com algo maior, uma esperança, uma fé: a capela.Entrei na capela, um lugar pequeno e simples, m
**Maria Silva**“Você está bem?” A voz grave de um homem me atingiu como um eco distante, misturado à dor que pulsava em minha cabeça. Meus olhos lutaram para se abrir, como se estivessem colados. Quando finalmente consegui, o rosto de um estranho se formou diante de mim. Ele me carregava nos braços, seus passos firmes, enquanto eu tentava entender o que estava acontecendo. Tudo estava confuso, como se eu estivesse saindo de um sonho ruim.“O que está acontecendo?” Minha voz saiu fraca, e eu levei a mão à minha cabeça, sentindo uma dor aguda. A realidade veio como uma onda: eu tinha sido atropelada. Mas por quê? Como?“Você foi atropelada por um carro. Um senhor estava distraído, e você acabou sendo atingida. Estou te levando para ser atendida,” ele disse, continuando a caminhar com uma firmeza preocupante.“Não, eu estou bem. Não preciso de atendimento,” protestei, tentando me mover nos braços dele. O hospital particular estava a poucos metros, e o pensamento de entrar ali como pacie
** Maria Silva**“Olá, falo com a senhora, Maria Silva?” A voz da mulher surge depois do meu alô.“Sim, sou eu mesma.”“Alguns exames ficaram prontos, e o doutor quer falar com você.”“Claro, eu vou para o hospital agora mesmo.”“Calma, senhora Maria, o doutor vai falar com você amanhã de manhã, por isso estou ligando para marcar.” “Obrigada.”Gabriel estava me olhando, e uma onda de vergonha me atingiu. Eu havia contado minha vida inteira para ele, um completo estranho que me salvou de um atropelamento e depois de outro quase acidente. Quem era ele? Por que se importava tanto comigo? “Maria, vamos voltar para a lanchonete e conversar. Talvez essa angústia que você está sentindo diminua um pouco,” ele sugeriu, com um tom suave.Suspirei, sentindo o peso de tudo que estava acontecendo. “Ah, Gabriel... Eu estou me sentindo tão incapaz, como se o mundo estivesse desabando na minha cabeça.”Ele me olhou com um ar de compreensão, mas também de impotência. “Eu não tenho filhos, mas consig
**Maria Silva**Eu estava em pânico. O hospital era um lugar onde eu jamais imaginei encontrá-lo, ainda mais onde meu filho estava. Mas ali estava Bruno, com seus olhos sombrios fixos em mim, como se pudesse enxergar cada um dos meus segredos.Tentei ser rápida, agir antes que ele se aproximasse. Aproveitei a oportunidade quando vi um paciente sendo levado em uma maca pelos corredores. Me misturei aos enfermeiros, como se fizesse parte daquela cena, tentando desaparecer no caos do hospital. Virei o corredor com eles, fazendo o máximo para parecer invisível. O coração disparado no peito, eu sabia que não tinha muito tempo. Só precisava chegar até o elevador, fugir daquele lugar antes que ele me encontrasse.Quando o elevador apareceu à minha frente, as portas estavam se fechando, e sem pensar, segurei a porta com as mãos trêmulas, forçando a entrada. Entrei na caixa metálica, o coração ainda batendo acelerado, uma pontada de esperança me atravessando – eu estava conseguindo fugir. Mas