Maria Silva**
Assim que Vivian falou, senti um calafrio subir pela espinha. Benício era mesmo a cara de Bruno, cada traço dele me lembrava Matheus, o pai de Ben. Eu mal conseguia pensar em como eu ia esconder isso. Meus pensamentos corriam, e quando ela mencionou o quanto Ben se parecia com Bruno, senti meu coração disparar. “Se ele ver o moleque, ele vai saber na mesma hora. Quase caí pra trás, quando prestei atenção no rosto dele,” Vivian comentou, balançando a cabeça como se estivesse em choque. “Vivian, o pai do Ben morreu,” murmurei, tentando processar tudo. “Como assim, morreu?” Ela arregalou os olhos. “Você assistiu os noticiários hoje? Viu o filho de um ricaço que mataram? Ele é o pai do meu filho,” expliquei, ainda incrédula. “Caralho, eu não acredito que o pai do Ben é rico?” Vivian estava pasma, e antes que eu pudesse responder, o cliente dela apareceu no topo da escada. “Vivian, eu paguei pela hora e você fica aí de papo com a sua amiga,” ele resmungou. “Espera aí, bebezão. Eu já vou subir, mas agora preciso trocar uma ideia com a minha amiga. Volta lá pro quarto, assim que eu terminar eu vou subir pra terminar com você, bebezão.” Ela lançou um beijo para o homem, que se retirou, ainda que contrariado. “Esses caras enchem o saco,” ela suspirou, revirando os olhos. “Eu imagino,” respondi, tentando me focar. “Mas, sério, o cara era rico? Meu Deus, o Ben tá montado na grana agora. Você já contou pro tio dele, né amiga? Só não entendi porque você veio parar aqui?” “Claro que não contei, Vivian. O tanto que eu sofri pra criar meu menino sozinha. E agora, o pai dele morre, e eu tenho medo que a família dele tire o menino de mim. O tio dele é juiz, você tem noção? Se eles quiserem tomar o Ben de mim.” “Juiz? Aquele cara que tava aqui na frente do meu bordel? Ele não tem ideia, né?” “Claro que não, eu falei que era uma jornalista e que fui lá só pra poder conseguir uma foto pra ganhar dinheiro, e esse homem invocou comigo, disse que eu tava lá a mando do cara que matou, Matheus.” “Mas ele se chamava Bruno, quem é Matheus?” “O pai do Ben, ele mentiu o tempo todo, por isso nunca encontrei nada dele. Quando procurei pelo Bruno na delegacia onde ele disse que trabalhava, eu nunca encontrei aquele filho da puta.” “Amiga, que loucura essa história. Então o bonitão pai do Ben morreu e o bonitão que estava aqui é o juiz, tio do seu filho.” “Sim, ele é o juiz, tio do meu filho. Espero que ele me esqueça e nunca mais apareça, e se por acaso ele vier aqui, diga que não sabe onde eu moro.” “Vai ser difícil mentir para um cara como ele, mas eu dou meu jeito.” “Vivian, eu preciso ir embora,” anunciei, abrindo a porta da casa, só para dar de cara com Bruno, parado encostado no carro, conversando com os seguranças. “Merda,” murmurei, recuando de volta para dentro. “Pelo jeito, ele não engoliu a história de que você mora aqui. Mas nós podemos dar um jeito,” Vivian comentou, me puxando para o sofá onde as meninas recebiam os clientes. “Como, Vivian? Preciso ir para a boate trabalhar.” “Nossos clientes nem sempre entram ou saem pela porta da frente. Temos uma portinha lá nos fundos e você pode ir embora por lá. Depois você pega um táxi, eu vou ligar para ele, que vai te encontrar no portãozinho. Igual a gente faz com os clientes e ninguém vai te ver,” ela sugeriu, sua voz cheia de determinação. Como eu ia pagar um táxi, eu não tinha ideia. “E vai tranquila, depois eu me acerto com ele.” “Vivian, eu nem sei como te agradecer,” disse, com a voz embargada de gratidão. “Vai embora, garota. Ser feliz e cuidar do seu menino,” ela me empurrou suavemente em direção aos fundos da casa. Enquanto seguíamos para a saída secreta, passamos pelo bar na parte de baixo, transformado em boate. O ambiente estava com alguns clientes bebendo e socializando. O barman me cumprimentou com um aceno de cabeça enquanto eu passava. “Vai minha linda e não deixa esse homem encontrar você e o seu menino, eles podem querer tirar o Ben de você. Tome cuidado. Se o cara lá morreu, sabe como é né, eles vão querer que alguém substitua o morto, e seu filho pode ser o substituto perfeito,” ela aconselhou, com uma seriedade que me fez estremecer. “Você tem razão,” concordei, sentindo um calafrio de pavor. Vivian abriu a pequena portinha para mim. Do lado de fora, um carro já estava esperando. O motorista abriu a porta, e eu entrei rapidamente no veículo. Era um carro popular, com vidros escuros e uma placa de táxi, nada que levantasse suspeitas. “Boa noite, moça. Você está segura no carro, ninguém consegue ver nada aqui dentro.” “Obrigado.” Passamos em frente à casa, e eu vi Bruno observando o carro, mas ele não fez nada. Eu continuei olhando para trás até que o carro virou a esquina, e o rosto de Bruno desapareceu da minha vista. Rezei para nunca mais ter que ver Bruno de Alcântara e Leão de novo. O taxista era simpático, e eu dei o endereço da boate. Precisava trabalhar, mesmo que estivesse atrasada. Assim que desci do táxi, agradeci ao motorista e corri para começar meu turno, mesmo com meu pé ainda latejando de dor. “Tá atrasada hein, Maria. Tô te observando,” a gerente da boate disse, com um tom de advertência e gesticulando. “Me desculpe, eu tive um imprevisto,” expliquei, tentando soar convincente. “Deixa a garota, pode descansar Maria,” o dono da boate se aproximou, sempre com aquela gentileza que, por trás, escondia intenções duvidosas. “Sabe que não precisa trabalhar como uma louca não sabe, então você vai aceitar minha proposta?” ele passou os dedos em meu rosto me causando repulsa. “Eu vou me arrumar para o trabalho, obrigado,” respondi, mantendo a compostura. A noite de trabalho transcorreu tranquila, mas eu estava exausta e dormi um pouco no meu horário de janta. O dia tinha sido tão louco, tantas emoções se passaram em minha mente, nem mesmo olhei meu celular. Mal podia esperar para chegar em casa, tomar um banho e dormir. Sentia tanta saudade do meu filho, meu pequeno que havia ficado órfão de pai. Na verdade, ele nunca teve um, mas saber que ele nunca iria conhecer Matheus, fazia meu coração doer. Durante a noite, meu celular vibrou várias vezes com chamadas da madrinha, mas eu não consegui retornar, a gerente havia proibido o uso do telefone. Quando finalmente saí da boate, consegui pegar o ônibus e caminhar os dois quarteirões até a minha casa, encontrei uma vizinha correndo em minha direção. “Maria, Maria, ainda bem que você chegou,” a mulher estava esbaforida, o rosto pálido. “Eu tenho uma notícia pra você, minha filha, a sua madrinha levou o menino no hospital.” “O que aconteceu com meu filho?” perguntei, sentindo minhas pernas fraquejarem, meu coração batendo descompassado. Mal podia acreditar no que estava ouvindo. O que tinha acontecido com o meu menino? Ele estava bem quando eu saí de casa. Uma sensação de desespero tomou conta de mim, e eu não consegui mais segurar as lágrimas. Peguei minha bolsa, já me preparando para correr para o hospital. Minhas mãos tremiam tanto que eu mal conseguia segurar o telefone para ligar para a madrinha e descobrir o que havia acontecido. Minha mente estava uma confusão completa, com os pensamentos correndo de um lado para o outro, entre Bruno e Matheus… e agora meu filho no hospital. Eu sentia como se o mundo estivesse desmoronando ao meu redor, e não sabia o que fazer.**Maria Silva**Eu era uma mãe desesperada naquele momento, sentindo-me a pior de todas. Havia negligenciado meu próprio filho, deixado ele de lado enquanto me envolvia nas complicações do velório do pai dele e na tentativa de fugir de Bruno de Alcântara e Leão. As lembranças de tudo o que havia acontecido nas últimas horas rodavam em minha mente, me afogando em culpa e desespero. Como pude ser tão egoísta? Meu pequeno Ben precisando de mim, e eu fugindo, me escondendo, vivendo na sombra de um passado que parecia sempre me alcançar.“Venha, Maria, eu levo você,” a voz suave e acolhedora de seu João, nosso vizinho, me tirou de meus pensamentos sombrios. Ele era um senhorzinho gentil, dono de um Fusca preto que, embora velho e barulhento, sempre estava à disposição para ajudar quem precisasse.“Obrigado, eu vou aceitar,” respondi, forçando um sorriso enquanto lutava para segurar as lágrimas que ameaçavam cair. Entrei no Fusca, o barulho do escapamento pipocando e me lembrando da fragili
Bruno de Alcântara e Leão Eu não era um homem dado a devaneios. Sempre fui prático, focado, e implacável quando necessário. Um juiz nato. Mas ali, parado diante do caixão do meu irmão, toda a minha razão parecia esvair-se, substituída por uma fúria que queimava em meu peito. Matheus, o irmão que eu deveria ter protegido, estava morto. Metade de seu corpo queimado, desfigurado, um aviso claro para mim. A vida dele foi o preço por minha cruzada contra aqueles que acham que estão acima da lei. Eu sabia que o preço seria alto, mas nunca imaginei que seria ele a pagá-lo.Olhei ao redor, a expressão dos meus pais, da esposa de Matheus, a dor estampada em cada rosto familiar. Eu era o juiz Bruno de Alcântara e Leão, temido e respeitado, mas naquele momento, eu não era mais do que um homem devastado. Eu prometi a mim mesmo que faria qualquer coisa para destruí-los, aqueles que tiraram Matheus de nós. Mas minha atenção foi desviada por uma figura entre as pessoas da alta sociedade carioca que
**Maria Silva**Dois dias se passaram desde que recebi a notícia devastadora de que Benício, meu pequeno guerreiro, precisava de um transplante de rim. Cada minuto desde então parecia uma eternidade, uma sequência interminável de exames e consultas médicas, onde a incerteza me consumia. O que antes era uma vida comum agora se resumia a salas de espera e corredores de hospital, onde o cheiro de desinfestante e as paredes brancas frias me lembravam constantemente da fragilidade da nossa existência.Fazia parte do meu ser lutar, e era isso que eu estava fazendo agora: lutar por Benício com todas as minhas forças, mesmo que minhas forças estivessem se esvaindo, mesmo que eu estivesse me sentindo exaurida, em frangalhos, como se a vida estivesse me arrancando pedaço por pedaço. Aquele hospital havia se tornado minha casa temporária, onde eu me refugiava no único lugar onde sentia alguma conexão com algo maior, uma esperança, uma fé: a capela.Entrei na capela, um lugar pequeno e simples, m
**Maria Silva**“Você está bem?” A voz grave de um homem me atingiu como um eco distante, misturado à dor que pulsava em minha cabeça. Meus olhos lutaram para se abrir, como se estivessem colados. Quando finalmente consegui, o rosto de um estranho se formou diante de mim. Ele me carregava nos braços, seus passos firmes, enquanto eu tentava entender o que estava acontecendo. Tudo estava confuso, como se eu estivesse saindo de um sonho ruim.“O que está acontecendo?” Minha voz saiu fraca, e eu levei a mão à minha cabeça, sentindo uma dor aguda. A realidade veio como uma onda: eu tinha sido atropelada. Mas por quê? Como?“Você foi atropelada por um carro. Um senhor estava distraído, e você acabou sendo atingida. Estou te levando para ser atendida,” ele disse, continuando a caminhar com uma firmeza preocupante.“Não, eu estou bem. Não preciso de atendimento,” protestei, tentando me mover nos braços dele. O hospital particular estava a poucos metros, e o pensamento de entrar ali como pacie
** Maria Silva**“Olá, falo com a senhora, Maria Silva?” A voz da mulher surge depois do meu alô.“Sim, sou eu mesma.”“Alguns exames ficaram prontos, e o doutor quer falar com você.”“Claro, eu vou para o hospital agora mesmo.”“Calma, senhora Maria, o doutor vai falar com você amanhã de manhã, por isso estou ligando para marcar.” “Obrigada.”Gabriel estava me olhando, e uma onda de vergonha me atingiu. Eu havia contado minha vida inteira para ele, um completo estranho que me salvou de um atropelamento e depois de outro quase acidente. Quem era ele? Por que se importava tanto comigo? “Maria, vamos voltar para a lanchonete e conversar. Talvez essa angústia que você está sentindo diminua um pouco,” ele sugeriu, com um tom suave.Suspirei, sentindo o peso de tudo que estava acontecendo. “Ah, Gabriel... Eu estou me sentindo tão incapaz, como se o mundo estivesse desabando na minha cabeça.”Ele me olhou com um ar de compreensão, mas também de impotência. “Eu não tenho filhos, mas consig
**Maria Silva**Eu estava em pânico. O hospital era um lugar onde eu jamais imaginei encontrá-lo, ainda mais onde meu filho estava. Mas ali estava Bruno, com seus olhos sombrios fixos em mim, como se pudesse enxergar cada um dos meus segredos.Tentei ser rápida, agir antes que ele se aproximasse. Aproveitei a oportunidade quando vi um paciente sendo levado em uma maca pelos corredores. Me misturei aos enfermeiros, como se fizesse parte daquela cena, tentando desaparecer no caos do hospital. Virei o corredor com eles, fazendo o máximo para parecer invisível. O coração disparado no peito, eu sabia que não tinha muito tempo. Só precisava chegar até o elevador, fugir daquele lugar antes que ele me encontrasse.Quando o elevador apareceu à minha frente, as portas estavam se fechando, e sem pensar, segurei a porta com as mãos trêmulas, forçando a entrada. Entrei na caixa metálica, o coração ainda batendo acelerado, uma pontada de esperança me atravessando – eu estava conseguindo fugir. Mas
**Maria Silva**“Eu vou gritar se você chegar perto de mim,” ele sorriu como se não acreditasse no que estava falando. “Socorro, socorro,” bati na porta como uma louca.Bruno se aproximou de mim, e meu corpo instintivamente tentou se afastar, embora a porta atrás de mim me impedisse de ir para qualquer lugar. Ele me olhava como se estivesse em total controle, e isso me apavorava. Eu precisava sair dali antes que ele me dominasse ainda mais, não só fisicamente, mas mentalmente. Eu já estava vulnerável demais e a última coisa que queria era que ele percebesse isso."Você me deixa tão excitado, Maria. Aceita minha proposta. Não vou deixar você escapar," ele disse, com uma voz que misturava desejo e ameaça. Sua respiração quente estava em meu pescoço, fazendo minha pele arrepiar contra minha própria vontade. Ele segurou minhas mãos contra a porta com firmeza, prendendo-me ali. Eu sentia cada movimento dele, e isso me deixava desesperada."Eu não quero dinheiro! Não quero nada de você" min
**Bruno de Alcântara e Leão**Quem tinha mandado flores para ela no hospital? Isso me deixou irritado. Eu tive vontade de arrancar aquelas flores das mãos dela e jogá-las no chão. A ideia de que outro homem estava tentando se aproximar de Maria me deixava fora de controle. Ela não tinha aceitado minha proposta, e essa resistência dela só me deixava mais fascinado. Quanto mais ela se afastava, mais eu queria tê-la. O que eu havia visto naquela mulher? Também não fazia ideia. Talvez fosse seu jeito, as artimanhas que usava para mentir ou a forma como os olhos dela brilhavam, mesmo quando estava visivelmente assustada. Uma verdadeira golpista. Só sabia que cada vez que a via, meu corpo reagia instantaneamente, meu desejo por ela se tornando insuportável."Por que eu deveria falar para você de quem eu ganhei flores?" A voz dela era firme, desafiadora. Ela me encarava com uma mistura de raiva e desprezo. "Saia de perto de mim, ou serei obrigada a ir até a polícia e fazer um boletim de ocor