Capítulo 5

Maria Silva**

Assim que Vivian falou, senti um calafrio subir pela espinha. Benício era mesmo a cara de Bruno, cada traço dele me lembrava Matheus, o pai de Ben. Eu mal conseguia pensar em como eu ia esconder isso. Meus pensamentos corriam, e quando ela mencionou o quanto Ben se parecia com Bruno, senti meu coração disparar.

“Se ele ver o moleque, ele vai saber na mesma hora. Quase caí pra trás, quando prestei atenção no rosto dele,” Vivian comentou, balançando a cabeça como se estivesse em choque.

“Vivian, o pai do Ben morreu,” murmurei, tentando processar tudo.

“Como assim, morreu?” Ela arregalou os olhos.

“Você assistiu os noticiários hoje? Viu o filho de um ricaço que mataram? Ele é o pai do meu filho,” expliquei, ainda incrédula.

“Caralho, eu não acredito que o pai do Ben é rico?” Vivian estava pasma, e antes que eu pudesse responder, o cliente dela apareceu no topo da escada.

“Vivian, eu paguei pela hora e você fica aí de papo com a sua amiga,” ele resmungou.

“Espera aí, bebezão. Eu já vou subir, mas agora preciso trocar uma ideia com a minha amiga. Volta lá pro quarto, assim que eu terminar eu vou subir pra terminar com você, bebezão.” Ela lançou um beijo para o homem, que se retirou, ainda que contrariado. “Esses caras enchem o saco,” ela suspirou, revirando os olhos.

“Eu imagino,” respondi, tentando me focar.

“Mas, sério, o cara era rico? Meu Deus, o Ben tá montado na grana agora. Você já contou pro tio dele, né amiga? Só não entendi porque você veio parar aqui?”

“Claro que não contei, Vivian. O tanto que eu sofri pra criar meu menino sozinha. E agora, o pai dele morre, e eu tenho medo que a família dele tire o menino de mim. O tio dele é juiz, você tem noção? Se eles quiserem tomar o Ben de mim.”

“Juiz? Aquele cara que tava aqui na frente do meu bordel? Ele não tem ideia, né?” 

“Claro que não, eu falei que era uma jornalista e que fui lá só pra poder conseguir uma foto pra ganhar dinheiro, e esse homem invocou comigo, disse que eu tava lá a mando do cara que matou, Matheus.”

“Mas ele se chamava Bruno, quem é Matheus?”

“O pai do Ben, ele mentiu o tempo todo, por isso nunca encontrei nada dele. Quando procurei pelo Bruno na delegacia onde ele disse que trabalhava, eu nunca encontrei aquele filho da puta.”

“Amiga, que loucura essa história. Então o bonitão pai do Ben morreu e o bonitão que estava aqui é o juiz, tio do seu filho.”

“Sim, ele é o juiz, tio do meu filho. Espero que ele me esqueça e nunca mais apareça, e se por acaso ele vier aqui, diga que não sabe onde eu moro.”

“Vai ser difícil mentir para um cara como ele, mas eu dou meu jeito.”

“Vivian, eu preciso ir embora,” anunciei, abrindo a porta da casa, só para dar de cara com Bruno, parado encostado no carro, conversando com os seguranças. “Merda,” murmurei, recuando de volta para dentro.

“Pelo jeito, ele não engoliu a história de que você mora aqui. Mas nós podemos dar um jeito,” Vivian comentou, me puxando para o sofá onde as meninas recebiam os clientes.

“Como, Vivian? Preciso ir para a boate trabalhar.”

“Nossos clientes nem sempre entram ou saem pela porta da frente. Temos uma portinha lá nos fundos e você pode ir embora por lá. Depois você pega um táxi, eu vou ligar para ele, que vai te encontrar no portãozinho. Igual a gente faz com os clientes e ninguém vai te ver,” ela sugeriu, sua voz cheia de determinação. Como eu ia pagar um táxi, eu não tinha ideia. “E vai tranquila, depois eu me acerto com ele.”

“Vivian, eu nem sei como te agradecer,” disse, com a voz embargada de gratidão.

“Vai embora, garota. Ser feliz e cuidar do seu menino,” ela me empurrou suavemente em direção aos fundos da casa.

Enquanto seguíamos para a saída secreta, passamos pelo bar na parte de baixo, transformado em boate. O ambiente estava com alguns clientes bebendo e socializando. O barman me cumprimentou com um aceno de cabeça enquanto eu passava.

“Vai minha linda e não deixa esse homem encontrar você e o seu menino, eles podem querer tirar o Ben de você. Tome cuidado. Se o cara lá morreu, sabe como é né, eles vão querer que alguém substitua o morto, e seu filho pode ser o substituto perfeito,” ela aconselhou, com uma seriedade que me fez estremecer.

“Você tem razão,” concordei, sentindo um calafrio de pavor.

Vivian abriu a pequena portinha para mim. Do lado de fora, um carro já estava esperando. O motorista abriu a porta, e eu entrei rapidamente no veículo. Era um carro popular, com vidros escuros e uma placa de táxi, nada que levantasse suspeitas. 

“Boa noite, moça. Você está segura no carro, ninguém consegue ver nada aqui dentro.”

“Obrigado.”

Passamos em frente à casa, e eu vi Bruno observando o carro, mas ele não fez nada. Eu continuei olhando para trás até que o carro virou a esquina, e o rosto de Bruno desapareceu da minha vista. Rezei para nunca mais ter que ver Bruno de Alcântara e Leão de novo.

O taxista era simpático, e eu dei o endereço da boate. Precisava trabalhar, mesmo que estivesse atrasada. Assim que desci do táxi, agradeci ao motorista e corri para começar meu turno, mesmo com meu pé ainda latejando de dor.

“Tá atrasada hein, Maria. Tô te observando,” a gerente da boate disse, com um tom de advertência e gesticulando.

“Me desculpe, eu tive um imprevisto,” expliquei, tentando soar convincente.

“Deixa a garota, pode descansar Maria,” o dono da boate se aproximou, sempre com aquela gentileza que, por trás, escondia intenções duvidosas. “Sabe que não precisa trabalhar como uma louca não sabe, então você vai aceitar minha proposta?” ele passou os dedos em meu rosto me causando repulsa.

“Eu vou me arrumar para o trabalho, obrigado,” respondi, mantendo a compostura.

A noite de trabalho transcorreu tranquila, mas eu estava exausta e dormi um pouco no meu horário de janta. O dia tinha sido tão louco, tantas emoções se passaram em minha mente, nem mesmo olhei meu celular. Mal podia esperar para chegar em casa, tomar um banho e dormir. Sentia tanta saudade do meu filho, meu pequeno que havia ficado órfão de pai. Na verdade, ele nunca teve um, mas saber que ele nunca iria conhecer Matheus, fazia meu coração doer. Durante a noite, meu celular vibrou várias vezes com chamadas da madrinha, mas eu não consegui retornar, a gerente havia proibido o uso do telefone. Quando finalmente saí da boate, consegui pegar o ônibus e caminhar os dois quarteirões até a minha casa, encontrei uma vizinha correndo em minha direção.

“Maria, Maria, ainda bem que você chegou,” a mulher estava esbaforida, o rosto pálido. “Eu tenho uma notícia pra você, minha filha, a sua madrinha levou o menino no hospital.”

“O que aconteceu com meu filho?” perguntei, sentindo minhas pernas fraquejarem, meu coração batendo descompassado.

Mal podia acreditar no que estava ouvindo. O que tinha acontecido com o meu menino? Ele estava bem quando eu saí de casa. Uma sensação de desespero tomou conta de mim, e eu não consegui mais segurar as lágrimas. Peguei minha bolsa, já me preparando para correr para o hospital. Minhas mãos tremiam tanto que eu mal conseguia segurar o telefone para ligar para a madrinha e descobrir o que havia acontecido.

Minha mente estava uma confusão completa, com os pensamentos correndo de um lado para o outro, entre Bruno e Matheus… e agora meu filho no hospital. Eu sentia como se o mundo estivesse desmoronando ao meu redor, e não sabia o que fazer.

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