Maria Silva
Eu me joguei no banco do carro, ofegante, tentando processar tudo que havia acontecido nas últimas horas. Não era apenas a tensão de estar no velório do homem que destruiu minha vida. Agora, eu estava à mercê de um completo estranho, ou melhor, do irmão do daquele que eu tanto queria esquecer. A presença dele ao meu lado era sufocante, e o silêncio que dominava o carro era ainda pior. "Você não pode fazer isso, me jogar dentro do seu carro," disse, tentando soar mais firme do que me sentia. Ele me olhou de soslaio, os olhos estreitos e a mandíbula cerrada. "Você queria que eu te deixasse lá para ser... Deveria ter deixado aqueles homens fazerem o que quisessem com você, talvez você deixasse de ser tão teimosa." Ele estava furioso, mas eu não conseguia rebater, pois sabia que ele estava certo. Se Bruno não tivesse ali, o que teria acontecido? Nem queria imaginar. Ele continuou, sua voz carregada de desconfiança. "A não ser que eles estivessem com você e tudo aquilo era uma farsa para tentar me enganar." Eu o encarei incrédula. "Você deve ter algum problema na cabeça, só pode. Pare de ficar falando que estou aqui porque alguém me mandou. Já te disse o porquê. Agora, para o carro, que eu quero descer." Ele riu, um som curto e sem humor, como se minha irritação fosse algo digno de pena. "Onde é a sua casa?" "Minha casa? Por que quer saber onde é a minha casa?" "Vou te deixar lá." Ele respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Era evidente que eu não ia dizer onde morava. Não podia arriscar. Ele parou o carro, esperando minha resposta, e eu senti o peso do seu olhar. Precisava pensar rápido, passei a mão nos cabelos, estava nervosa. Lembrei-me de uma história que uma das meninas da boate tinha me contado. Ela havia saído de lá para trabalhar em uma casa no bairro Méier. Uma residência normal vista de fora, mas que na verdade abrigava uma espécie de bordel disfarçado. Cada garota alugava um quarto, e os clientes eram recebidos discretamente. Era seguro, com câmeras e tudo, e as meninas podiam ganhar seu dinheiro sem intermediários. Eu logo respondi a Bruno. “No Méier. Eu vou te passar a localização, sou péssima como GPS” disse, tentando soar convincente. Ele pareceu não acreditar. Peguei meu celular e localizei o endereço da casa, minha amiga tinha me passado a um tempo atrás, então foi fácil procurar. Ele olhou para frente e começou a dirigir novamente, sem dizer uma palavra. Senti um alívio passageiro, mas sabia que estava longe de estar segura. Enquanto o carro seguia pelo trajeto que eu havia indicado, observei pelo retrovisor que um outro carro nos seguia de perto e fiquei com medo quem seriam aquelas pessoas. "Parece que tem um carro seguindo a gente," observei, tentando manter a calma. "São meus seguranças." “Você tem seguranças?” "Tenho, eu não posso sair por aí sem ter pessoas junto comigo," ele respondeu, sua voz era de quem estava cansado de explicar o óbvio. “Você é tão rico que precisa deles?” Ele riu novamente, dessa vez com um toque de ironia. "Você não sabe mesmo quem eu sou ou está se fazendo de boba?" "Não tenho a mínima ideia de quem você é, te juro." Embora já tivesse uma boa suspeita, preferi manter a farsa. “Eu sou juiz, Bruno de Alcântara e Leão. Por isso ando com seguranças junto comigo. Minha vida sempre está em perigo” "Juiz? Sério? Seu irmão era delegado?" “O que você quer saber do meu irmão? Se você foi lá para tirar fotos do velório dele, deve saber quem ele era,” ele rebateu, desconfiado. “Na verdade, eu não sabia. Me desculpe, eu não queria ter sido indelicada nem com você nem com sua família. As circunstâncias me levaram a fazer isso.” Ele me encarou por um instante que pareceu uma eternidade. "Quais circunstâncias?" Eu precisava de uma desculpa, qualquer coisa que o fizesse parar com as perguntas. "Eu precisava das fotos para vender. Só isso. Me desculpe." Bruno estreitou os olhos, claramente não acreditando em mim. “Você esconde alguma coisa, e eu vou descobrir.” Antes que ele pudesse continuar o interrogatório, o GPS do celular me salvou. *"Seu destino está à direita,"* anunciou a voz mecânica, quebrando o clima tenso. Eu não tinha ideia de onde estava, mas esperava que minha amiga estivesse em casa e pudesse me ajudar. Quando ele parou o carro, senti meu coração acelerar. Desci e ele me seguiu, parando em frente ao portão enquanto eu apertava o interfone duas vezes. "Quem é?" A voz de minha amiga soou do outro lado, com um toque de irritação. "Sou eu, amiga. Maria. Pode abrir para eu subir." "Subir? Como assim? Eu tô com cliente. Nem sei quem é você." Ela parecia confusa e desconfiada. "Sou eu. Maria do Ben,” era como ela me chamava. “Pode abrir para mim. Por favor, eu quero entrar em casa,” insisti, tentando não soar desesperada. "Maria do Ben?" Ela hesitou por um momento, e pude imaginar sua expressão confusa. “Maria? O que você…” Antes que ela pudesse perguntar mais alguma coisa, eu cortei. “Só abre o portão, por favor.” Minutos depois, ela apareceu na sacada, envolta em um roupão de seda vermelha e com tamancos que pareciam saídos de um filme dos anos 50 cheio de plumas. Ela desceu as escadas com um sorriso maroto, me olhando de cima a baixo e depois fixando seus olhos em Bruno. “Maria? Eu ia abrir o portão pra você, mas quando vi o bonitão aí, vim pessoalmente. Ele quer fazer pro…” Não deixei que ela terminasse a frase, meu rosto queimando de vergonha. “Ele apenas me deu carona até aqui em casa,” disse rapidamente, tentando ocultar meu nervosismo. Ela me lançou um olhar, jogou o cabelo para trás e ia mostrar seu charme para Bruno, fui mais rápida e a abraçei como se fôssemos as melhores amigas do mundo. "Fala que eu moro aqui, por favor" sussurrei em seu ouvido. "Claro, nossa casa," respondeu, gesticulando com entusiasmo. “Eu tava brincando. E o bonitão vai entrar?” Ela se virou para ele com um sorriso insinuante. "Não, ele vai pra casa dele. O dia foi cansativo e ele está cansado. Obrigada pela carona,” falei, com um sorriso tenso. Bruno apenas me observou, seus olhos fixos nos meus, como se estivesse memorizando cada detalhe do meu rosto. "Até mais, Maria," disse ele finalmente, entrando no carro e esperando que nós duas entrássemos na casa. Assim que o portão se fechou, minha amiga soltou uma risada alta e me puxou pelo braço. “Que história é essa, Maria? Quem é aquele ricaço? E por que você está tremendo desse jeito?” Eu suspirei, ainda nervosa, mas agora um pouco mais aliviada. “É uma longa história…” Ela estreitou os olhos, e seu tom brincalhão deu lugar a uma seriedade inesperada. Parece ter se lembrado de algo. "Ele é o pai do Ben? Porque ele é idêntico ao seu filho."Maria Silva**Assim que Vivian falou, senti um calafrio subir pela espinha. Benício era mesmo a cara de Bruno, cada traço dele me lembrava Matheus, o pai de Ben. Eu mal conseguia pensar em como eu ia esconder isso. Meus pensamentos corriam, e quando ela mencionou o quanto Ben se parecia com Bruno, senti meu coração disparar.“Se ele ver o moleque, ele vai saber na mesma hora. Quase caí pra trás, quando prestei atenção no rosto dele,” Vivian comentou, balançando a cabeça como se estivesse em choque.“Vivian, o pai do Ben morreu,” murmurei, tentando processar tudo.“Como assim, morreu?” Ela arregalou os olhos.“Você assistiu os noticiários hoje? Viu o filho de um ricaço que mataram? Ele é o pai do meu filho,” expliquei, ainda incrédula.“Caralho, eu não acredito que o pai do Ben é rico?” Vivian estava pasma, e antes que eu pudesse responder, o cliente dela apareceu no topo da escada.“Vivian, eu paguei pela hora e você fica aí de papo com a sua amiga,” ele resmungou.“Espera aí, bebezão
**Maria Silva**Eu era uma mãe desesperada naquele momento, sentindo-me a pior de todas. Havia negligenciado meu próprio filho, deixado ele de lado enquanto me envolvia nas complicações do velório do pai dele e na tentativa de fugir de Bruno de Alcântara e Leão. As lembranças de tudo o que havia acontecido nas últimas horas rodavam em minha mente, me afogando em culpa e desespero. Como pude ser tão egoísta? Meu pequeno Ben precisando de mim, e eu fugindo, me escondendo, vivendo na sombra de um passado que parecia sempre me alcançar.“Venha, Maria, eu levo você,” a voz suave e acolhedora de seu João, nosso vizinho, me tirou de meus pensamentos sombrios. Ele era um senhorzinho gentil, dono de um Fusca preto que, embora velho e barulhento, sempre estava à disposição para ajudar quem precisasse.“Obrigado, eu vou aceitar,” respondi, forçando um sorriso enquanto lutava para segurar as lágrimas que ameaçavam cair. Entrei no Fusca, o barulho do escapamento pipocando e me lembrando da fragili
Bruno de Alcântara e Leão Eu não era um homem dado a devaneios. Sempre fui prático, focado, e implacável quando necessário. Um juiz nato. Mas ali, parado diante do caixão do meu irmão, toda a minha razão parecia esvair-se, substituída por uma fúria que queimava em meu peito. Matheus, o irmão que eu deveria ter protegido, estava morto. Metade de seu corpo queimado, desfigurado, um aviso claro para mim. A vida dele foi o preço por minha cruzada contra aqueles que acham que estão acima da lei. Eu sabia que o preço seria alto, mas nunca imaginei que seria ele a pagá-lo.Olhei ao redor, a expressão dos meus pais, da esposa de Matheus, a dor estampada em cada rosto familiar. Eu era o juiz Bruno de Alcântara e Leão, temido e respeitado, mas naquele momento, eu não era mais do que um homem devastado. Eu prometi a mim mesmo que faria qualquer coisa para destruí-los, aqueles que tiraram Matheus de nós. Mas minha atenção foi desviada por uma figura entre as pessoas da alta sociedade carioca que
**Maria Silva**Dois dias se passaram desde que recebi a notícia devastadora de que Benício, meu pequeno guerreiro, precisava de um transplante de rim. Cada minuto desde então parecia uma eternidade, uma sequência interminável de exames e consultas médicas, onde a incerteza me consumia. O que antes era uma vida comum agora se resumia a salas de espera e corredores de hospital, onde o cheiro de desinfestante e as paredes brancas frias me lembravam constantemente da fragilidade da nossa existência.Fazia parte do meu ser lutar, e era isso que eu estava fazendo agora: lutar por Benício com todas as minhas forças, mesmo que minhas forças estivessem se esvaindo, mesmo que eu estivesse me sentindo exaurida, em frangalhos, como se a vida estivesse me arrancando pedaço por pedaço. Aquele hospital havia se tornado minha casa temporária, onde eu me refugiava no único lugar onde sentia alguma conexão com algo maior, uma esperança, uma fé: a capela.Entrei na capela, um lugar pequeno e simples, m
**Maria Silva**“Você está bem?” A voz grave de um homem me atingiu como um eco distante, misturado à dor que pulsava em minha cabeça. Meus olhos lutaram para se abrir, como se estivessem colados. Quando finalmente consegui, o rosto de um estranho se formou diante de mim. Ele me carregava nos braços, seus passos firmes, enquanto eu tentava entender o que estava acontecendo. Tudo estava confuso, como se eu estivesse saindo de um sonho ruim.“O que está acontecendo?” Minha voz saiu fraca, e eu levei a mão à minha cabeça, sentindo uma dor aguda. A realidade veio como uma onda: eu tinha sido atropelada. Mas por quê? Como?“Você foi atropelada por um carro. Um senhor estava distraído, e você acabou sendo atingida. Estou te levando para ser atendida,” ele disse, continuando a caminhar com uma firmeza preocupante.“Não, eu estou bem. Não preciso de atendimento,” protestei, tentando me mover nos braços dele. O hospital particular estava a poucos metros, e o pensamento de entrar ali como pacie
** Maria Silva**“Olá, falo com a senhora, Maria Silva?” A voz da mulher surge depois do meu alô.“Sim, sou eu mesma.”“Alguns exames ficaram prontos, e o doutor quer falar com você.”“Claro, eu vou para o hospital agora mesmo.”“Calma, senhora Maria, o doutor vai falar com você amanhã de manhã, por isso estou ligando para marcar.” “Obrigada.”Gabriel estava me olhando, e uma onda de vergonha me atingiu. Eu havia contado minha vida inteira para ele, um completo estranho que me salvou de um atropelamento e depois de outro quase acidente. Quem era ele? Por que se importava tanto comigo? “Maria, vamos voltar para a lanchonete e conversar. Talvez essa angústia que você está sentindo diminua um pouco,” ele sugeriu, com um tom suave.Suspirei, sentindo o peso de tudo que estava acontecendo. “Ah, Gabriel... Eu estou me sentindo tão incapaz, como se o mundo estivesse desabando na minha cabeça.”Ele me olhou com um ar de compreensão, mas também de impotência. “Eu não tenho filhos, mas consig
**Maria Silva**Eu estava em pânico. O hospital era um lugar onde eu jamais imaginei encontrá-lo, ainda mais onde meu filho estava. Mas ali estava Bruno, com seus olhos sombrios fixos em mim, como se pudesse enxergar cada um dos meus segredos.Tentei ser rápida, agir antes que ele se aproximasse. Aproveitei a oportunidade quando vi um paciente sendo levado em uma maca pelos corredores. Me misturei aos enfermeiros, como se fizesse parte daquela cena, tentando desaparecer no caos do hospital. Virei o corredor com eles, fazendo o máximo para parecer invisível. O coração disparado no peito, eu sabia que não tinha muito tempo. Só precisava chegar até o elevador, fugir daquele lugar antes que ele me encontrasse.Quando o elevador apareceu à minha frente, as portas estavam se fechando, e sem pensar, segurei a porta com as mãos trêmulas, forçando a entrada. Entrei na caixa metálica, o coração ainda batendo acelerado, uma pontada de esperança me atravessando – eu estava conseguindo fugir. Mas
**Maria Silva**“Eu vou gritar se você chegar perto de mim,” ele sorriu como se não acreditasse no que estava falando. “Socorro, socorro,” bati na porta como uma louca.Bruno se aproximou de mim, e meu corpo instintivamente tentou se afastar, embora a porta atrás de mim me impedisse de ir para qualquer lugar. Ele me olhava como se estivesse em total controle, e isso me apavorava. Eu precisava sair dali antes que ele me dominasse ainda mais, não só fisicamente, mas mentalmente. Eu já estava vulnerável demais e a última coisa que queria era que ele percebesse isso."Você me deixa tão excitado, Maria. Aceita minha proposta. Não vou deixar você escapar," ele disse, com uma voz que misturava desejo e ameaça. Sua respiração quente estava em meu pescoço, fazendo minha pele arrepiar contra minha própria vontade. Ele segurou minhas mãos contra a porta com firmeza, prendendo-me ali. Eu sentia cada movimento dele, e isso me deixava desesperada."Eu não quero dinheiro! Não quero nada de você" min