Émie Carter:
A dor não me permitiu dormir. Esperei meus pais saírem e fui até o banheiro ver o tamanho do estrago que ficou meu corpo…Olhava fixamente para meu reflexo no espelho e estava horrível. O lado esquerdo do meu rosto estava roxo e levemente inchado, mas nada que uma bolsa de gelo não resolvesse. Minhas coxas também estavam feridas e meu corpo inteiro doía. Para minha sorte, estava chovendo e eu poderia me agasalhar bem, assim cobriria melhor meu corpo. Por um momento me peguei pensando no cara do carro, se bem que eu poderia ter aceitado a sua ajuda, pois estou me sentindo péssima. Após um banho rápido, fiz um sanduíche, enfiei dentro da minha bolsa. Soltei meus cabelos, peguei meu casaco e fui para o trabalho.— Bom dia, Srta. Carter. Bem… como já está aqui, pensamos se hoje não podes ficar após o fechamento para retirar a poeiras dos livros e das estantes. O pagamento será efetuado agora mesmo. — bem, ao menos eu iria ganhar um extra hoje.— Claro que eu quero, aliás, sempre que precisar sabe que eu estou aqui. — Dona Emília era generosa comigo, era uma mulher misteriosa e com cara de mau, porém era um doce.Era a primeira vez que ela me pagava tão bem por um trabalho mais ou menos. Ali estava dois envelopes com 200 dólares cada um deles, isso era quase metade do meu salário, e se eu economizar bem dá pra sair de casa logo em breve.— Seu salário também irá aumentar, querida. Você faz o trabalho árduo com amor, como se ficar enfiada aqui dentro o dia inteiro fosse a melhor coisa do mundo. Não conheço ninguém melhor para zelar desta biblioteca que não seja você. — seus olhos pequenos sumiram quando ela sorria.De fato, ali era o melhor lugar onde eu poderia estar nos momentos atuais. Mas, não era onde eu queria estar para sempre, não perdia a esperança de receber uma resposta positiva de uma das universidades, uma bolsa seria o suficiente para mim, não pensaria duas vezes…O dia chuvoso atraia muitas pessoas, e como cortesia, eu fazia café e chá para servir quem quisesse tomar. Estava pegando uma xícara de chá quando virei e tive sobre mim aquele par de olhos verdes, perfeitos.— Bom dia. — meus olhos leram seu bom dia diante dos lábios, era perturbador, mas eu estava mesmo dopada dos remédios que tomei antes de sair de casa. — O que me recomendaria para hoje?— Suponho que tenha bom gosto, mas se quer algo para chorar num dia chuvoso, releia Romeu e Julieta, sei que já leu! — ele tinha cara de inteligente e isso era sexy, além da sua voz suave, rouca e grossa, excitante também.— Por que a chuva desperta tristeza em você?— Não é a chuva, é a vida mesmo. — coloquei o livro em sua frente e parei diante o balcão, observando o movimento de pessoas que entravam e saíam a todo instante. — Aceita um chá? Ou um café?— Um chá, por favor!Enquanto estava colocando a água quente na xícara, olhei para onde ele estava sentado e vi que estava lendo as primeiras páginas, afinal, quem é esse homem? Seus óculos o deixavam ainda mais sexy, cara de intelectual e… enfim, ele era bonito.Coloquei a xícara em um pirex e levei até ele.— Aqui está! — coloquei em cima da mesa e lhe dei às costas, sentindo sua mão segurando a minha no momento seguinte.— Faça-me companhia! Se não for lhe incomodar, é claro.Sentei na cadeira ao seu lado e peguei um livro aleatório, pois sem dúvidas, seria impossível ler perto de alguém, isso era uma insegurança terrível que eu sempre tive. O cheiro dele era bom, uma mistura de madeira com álcool. Finalmente alguém queria alugar um livro e precisavam do selo, e eu quem tinha que fazer isso. Levantei rápido e antes que me afastasse, senti ele tocar em uma mexa do meu cabelo, levando a mesma até o seu nariz, foi tudo muito rápido. Segui andando até o balcão e selei o livro para a moça que estava com uma cara péssima.— Aqui está, faça bom proveito! — ela sorriu, agradeceu e foi embora.Olhei em volta e ele já não estava mais ali, o livro estava na estante e sua xícara na pia, como ele fez tudo isso tão rápido?(...)O dia parecia não passar, pela tarde poucas pessoas vieram, após às 15:00 ninguém mais apareceu. Era uma quinta-feira, iguais às outras e tão melancólicas.Fechei as portas e agradeci por ter fechado, está feio e o vento ao me deixava congelando cada vez mais. Acendi a lareira e pude sentir o ambiente ficar quentinho. Sem pressa fui retirando o livro por livro, os colocando dentro de uma caixa em ordem e colocando ao lado estante. Cerca de meia hora depois havia cerca de cinco estantes vazias, e ao todo haviam 17 estantes, sem contar com outras peças antigas que também armazenavam livros. Respirei fundo e fui à luta. Meu nariz coçava a cada segundo que sentia a poeira entrar nas narinas, para que isso não fosse um problema, coloquei minha blusa como marcará e assim pude limpar a maior parte das estantes, sem espirros e sem poeira. Depois de algumas horas, tudo estava em seus devidos lugares, por fim eu olhei as horas e já passavam-se das 23:20. — Droga! — pestanejei e tinha certeza que havia perdido o último ônibus, ir a pé para casa até que não é ruim… quando você está totalmente bem fisicamente, e eu estou me sentindo "quebrada".Havia começado a chover, mesmo fraco, estava me molhando. Não tinha como ir embora desse jeito. Sem escolhas fui para o ponto, era o único lugar que eu poderia me amparar da chuva.Trovejava sem parar, o vento forte estava quase derrubando as árvores e sem agasalho, estava me tremendo de frio. Havia acabado de cair um raio bem próximo da onde eu estava, e isso me deixou com medo, pois além do barulho dos trovões, ainda tinha os raios e agora granizo.O carro que estava vindo em direção ao ponto, me fez tremer por inteiro, mas ao abaixar o vidro e se mostrar, senti um alívio e agradeci internamente por não ser nenhuma outra pessoa.— Entra no carro, eu levo você em casa. — pensei em hesitar e dizer não, mas já não suportava mais o frio e estava com muita fome.Atravessei e entrei, sentada no banco de trás com bastante cuidado para não molhar o banco do carro, eu apoiei minha bolsa em minhas pernas e ele seguiu adiante, calado…— Eu não fui legal aquele dia, estava com dor e estressada. Obrigada por ter me levado em casa e não ao hospital. — disse em um baixo tom de voz, de verdade, não esperava que ele respondesse, porém me surpreendi!— Eu fiz o mínimo, aliás, nem isso! — discorreu com um leve desgosto em seu tom. — Deveria tê-la levado a um hospital, imagino que as dores não diminuíram, estou certo, Émie?— Não. Elas diminuíram um pouco. É que, eu passo tantas horas distraída em meio aos livros que nem mesmo noto algo diferente em meu dia a dia.— Deve ser um ótimo trabalho o seu, mas não tão bom quando se deveria aproveitar um pouco a vida. O que a levou a trabalhar naquela biblioteca? — sua pergunta era um tanto sem resposta, porque eu nunca pensei no porquê, só juntei o útil ao agradável quando fui contratada.— Eu precisava de um emprego, e me deram um. — ele me olhou e negou com a cabeça em seguida, como se eu estivesse lhe contando algo engraçado.— Sem tom de voz entrega que você mente! — o carro freou bruscamente, levando meu corpo para trás e para frente com o impulso. Tive sobre mim seu par de olhos cuidadoso e intimidador ao mesmo tempo. — Esses desgraçados deveriam olhar para trás ao invés de parar de uma vez. — retrucou baixinho, mas foi possível ouvir devido ao silêncio que estava entre nós.— Não estou mentindo… eu realmente precisava de um emprego, e para minha sorte, lá estava precisando de uma pessoa que pudesse fazer as horas extras também e aqui estou eu.— Por que não procurou alguma outra coisa? — além de ser curioso, ele era também arrogante e eu nem sabia seu nome.— Acha que alguém daria emprego a uma pessoa problemática? Acho que não…— Você não me parece problemática, pode ser que eu esteja enganado, porém é o que eu vejo quando olho para você. — o que era isso? Um elogio ou algo do tipo?— De fato eu não sou, mas meus pais sim! — ao virar a esquina percebi que ele não parava, então decidi falar, não queria chegar em casa tarde. Não queria mais ouvir coisas inúteis. — Se não se importa, pode parar aqui mesmo, por favor! — antes de abrir a porta, senti seu toque em minha mão e rapidamente virei para ele.— Se não se importa eu prefiro deixá-la em casa. Você pode pegar pneumonia e morrer.— Isso não é nada convincente.— A Srta. está em busca de palavras que a convençam, Srta. Carter?— Não. Nem mesmo sei qual seu nome. Não deveria nem estar aqui dentro. Se não se incomoda, eu tenho que ir. Obrigada pela carona!Michael Williams: A sensação de proteção era algo que me dominava desde criança. Eu não conseguia ver uma pessoa sofrendo e ficar quinta, era como se eu estivesse virando as costas para mim no passado. Émie estava visivelmente necessitada de ajuda, em seus olhos já não havia mais brilho. Seu semblante era de profunda tristeza e solidão, e aquilo de certa forma, me incomodava. Mesmo ela me pedindo para deixá-la ir sozinha até sua casa, eu não consegui. Alguns minutos depois estava eu, parado de frente a sua casa, suspirei forte antes de bater em sua porta novamente… — Olá, querido. — sua mãe abriu com um largo sorriso no rosto. Suas pupilas dilatadas indicavam que ela estava altamente drogada e fora de si. — Boa noite! Eu preciso de mais um favor seu, pagaria bem se pudesse o fazer agora. — seu olhar foi direcionado ao meu bolso, como se a gente estivesse falando a mesma língua. — Se eu puder… — Quero que diga a Émie que estou aqui. Ela sabe quem eu sou! — e o sorriso que estava
Émie Carter: Não sei o porquê de sua bondade, mas confesso que, apesar de ser um desconhecido já me ajudou mais que meus pais em dias normais.Estava mirando as paisagens enquanto o carro andava, ele era silencioso e não fazia muitas perguntas ou puxava conversa. Minha falta de atenção me levou a isso, resultando em uma noite sem saída, mas pelo menos eu comi! O banco do carro era mais confortável que minha cama, por um momento eu quase cheguei a dormir ali mesmo, mas para minha sorte, foi bem no momento em que o carro parou. — Chegamos! — mesmo com a rua escura e nublada, foi possível ver o tamanho da sua casa, se assim por dizer. — Bem-vinda, sinta-se à vontade. Eu vou tomar um banho, estamos apenas nós dois, então espero que não se intimide, está tarde. — ele parecia estar nervoso, se enrolando nas palavras a quase todo momento. — Ok… Ele saiu tão depressa que eu mal o vi saindo. Ouvi a porta do seu quarto ser fechada e então decidi reparar nos detalhes. Os quadros enormes e c
Michael Williams: Preparei torradas e suco de laranja, pois não sabia seus gostos, mas fui surpreendido ao não vê-la mais ali. Peguei o carro e fui atrás, mas nada encontrei… Após sair do trabalho fui até uma boate, precisava me aliviar de alguma forma de todo o estresse. Suzan não parava de me ligar, foi então que concordei em encontrá-la para então pôr um fim definitivo em todos esses anos que nunca me levaram a nada. — Boa noite, uma dose de whisky puro, por favor! — sentei em uma mesa distante e sem que eu percebesse, Suzan já estava atrás de mim, passando seus braços em volta do meus ombros e beijando meu rosto em seguida. — Eu senti falta de você. Confesso que pensei que não queria mais me ver, depois de tantos meses longe um do outro, finalmente aqui estamos novamente. A ousaria era algo que ela usava a vontade, como se pudesse ter tudo aos seus pés no momento que quisesse, mas quando se tratava de Suzan, não era eu o objeto da história. — Realmente, há muito tempo não no
Uma semana depois… Émie Carter: Finalmente estou conseguindo resolver alguns dos pequenos problemas que me perseguiam. Já não sentia mais dor pelo acidente, mas ainda era como estar morando sozinha, mesmo que na casa de outra pessoa. — Bom dia, Srta. Carter, eu sinto muito por estar deixando você por tanto tempo sozinha, eu prometo que irei recompensar isso, esta noite. — isso para mim era novo, Michael passar a noite em casa? Quando Michael se aproxima demais de mim, sinto como se eu fosse esquecer como se respira, é algo tão pouco e bom ao mesmo tempo. Seu tom de falar é sexy e parece autoritário, porém sem ordens. Seus cabelos perfeitamente alinhados, mesmo após sair do banho e por fim, seu corpo parecia ter sido esculpido por Deus, era uma perfeição. — Acabei de fazer o jantar, se quiser experimentar a minha comida, essa é a hora. — estava nervosa em desafiá-lo, mas confiante também. — Gostaria de experimentar coisas que você não tem ideia! — isso deveria ter saído baixo da
Michael Williams: Estavam perdidos em memórias do passado quando Suzan aproximou-se da mesa em que eu estava, sentando na cadeira à minha frente, onde estava sentada Émie antes de ir ao toalete. — Pelo que vejo você até que foi rápido, escolheu a dedo a mais pobre e idiota. Está saindo com a garota que trabalha na biblioteca, Michael, não se envergonha disso? — Suzan pegou meu copo e bebeu o líquido em apenas um gole. — Já não temos mais nada, Suzan, e eu te disse pra ficar longe de mim, principalmente em locais públicos. — alertei ela pela última vez, antes de perceber para onde ela estava olhando. — Eu estava de passagem e te vi aqui, daí resolvi cumprimentar você pela última vez. Te desejo sorte, não queria estar em sua pele. — antes de sair, ela se aproximou do meu ouvido e sussurrou: — Espero que encontre alguém que lhe dê o prazer que você busca, pois jamais encontrará outra igual a mim. Após Suzan levantar e ir embora, senti que algo estava nos observando e ao olhar para t
Émie Carter: Amanheceu chovendo, eu poderia parecer estranha, mas adoração ouvir o barulho dos trovões durante a madrugada. Não consigo entender como ele conseguiu acordar tão cedo… Quando chegamos, Michael agarrou-se a uma garrafa de vinho e se trancou em seu quarto, logo em seguida. Estava olhando a chuva através do vidro quando senti aquela sensação de que alguém estava ali muito perto, tornado seu hálito quente uma tremenda falta de respeito com a carência alheia. — Eu não vi você tomando café da manhã. — me arrepiei quando Michael sussurrou ao pé do meu ouvido, realmente, não estava com fome. — Estou sem fome. — peguei minha bolsa, meu casaco e fui andando em direção a porta. — Até mais, Michael. — Isso é uma despedida, Émie? — Talvez seja, afinal, eu sou um ser humano e tem grandes chances de haver interesse da minha parte. Portanto, acho que se ficarmos distantes um do outro, será melhor. — Me desculpe, não era minha intenção te fazer pensar desta forma. Eu também desejo
Michael Williams:Suzan não deveria ter ido até mim ontem a noite, isso me deixou furioso, mesmo após ter enviado uma boa quantia para ela, ainda sim me perturba. Eu tinha que resolver um assunto sério, era sobre a Suzan e eu sabia que ela queria me ferrar, só não sabia que seria de uma forma tão sentimental. — Finalmente, você não chegava nunca? — seus olhos azuis brilhavam ao me ver, correndo ela veio me abraçar. — Não me toque, por favor! Então, espero que tenha um bom motivo para ter me chamado até aqui. A casa dela estava bem arrumada. Estava com uma bela apresentação e a luz de velas. Suzan parecia nervosa, bebeu uma taça de vinho em uma virada só. — Eu estou indo embora da cidade, mas depois de tantos anos juntos, eu não me sinto mais no direito de continuar escondendo a coisa mais doida que já aconteceu em nossas vidas. Há três anos atrás a nossa filha nasceu, eu estava sozinha no banheiro e… — suas mãos tremiam, ela chorava e me olhava com um olhar de piedade. Olhei firme
Émie Carter: Meu celular havia acabado de parar de funcionar bem no momento em que eu estava tentando encaixar alguma mensagem para Michael, na esperança de saber onde ele estava, pois a chuva não dava uma trégua e eu não queria ficar doente, ou as coisas seriam mais difíceis para mim. Não havia como ir para sua casa, então sem muita opção, eu fui arrumar a salinha para dormir, quando ouvir a porta ser aberta, revelando Dona Emília entrando. — Que bom que a encontrei aqui, estava mesmo precisando falar com você. — seu sorriso fraco indicava que as coisas que ela iria dizer, não eram muitos agradáveis. — Eu pensei em dormir aqui hoje, já que está chovendo e… — Não precisa me dar explicações, Émie. Eu estive com sua mãe hoje cedo e ela me contou toda a situação, claro que na história você se saiu como errada, mas saiba que eu estou do seu lado, agora sente-se aqui que tenho que conversar sério com você. Com o peito arfando e as emoções me dominando, eu sentei ao seu lado com as mão