Émie Carter:
Não sei o porquê de sua bondade, mas confesso que, apesar de ser um desconhecido já me ajudou mais que meus pais em dias normais.Estava mirando as paisagens enquanto o carro andava, ele era silencioso e não fazia muitas perguntas ou puxava conversa. Minha falta de atenção me levou a isso, resultando em uma noite sem saída, mas pelo menos eu comi!O banco do carro era mais confortável que minha cama, por um momento eu quase cheguei a dormir ali mesmo, mas para minha sorte, foi bem no momento em que o carro parou.— Chegamos! — mesmo com a rua escura e nublada, foi possível ver o tamanho da sua casa, se assim por dizer. — Bem-vinda, sinta-se à vontade. Eu vou tomar um banho, estamos apenas nós dois, então espero que não se intimide, está tarde. — ele parecia estar nervoso, se enrolando nas palavras a quase todo momento.— Ok…Ele saiu tão depressa que eu mal o vi saindo. Ouvi a porta do seu quarto ser fechada e então decidi reparar nos detalhes. Os quadros enormes e coloridos faziam parte de sua coleção, assim como algumas pinturas famosas antigas. Mas o que chamou mesmo minha atenção foi uma foto sua que estava em cima da estante, no meio dos livros e um pouco escondida. Na foto estava ele e uma mulher abraçados, um olhando para o rosto do outro e sorrindo, como se houvesse muito sentimento envolvido ali. A casa era um pouco distante da cidade, em volta havia muros e um belo jardim ao redor de toda a casa, parecia coisa de filme e… ele deveria ser muito rico. As paredes eram de vidros, cobertas com cortinas de linho cinzas, dando vida a um ambiente escuro, solitário e melancólico. Ousei abrir uma cortina e tive a visão mais perfeita que meus olhos já viram. Um jardim repleto rosas brancas e vermelhas, com pouca luz e era sem dúvidas uma bela paisagem. Por fim, sentei em seu belo sofá de canto e ali fiquei por alguns minutos, até que ele voltasse…— Eu pensei que poderíamos beber um vinho, mas se quiser pode ir dormir. — no momento eu não tinha outra opção, embora estivesse morrendo de sono e precisando dormir.— Por favor, não quero atrapalhar você, disse que tem trabalhos a serem feitos pela manhã e não quero atrapalhar você.(...)Por ora, estávamos bêbados, rindo e vendo o dia clarear através da janela que tinha em sua sala de jogos. Suspirei forte pensando em como vim parar em um lugar como este, em como comecei esse homem a tão pouco tempo e já lhe dei confiança e pior, lhe contei sobre algumas coisas sobre minha vida, embora mal saiba quem ele é.— Mas, me fala de você, te contei muitas coisas sobre mim e a única coisa que eu sei é que você se chama Michael, ou Sr. Williams e que ama literatura. — era minha última tentativa de saber algo sobre ele, nem que fosse sobre a mãe ser viva ou o mesmo ter irmãs. E quando pensei que ele não diria nada, a taça foi levada até sua boca e após a degustação daquele vinho tinto, ele me olhou sério e então começou a falar:— Eu não sou daqui, moro aqui desde que me formei e desde então tenho me dedicado apenas ao meu trabalho e… acho que deixei de viver há alguns anos atrás.— E por que nunca fez nada para mudar isso? — eu sei que as pessoas podem ter problemas, mas qual o sentido de viver sem viver? Apenas ser um sobrevivente, quando se tem dinheiro para fazer muitas coisas? Eu não entendo…— Sinceramente? Eu não vejo mais a vida como ela era. Antes tudo era motivo para festejar, comemorar e curtir, como se as coisas fossem tão fáceis assim. Mas, desde que perdi minha mãe, que não sinto mais vontade de sequer ir em alguma festa, ou comemorar alguma coisa. Tudo perdeu a metade do sentido, como se ela fosse a base para minha felicidade. — em seu rosto havia uma expressão triste, seu olhar distraído revelava suas dores e o quanto elas ainda estavam presentes nas memórias daquele grande homem.— A felicidade deveria ser algo pessoal, como a responsabilidade ou a liberdade. Não deveria ser um sentimento que dependesse de terceiros para ser sentida, afinal, qual a lógica disso? Você deposita toda sua expectativa em uma pessoa e ela se vai… de causas naturais, ou podendo ser um amor da sua vida que se foi.— Você andou olhando as fotos? — foi inevitável não me perder em minhas palavras, por um momento senti medo do que poderia estar por vir.— Me desculpe, não foi minha intenção, eu estava olhando os quartos e sua estante de livros e… me desculpe, eu não deveria ter mexido em suas coisas. — a vergonha era uma coisa que me dominava por completo agora. Não sabia se levantava dali e iria embora, ou se esperava uma advertência por tal coisa.— Aquele retrato nem mesmo deveria estar ali. — de forma brusca, ele levantou, pegou o retrato e jogou no lixo.Fiquei perplexa com tal ação com decisão rápida. Se eu disse que estava ficando um pouco bêbada, esqueça! Estou completamente lúcida e não me surpreendendo, pois eram cenas que eu via todos os dias dentro de casa.— Bom, quem não tem um passado, não é mesmo? — seu riso sem graça foi o suficiente para eu entender o que realmente significava aquela foto, aquela mulher… — Acho que o amor conseguiu me destruir. Devo ter amada de forma errada, não é?— Não… por favor, não considere as coisas que disse. Quer saber? Eu não sei nada sobre o amor, cresci em um ambiente caótico e vai por mim, a coisa é feia. Acho que eu nunca vou poder falar sobre, pois é algo que eu não vivi, então não estou a altura de dizer o que é certo ou errado sobre. Afinal, eu realmente falei sério sobre a felicidade.Éramos duas pessoas que estavam se entendendo de uma forma estranha, sobre assuntos estranhos e eu estava gostando de tudo isso. Michael parecia ser rude, mas era só um homem com um passado que ainda não superou, e isso estava nítido apenas em olhar para ele.— Acho que agora eu já posso ir. Você precisa descansar e eu preciso trabalhar, foi uma boa noite, só me perdoe por ter que fazer você ficar acordado a madrugada toda. — apoie minhas mãos para levantar e fui interrompida quando suas mãos seguraram a minha.— Eu não acabei de falar, Srta. Carter, poderia sentar-se, por favor? — Fiz então o que ele pediu e sem graça sorri, prendendo os cabelos em um coque logo em seguida. — Vem, vamos para um lugar mais confortável, estamos cansados. — como pode? Ele era um verdadeiro cavalheiro e respeitador. — Fique à vontade para tomar um banho se quiser.— Eu não tenho o que vestir, além disso, temos que trabalhar, Sr. Williams.— Dane-se o trabalho! Há muito tempo eu não me sentia tão vivo, isso tudo graças a quase ter matado você. — não poderia ser verdade, isso era ridículo.Não hesitei e segurei sua mão, fomos até uma sala onde havia algumas almofadas gigantes, cadeiras suspensas no teto e bem a frente, com um parapeito de vidro, uma jacuzzi, era algo que eu só via apenas em filmes. Estava frio, mas eu precisava de um banho e descansar um pouco.— Fique aqui, vou preparar alguma coisa para nós dois, estou faminto e você também.Michael então retirou a camisa, e quando eu pensei que ele iria retirar o restante, o mesmo se foi e me deixou sozinha, ali, faltando alguns minutos para o pôr do sol. Eu não tinha mais o que perder, mas não queria perder meu emprego, e foi por esse motivo que eu decidi que minha hira havia chegado. Desci as escadas com o tênis em mãos, ouvi Michael cantarolando na cozinha e mesmo sabendo que seria perigoso para uma mulher percorrer todo o trajeto daqui até a cidade seria longo, mas ainda sim eu precisava trabalhar. Segui caminho sem olhar para trás, e para o meu azar meu celular estava descarregado e eu não tinha carregador em minha bolsa. O sol estava nascendo e estava fazendo um frio terrível. Com os braços cruzados, eu cheguei na biblioteca depois de quase duas horas caminhando, por fim, estava eu ali. Desde a primeira vez que comecei a trabalhar, trouxe uma cafeteira e uma garrafa térmica. Fiz um café forte para que o sono não conseguisse me vencer nesta manhã e tentei parecer o mais normal possível.— Garota, onde você esteve ontem? Fui em sua casa e sua mãe disse que você não estava… — Betsy me beijou no rosto, e como sempre me deixou surpresa com a sua chegada.— Senta aqui, precisamos conversar sobre muitas coisas, e você é a única pessoa a quem eu posso contar sobre minha vida. Eu senti tanto a sua falta, Bet! Por favor, senta aqui e me faça companhia esta manhã.Michael Williams: Preparei torradas e suco de laranja, pois não sabia seus gostos, mas fui surpreendido ao não vê-la mais ali. Peguei o carro e fui atrás, mas nada encontrei… Após sair do trabalho fui até uma boate, precisava me aliviar de alguma forma de todo o estresse. Suzan não parava de me ligar, foi então que concordei em encontrá-la para então pôr um fim definitivo em todos esses anos que nunca me levaram a nada. — Boa noite, uma dose de whisky puro, por favor! — sentei em uma mesa distante e sem que eu percebesse, Suzan já estava atrás de mim, passando seus braços em volta do meus ombros e beijando meu rosto em seguida. — Eu senti falta de você. Confesso que pensei que não queria mais me ver, depois de tantos meses longe um do outro, finalmente aqui estamos novamente. A ousaria era algo que ela usava a vontade, como se pudesse ter tudo aos seus pés no momento que quisesse, mas quando se tratava de Suzan, não era eu o objeto da história. — Realmente, há muito tempo não no
Uma semana depois… Émie Carter: Finalmente estou conseguindo resolver alguns dos pequenos problemas que me perseguiam. Já não sentia mais dor pelo acidente, mas ainda era como estar morando sozinha, mesmo que na casa de outra pessoa. — Bom dia, Srta. Carter, eu sinto muito por estar deixando você por tanto tempo sozinha, eu prometo que irei recompensar isso, esta noite. — isso para mim era novo, Michael passar a noite em casa? Quando Michael se aproxima demais de mim, sinto como se eu fosse esquecer como se respira, é algo tão pouco e bom ao mesmo tempo. Seu tom de falar é sexy e parece autoritário, porém sem ordens. Seus cabelos perfeitamente alinhados, mesmo após sair do banho e por fim, seu corpo parecia ter sido esculpido por Deus, era uma perfeição. — Acabei de fazer o jantar, se quiser experimentar a minha comida, essa é a hora. — estava nervosa em desafiá-lo, mas confiante também. — Gostaria de experimentar coisas que você não tem ideia! — isso deveria ter saído baixo da
Michael Williams: Estavam perdidos em memórias do passado quando Suzan aproximou-se da mesa em que eu estava, sentando na cadeira à minha frente, onde estava sentada Émie antes de ir ao toalete. — Pelo que vejo você até que foi rápido, escolheu a dedo a mais pobre e idiota. Está saindo com a garota que trabalha na biblioteca, Michael, não se envergonha disso? — Suzan pegou meu copo e bebeu o líquido em apenas um gole. — Já não temos mais nada, Suzan, e eu te disse pra ficar longe de mim, principalmente em locais públicos. — alertei ela pela última vez, antes de perceber para onde ela estava olhando. — Eu estava de passagem e te vi aqui, daí resolvi cumprimentar você pela última vez. Te desejo sorte, não queria estar em sua pele. — antes de sair, ela se aproximou do meu ouvido e sussurrou: — Espero que encontre alguém que lhe dê o prazer que você busca, pois jamais encontrará outra igual a mim. Após Suzan levantar e ir embora, senti que algo estava nos observando e ao olhar para t
Émie Carter: Amanheceu chovendo, eu poderia parecer estranha, mas adoração ouvir o barulho dos trovões durante a madrugada. Não consigo entender como ele conseguiu acordar tão cedo… Quando chegamos, Michael agarrou-se a uma garrafa de vinho e se trancou em seu quarto, logo em seguida. Estava olhando a chuva através do vidro quando senti aquela sensação de que alguém estava ali muito perto, tornado seu hálito quente uma tremenda falta de respeito com a carência alheia. — Eu não vi você tomando café da manhã. — me arrepiei quando Michael sussurrou ao pé do meu ouvido, realmente, não estava com fome. — Estou sem fome. — peguei minha bolsa, meu casaco e fui andando em direção a porta. — Até mais, Michael. — Isso é uma despedida, Émie? — Talvez seja, afinal, eu sou um ser humano e tem grandes chances de haver interesse da minha parte. Portanto, acho que se ficarmos distantes um do outro, será melhor. — Me desculpe, não era minha intenção te fazer pensar desta forma. Eu também desejo
Michael Williams:Suzan não deveria ter ido até mim ontem a noite, isso me deixou furioso, mesmo após ter enviado uma boa quantia para ela, ainda sim me perturba. Eu tinha que resolver um assunto sério, era sobre a Suzan e eu sabia que ela queria me ferrar, só não sabia que seria de uma forma tão sentimental. — Finalmente, você não chegava nunca? — seus olhos azuis brilhavam ao me ver, correndo ela veio me abraçar. — Não me toque, por favor! Então, espero que tenha um bom motivo para ter me chamado até aqui. A casa dela estava bem arrumada. Estava com uma bela apresentação e a luz de velas. Suzan parecia nervosa, bebeu uma taça de vinho em uma virada só. — Eu estou indo embora da cidade, mas depois de tantos anos juntos, eu não me sinto mais no direito de continuar escondendo a coisa mais doida que já aconteceu em nossas vidas. Há três anos atrás a nossa filha nasceu, eu estava sozinha no banheiro e… — suas mãos tremiam, ela chorava e me olhava com um olhar de piedade. Olhei firme
Émie Carter: Meu celular havia acabado de parar de funcionar bem no momento em que eu estava tentando encaixar alguma mensagem para Michael, na esperança de saber onde ele estava, pois a chuva não dava uma trégua e eu não queria ficar doente, ou as coisas seriam mais difíceis para mim. Não havia como ir para sua casa, então sem muita opção, eu fui arrumar a salinha para dormir, quando ouvir a porta ser aberta, revelando Dona Emília entrando. — Que bom que a encontrei aqui, estava mesmo precisando falar com você. — seu sorriso fraco indicava que as coisas que ela iria dizer, não eram muitos agradáveis. — Eu pensei em dormir aqui hoje, já que está chovendo e… — Não precisa me dar explicações, Émie. Eu estive com sua mãe hoje cedo e ela me contou toda a situação, claro que na história você se saiu como errada, mas saiba que eu estou do seu lado, agora sente-se aqui que tenho que conversar sério com você. Com o peito arfando e as emoções me dominando, eu sentei ao seu lado com as mão
Michael Williams: Dois dias depois… Vésperas de Natal Qual a função de um pai? Era difícil saber quando não se tinha convívio com um na infância ou adolescência. — Ele vai sentir fome, vai precisar de fraldas e algumas coisas que os bebês precisam. — Émie segurava Zenith em seu colo, cantando jazz e dando passos para um lado e para o outro. — Amanhã iremos resolver isso! — enquanto ela o fazia dormir novamente em meu quarto, eu descia as escadas às pressas para atender a ligação de Lilian, mas já não era necessário mais atendê-la. Com as pernas cruzadas ela estava sentada, segurando um copo com whisky e o desgastando quando me viu. — Por que não atende minhas ligações? Por acaso esqueceu que dia é hoje? — Se eu não atendi é porque não queria vê-la hoje, temos um combinado, Lilian. — estava torcendo para que Émie não descesse por agora, porque eu teria que colocar um fim em mais um empecilho da minha vida. — Por isso mesmo estou aqui, Michael, porque temos um acordo. Às quinta
Émie Carter: Com o envelope de dinheiro em mãos, se passavam mil e um pensamentos em minha mente. Todos nós parecíamos perdidos, e o Natal que nunca foi comemorado por mim, agora estava sendo uma data especial e ao mesmo tempo vazia novamente.Michael tentava ser compreensível, mas seu jeito arrogante de ser, o tornava uma pessoa incapaz de demonstrar sentimentos, tanto em palavras quanto em gestos. Agora com um filho sob sua responsabilidade, eu tentava ser o mais compreensiva possível com ele, enquanto o pequeno estava brincando, nós dois estávamos arrumando a casa, embora fosse enorme, não era algo ruim para mim, pelo menos me mantinham com a cabeça ocupada. — Você pensou no que eu lhe disse? — ele me olhava de cima da escada, sem camisa e com um pano de prato pendurado em seu ombro, um extremo gostoso. — Eu… — tentei não olhar pra ele, mas era quase impossível disso não acontecer. — Eu acho melhor a gente ficar aqui, por enquanto, não quero sair do meu ninho por agora, tenho mu