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Capítulo 5 — ÉMIE

Émie Carter:

Não sei o porquê de sua bondade, mas confesso que, apesar de ser um desconhecido já me ajudou mais que meus pais em dias normais.

Estava mirando as paisagens enquanto o carro andava, ele era silencioso e não fazia muitas perguntas ou puxava conversa. Minha falta de atenção me levou a isso, resultando em uma noite sem saída, mas pelo menos eu comi!

O banco do carro era mais confortável que minha cama, por um momento eu quase cheguei a dormir ali mesmo, mas para minha sorte, foi bem no momento em que o carro parou.

— Chegamos! — mesmo com a rua escura e nublada, foi possível ver o tamanho da sua casa, se assim por dizer. — Bem-vinda, sinta-se à vontade. Eu vou tomar um banho, estamos apenas nós dois, então espero que não se intimide, está tarde. — ele parecia estar nervoso, se enrolando nas palavras a quase todo momento.

— Ok…

Ele saiu tão depressa que eu mal o vi saindo. Ouvi a porta do seu quarto ser fechada e então decidi reparar nos detalhes. Os quadros enormes e coloridos faziam parte de sua coleção, assim como algumas pinturas famosas antigas. Mas o que chamou mesmo minha atenção foi uma foto sua que estava em cima da estante, no meio dos livros e um pouco escondida. Na foto estava ele e uma mulher abraçados, um olhando para o rosto do outro e sorrindo, como se houvesse muito sentimento envolvido ali. A casa era um pouco distante da cidade, em volta havia muros e um belo jardim ao redor de toda a casa, parecia coisa de filme e… ele deveria ser muito rico. As paredes eram de vidros, cobertas com cortinas de linho cinzas, dando vida a um ambiente escuro, solitário e melancólico. Ousei abrir uma cortina e tive a visão mais perfeita que meus olhos já viram. Um jardim repleto rosas brancas e vermelhas, com pouca luz e era sem dúvidas uma bela paisagem. Por fim, sentei em seu belo sofá de canto e ali fiquei por alguns minutos, até que ele voltasse…

— Eu pensei que poderíamos beber um vinho, mas se quiser pode ir dormir. — no momento eu não tinha outra opção, embora estivesse morrendo de sono e precisando dormir.

— Por favor, não quero atrapalhar você, disse que tem trabalhos a serem feitos pela manhã e não quero atrapalhar você.

(...)

Por ora, estávamos bêbados, rindo e vendo o dia clarear através da janela que tinha em sua sala de jogos. Suspirei forte pensando em como vim parar em um lugar como este, em como comecei esse homem a tão pouco tempo e já lhe dei confiança e pior, lhe contei sobre algumas coisas sobre minha vida, embora mal saiba quem ele é.

— Mas, me fala de você, te contei muitas coisas sobre mim e a única coisa que eu sei é que você se chama Michael, ou Sr. Williams e que ama literatura. — era minha última tentativa de saber algo sobre ele, nem que fosse sobre a mãe ser viva ou o mesmo ter irmãs. E quando pensei que ele não diria nada, a taça foi levada até sua boca e após a degustação daquele vinho tinto, ele me olhou sério e então começou a falar:

— Eu não sou daqui, moro aqui desde que me formei e desde então tenho me dedicado apenas ao meu trabalho e… acho que deixei de viver há alguns anos atrás.

— E por que nunca fez nada para mudar isso? — eu sei que as pessoas podem ter problemas, mas qual o sentido de viver sem viver? Apenas ser um sobrevivente, quando se tem dinheiro para fazer muitas coisas? Eu não entendo…

— Sinceramente? Eu não vejo mais a vida como ela era. Antes tudo era motivo para festejar, comemorar e curtir, como se as coisas fossem tão fáceis assim. Mas, desde que perdi minha mãe, que não sinto mais vontade de sequer ir em alguma festa, ou comemorar alguma coisa. Tudo perdeu a metade do sentido, como se ela fosse a base para minha felicidade. — em seu rosto havia uma expressão triste, seu olhar distraído revelava suas dores e o quanto elas ainda estavam presentes nas memórias daquele grande homem.

— A felicidade deveria ser algo pessoal, como a responsabilidade ou a liberdade. Não deveria ser um sentimento que dependesse de terceiros para ser sentida, afinal, qual a lógica disso? Você deposita toda sua expectativa em uma pessoa e ela se vai… de causas naturais, ou podendo ser um amor da sua vida que se foi.

— Você andou olhando as fotos? — foi inevitável não me perder em minhas palavras, por um momento senti medo do que poderia estar por vir.

— Me desculpe, não foi minha intenção, eu estava olhando os quartos e sua estante de livros e… me desculpe, eu não deveria ter mexido em suas coisas. — a vergonha era uma coisa que me dominava por completo agora. Não sabia se levantava dali e iria embora, ou se esperava uma advertência por tal coisa.

— Aquele retrato nem mesmo deveria estar ali. — de forma brusca, ele levantou, pegou o retrato e jogou no lixo.

Fiquei perplexa com tal ação com decisão rápida. Se eu disse que estava ficando um pouco bêbada, esqueça! Estou completamente lúcida e não me surpreendendo, pois eram cenas que eu via todos os dias dentro de casa.

— Bom, quem não tem um passado, não é mesmo? — seu riso sem graça foi o suficiente para eu entender o que realmente significava aquela foto, aquela mulher… — Acho que o amor conseguiu me destruir. Devo ter amada de forma errada, não é?

— Não… por favor, não considere as coisas que disse. Quer saber? Eu não sei nada sobre o amor, cresci em um ambiente caótico e vai por mim, a coisa é feia. Acho que eu nunca vou poder falar sobre, pois é algo que eu não vivi, então não estou a altura de dizer o que é certo ou errado sobre. Afinal, eu realmente falei sério sobre a felicidade.

Éramos duas pessoas que estavam se entendendo de uma forma estranha, sobre assuntos estranhos e eu estava gostando de tudo isso. Michael parecia ser rude, mas era só um homem com um passado que ainda não superou, e isso estava nítido apenas em olhar para ele.

— Acho que agora eu já posso ir. Você precisa descansar e eu preciso trabalhar, foi uma boa noite, só me perdoe por ter que fazer você ficar acordado a madrugada toda. — apoie minhas mãos para levantar e fui interrompida quando suas mãos seguraram a minha.

— Eu não acabei de falar, Srta. Carter, poderia sentar-se, por favor? — Fiz então o que ele pediu e sem graça sorri, prendendo os cabelos em um coque logo em seguida. — Vem, vamos para um lugar mais confortável, estamos cansados. — como pode? Ele era um verdadeiro cavalheiro e respeitador. — Fique à vontade para tomar um banho se quiser.

— Eu não tenho o que vestir, além disso, temos que trabalhar, Sr. Williams.

— Dane-se o trabalho! Há muito tempo eu não me sentia tão vivo, isso tudo graças a quase ter matado você. — não poderia ser verdade, isso era ridículo.

Não hesitei e segurei sua mão, fomos até uma sala onde havia algumas almofadas gigantes, cadeiras suspensas no teto e bem a frente, com um parapeito de vidro, uma jacuzzi, era algo que eu só via apenas em filmes. Estava frio, mas eu precisava de um banho e descansar um pouco.

— Fique aqui, vou preparar alguma coisa para nós dois, estou faminto e você também.

Michael então retirou a camisa, e quando eu pensei que ele iria retirar o restante, o mesmo se foi e me deixou sozinha, ali, faltando alguns minutos para o pôr do sol. Eu não tinha mais o que perder, mas não queria perder meu emprego, e foi por esse motivo que eu decidi que minha hira havia chegado. Desci as escadas com o tênis em mãos, ouvi Michael cantarolando na cozinha e mesmo sabendo que seria perigoso para uma mulher percorrer todo o trajeto daqui até a cidade seria longo, mas ainda sim eu precisava trabalhar. Segui caminho sem olhar para trás, e para o meu azar meu celular estava descarregado e eu não tinha carregador em minha bolsa. O sol estava nascendo e estava fazendo um frio terrível. Com os braços cruzados, eu cheguei na biblioteca depois de quase duas horas caminhando, por fim, estava eu ali. Desde a primeira vez que comecei a trabalhar, trouxe uma cafeteira e uma garrafa térmica. Fiz um café forte para que o sono não conseguisse me vencer nesta manhã e tentei parecer o mais normal possível.

— Garota, onde você esteve ontem? Fui em sua casa e sua mãe disse que você não estava… — Betsy me beijou no rosto, e como sempre me deixou surpresa com a sua chegada.

— Senta aqui, precisamos conversar sobre muitas coisas, e você é a única pessoa a quem eu posso contar sobre minha vida. Eu senti tanto a sua falta, Bet! Por favor, senta aqui e me faça companhia esta manhã.

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