— Não pode usar isto para justificar os seus problemas para o resto da vida — advertiu o pai.A rainha Nair fez menção de levantar-se e o rei ordenou:— Você fica! Não passará a mão na cabeça dele outra vez!O príncipe Lucca tentou pegar a mão da mãe que estava sobre a mesa, mas ela afastou-a imediatamente, impedindo o toque do filho mais novo.— O que está se falando sobre meu filho hoje, Richard? — o rei perguntou a seu assessor.— O povo de País del Mar alega imaturidade do futuro rei, Majestade, bem como incapacidade e leviandade para assumir o trono.— O que me sugere, Richard?— Eu, Majestade? — Richard impressionou-se com a pergunta do rei.— Sim, você, Richard. Façamos de conta que você não conhece Catriel e mora fora do castelo. Só sabe que este sujeito irresponsável é seu futuro governante. O que o faria recuperar a confiança nele?— Que passasse segurança, senhor!— E como seria isso, Richard?— Um casamento e filhos — disse a rainha, suspirando.— Não vou casar com Anna Ju
AlpemburgEnquanto Odette e Max discutiam fervorosamente, trocando acusações, fechei meus olhos e deixei-me sentir todas as dores que sabia por antecedência que meu feito causaria. Tentava prestar atenção ao que diziam, mas minha mente só trazia o momento em que vi Donatello jogado no chão, com o sangue escorrendo pelo rosto e as pernas assustadoramente parecendo não pertencerem a ele, como se fossem de elástico, perdendo completamente a rigidez que as deixavam retas.Balancei a cabeça, tentando me livrar daquilo, mas não conseguia. O carro ia em alta velocidade e os dois ainda discutiam.— Por enquanto não há nada na internet. — Odette virou-se na minha direção, avisando.Deitei no banco traseiro, me encolhendo feito um bebê, as lágrimas ainda tomando posse de mim, como se não fosse possível parar nunca mais.— Faz dez minutos — Max gritou. — Queria que já estivesse tudo na mídia? Esqueceu que ela matou o homem que registrava tudo?— Eu... O matei? — perguntei, soluçando.Max não res
Ouvi o som da porta do box abrindo e Odette ajustou a temperatura, deixando a água um pouco mais morna. Não deixou que eu pusesse shampoo nos cabelos, fechando o registro e me puxando para fora, enquanto enxugava meus cabelos com uma toalha.Assim que ela enrolou a toalha nos meus cabelos úmidos, peguei outra e sequei o corpo, colocando em seguida o roupão de tecido macio e confortável que me foi entregue, pondo por último a calcinha.Percebi que mesmo tendo saído do banho, ainda chorava, sem me dar em conta.Cheguei no quarto e havia uma xícara de café puro fumegante ao lado da cama.— Beba tudo. Não tem açúcar, mas é proposital. Vai deixá-la sóbria.Não contestei. Sentei na cama e bebi o café forte, fazendo careta. Olhei-a:— Eu... Tenho consciência da porra que fiz... — admiti.Odette pegou o celular e deslizou os dedos, me olhando em seguida:— Por enquanto não há nada na mídia. É melhor que descanse, Aimê. Amanhã terá um longo dia pela frente.— Eu... Não fiz por querer. E por qu
— Como? — perguntei, incrédula. — Só fazem algumas horas...— A câmera de Donatello deve ter sido pega por alguém durante o resgate — avisou Satini.— Como... Ele está? — questionei, amedrontada com a resposta que ela me daria.— Internado no melhor hospital do país, sob proteção da guarda real. Ou seja, as imagens vazaram, mas ninguém sabe de fato o que aconteceu. — Estevan tentou acalmar-me.— Internado? Então... Ele não morreu?— Não — minha mãe confirmou, sentando-se numa cadeira e me puxando para fazer o mesmo.Sentei-me, deixando finalmente o corpo relaxar, me sentindo um pouco mais tranquila. Donatello não estava morto!— Eu... Vi as pernas dele... — lembrei da cena, aturdida.— Ele quebrou o fêmur... E as duas pernas. E um corte leve na cabeça... E quando deixamos o hospital, estava fazendo uma cirurgia de emergência.Levantei, sentindo o corpo tremer:— Meu Deus... Que porra eu fiz! — Pus as mãos na cabeça.— O médico garantiu que ele não corre risco de vida. — Minha mãe tent
— Mas... Você atropelou Donatello. — Odette arqueou a sobrancelha. — E... Ele não é uma mosca.— Só não quero que me joguem na fogueira, porra!Ela sorriu e balançou a cabeça, aturdida:— Já não queimam mais na fogueira mulheres que mexem com ervas e plantas e combinam aromas e sabores.— Ainda assim, escondo meu segredinho! — Pisquei, pegando a bolsa e saindo, puxando-a pelo braço.— Sabe que estamos no século XXI, não é mesmo?— Ainda assim estranhariam uma princesa que gosta de fazer chás, sucos detox e bebidas naturais.— Se sente melhor?— Saber que ele está vivo me transformou em outra pessoa, acredite! Agora é só pedir desculpas, recuperar minha popularidade e...— Acalme-se, Aimê. Vamos com calma. A primeira coisa a fazer por enquanto é pedir desculpas por tê-lo atropelado.— Não foi por querer...— Ainda assim o atropelou.— Meu maior erro foi não ter prestado socorro.— Você-o-atropelou, Aimê! — ela repetiu, vagarosamente.— Teoricamente foi sem intenção.Odette parou e segu
— Olá, Donatello! — Apertei a mão dele. — Sente alguma dor?— Uma leve tontura... — Ele pôs a mão na cabeça, enrugando a testa.— É normal depois de uma anestesia geral — a enfermeira lhe explicou.— O que... Faz aqui? — O olhar dele foi questionador.— Creio que... Imagine o que faço aqui... Se lembrar do que houve ontem à noite. — Fiquei sem jeito.— Eu lembro... De tudo — confirmou.Olhei para a enfermeira e Odette e pedi:— Será que poderiam se retirar um pouco? Eu gostaria de falar a sós com o senhor Durand.— Posso ficar no máximo uns cinco minutos longe, Alteza. — Assentiu a enfermeira. — Me foi solicitado pela equipe médica acompanhar o senhor Durand em tempo integral.— Cinco minutos é suficiente para mim. — Não contestei.Odette saiu com a enfeira e a porta foi fechada. Respirei fundo e observei o quarto amplo e bem equipado.— Eu... Sinto muito — falei.— Filmei e fotografei tudo que aconteceu — ele disse em alto e bom som.— Desde quando estava filmando?— Praticamente des
— É meu trabalho.— Seu trabalho idiota de me perseguir é chato e desagradável.— Alteza, eu só quero o meu lugar ao sol.Olhei no relógio e depois para Donatello, respirando fundo:— Bem, vim até aqui para me desculpar pelo acontecido. E já o fiz. Desejo-lhe melhoras, senhor Durand. — Fui o mais formal possível. — A família real continuará custeando todo seu tratamento. E torço para uma recuperação plena das suas pernas.— O fato de eu falar o que penso sobre vossa Alteza não a exime da culpa.— O fato de eu tê-lo atropelado sem querer não lhe dá o direito de ofender-me do modo com o fez, senhor Durand.— Alteza, quero fazer meu trabalho de conclusão da faculdade sobre a princesa Aimê D’Auvergne Bretonne, filha caçula do rei Estevan D’Auvergne Bretonne, monarca justo e preocupado com o povo, e irmã de Alexia D’Auvergne Bretonne, a rainha que mudou a vida de tantas mulheres de Alpemburg com sua luta por justiça e igualdade.— Eu ainda não assumi como rainha. Meu pai e minha irmã fizer
Antes que eu saísse para o pronunciamento, que seria feito em frente ao castelo de Alpemburg, na frente de todos os repórteres e população em geral, vi meus pais na sala de estar principal. Satini desenhava um vestido enquanto Estevan mexia no celular, concentrado.— Vamos? — falei, esperando que se levantassem, acompanhando a mim e Odette ao pronunciamento.— Onde? — Meu pai arqueou a sobrancelha, curioso.— É agora o meu pronunciamento, papai — expliquei.Ele e minha mãe se entreolharam e foi ela quem disse:— Assistiremos daqui.— Como assim? Vocês precisam ir comigo!— Não, não precisamos! Já fiz a minha parte: retirei suas imagens praticamente nua da internet e convenci a Corte de que você amadurecerá logo e que futuramente se orgulharão de tê-la como rainha. Garanti também que o senhor Durand será muito bem atendido e nada lhe faltará. E que assumirá toda sua responsabilidade pelo que houve, já que pelo visto me enganei redondamente quando pensei que o jovem Max estava ao volan