— Olá, Donatello! — Apertei a mão dele. — Sente alguma dor?— Uma leve tontura... — Ele pôs a mão na cabeça, enrugando a testa.— É normal depois de uma anestesia geral — a enfermeira lhe explicou.— O que... Faz aqui? — O olhar dele foi questionador.— Creio que... Imagine o que faço aqui... Se lembrar do que houve ontem à noite. — Fiquei sem jeito.— Eu lembro... De tudo — confirmou.Olhei para a enfermeira e Odette e pedi:— Será que poderiam se retirar um pouco? Eu gostaria de falar a sós com o senhor Durand.— Posso ficar no máximo uns cinco minutos longe, Alteza. — Assentiu a enfermeira. — Me foi solicitado pela equipe médica acompanhar o senhor Durand em tempo integral.— Cinco minutos é suficiente para mim. — Não contestei.Odette saiu com a enfeira e a porta foi fechada. Respirei fundo e observei o quarto amplo e bem equipado.— Eu... Sinto muito — falei.— Filmei e fotografei tudo que aconteceu — ele disse em alto e bom som.— Desde quando estava filmando?— Praticamente des
— É meu trabalho.— Seu trabalho idiota de me perseguir é chato e desagradável.— Alteza, eu só quero o meu lugar ao sol.Olhei no relógio e depois para Donatello, respirando fundo:— Bem, vim até aqui para me desculpar pelo acontecido. E já o fiz. Desejo-lhe melhoras, senhor Durand. — Fui o mais formal possível. — A família real continuará custeando todo seu tratamento. E torço para uma recuperação plena das suas pernas.— O fato de eu falar o que penso sobre vossa Alteza não a exime da culpa.— O fato de eu tê-lo atropelado sem querer não lhe dá o direito de ofender-me do modo com o fez, senhor Durand.— Alteza, quero fazer meu trabalho de conclusão da faculdade sobre a princesa Aimê D’Auvergne Bretonne, filha caçula do rei Estevan D’Auvergne Bretonne, monarca justo e preocupado com o povo, e irmã de Alexia D’Auvergne Bretonne, a rainha que mudou a vida de tantas mulheres de Alpemburg com sua luta por justiça e igualdade.— Eu ainda não assumi como rainha. Meu pai e minha irmã fizer
Antes que eu saísse para o pronunciamento, que seria feito em frente ao castelo de Alpemburg, na frente de todos os repórteres e população em geral, vi meus pais na sala de estar principal. Satini desenhava um vestido enquanto Estevan mexia no celular, concentrado.— Vamos? — falei, esperando que se levantassem, acompanhando a mim e Odette ao pronunciamento.— Onde? — Meu pai arqueou a sobrancelha, curioso.— É agora o meu pronunciamento, papai — expliquei.Ele e minha mãe se entreolharam e foi ela quem disse:— Assistiremos daqui.— Como assim? Vocês precisam ir comigo!— Não, não precisamos! Já fiz a minha parte: retirei suas imagens praticamente nua da internet e convenci a Corte de que você amadurecerá logo e que futuramente se orgulharão de tê-la como rainha. Garanti também que o senhor Durand será muito bem atendido e nada lhe faltará. E que assumirá toda sua responsabilidade pelo que houve, já que pelo visto me enganei redondamente quando pensei que o jovem Max estava ao volan
— É hora de provar à população do seu país e a todos nós que está preparada para ser a rainha, minha filha! — Satini alisou meu rosto. — Assuma compromissos, conheça o seu país além das paredes do castelo ou da Corte. Faça alianças políticas com outros países, em que Alpemburg seja beneficiada de alguma forma. Eu já comecei fazendo algo por você. Escolhi uma estilista local para fazer o seu vestido da coroação.— Mas... A diretora executiva da Versace já havia entrado em contato comigo... Não só ela, mas outras marcas também. Inclusive estávamos pensando numa parceria... E eu já havia me decidido pela Versace.— Liah Archambault Chalamet é uma jovem promissora e que decidiu firmar seu nome e sua marca em Alpemburg. Ela é uma designer independente e seu estilo para criar é atemporal e diferente. Logo ela ganhará popularidade entre as celebridades. Mas precisa de uma ajuda e você pode fazer isso. Com os negócios dela expandindo, teremos olhos para nossos país também.— Como outras pesso
Despertei na manhã seguinte sentindo dores nas costas e meus olhos pareciam ter areia, de tão incomodados que ficaram com a claridade, ardendo. Olhei no relógio e havia dormido menos de duas horas. Pus o relógio a despertar, diferente do que fazia diariamente, já que meu pai havia reclamado até mesmo do horário que eu acordava.A ira do povo de Alpemburg me pegou de surpresa na noite anterior. Retirada às pressas do palanque, retornei ao castelo, ficando em meus aposentos o restante do dia, alegando indisposição. Fui acometida por uma tristeza inexplicável devido a forma como fui tratada pelos repórteres e a população.Meu discurso não aconteceu. Minha defesa não foi feita e nada dos meus planos de me redimir perante todos deu certo.Maldita hora em que decidi beber naquela noite, sendo que era algo que eu raramente fazia. Nunca me interessei por automóveis, tampouco por dirigir. Mas justo naquele momento, embriagada, quis pegar a direção. E então fodi tudo.Assim que desci para o des
Ver a língua da minha mãe dentro da boca do meu pai não era algo agradável para começar o dia. Levantei e peguei uma fatia de bolo:— Ninguém merece uma cena destas à mesa! — reclamei.— Pode ficar, Aimê. Seu pai e eu já estamos indo para o quarto — ela avisou.Segui andando pela grama verde bem aparada quando eles passaram por mim rapidamente, meu pai com ela no colo. Parei, observando a cena, pasma. Depois que se foram, comecei a rir, balançando a cabeça. Mesmo que meu pai não tivesse uma coroa, ele sempre seria um príncipe. E um dia eu queria que alguém me olhasse da forma como ele olhava para minha mãe. E que a chama do amor e do sexo fosse eterna, como a que ainda ardia neles.Sentei-me numa poltrona, sob um pergolado, no jardim. Peguei meu telefone e vi Odette vindo na minha direção. Assim que ela se aproximou, advertiu:— Aimê, se eu fosse você, não abriria as notícias...Eu sorri, puxando o braço dela:— Sente-se aqui, Odette. Não quero saber de Alpemburg. Quero conhecer os he
Assim que cheguei a bordo do carro real, na entrada do condomínio onde Max morava, logo o porteiro anunciou-me ao interfone. Ouvi quando a mãe dele, surpresa, solicitou que deixassem-me passar imediatamente.O motorista fez o caminho até a residência de Max, já conhecida por nós.Antes que batêssemos à porta, a governanta já a abria, curvando-se na minha direção:— Alteza, seja bem-vinda!— Obrigada!Entrei na residência de Max, junto de Odette. Apesar de nós três nos conhecermos há uns bons anos, sempre que eu fazia uma visita, a mãe dele me tratava formalmente.Nos cumprimentamos e ela chamou o filho, que logo desceu do segundo andar, não muito surpreso com a minha presença, certamente já anunciada com antecedência quando eu estava na portaria.Max curvou-se sem muita vontade e me encarou:— O que deseja, Alteza?— Sem esta porra de Alteza! — O olhei, sem rodeios.— O que deseja, Aimê? — Ele foi irônico.— Não aceito sua demissão! — Fui direta.Max riu, de forma sarcástica:— Não po
Não havia mais tantos repórteres na entrada do Hospital. Ainda assim não tinham todos ido embora. O motorista preferiu me deixar na porta secundária, atrás do prédio. Fui acompanhada por um dos seguranças que estava no carro de trás.Já na porta do quarto de Donatello, pedi que Odette e o segurança me deixassem falar com ele sozinha.Bati na porta e a mãe dele atendeu, visivelmente surpresa com a minha presença:— Alteza! — Curvou-se rapidamente. — Não... Esperávamos sua visita.Como ela não me convidou a entrar, empurrei a porta lentamente, avistando Donatello com o semblante bem melhor, com a perna dentro de uma espécie de aparelho de alumínio que ocupava boa parte da cama.Me aproximei, enquanto a enfermeira levantou-se rapidamente, largando o livro que lia e curvando-se.Vi a outra perna engessada, parecendo não ter sido tão séria a fratura quanto na esquerda.— Alteza! — Ele sorriu, com os lábios carnudos levemente entreabertos.— Será que podemos conversar um pouco, sr. Durand?