A Sacerdotisa não gostava de companhia, e ao que aparentava, também não estava nem um pouco aberta a receber visitas. O elfo de olhos esmeralda seguia investigando os rastros deixados por ela com a ajuda não tão bem vinda de Guido, porém o grupo sentia estar andando em círculos havia horas o suficiente para que não se encontrasse mais nenhuma Luz nos céus. — Ela não quer mesmo que a encontremos! — resmungou o meio merco tentando não se queimar com as tochas que improvisaram e tentavam manter acesas. — Cale a boca, você só está nos atrasando! — esbravejou Yew. — Nem ao menos sabe ler essas pegadas! Para o guardiano, todos os rastros carregavam histórias: De onde alguém veio, para onde estava indo, o que pretendia fazer, se estava com pressa ou até mesmo se era alguém de posses ou miserável. Mas estes rastros não os levavam a lugar nenhum, pois iam dando voltas e mais voltas em si mesmo, o que Yew considerava proposital, e no fim, sempre se encerravam ao encontrar com as pegadas de
O lugar em si, por mais que fosse pequeno, era amedrontador. Prateleiras amarradas por mais arranjos de cipós que o necessário carregavam potes e vasilhas com muitos restos de criaturas diferentes mergulhadas em um tipo de substância estranha. Eram patas de lobo, olhos de carneiro, pele de serpentes e olhos de galinhas azuis. Mais ao fundo, encontrava-se uma espécie de altar feito com vinhas e palha seca, onde uma garra de lobo chamava toda a atenção dos três. Outras duas velas estavam acessas em volta dela, fazendo com que olhar para aquele cena previamente montada deixasse o suor do Sentinela mais frio. — Guido — chamou-lhe a atenção. — Devolva esses cascos de montês para onde eles estavam. O meio merco retirou os itens de sua bolsa e botou novamente dentro de seus respectivos recipientes molhados, tentando não fazer uma bagunça maior do que já havia. — Seria esta a casa da Sacerdotisa? — Não existe cama e nem espaço para alguém dormir aqui. Talvez é só um lugar para proteger e
Os companheiros de viagem estavam sentados em volta da fogueira preparada por Yew enquanto aguardavam a vinda da Sacerdotisa Brianna, que estava terminando seus ritos noturnos em frente ao seu altar dedicado a Biogu. Era clara a visão de que estavam completamente abatidos, tremiam e seus olhos não paravam quietos, sempre saltando para algum lugar daquela floresta escura. — Sobre esse ritual… — Gale não era capaz de encontrar palavras que os confortassem. — Não quero falar sobre isso — o elfo rispidamente falou. — Vamos combinar que nunca aconteceu — Guido sugeriu. Assentiram todos com a cabeça. O aventureiro guardiano sacou de sua bolsa uma garrafa de vinho que contava com metade do líquido original diluído em água, tal gesto chamou a atenção do Sentinela que ficara confuso ao assisti-lo remover a rolha da garrafa com os dentes e ingerir a bebida indiferente. — O que foi? — Notou Yew, olhando de canto. — Onde foi que arrumou isso? — Gale rebateu, sabia que aquilo não estava com
— Durante uma tempestade onde o cair da chuva fazia o barulho do rosnar de um lobo e os trovões retumbavam como o rugido de um urso, nasceu em uma comunidade afastada da civilização uma criança tão magra que seus pais achavam que não tinha carne. Era natural de uma tribo chamada Franar, que eram devotos principalmente a Biogu, o espírito da natureza. Por conta das péssimas condições de saúde, eu passava a maior parte do tempo presa à cama, onde desenvolvi uma insatisfação e agressividade enrustida por ter de conviver a maior parte de seus dias junto da sacerdotisa dos franarzianos. Com o tempo e melhorando de saúde, ganhei a permissão de meus pais para iniciar nos treinamentos para me tornar a próxima sacerdotisa, destino que tinha sido revelado no instante que nascera ao som do rugido de um urso. Um dia consegui me colocar de pé sozinha, com muito esforço, no meio da noite enquanto todos dormiam e corri floresta adentro sempre caindo após poucos passos. Usando apenas uma tocha como g
Alabaster Starrock estava lá. Bem na sua frente. A espada sagrada do Sentinela deu um rugido poderoso, que reverberou na mente de todos os presentes e os desestabilizou, menos a Gale, cuja alma se transformava em uma tempestade seca e amargurada, porém, avassaladora. Ele levou sua mão esquerda às costas e sacou Samhain, que emanava uma imponência nunca antes vista, e a apontou para o garoto dos cabelos negros. — O que está fazendo aqui? — o rapaz o questionou friamente enquanto seus dentes trincavam. O dyninse ficou em silêncio. — Quem é esse, agora? — Guido exclamou fingindo irritação, mesmo que na verdade estivesse profundamente assustado com a reação do companheiro, que até então não havia se exaltado nem por um momento. Gale aproximou a lâmina escura do pescoço da nova companhia, o que fez com que o jovem o encarasse nos olhos. Sua face estava suja e ferida, a região cortada por Gaheris também não era uma visão tão agradável quanto ao resto com a cicatrização tomando formato
O jovem Sentinela soltou Alabaster e passou a andar de um lado para o outro sem saber o que dizer, fazer, pensar. Estava perdido. Lembranças que guardava com tanto carinho e que vieram a ser compartilhadas somente havia poucos instantes, agora o feriam como farpas de uma rosa vermelha, que é tão bela a ponto de lhe perfurar a carne e derramar seu sangue.Gale não possuía feridas físicas e o sangue não teria por onde escapar, tornando essa a pior sensação do mundo. Dor, angústia, impotência e sofrimento dentro de um corpo sem vazão para sair, destruindo-o por dentro em uma verdadeira tormenta de emoções. Sua vida parecia uma maré sedenta por desastres e perdas.Não poderia voltar para seu povo e mostrar o quão forte se tornara.O Filho do Outono gritou aos céus com todo o ar e toda força que ainda restava em seu corpo, até que sentir o gosto de sangue na garganta. Ele caiu de joelhos no chão, pois as pernas bambas não eram mais capazes de aguentar seu peso. O rapaz chorava como um bebê
Hanfold, 74 voltas antes da invasão ao Santuário da Luz Os céus resplandeciam naquele início de tarde, acompanhado pela brisa acolhedora dos ventos gelados que refrescavam o corpo de Yew Navarre e os outros sete filhos da Luz junto dele, entre eles, estava o grande Sentinela do Inverno, Rorak. Fazia muitas voltas desde que haviam saído juntos pela última vez, o serviço como Sentinela não era o mais propício a permitir tempo livre, então para os dois, aquela missão era mais do que especial. Montado em seu cavalo negro, Rorak atualmente se encontrava muito mais velho, com um semblante mais sério e responsável, fator este que o elfo considerava ser atribuído à sua longa barba que continha mais fios brancos do que ele poderia se orgulhar. O companheiro de tantas aventuras já estava se preocupando com o próximo Sentinela, e possuía alguns nomes interessantes cotados para assumir seu manto quando partisse, embora todos fossem ainda aprendizes. Tempos instáveis se instalavam no Santuári
— O Julgamento Glacinante de Porlock. Não tinha algo mais previsível para usar? — o aventureiro guardiano zombou do parceiro enquanto este retornava e recebeu um praguejo como resposta. Yew ajudou o amigo a voltar para cima da montaria. — É muito injusto — disse Rorak. — Estou em pedaços, me arrastando, lutando para continuar de pé e você parece não ter envelhecido um ano! — Ainda bem, imagine só se tivesse de te aguentar por mais 200 voltas. — Porlock não foi aquele mago doido que acoplou várias pedras elementais no próprio corpo e virou um deus? — Niaky indagou enquanto chegava perto para escutar a conversa dos dois. — Não, esse foi outro cara. Porlock foi quem tentou reproduzir isso e ficou maluco. — o elfo guardiano respondeu desgostoso e esperou o rival se afastar para questionar seu amigo Sentinela — Seus protetores não conhecem o panteão? Rorak tossiu seco e se deu alguns instantes longos para respirar fundo. — Os sacerdotes não gostam de falar sobre os outros deuses, som