Hanfold, 74 voltas antes da invasão ao Santuário da Luz Os céus resplandeciam naquele início de tarde, acompanhado pela brisa acolhedora dos ventos gelados que refrescavam o corpo de Yew Navarre e os outros sete filhos da Luz junto dele, entre eles, estava o grande Sentinela do Inverno, Rorak. Fazia muitas voltas desde que haviam saído juntos pela última vez, o serviço como Sentinela não era o mais propício a permitir tempo livre, então para os dois, aquela missão era mais do que especial. Montado em seu cavalo negro, Rorak atualmente se encontrava muito mais velho, com um semblante mais sério e responsável, fator este que o elfo considerava ser atribuído à sua longa barba que continha mais fios brancos do que ele poderia se orgulhar. O companheiro de tantas aventuras já estava se preocupando com o próximo Sentinela, e possuía alguns nomes interessantes cotados para assumir seu manto quando partisse, embora todos fossem ainda aprendizes. Tempos instáveis se instalavam no Santuári
— O Julgamento Glacinante de Porlock. Não tinha algo mais previsível para usar? — o aventureiro guardiano zombou do parceiro enquanto este retornava e recebeu um praguejo como resposta. Yew ajudou o amigo a voltar para cima da montaria. — É muito injusto — disse Rorak. — Estou em pedaços, me arrastando, lutando para continuar de pé e você parece não ter envelhecido um ano! — Ainda bem, imagine só se tivesse de te aguentar por mais 200 voltas. — Porlock não foi aquele mago doido que acoplou várias pedras elementais no próprio corpo e virou um deus? — Niaky indagou enquanto chegava perto para escutar a conversa dos dois. — Não, esse foi outro cara. Porlock foi quem tentou reproduzir isso e ficou maluco. — o elfo guardiano respondeu desgostoso e esperou o rival se afastar para questionar seu amigo Sentinela — Seus protetores não conhecem o panteão? Rorak tossiu seco e se deu alguns instantes longos para respirar fundo. — Os sacerdotes não gostam de falar sobre os outros deuses, som
O ranger de algumas estruturas que nunca souberam o significado de “manutenção” os alertou da porta que se fechava rapidamente e os trancaria lá. O elfo da Lua, rápido como um lince, saltou até a mesma e usou o próprio corpo para segurá-la. — Se apressem! — gritou ele. — Não sei quanto tempo aguentarei! Os aprendizes passaram por ele sem hesitar, atravessando a porta e deixando os protetores, o Embaixador e o Sentinela para trás. Zari foi a próxima, a lofidiana agradeceu ao velho amigo sem dizer nada, um simples olhar já era o suficiente para que os dois transmitissem tudo o que sentiam após o longo tempo em que serviram juntos. — Sempre gostou de bancar o corajoso, meu amigo — disse Rorak com o coração pesado. — Irei tomar seu lugar, Niaky. Você pega o Horizonte e… — Yew tentou falar. — Cale a boca, seu fedelho guardiano! — O elfo da Lua o interrompeu. — Estou honrando meu compromisso como um Protetor, e nada me alegra mais do que terminar aqui na casa do pai dos elfos. — Foi o
A voz de Catherine ao fundo o tirou do transe.— Sabe, pequeno Rorak… — disse ela brincando com Samhain. O Sentinela do Inverno estava caído no chão e sangrando. — Embora você não concorde, somos muito parecidos, até posso enxergar muito de mim ao te olhar. Ambos queremos o melhor para nossa terra, a diferença é que meus olhos estão abertos agora. Vejo que a terra será consumida e os oceanos secarão. O Sol desaparecerá e a Lua irá se partir enquanto a eterna escuridão se apodera de Cylch. Todas as almas de nosso mundo, toda a magia, toda a existência não passam de recursos para algo maior do que vocês. Mas eu amo a vida, e por isso tratarei de recriá-la aos meus modos após o Abismo tomar o que é seu por direito!— Nunca! — bradou ele. — Não somos nem um pouco parecidos, sua traidora. — Cuspiu sangue no chão.— Ah, querido, não fale assim! Sabe muito bem que somos o reflexo um do outro, preocupados com o futuro de nossa sobrevivência! Se eu não fizesse isso, o que sobraria de nós após
Yew acordou com um grito, assustando os colegas que se reuniam em volta do mesmo, preocupados ao acompanhar a queda e transe do elfo. Sem fôlego, a primeira coisa que fez foi trazer ar novo daquela região de árvores puras para seus pulmões, embora parecesse não conseguir. Ele agarrou Guido pelo pescoço com olhos arregalados, sendo capaz de enxergar Brianna e Alabaster através de sua pele, e então usou o apoio para erguer o corpo e rastejar desesperado para longe dele. Vomitou. O elfo de olhos esmeralda aparentou sentir-se melhor após expelir tudo o que possuía dentro de si para fora, levando consigo todo mal e a culpa presos durante tanto tempo. Aos poucos, a respiração descompassada passou a se ajeitar e as mãos que tremiam intensamente se acalmavam. Ele engoliu em seco e respirou fundo a fim de se tranquilizar, estava bem agora. Encarando seus companheiros, o Embaixador do Senhor da Luz, agora elucidado por completo de sua vida e das voltas que lhe foram roubadas, enxergava as fa
— Agora faz sentido ele carregar flechas nas costas. — O meio merco comentou. Sempre teve curiosidade em saber o que havia acontecido com o arco dele. O garoto lhe entregou sua aljava que ainda contava com, mesmo que poucas, um bom número de flechas. O elfo aceitou de bom grado e se curvou ao mesmo em respeito, Alabaster replicou o gesto. — Vou buscar mais ervas para tratar do rosto desse infeliz, já que vocês têm tanta necessidades de estourar os rostos uns dos outros e o trabalho sempre fica para mim! — A sacerdotisa se afastou. — Do que ela está falando? Deve viver sozinha faz uns 300 anos. — Ela é louca, Guido. — E TRATEM DE LIMPAR ESSA SUJEIRA QUE FIZERAM NO MEU QUINTAL, ME MATO TODO DIA PARA UM ELFO FEDIDO GORFAR EM TUDO? ESTRANGULO CADA UM DE VOCÊS QUANDO VOLTAR, INCLUSIVE O DA CARA INCHADA QUE SÓ APARECEU PARA ME CAUSAR DOR DE CABEÇA! O dyninse recém-chegado olhou para os novos companheiros aguardando para saber como procederiam às ameaças da velha senhora, ameaças que e
Em meio ao caos, Alabaster tentou soltar-se. Sem sucesso. O ser de mantos escuros se viu inserido na situação instável em que se encontrava e decidiu por encerrar a vida do garoto de uma vez. O herdeiro dos Starrock fechou os olhos já com a navalha que cortaria sua garganta em movimento, que parou abruptamente após ter escutado o som de uma flecha rompendo o ar. Era um presente de Yew em agradecimento pelo arco. Ele sentiu o sangue escorrer pelo fino corte que havia se iniciado, mas estava a lidar com preocupações maiores no momento. Guido passou pelo garoto de cabelos negros e lhe jogou Digaeth, que acabara de recuperar, e então correu com seus pés fofos em direção a dois Devotos da Fumaça. O meio merco saltou em um movimento acrobático e abriu as pernas para acertar ambos os oponentes com um chute cada. Velozmente o ladrão se movimentava pela clareira atingindo o máximo de inimigos distraídos enquanto o elfo os finalizava com as flechas atiradas pelo arco de Roshedan. No centro do
Gale acordou de um pesadelo horrendo em sua rede que, embora antiquada para os outros, ele amava ter. Ainda atordoado pelo resquício de sono que rondava seus primeiros momentos de lucidez, o rapaz esfregou os olhos e coçou a cabeça, lembrando que havia recém-cortado o cabelo. Após um bocejo e se esticar, decidiu levantar-se.Caiu no chão.Não estava tão recuperado do sonho que tivera quanto pensava. Pelo menos os companheiros não estavam ali para assisti-lo passando vergonha. O jovem flutuou os olhos sobre sua tenda no acampamento dos aprendizes, que dividia com outros dois filhos da Luz: Geralt e Will, sendo este último um garoto que havia chegado há poucos meses.As camas estavam vazias, e uma tormenta parecia ter passado pelo lugar. Típico.O ato de compartilhar morada era algo que o envolvia em sentimentos complexos: era ótimo não se sentir sozinho à noite, mas o novato sempre deixava as roupas sujas em cima de sua rede. O melhor amigo, Geralt, achava tal situação cômica sempre qu