A voz de Catherine ao fundo o tirou do transe.— Sabe, pequeno Rorak… — disse ela brincando com Samhain. O Sentinela do Inverno estava caído no chão e sangrando. — Embora você não concorde, somos muito parecidos, até posso enxergar muito de mim ao te olhar. Ambos queremos o melhor para nossa terra, a diferença é que meus olhos estão abertos agora. Vejo que a terra será consumida e os oceanos secarão. O Sol desaparecerá e a Lua irá se partir enquanto a eterna escuridão se apodera de Cylch. Todas as almas de nosso mundo, toda a magia, toda a existência não passam de recursos para algo maior do que vocês. Mas eu amo a vida, e por isso tratarei de recriá-la aos meus modos após o Abismo tomar o que é seu por direito!— Nunca! — bradou ele. — Não somos nem um pouco parecidos, sua traidora. — Cuspiu sangue no chão.— Ah, querido, não fale assim! Sabe muito bem que somos o reflexo um do outro, preocupados com o futuro de nossa sobrevivência! Se eu não fizesse isso, o que sobraria de nós após
Yew acordou com um grito, assustando os colegas que se reuniam em volta do mesmo, preocupados ao acompanhar a queda e transe do elfo. Sem fôlego, a primeira coisa que fez foi trazer ar novo daquela região de árvores puras para seus pulmões, embora parecesse não conseguir. Ele agarrou Guido pelo pescoço com olhos arregalados, sendo capaz de enxergar Brianna e Alabaster através de sua pele, e então usou o apoio para erguer o corpo e rastejar desesperado para longe dele. Vomitou. O elfo de olhos esmeralda aparentou sentir-se melhor após expelir tudo o que possuía dentro de si para fora, levando consigo todo mal e a culpa presos durante tanto tempo. Aos poucos, a respiração descompassada passou a se ajeitar e as mãos que tremiam intensamente se acalmavam. Ele engoliu em seco e respirou fundo a fim de se tranquilizar, estava bem agora. Encarando seus companheiros, o Embaixador do Senhor da Luz, agora elucidado por completo de sua vida e das voltas que lhe foram roubadas, enxergava as fa
— Agora faz sentido ele carregar flechas nas costas. — O meio merco comentou. Sempre teve curiosidade em saber o que havia acontecido com o arco dele. O garoto lhe entregou sua aljava que ainda contava com, mesmo que poucas, um bom número de flechas. O elfo aceitou de bom grado e se curvou ao mesmo em respeito, Alabaster replicou o gesto. — Vou buscar mais ervas para tratar do rosto desse infeliz, já que vocês têm tanta necessidades de estourar os rostos uns dos outros e o trabalho sempre fica para mim! — A sacerdotisa se afastou. — Do que ela está falando? Deve viver sozinha faz uns 300 anos. — Ela é louca, Guido. — E TRATEM DE LIMPAR ESSA SUJEIRA QUE FIZERAM NO MEU QUINTAL, ME MATO TODO DIA PARA UM ELFO FEDIDO GORFAR EM TUDO? ESTRANGULO CADA UM DE VOCÊS QUANDO VOLTAR, INCLUSIVE O DA CARA INCHADA QUE SÓ APARECEU PARA ME CAUSAR DOR DE CABEÇA! O dyninse recém-chegado olhou para os novos companheiros aguardando para saber como procederiam às ameaças da velha senhora, ameaças que e
Em meio ao caos, Alabaster tentou soltar-se. Sem sucesso. O ser de mantos escuros se viu inserido na situação instável em que se encontrava e decidiu por encerrar a vida do garoto de uma vez. O herdeiro dos Starrock fechou os olhos já com a navalha que cortaria sua garganta em movimento, que parou abruptamente após ter escutado o som de uma flecha rompendo o ar. Era um presente de Yew em agradecimento pelo arco. Ele sentiu o sangue escorrer pelo fino corte que havia se iniciado, mas estava a lidar com preocupações maiores no momento. Guido passou pelo garoto de cabelos negros e lhe jogou Digaeth, que acabara de recuperar, e então correu com seus pés fofos em direção a dois Devotos da Fumaça. O meio merco saltou em um movimento acrobático e abriu as pernas para acertar ambos os oponentes com um chute cada. Velozmente o ladrão se movimentava pela clareira atingindo o máximo de inimigos distraídos enquanto o elfo os finalizava com as flechas atiradas pelo arco de Roshedan. No centro do
Gale acordou de um pesadelo horrendo em sua rede que, embora antiquada para os outros, ele amava ter. Ainda atordoado pelo resquício de sono que rondava seus primeiros momentos de lucidez, o rapaz esfregou os olhos e coçou a cabeça, lembrando que havia recém-cortado o cabelo. Após um bocejo e se esticar, decidiu levantar-se.Caiu no chão.Não estava tão recuperado do sonho que tivera quanto pensava. Pelo menos os companheiros não estavam ali para assisti-lo passando vergonha. O jovem flutuou os olhos sobre sua tenda no acampamento dos aprendizes, que dividia com outros dois filhos da Luz: Geralt e Will, sendo este último um garoto que havia chegado há poucos meses.As camas estavam vazias, e uma tormenta parecia ter passado pelo lugar. Típico.O ato de compartilhar morada era algo que o envolvia em sentimentos complexos: era ótimo não se sentir sozinho à noite, mas o novato sempre deixava as roupas sujas em cima de sua rede. O melhor amigo, Geralt, achava tal situação cômica sempre qu
O jovem saltou assustado e deu alguns passos para se afastar da mulher. Ela vestia a mesma túnica branca que no dia de sua partida desta terra, também ainda possuía os mesmos cabelos ruivos raspados na lateral de sua cabeça e a tinta em torno dos olhos verdes, similares aos de Yew. Usava um brinco em forma de folha. Era Kyria, sua predecessora como a Sentinela do Outono. Infelizmente, para Gale, a última vez que tinha a visto não foi no dia em que o Santuário da Luz sofreu o ataque que lhe ceifara a vida, mas sim, na Floresta das Ilusões. O Filho do Outono ainda carregava algumas feridas interiores que esta havia lhe deixado, principalmente após vê-la se transformar em uma réplica do mesmo. Ele levou a mão esquerda até as costas, notando que a arma qual procurava não estava lá, então olhou para o deus ao seu lado que evitava cair na gargalhada. — Se acalme, não vou te atacar. — Kyria fez uma careta enquanto escolhia as próximas palavras. — E peço desculpas pelo que aconteceu, mas
Passaram-se algumas horas desde que Gale partiu atrás da divindade filha de Luxord e da antiga Sentinela do Outono para ir até o vale que ficava depois do Monte da Alvorada, era o local onde os filhos da Luz realizava a maioria de suas cerimônias solenes. A última vez em que esteve lá fora quando precisou incendiar algumas piras para o funeral daqueles que morreram durante o ataque ao Santuário, também havia sido naquela noite que recebera a marca da transformação. Agora os três atravessavam a montanha que as lendas diziam ter sido onde as espadas foram forjadas. O rapaz não sabia muito sobre o que deveria esperar, mas os outros dois presentes estavam calados desde que haviam deixado o centro do Santuário da Luz. Samhain parecia apreensivo. — Senhor. — O jovem chamou a atenção dele. — Tenho algumas perguntas. — Todos têm, o tempo todo. — Deu uma risada fraca. — Diga, Sentinela. — Por que aconteciam desastres quando a espada se partia? Sei do conceito, mas ninguém parece ter uma e
— A ideia de ter uma dessas pedras no peito é aterrorizante, eu sei. — A Filha do Outono simpatizou com o temor do irmão. — Entretanto, seu corpo será feito de magia após isso e então, você se torna uma espécie de semideus do Outono. — Um deus, na verdade. Tão forte quanto qualquer outro ser divino que resida em Cylch atualmente. O Domador dos Ventos, se aceita a sugestão — disse o filho do Senhor da Luz. — Precisamos de um novo depois do que aconteceu com Zephy. — Não que isso signifique que você saberia usar toda a extensão de seu poder como alguém do panteão — Kyria falou em um tom brincalhão. — Certo. — Engoliu em seco. — Vamos logo com isso. — Calma, não é tão simples desse jeito. É impossível trazer os mortos de volta à vida. — Mas vocês disseram que havia um modo! — Ela está querendo dizer que é chegada a hora de fazer uma escolha, Gale. — Samhain tomou a palavra. — Posso lhe emprestar um coração, mas não mudar o que já foi feito. Você pode aceitar a minha oferta e se tor