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Capítulo 4 - Entre Cupcakes e Ciúmes

Jason

Quando ela me soltou, senti que estávamos mais próximos que nunca. A verdade é que, sempre pertencemos um ao outro de alguma forma.

— Feliz aniversário, Clara. — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro, enquanto eu segurava o cupcake na frente dela. A vela acesa tremulava com o ar úmido da chuva que vinha de fora, iluminando por um instante o rosto cansado e os olhos marejados dela. Me vi perdido naquele olhar, como se estivesse olhando para Clara de anos atrás, quando chegou sozinha e desolada pelo luto.

Clara piscou, confusa e ainda meio fora de si, mas suas mãos trêmulas tocaram o pequeno bolinho. Por um segundo, ela pareceu frágil, como se estivesse tentando se agarrar a qualquer migalha de carinho.

— Sopra a vela — murmurei. — Você merece pelo menos isso. É seu aniversário.

— Obrigada, Jason. Por tudo.

Ela fechou os olhos e soprou, e o mundo pareceu parar. Era um momento pequeno, mas por algum motivo, pesado e cheio de significado. Eu não tinha ideia de como remediar o passado entre nós, mas ali estava eu, tentando. Pela primeira vez, estava tentando consertar alguma coisa que realmente me importava de verdade.

Meus dedos escorregaram pelo braço dela, descendo até sua mão. A proximidade era inevitável, e pela primeira vez, Clara não se afastou. Inclinei-me devagar, quase sem respirar, como se temesse que qualquer movimento brusco pudesse quebrar o que quer que fosse isso entre nós. Estava prestes a beijá-la quando a porta da floricultura se abriu com um rangido.

— Clara! — Uma voz familiar atravessou o silêncio.

Virei o rosto com um estalo, e lá estava ele: o tal amigo presente. Um buquê de flores em uma mão e uma sacola de presente na outra, parecendo satisfeito consigo mesmo pelo esforço que fez. Meu corpo ficou tenso, e o calor do ciúme subiu pelo meu peito como uma labareda incontrolável. Me senti fora de mim pra alguns segundos, mas mantive a calma por fora, mesmo que por dentro, eu esteja em chamas.

Clara piscou, surpresa, enquanto o idiota se aproximava com um sorriso.

— Achei que ia estar sozinha. — Ele parou ao lado dela, oferecendo o buquê e a sacola. — Feliz aniversário, Clara.

Eu não disse nada, mas a tensão no ar era quase palpável. Meu maxilar doía de tanto apertar os dentes. O cara a olhava como se eu não existisse, e Clara… Clara parecia perdida entre a confusão do momento e o álcool que ainda a dominava.

Então, de repente, ela cambaleou e apagou, desmaiando em meus braços. O deixando ali, parado e sem reação diante de tudo que estava acontecendo.

Clara

Eu não lembro muito bem como tudo aconteceu. Só me lembro do cheiro das rosas, do gosto amargo do vinho na boca e da sensação do corpo leve demais para suportar o peso das emoções. Quando abri os olhos por um instante, vi Jason me segurando firme, e a última coisa que escutei foi a voz do meu amigo, preocupada e distante.

Depois disso, tudo ficou escuro...

Jason

Segurei Clara firme, impedindo que ela caísse no chão.

— Eu ajudo — disse o amigo, estendendo as mãos, como se eu precisasse de algo vindo dele.

— Não precisa — cortei, curto e direto. — Eu a levo. E vê se dá o fora.

A expressão dele ficou tensa, mas não insisti. Peguei Clara no colo, ignorando o buquê e o presente dele jogados de lado. Não ia deixar aquele idiota bancar o herói. Clara era problema meu, e eu cuidaria dela, como sempre fiz.

A chuva continuava forte enquanto eu a levava até o carro. Quando chegamos em casa, minha mãe estava na porta, o rosto preocupado.

— Jason, o que aconteceu? — perguntou, correndo até nós. — O que houve com ela? — Ela permaneceu perguntado rapidamente, na espera de uma resposta.

— Ela bebeu demais, mãe — respondi, sem deixar transparecer nada além de frieza. — Vou colocá-la na cama, conversamos depois.

Minha mãe me olhou com preocupação genuína. Ela sempre tratou Clara como uma filha, e era a primeira vez que a via assim, tão vulnerável. Bêbada, essa era palavra que ela nunca ouviu quando se tratava de Clara.

— Ela nunca fez isso antes... — comentou, preocupada.

— Eu sei. Vou cuidar dela. Eu prometo.

Entrei na casa com Clara ainda nos braços. Minhas amigas estavam na sala, conversando alto e rindo, mas minha paciência com elas já tinha acabado, assim como há muito tempos atrás.

— Jantar cancelado. Podem ir embora — disse, sem rodeios. — E por favor, não venham mais aqui.

— O quê? Jason, nós... — uma delas tentou protestar. — A gente...

— Agora. — Disse firme apontando para porta.

Não esperei mais. Elas saíram, resmungando entre si, mas não me importei. Levei Clara até o quarto dela e a deitei na cama com cuidado. Ela se mexeu um pouco, murmurando algo incompreensível, mas não acordou.

Fiquei ali por um momento, olhando para ela. O rosto adormecido parecia tão diferente daquele que ela sempre mostrava: forte, distante. Pela primeira vez em muito tempo, Clara parecia… frágil. E algo dentro de mim se remexeu, uma coisa que eu não sabia nomear. Talvez arrependimento de tudo que lhe causou no passado ou talvez, eu esteja apenas tentando me redimi.

Clara

Quando acordei, o quarto estava escuro, exceto por um feixe de luz fraca vindo do corredor. Minha cabeça latejava, e meu estômago se revirava. Pisquei algumas vezes, tentando me lembrar do que tinha acontecido. Jason. As rosas. O vinho. E depois... nada.

Levantei-me devagar, ignorando a tontura, e fui até o banheiro. Joguei água no rosto, mas o enjoo não cedia. Precisava ir trabalhar, mesmo assim. Não podia me dar ao luxo de faltar. Mesmo que seja na floricultura e que minha madrinha iria preferir que eu fique em casa, não consigo ficar muito perto do Jason sem sentir o fogo do desejo me consumindo.

Coloquei uma roupa simples e saí do quarto, na esperança de passar despercebida. Mas, é claro, Jason estava na cozinha, como se estivesse esperando por mim.

— Vai a algum lugar? — perguntou, a voz baixa, mas firme. — Como está se sentindo?

— Trabalho — respondi sem olhar para ele. — Preciso ocupar minha mente um pouco.

— Clara, você mal consegue ficar de pé. — Ele encostou-se na bancada e ficou seus olhos nos meus.

— Não é da sua conta. — Rebati, remexendo em minha bolsa.

Ele me encarou por um momento, os olhos impassíveis.

— É, sim.

— Desde quando? — perguntei, finalmente o encarando dessa vez.

Jason não respondeu de imediato. Apenas me olhou, como se estivesse pesando as palavras.

— Desde sempre — disse por fim, a voz tão baixa que mal consegui ouvir. Falou mais para ele do que para mim.

Meu coração deu um salto estranho, mas eu o ignorei, deve ser efeito do vinho ainda.

— Não precisa fingir que se importa, Jason. Estou bem, sempre estive bem.

Ele se aproximou, os olhos fixos nos meus, parecendo que ele vê além do que eu posso demonstrar.

— Clara, você não está bem. Pode mentir para você mesma, mas para mim não.

Havia algo na voz dele, uma mistura de frustração e preocupação que me pegou de surpresa. Mas eu não ia ceder. Não podia.

— Só preciso ir trabalhar. Até mais...

Passei por ele, tentando ignorar a sensação de seu olhar queimando minhas costas. Mas, no fundo, eu sabia que ele não deixaria as coisas assim. Não desta vez. Mas por quê? Ele nunca se importou, pelo contrário, sempre demonstrou que não dava a mínima para mim.

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