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Capítulo 6 - Convite de Jantar

Clara

A floricultura era o único lugar onde eu conseguia respirar. O cheiro de rosas, lírios e jasmim me envolvia como uma manta de conforto, afastando a sensação sufocante que Jason havia deixado para trás. Eu precisava de espaço, precisava fugir das memórias daquele beijo e da revelação devastadora sobre Amélia.

Alex me mandou uma mensagem no caminho para o trabalho: decidir trabalhar até às 23:00.

Alex: "E então? Que tal jantar hoje à noite? Só nós dois." E só então, quase às 19:00 foi que eu vi sua mensagem, que ele enviou mais cedo.

A tentação de aceitar surgiu imediatamente. Eu sabia que ele estava tentando ser gentil e que sua companhia poderia me ajudar a esquecer, ao menos por algumas horas, o desastre que minha vida havia se tornado.

Clara: "Ok. Às nove?"

Ele respondeu com um emoji sorridente e um simples “Combinado”, e foi isso.

Passei restante do tempo que falava cercada pelas flores, mas a paz que tanto buscava parecia fora de alcance. O beijo de Jason ainda queimava meus lábios, e a verdade amarga sobre sua noiva não saía da minha cabeça. A cada vez que eu fechava os olhos, via aquele olhar que ele lançou antes de descer as escadas — o mesmo olhar que me destruiu anos atrás, quando tudo começou.

Jason

Quando Clara voltou para casa, já era noite. Eu estava sentado no sofá da sala, aguardando, com uma garrafa de uísque ao meu lado. O beijo que trocamos havia sido um erro. Um erro que eu não poderia repetir, por mais que parte de mim quisesse.

Assim que ela entrou, ergui os olhos e joguei uma farpa afiada, sem pensar:

— Então, depois de uma noite agitada, resolveu finalmente aparecer?

Ela parou na porta, me encarando com aqueles olhos que eu conhecia tão bem, mas que agora pareciam mais distantes.

— Não foi nada agitado, comparado ao que está por vir. Boa tarde pra você também, Jason.

Eu me levantei, dando alguns passos até ela. Mantive a distância mínima necessária para que ela soubesse que, apesar de tudo, eu ainda estava ali, a cercando. Ela estava desafiadora, e seu tom de voz, com convicção demais.

— Saiu escondida de novo? — perguntei, minha voz fria como gelo. — Do que tem medo?

Clara ergueu o queixo, determinada a não ceder ao meu tom.

— Não preciso te dar satisfações. Não sou mais uma adolescente, Jason. E a única coisa que me dá medo, é essa sua arrogância sem fim. E além disso, deveria saber que eu trabalho, deveria experimentar um pouco.

Eu ri, sem humor. Mas suas palavras me atingiram, de certa forma, eu me senti um lixo naquele momento.

— Não, você definitivamente não é mais uma garotinha. Aliás, porque estava entrando escondida? E por que está de volta tão cedo?

Ela desviou o olhar, apertando os lábios, como se tentasse ignorar as palavras que joguei. Mas eu a conhecia bem demais para não perceber a pontada de dor em seu rosto.

— Alex me chamou para jantar — disse ela, de repente, lançando as palavras como se fossem um escudo. — Vir mas cedo porque tenho que me arrumar, você sabe... uma roupa bonita para passar uma boa visão.

Senti meu maxilar se apertar ao ouvir o nome dele. E como ela estava se mencionando, como se hoje fosse ter algo mais que apenas um jantar. E tudo isso mexe comigo de um jeito incontrolável.

— Alex? Esse cara é seu tipo agora? Não sabia que você curtia babacas.

Clara cruzou os braços, desafiadora.

— Pelo menos ele não me trata como lixo, como você. E eu já curti muito um certo babaca, chamando Jason, cujo é uma pessoa sem escrúpulos e a única coisa que fez de bom foi me humilhar, em toda a minha adolescência. Preciso dizer algo mais?

Respirei fundo, tentando controlar o turbilhão que rodopiava dentro de mim. Mas não consigo, ela está certa em cada palavra e eu me sinto um lixo em cada uma delas.

— Minha mãe sabe que você vai sair?

— Ela está feliz. Disse que é bom eu me socializar mais — Clara respondeu, lançando um olhar firme. — Você também deveria estar feliz. Pode dar meu quarto para alguma amiga da sua noiva dormir, eu não importo.

Eu balancei a cabeça, dando um passo para trás.

— Claro. Socializar. Parece divertido.

— É, Jason. Socializar pode ser divertido, não é?

Ela passou por mim sem dizer mais nada, indo direto para o quarto. E eu fiquei ali, parado, com as palavras presas na garganta e o peito apertado com algo que eu não conseguia nomear. Ciúme? Arrependimento? Não importava.

Clara

No meu quarto, me arrumei lentamente, tentando não pensar no que Jason havia dito — ou melhor, no que ele não disse. Cada vez que eu tentava me afastar dele, ele me puxava de volta com suas palavras frias e olhares intensos. E quando eu me aproximava, ele me empurrava para longe, como se estivesse determinado a me manter na borda de sua vida.

Alex era uma distração bem-vinda. Mesmo que eu soubesse que sair com ele era mais uma fuga do que qualquer outra coisa, eu precisava disso. Precisava me lembrar de que ainda havia vida fora do caos que Jason trazia para mim.

Antes de sair, passei pela cozinha, onde minha madrinha estava preparando o jantar.

— Vai sair, querida? — ela perguntou, sorrindo ao me ver pronta. — Você está linda. Não está, Jason? — Ele fez questão de sair após a pergunta, ignorando completamente sua mãe.

— Sim, Alex me convidou para jantar. — Sorri sem graça.

— Isso é ótimo! Fico feliz por você estar se socializando mais — disse ela, me abraçando de leve. — Só não volte muito tarde, tá? Qualquer coisa me liga, que eu vou te buscar.

Assenti, devolvendo o sorriso. Mas antes que pudesse ir, ela acrescentou:

— Ah, e Jason mencionou algo sobre você sair... Ele parecia... preocupado.

Eu quase ri, mas me segurei. Preocupado? Jason? Aquele homem era tudo, menos preocupado.

— Não se preocupe, madrinha. Ele só está sendo... Jason. E da próxima vez, diga a ele que se preocupe com a noiva dele, não comigo.

Ela me lançou um olhar curioso, mas não insistiu. E eu saí, pronta para uma noite que, esperava, me ajudaria a esquecer os fantasmas que Jason sempre deixava para trás.

Jason

Eu assisti Clara sair pela janela da sala, uma sombra de desconforto crescendo dentro de mim. Ela estava linda. Mais linda do que eu queria admitir. E ela estava indo para os braços de outro homem.

Peguei meu celular e o deslizei entre os dedos, hesitante. Amélia havia mandado uma mensagem mais cedo, perguntando sobre planos para o jantar, mas eu não respondi. Meu foco estava em outra coisa. Ou melhor, em outra pessoa.

Apertei o celular na mão, sentindo a frustração crescer. Clara sempre soube como me desestabilizar, mesmo sem perceber. E agora, lá estava ela, saindo com Alex, deixando-me sozinho com as memórias do que tínhamos — e do que nunca poderíamos ter.

Levantei-me do sofá e fui até a cozinha, onde minha mãe ainda estava.

— O jantar vai ser só para nós dois, então? — perguntei, tentando soar casual.

Ela me olhou de soslaio, como se soubesse que algo mais estava acontecendo.

— Parece que sim. Clara saiu com o Alex. Isso é bom para ela, sabe? Mas você não parece feliz. Isso é bom, não é?

Assenti, tentando disfarçar o incômodo.

— Claro. Muito bom. Tomara que ela se divirta.

Minha mãe sorriu suavemente, mas seus olhos carregavam uma preocupação silenciosa.

— Jason... Não a machuque mais do que já a machucou. Eu não sou boba, sei que alguma coisa rola entre vocês dois. Mas não a machuque mais, por favor. Lembre-se, agora você tem uma noiva e ela não se chama Clara, se chama Amélia.

Engoli seco, incapaz de responder. Ela sempre soube ler nas entrelinhas, mesmo quando eu não queria admitir. Mas agora, parece que tudo em mim sente um grande incômodo por fazer as coisas sempre tão erradas.

Voltei para a sala, sentando-me novamente no sofá. A noite estava apenas começando, e eu sabia que nada do que fizesse me afastaria da única pessoa que realmente importava. E isso era o que mais me assustava.

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