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Capítulo 5 - Maldito Canalha

Clara

Quando sair da floricultura, parei em um bar familiar e tomei algumas cervejas, já que eu volto sozinha. Tenho uma dor absurda na alma e sinto como se tivesse um buraco enorme nela, mas, quando Jason está por perto, eu me sinto... protegida.

Quando cheguei em casa, minha madrinha havia saído com suas amigas e Jason estava sozinho em casa. Subi para meu quarto e me despi, quando de repetente, ele invadiu o quarto sem aviso.

Jason estava perto, mais perto do que eu jamais imaginaria que estaria novamente. A chuva lá fora continuava caindo em um ritmo suave, enquanto dentro do quarto, o silêncio entre nós era denso e carregado de tensão. Eu não sabia se deveria me afastar ou simplesmente ceder. As memórias daquele primeiro beijo, quando eu tinha 17 anos, ressurgiram como uma maré que engoliu qualquer lógica que eu ainda tentava manter.

— Jason... — sussurrei, a voz vacilando.

Ele não disse nada. Seus olhos cinzentos me encaravam intensamente, como se estivesse lutando com algo dentro de si. Então, devagar, ele fechou a distância entre nós. Aquele beijo. Delicado no início, mas cheio de urgência contida. Os lábios dele eram firmes e frios, mas o gesto em si era quente e carregado de significado, como se ele estivesse tentando dizer algo que não conseguia colocar em palavras.

Eu não resisti. Meus dedos se entrelaçaram em seus cabelos, e ele me puxou ainda mais para perto, segurando minha cintura como se eu fosse escapar se ele afrouxasse o toque. Aquele beijo era diferente do primeiro, mas o impacto foi o mesmo — avassalador e inesquecível.

Quando ele se afastou por um momento, respirando pesado, seu olhar parecia distante e ao mesmo tempo fixo em mim. Será que é real? Ou seria apenas mais um pouco de imaginação minha?

— Você bebeu? Onde estava? — Não era hora de cobrar ciúmes, já é tarde demais para isso.

— Por que agora? — perguntei, sentindo a emoção na garganta. — Por que depois de tudo? Sabe que o que a gente fez é errado, não é? E não pense que vai ficar se aproveitando de mim quando eu estiver bêbada.

Jason balançou a cabeça, como se não tivesse a resposta para a pergunta. Ou talvez tivesse, mas não quisesse dizer.

— Eu não sei, Clara. Só... aconteceu. E você precisa parar com isso. Você não é assim, não deveria agir como uma garota. Você não tem mais 17 anos, Clara. Por que não continuamos como sempre foi? Você me deixa eu te proteger, em troca, você se comporta. Como sempre foi. Então, o que me diz?

Eu senti meu coração acelerado, a mente confusa. Era isso que eu sempre quis? Talvez. Mas ao mesmo tempo, a sensação de que algo estava errado não me deixava em paz. Antes que eu pudesse perguntar mais alguma coisa, o celular dele vibrou no bolso. Meu coração estremeceu junto com a vibração. Não era coisa boa que estava por vir.

Jason piscou, como se tivesse sido arrancado daquele momento íntimo. Com um suspiro pesado, ele pegou o celular e olhou a tela. Seus olhos endureceram imediatamente, e eu soube que algo estava acontecendo.

— O que foi? — perguntei, ainda tentando recuperar o fôlego. Parecendo que aquilo foi uma despedida dolorosa.

— Nada. — Ele desligou a tela rapidamente e enfiou o telefone no bolso de volta.

Mas eu vi. Vi o suficiente. O nome de uma mulher apareceu na tela antes que ele pudesse esconder. “Amélia”.

— Quem é Amélia? — perguntei, tentando manter a voz firme, mas falhando miseravelmente. Aquilo é um golpe baixo, ele não deveria me tratar como lixo. — Você não muda nunca mesmo.

Jason evitou meu olhar, ajeitando-se de pé ao lado da cama.

— É só... alguém. Alguém que não é tão importante quanto como.

Só alguém. Claro. Como se aquilo fizesse algum sentido.

Antes que eu pudesse questioná-lo mais, o celular dele vibrou novamente. Desta vez, ele não teve tempo de esconder a notificação. A mensagem dizia que Amélia estava chegando e perguntava onde ele estava. Maldito canalha.

— Jason? — Minha voz soou baixa, mas carregada de tensão. — Sente prazer em me fazer de idiota?

Ele passou a mão pelo rosto, como se estivesse tentando pensar no que dizer.

— Eu não queria que você soubesse assim. E não, eu não sinto me sinto nenhum pouco bem fazendo isso com você, Clara.

— Saber o quê? — O peso na boca do meu estômago cresceu, como se eu já soubesse a resposta. — Até porque, você mesmo já disse que eu não tenho a ver com a sua vida.

Jason respirou fundo, finalmente olhando para mim com uma expressão que misturava arrependimento e frustração.

— Amélia é minha noiva. — Sua voz estava carregada de algo que eu não sei descrever.

Por um segundo, o chão pareceu desaparecer debaixo dos meus pés. Noiva? A palavra ecoava na minha mente, esmagando qualquer resquício do momento que acabamos de compartilhar.

— Você vai se casar? — sussurrei, sentindo a traição arder no peito. — E só agora está me dizendo?

Ele não respondeu imediatamente. Apenas me olhou com aqueles olhos cinzentos que agora pareciam tão distantes.

— Eu ia contar, mas... não queria que fosse assim. Eu não queria que fosse dessa forma.

— Você ia contar? Quando? — Minha voz aumentou de tom, a raiva misturada com a mágoa. — Antes ou depois de me beijar de novo? Por que fez isso? Para que eu me sinta uma traidora?

Jason fechou os olhos por um momento, como se estivesse tentando se recompor.

— Clara, eu não sei o que está acontecendo. Eu não planejei nada disso. É claro que a culpa é minha. — Suas mãos tentaram alcançar meu rosto, mas eu desviei rápido o suficiente para impedir.

— Não planejou? — Eu ri, um riso amargo e doloroso. — Claro que não. Porque você nunca planeja nada. Só faz o que quer, quando quer. E quem sobra para juntar os pedaços sou eu.

Antes que ele pudesse responder, ouvimos o som de passos na escada. Amélia estava aqui.

Jason se afastou de mim como se tivesse sido queimado.

— Preciso descer.

Eu o encarei, sentindo meu coração partir um pouco mais a cada segundo.

— Vai lá, Jason. Sua noiva está esperando. E vê se não invade mais essa porra de quarto.

Jason

Desci as escadas com o coração pesado, sentindo a culpa pesar sobre mim como uma m*****a âncora. Amélia estava na sala de estar, sorrindo como se não houvesse nada errado no mundo.

— Surpresa! — disse ela, se aproximando para me abraçar. Mas minha alma ainda está no quarto da Clara.

Tentei retribuir o gesto, mas minha mente ainda estava presa em Clara. No beijo. Na maneira como ela olhou para mim, magoada e confusa.

— Jason, está tudo bem? — Amélia perguntou, preocupada. — Parece preocupar e tenso...

Eu forcei um sorriso.

— Sim. Só... cansado da viagem. E como está você?

Minha mãe apareceu na porta da cozinha, surpresa ao ver Amélia.

— Quem é essa, Jason? — Surpresa e com um enorme desdém.

Eu hesitei por um momento, mas sabia que não poderia mais evitar.

— Mãe, essa é Amélia. Minha noiva. — Forcei um sorriso, enquanto minha mãe estava em sua cintura.

A expressão de minha mãe congelou por um segundo, mas logo se recompos.

— Noiva? — ela repetiu, lançando um olhar de dúvida. — Por que você nunca mencionou isso antes? Eu iria ficar contente em saber que meu filho está noivo, agora me sinto chateada por não saber que meu filho está prestes a se casar.

— Foi recente — menti, tentando acabar com a conversa. — Precisamos conversar depois, mãe.

Ela assentiu lentamente, mas algo em seu olhar dizia que não estava convencida.

Enquanto Amélia seguia para a cozinha, animada para conhecer minha mãe, eu parei na escada. Eu não sabia como encarar Clara depois disso.

E a verdade era que, por mais que tentasse negar, parte de mim não queria. Porque sabia que, naquele momento, algo tinha mudado para sempre.

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