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Capítulo 2 - A Busca

Jason

Eu deveria estar em casa agora, ouvindo as risadas falsas das minhas antigas amigas e assistindo minha mãe se desdobrar para fazer o jantar perfeito. Era o mínimo que ela podia fazer depois de cinco anos sem saber se eu voltaria vivo. Mas, claro, havia um problema: Clara. Ela não tinha voltado para casa, e minha mãe insistiu para que eu fosse atrás dela no rinque.

"Hoje é o aniversário dela, Jason", minha mãe disse com um suspiro pesado. "Só você e eu lembramos, e eu queria que ela estivesse aqui. Aquela menina já passou por muita coisa sozinha. Não merece passar seu aniversário na solidão mais uma vez". Mais uma vez? Então, quer dizer que os anos que eu passei longe, ela também passou sozinha?

Era difícil dizer não para minha mãe, principalmente quando se tratava de Clara. Suspirei e peguei as chaves. As amigas dela nunca foram muitas, e as minhas — as que estavam em casa agora — eram justamente a razão de Clara preferir fugir em vez de comemorar. Eu sabia disso. Sempre soube. Além disso, nenhuma de suas amigas se fizeram presentes hoje, como sempre!

No rinque, encontrei Clara no meio do gelo, deslizava como se quisesse deixar o mundo para trás. Esperei alguns minutos, observando-a, antes de me aproximar do alambrado.

Seus patins cortam o gelo como ela corta qualquer vestígios de sentimento que ainda tenha por mim. Seus olhos vermelhos eram sinais de choro e dor.

— Clara. — Minha voz cortou o silêncio do lugar.

Ela parou abruptamente e me encarou. Seus olhos verdes estavam mais frios do que eu me lembrava. Rapidamente, ela secou as lágrimas com as costas das mãos e seguiu me ignorando, mas desta vez, parada.

— O que você quer, Jason? Não deveria estar em casa, no aconchego das suas vadias?

— Vim te buscar. Tá tarde. – Respondi bruscamente, sem rodeio e nem mais conversa.

Ela riu, mas não havia diversão na risada.

— E desde quando você se importa comigo? Eu sempre volto sozinha para casa, isso não vai mudar porque você voltou.

— Não me importo. Minha mãe pediu. E, pra sua informação, ela lembrou do seu aniversário.

Os olhos dela brilharam por um instante, mas logo a expressão fechada voltou. Como se nada fizesse mais sentido.

— Que bom. Mais alguém além dela?

— Eu também lembrei — falei, sem emoção. Mas, com um fio de esperança que ela percebesse que não me perdeu.

Clara me lançou um olhar cético e voltou a tirar os patins, como se eu não estivesse ali. Esperei, com paciência. Aprendi a ter paciência para com ele lidar.

Quando ela terminou, jogou os patins na bolsa e se aproximou.

— Não vou voltar com você, Jason. Não quero ver suas amigas. Já basta ter que vê-las quase todos os dias, contra minha vontade.

Suspirei.

— Não vou te pedir duas vezes, Clara.

— Ótimo, porque eu não vou mesmo.

Ela passou por mim, mas lá fora a chuva começava a cair, pesada e gelada. Percebi a hesitação em seus passos lentos e silenciosos.

— Vai mesmo andar na chuva até em casa? — perguntei, a voz baixa e firme. Encostado no corrimão.

— Vou, sim. Prefiro a chuva do que aquele circo na sua casa. Quem sabe, até eu chegar lá, aquelas vadias já tenham ido embora.

O olhar dela me desafiava, como sempre. Mas eu não tinha saído da Marinha para perder batalhas com Clara. Não agora, no meio de uma tempestade.

— Entra no carro, Clara. — Minha voz soou como uma ordem.

— Não recebo ordens de você — ela rebateu, encarando a chuva.

Ela deu dois passos em direção à rua, mas a chuva se intensificou, e eu soube que a vitória era minha. Sem dizer nada, peguei o guarda-chuva no banco de trás e abri.

— Anda logo — falei. — Ou você quer pegar uma pneumonia e morrer?

Clara hesitou, mas por fim soltou um suspiro frustrado e se aproximou. Entrei no carro, e ela fez o mesmo, jogando a bolsa com os patins no banco de trás. Onde iria sentar também.

— Eu ainda não mordo. – Ela hesitou, mas finalmente sentou ao meu lado.

Clara

Eu deveria ter recusado a carona. Deveria ter andado na chuva e ignorado Jason. Mas a verdade é que, por mais que o odiasse, ele era uma solução mais prática do que andar molhada até em casa.

O silêncio entre nós era pesado, e eu tentei me distrair olhando pela janela. O cheiro dele — um misto de chuva e couro — invadiu meus sentidos, e, apesar de mim mesma, meu coração começou a bater mais rápido.

— Minhas amigas estão em casa — ele disse de novamente o que já sabíamos.

Revirei os olhos.

— As mesmas que me fizeram a vida um inferno na escola? Que delícia. Mas vai ser uma pena, não.posso ficar. Não estão esperando por mim.

Ele não respondeu. Jason nunca pedia desculpas. Nunca admitia nada. Era sempre esse bloco de gelo inquebrável.

— Minha mãe preparou um jantar pra você — ele disse depois de um tempo calado. — Ela fez tudo junto, você sabe como ela é.

— Não quero. Não quero nada que envolva ter que suporta pessoas insuportáveis.

Ele soltou um suspiro curto.

— Eu sei que não gosta delas. Nem eu gostava muito, mas faz isso pela sua madrinha. Vê se abandona um pouco dessa ingratidão, Clara.

Aquela frase me pegou de surpresa. Olhei para ele, mas Jason manteve os olhos na estrada, o rosto inexpressivo.

— Se não se importa, então por que estão lá? E para sua informação, não estou sendo ingrata, de forma alguma. Eu só não vou ficar em um ambiente que não me cabe.

— Minha mãe queria que fosse uma comemoração. E você sabe como ela é. Ela só quer te ver feliz também.

Havia um cansaço na voz dele que eu não esperava. Jason parecia… diferente. Não melhor, mas como alguém que havia aprendido a engolir o mundo. E isso lhe da traços mais frios e arrogante.

O carro parou em frente à floricultura. Como eu pedi ao entrar. A chuva caía forte, batendo contra o para-brisa.

— Vai comemorar seu aniversário aqui? — ele perguntou, o olhar finalmente encontrando o meu.

— Vou. Algum problema?

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, como se ponderasse algo.

— Não, sem problema algum. Feliz aniversário, Clara.

Aquelas palavras, ditas com uma frieza quase mecânica, me atingiram de uma forma que eu não esperava. Por que ele ainda mexe tanto comigo? Por que ainda tem o poder de me deixar nervosa com suas palavras rudes e sem carinho?

— Obrigada, eu acho — respondi, saindo do carro antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa.

Por um breve momento, pensei que ele fosse me oferecer um guarda-chuva, mas nada saiu e era apenas eu contra o.resto da noite agora.

Jason

Observei-a correr para dentro da floricultura, e algo em mim se apertou. A Clara que eu conheci na infância não estava mais ali. Em seu lugar havia uma mulher que não precisava de ninguém, muito menos de mim.

Girei as chaves no contato, mas não liguei o carro. Em vez disso, fiquei ali por alguns segundos, observando a chuva escorrer pelo para-brisa. Hoje era o aniversário dela, e eu sabia que aquela comemoração na minha casa seria uma piada cruel para Clara. Além disso, eu não quero ter que forçar ela a ficar perto de mim.

Mas, se ela não queria estar lá, por que eu me importava?

Porque, por mais que tentasse negar, Clara sempre foi mais do que a menina da minha infância. Ela era a única coisa constante nos meus pensamentos, a obsessão silenciosa que eu nunca tive coragem de admitir.

E agora, ela estava mais distante do que nunca.

Liguei o carro e acelerei, deixando a floricultura para trás. Mas, no fundo, sabia que essa batalha entre nós estava longe de terminar.

Algo nela parece estar quebrado e ela tenta se esconder, como sempre fez.

Voltei para casa e minha mãe ainda estava lá, com a mão na massa, preparando tudo.

— Onde ela está? — Minha mãe buscou por ela, mas não a viu em lugar algum, então sua feição endureceu e ela cruzou os braços. — Jason, ela ainda é a mesma, só fez crescer. Não vai me dizer que ela não estava no rinque?

— Ela está na floricultura, mãe. Ela disse que quer ficar sozinha, eu não iria impedi-la. Sabe que ela não suporta essas garotas. Afinal, por que estão aqui?

Não havia nada para comemorar, minha volta não era nada de importante, era só mais uma batalha vencida.

— Não sei. Achei que você tinha as convidado. Pensei em fazer alguma coisa por causa da Clara, pensei que pudesse ser apenas nós três. – Seus sussurros são baixos, para que ninguém escutasse, além de mim.

— Não precisa se preocupar com muita coisa. Eu não vou suportar isso por muito tempo. Estou cansado e quero conversa um pouco com a minha querida mãe.

— Jason... Sempre tão carinhoso. Sabia que eu tenho sorte por ter você como meu filho? Tenho sorte também pela vida ter me dado a Clara, vocês são tudo para mim.

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