Minha mãe parou o nosso passeio pelo jardim e virou-se para mim.
— Em breve chegará o momento em que será necessário escolher um esposo para você, querida. Seu pai já está cogitando essa possibilidade para a próxima temporada.
— Percebi alguns olhares diferentes de meu pai e imaginei que fosse devido a isso. Todavia, não gostaria de casar-me com nenhum desconhecido e sim fazer a escolha de meu pretendente, se assim, me for permitido! — a minha esperança era de que minha mãe entendesse a minha vontade e me ajudasse junto de meu pai.
— Entendo, filha. Imagino que já tenha alguém em mente, por levantar essa questão comigo. Está enamorada de algum cavaleiro do reino?
— Claro que não, minha mãe. Jamais deixei nenhum cavalheiro nem ao menos se aproximar de mim para que surgisse qualquer sentimento ou lhe desse esperança. A Senhora sabe bem quem seria o meu escolhido! — ela encarou-me e suspirou.
— Ainda cultiva essa paixão de menina? Não acredito, Eugênia! Você sabe que ele será coroado em breve e se casará com sua prometida que é filha de um dos arrendatários de terras mais rico de toda a região e esse casamento já está arranjado há muito tempo.
— Não me importo que tudo já esteja arranjado e que ela seja absurdamente rica. Tenho muito mais posses do que ela e sua família, além disso, sou uma princesa e tenho sangue real, o que ela não tem! Um casamento comigo seria muito mais justo para manter a herança de realezas do que esse que foi arranjado a ele. Não entendo por que meu pai nunca pensou nisso antes dele ser prometido a essa moça e não fez um acordo entre os reinos para que nós nos casássemos?!
— Concordo com sua opinião sobre isso e entendo os seus sentimentos, entretanto seu pai não pensou assim e a vontade do Rei deve ser respeitada, de ambos os reinos já que seu amado está prometido há um bom tempo, desde que nasceu praticamente. Lamento muito não termos tido essa ideia antes, infelizmente agora não há como voltar atras e você deve se preparar para receber em breve o seu pretendente que virá lhe cortejar para um futuro casamento.
— Ele já foi escolhido, mesmo sem que eu soubesse? — esse era o meu maior temor.
— Ainda não, porém seu pai está analisando alguns pretendentes e tenho a certeza de que não tardará em escolher algum deles. No entanto, pedi a ele que deixasse você decidir qual será o felizardo entre os escolhidos.
— Entendo, minha mãe, apesar desse fato me entristecer muito. Estarei preparada para receber os escolhidos por meu pai, entretanto serei infeliz para o resto de minha vida! — quem suspirou agora fui eu.
— Não seja dramática, Eugênia. Seu pai está sendo muito bondoso em deixar você escolher. Somente não há possibilidade de ser quem você deseja devido a outros motivos que estão fora de nosso alcance.
— Agradeço por isso! — estava sinceramente grata, porém era impossível não lamentar e desejar pelo meu verdadeiro amor.
— Planejei com o seu pai um baile, para que os pretendentes escolhidos por ele tenham a oportunidade de dançar com você, assim poderá escolher qual dentre eles lhe agradar mais. Espero que tenha gostado de nossos planos?
— Claro que sim! Agradeço a ambos por tamanha gentileza em me deixar escolher meu pretendente. — Forcei uma falsa felicidade, que com certeza foi percebida por minha mãe que não deixava nada passar.
— Tenho certeza de que tudo ficará bem e no futuro lembraremos disso e daremos boas risadas desse drama todo que você estabeleceu em sua vida, devido a um amor não correspondido. Há males que vem para o nosso bem.
— Espero que sim, minha mãe. — Tentei sorrir, mas ela percebeu mais uma vez que forçava uma felicidade inexistente.
Rainha Clélia, fitou-me pensativa por alguns instantes e segurou minhas mãos com um sorriso de complacência.
Percebi que entendia o meu sofrimento, no entanto nada poderia fazer para amenizá-lo a não ser ajudar-me na escolha de meu pretendente torcendo para que eu me apaixonasse por ele, assim eu também torcia, apesar de ter a certeza de que jamais amaria ninguém mais como já amava, meu coração já tinha um dono e era escravo de um amor não correspondido.
Minha mãe, notando que meus pensamentos voavam longe abraçou-me com carinho e ternura. Ela tinha aquele poder das mães de adivinhar os sentimentos dos filhos e se comunicar através do olhar, isso sempre me acalentava e fazia com que a amasse mais do que qualquer outra pessoa em minha vida.
VitóriaComo as coisas haviam mudado em poucos anos. É um engano acreditar que o tempo pode ser nosso principal aliado. A sensação que tinha naquele momento era de que ele estava passando rápido demais, quando percebi já estava em minha terceira gestação.
Andrew completava cinco anos, James quase três e nascia minha princesa, Liriel. No entanto, havia algo que o tempo conseguiu transformar e ajustar: meu relacionamento com Aron.
Após um longo período de luto, foi possível enfim, assumir o nosso amor e desde então, estamos juntos perante os olhos de nossa família e toda a sociedade do reino. Fizemos questão de comemorar, com uma bela cerimônia na capela do castelo que foi celebrada pelo Padre Gustav, seguida de um animado e farto banquete.
Era evidente a alegria de nossos pais e dos amigos que acompanharam nossa trajetória até ali. Aquele momento foi como um marco na vida de todos, como se completasse um ciclo, como se aquele acontecimento fizesse tudo se ajustar, era realmente isso que sentia, apesar do peso de ter que guardar um grande segredo sobre o nascimento de meu primogênito.
Foram anos de muita provação também, não era uma missão fácil seguir governando os reinos e administrar a vida como esposa e mãe, agora com três herdeiros. Claro que tinha as damas de companhia e amas que ajudavam muito, além das avós estarem sempre por perto, no entanto gostava de participar da vida de meus filhos.
Era sagrado para mim, passar as tardes junto deles, brincando no jardim nos dias mais quentes ou na sala das crianças dentro do castelo nos dias mais rigorosos do inverno, não abria mão da diversão, das brincadeiras e de acompanhar as descobertas deles em suas vidas.
Serena que também já tinha seus herdeiros, Lena e Kiriem, se juntava conosco nessas horas do dia que eram de muita diversão e longas conversas que nos aliviavam de toda a tensão que carregávamos por nossos trabalhos.
A rotina de minha amiga também não era fácil, então aproveitamos muito esses momentos juntas e na companhia de nossos filhos.— Conseguiu começar a leitura do diário, Vitória? Em nosso último encontro disse que tentaria ler nos momentos de folga! — Serena fez aquela expressão de quem sabe bem o quanto esses momentos de folga eram raros para as mulheres que são mães e trabalham.— Então, minha amiga, enfim consegui iniciar a leitura sim! E vou lhe dizer que sinto que perderei meu sono com ele. Até agora li apenas as primeiras páginas porque Aron, chamou-me para descansar, já era bem tarde. No entanto, tenho certeza de que se não fosse por ele eu teria passado a noite inteira lendo e nem perceberia o sol nascer.— Concordamos então que as escritas de sua bisavó são realmente interessantes, assim como supomos que seriam!? — minha amiga havia me dito que seria muito bom para mim e minha família a leitura do diário, ela não conseguia ver o que de fato as escritas contariam, mas pressentia
Eugênia O Baile seria dali algumas noites e a ansiedade por aquele acontecimento me tomava por inteira. O dia da minha apresentação para a sociedade e todos os reinos. A partir desse evento estaria pronta para os cortejos e um futuro casamento, claro que entre os convidados já estariam alguns futuros pretendentes do interesse de meu pai. Rei Lutero chamou-me naquela tarde para o chá com o intuito de conversarmos sobre a festa e como deveria me comportar naquele evento de tamanha importância para o meu futuro e de todo o reino. Muitos interesses haviam por trás daquele acontecimento e do que viria no futuro. Meu esposo deveria ser herdeiro de muitas posses para agregar ainda mais riqueza ao reino e servir ao seu Rei. — Imagino que sua mãe já tenha conversado com você sobre a importância desse baile, Eugênia. — Meu pai iniciava nossa conversa após um dos lacaios servir o chá. — Sim, meu pai. Ela conversou comigo nesses últimos dias, sob
Naquela noite, após cearmos, convidei meu irmão para um passeio pelo jardim. O clima estava quente e a noite iluminada por uma grande lua cheia, podia-se ver muitas estrelas brilhando no céu. Noites como aquela me fascinavam de tal forma que me transportavam para aquele mundo fascinante e cheio de magia que acreditava existir quando era pequena. — Essa sempre foi a sua noite preferida no ano, Eugênia. Se lembra de quando éramos crianças e eu dizia para você que poderia fazer qualquer pedido se visse uma estrela caindo? — Claro que me lembro, Christopher. Adorava ouvir as suas histórias sobre as estrelas, a lua, o sol... Você inventava tantas e as contava com tantos detalhes que me deixavam fascinada! — E quem disse para você que eu as inventava? — ele sorriu de lado e piscou o olho para mim, como quem confidencia um segredo. Meu irmão era muito bonito e elegante. Fiquei imaginando o belo rei que se tornaria um dia. Com certeza devia ter
Vitória — Acabo de descobrir que minha bisavó teve um grande amor em sua vida e pelo que entendi não foi correspondido. Até a página que li não aconteceu, ficou a curiosidade agora para saber mais. — Hum, amor platônico então!? — Serena sorriu como se já soubesse de tudo. Conforme prometido, tudo o que lia no diário a noite contava a ela no dia seguinte, em nossos encontros. Curiosamente, ela me dava alguns detalhes que previa antes de minhas leituras, coisas que combinavam muito com que lia. — Você teve alguma premonição? — sempre perguntava para que ela me contasse, se não ela achava que eu preferia o fator surpresa, que era importante, porém confiava muito em suas antecipações. — Até o momento não, porém conforme você me conta o que lê, sinto como se as imagens passassem em meus pensamentos e são tão nítidas que tenho a impressão de ter vivido o que ouço. Não sei explicar o que isso significa?! — minha amiga ainda tentava entender
Eugênia Quase não conseguia respirar. Estava prestes a adentrar pelo salão, naquele baile que seria a minha iniciação no mundo das mulheres. A partir de então, não seria mais considerada uma menina, uma jovem princesa e sim uma jovem mulher. Borboletas dançavam em meu estômago pois sabia que ele estaria presente e por minha adorável mãe, ter conseguido junto de meu pai a permissão para que ele fosse um dos pares com que eu abriria o baile. Claro que minha primeira dança seria com o Rei e a segunda com meu irmão que seria o sucessor a coroa, no entanto a terceira dança seria com ele, já que também era um herdeiro, porém do reino vizinho, mas que mantínhamos uma forte amizade desde muito tempo. Meu pai a princípio achou estranho o pedido de minha mãe, contudo não conseguiu dizer não a sua Rainha. Ele nunca conseguia e no final ela o convenceu de que tornaria o baile muito mais interessante e faria com que meus pretendentes se sentissem ofuscados
— Sinto por isso e por nosso pai nunca ter pensado em me prometer a ele, seria perfeito para a união entre os reinos. — Seria mesmo, Eugênia. Contudo, como você mesma disse, nosso pai não pensou dessa forma. Talvez até tenha pensado, porém já era tarde para propor qualquer compromisso. Lamentei novamente e continuamos nossa dança, dessa vez em silêncio e quando o minueto terminou, Christopher continuou segurando minha mão e aguardou que seu amigo se aproximasse para começarmos a dança seguinte. Quando o vi se aproximando de mim, as borboletas voltaram a voar no meu estômago, minhas mãos começaram a suar e senti minha face toda corar com o sorriso estonteante que ele me lançou. Parou a poucos centímetros de nós e cumprimentou meu irmão. Me olhou e com uma reverência aceitou minha mão para começarmos a dança no minueto seguinte. Foi como se o tempo parasse naquele momento, apesar de todo nervosismo apreciei cada passo, cada ge
Vitória Nos sentamos no jardim e conforme combinamos fiz a leitura das páginas seguintes do diário junto de Serena, enquanto nossos filhos brincavam pelo jardim com a orientação de suas amas. Desejava muito brincar com eles também, no entanto necessitava cumprir aquela primeira aventura, pois a curiosidade me tomava por inteira. Minha amiga ouvia atenta cada palavra lida por mim. Sorria, arregalava os olhos e percebi que desejava falar algo, no entanto combinamos em deixar nossas considerações para o final, e assim o fizemos. — Ah! Vitória. Que romântica sua bisavó. Estou encantada com ela! — Eu também! Adorando esse romantismo todo e a esperança dela em ficar com seu amado. Me fez lembrar de quando me apaixonei por Aron. Entendo bem quando ela se refere às borboletas voando dentro de seu estômago. — Entendo também! Quando vi Arthur pela primeira vez, foi como se uma luz nova surgisse perante meus olhos. Uma luz com uma cor que jamais ti
Eugênia O silêncio do meu pai pegou-me de surpresa. Tinha certeza de que ele estaria ansioso por minha resposta no dia seguinte ao baile, porém não foi o que aconteceu e aquilo me intrigou sobremaneira, porém me ajudaria a ganhar ainda mais tempo. Dias haviam se passado e ele ainda não tinha me procurado para saber a minha escolha. Questionei minha mãe sobre o que estaria acontecendo e a resposta dela foi breve. — Seu pai anda muito ocupado! — respondeu sem me olhar, enquanto terminava um bordado. — A senhora mesma disse que ele me cobraria uma escolha e até o momento ele não fez pergunta alguma sobre isso. Na verdade, quase nem o vi direito, somente em nossas refeições e ele mal falou comigo. A impressão que tenho é de que está sempre brigando com Christopher, eles estão sempre se desentendendo. — Eugênia, seu irmão precisa ser orientado para assumir o trono quando o seu pai necessitar e isso o preocupa muito! Você deve se manter com