Capítulo 2

Minha mãe parou o nosso passeio pelo jardim e virou-se para mim.

— Em breve chegará o momento em que será necessário escolher um esposo para você, querida. Seu pai já está cogitando essa possibilidade para a próxima temporada.

— Percebi alguns olhares diferentes de meu pai e imaginei que fosse devido a isso. Todavia, não gostaria de casar-me com nenhum desconhecido e sim fazer a escolha de meu pretendente, se assim, me for permitido! — a minha esperança era de que minha mãe entendesse a minha vontade e me ajudasse junto de meu pai.

— Entendo, filha. Imagino que já tenha alguém em mente, por levantar essa questão comigo. Está enamorada de algum cavaleiro do reino?

— Claro que não, minha mãe. Jamais deixei nenhum cavalheiro nem ao menos se aproximar de mim para que surgisse qualquer sentimento ou lhe desse esperança. A Senhora sabe bem quem seria o meu escolhido! — ela encarou-me e suspirou.

— Ainda cultiva essa paixão de menina? Não acredito, Eugênia! Você sabe que ele será coroado em breve e se casará com sua prometida que é filha de um dos arrendatários de terras mais rico de toda a região e esse casamento já está arranjado há muito tempo.

— Não me importo que tudo já esteja arranjado e que ela seja absurdamente rica. Tenho muito mais posses do que ela e sua família, além disso, sou uma princesa e tenho sangue real, o que ela não tem! Um casamento comigo seria muito mais justo para manter a herança de realezas do que esse que foi arranjado a ele. Não entendo por que meu pai nunca pensou nisso antes dele ser prometido a essa moça e não fez um acordo entre os reinos para que nós nos casássemos?!

— Concordo com sua opinião sobre isso e entendo os seus sentimentos, entretanto seu pai não pensou assim e a vontade do Rei deve ser respeitada, de ambos os reinos já que seu amado está prometido há um bom tempo, desde que nasceu praticamente. Lamento muito não termos tido essa ideia antes, infelizmente agora não há como voltar atras e você deve se preparar para receber em breve o seu pretendente que virá lhe cortejar para um futuro casamento.

— Ele já foi escolhido, mesmo sem que eu soubesse? — esse era o meu maior temor.

— Ainda não, porém seu pai está analisando alguns pretendentes e tenho a certeza de que não tardará em escolher algum deles. No entanto, pedi a ele que deixasse você decidir qual será o felizardo entre os escolhidos.

— Entendo, minha mãe, apesar desse fato me entristecer muito. Estarei preparada para receber os escolhidos por meu pai, entretanto serei infeliz para o resto de minha vida! — quem suspirou agora fui eu.

— Não seja dramática, Eugênia. Seu pai está sendo muito bondoso em deixar você escolher. Somente não há possibilidade de ser quem você deseja devido a outros motivos que estão fora de nosso alcance.

— Agradeço por isso! — estava sinceramente grata, porém era impossível não lamentar e desejar pelo meu verdadeiro amor.

— Planejei com o seu pai um baile, para que os pretendentes escolhidos por ele tenham a oportunidade de dançar com você, assim poderá escolher qual dentre eles lhe agradar mais. Espero que tenha gostado de nossos planos?

— Claro que sim! Agradeço a ambos por tamanha gentileza em me deixar escolher meu pretendente. — Forcei uma falsa felicidade, que com certeza foi percebida por minha mãe que não deixava nada passar.

— Tenho certeza de que tudo ficará bem e no futuro lembraremos disso e daremos boas risadas desse drama todo que você estabeleceu em sua vida, devido a um amor não correspondido. Há males que vem para o nosso bem.

— Espero que sim, minha mãe. — Tentei sorrir, mas ela percebeu mais uma vez que forçava uma felicidade inexistente.

Rainha Clélia, fitou-me pensativa por alguns instantes e segurou minhas mãos com um sorriso de complacência. 

Percebi que entendia o meu sofrimento, no entanto nada poderia fazer para amenizá-lo a não ser ajudar-me na escolha de meu pretendente torcendo para que eu me apaixonasse por ele, assim eu também torcia, apesar de ter a certeza de que jamais amaria ninguém mais como já amava, meu coração já tinha um dono e era escravo de um amor não correspondido.

Minha mãe, notando que meus pensamentos voavam longe abraçou-me com carinho e ternura. Ela tinha aquele poder das mães de adivinhar os sentimentos dos filhos e se comunicar através do olhar, isso sempre me acalentava e fazia com que a amasse mais do que qualquer outra pessoa em minha vida.

Vitória

Como as coisas haviam mudado em poucos anos. É um engano acreditar que o tempo pode ser nosso principal aliado. A sensação que tinha naquele momento era de que ele estava passando rápido demais, quando percebi já estava em minha terceira gestação. 

Andrew completava cinco anos, James quase três e nascia minha princesa, Liriel. No entanto, havia algo que o tempo conseguiu transformar e ajustar: meu relacionamento com Aron. 

Após um longo período de luto, foi possível enfim, assumir o nosso amor e desde então, estamos juntos perante os olhos de nossa família e toda a sociedade do reino. Fizemos questão de comemorar, com uma bela cerimônia na capela do castelo que foi celebrada pelo Padre Gustav, seguida de um animado e farto banquete. 

Era evidente a alegria de nossos pais e dos amigos que acompanharam nossa trajetória até ali. Aquele momento foi como um marco na vida de todos, como se completasse um ciclo, como se aquele acontecimento fizesse tudo se ajustar, era realmente isso que sentia, apesar do peso de ter que guardar um grande segredo sobre o nascimento de meu primogênito.

Foram anos de muita provação também, não era uma missão fácil seguir governando os reinos e administrar a vida como esposa e mãe, agora com três herdeiros. Claro que tinha as damas de companhia e amas que ajudavam muito, além das avós estarem sempre por perto, no entanto gostava de participar da vida de meus filhos. 

Era sagrado para mim, passar as tardes junto deles, brincando no jardim nos dias mais quentes ou na sala das crianças dentro do castelo nos dias mais rigorosos do inverno, não abria mão da diversão, das brincadeiras e de acompanhar as descobertas deles em suas vidas.

Serena que também já tinha seus herdeiros, Lena e Kiriem, se juntava conosco nessas horas do dia que eram de muita diversão e longas conversas que nos aliviavam de toda a tensão que carregávamos por nossos trabalhos.    

       

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