Naquela noite, após cearmos, convidei meu irmão para um passeio pelo jardim. O clima estava quente e a noite iluminada por uma grande lua cheia, podia-se ver muitas estrelas brilhando no céu. Noites como aquela me fascinavam de tal forma que me transportavam para aquele mundo fascinante e cheio de magia que acreditava existir quando era pequena.
— Essa sempre foi a sua noite preferida no ano, Eugênia. Se lembra de quando éramos crianças e eu dizia para você que poderia fazer qualquer pedido se visse uma estrela caindo?
— Claro que me lembro, Christopher. Adorava ouvir as suas histórias sobre as estrelas, a lua, o sol... Você inventava tantas e as contava com tantos detalhes que me deixavam fascinada!
— E quem disse para você que eu as inventava? — ele sorriu de lado e piscou o olho para mim, como quem confidencia um segredo.
Meu irmão era muito bonito e elegante. Fiquei imaginando o belo rei que se tornaria um dia. Com certeza devia ter muitas damas aos seus pés, encantadas com o seu charme.
— Se não as inventava, quem lhe contou essas histórias então? Nossa mãe tenho certeza de que não foi, senão eu saberia, ela mesma teria me contado também. E nosso pai, não o vejo conversando muito com você, nunca os vi próximos a esse ponto, confesso que isso sempre me intrigou muito!
— Nem perca seu tempo com isso, minha irmã. Nosso pai é um mistério maior para mim do que tudo que envolve as estrelas, os astros e tudo isso que não conseguimos explicar.
Senti um grande pesar nas palavras de meu irmão e agora tinha a certeza do quanto aquilo lhe incomodava. Nunca tinha percebido isso, tinha as minhas dúvidas sobre o relacionamento dos dois, no entanto, não havia me passado pela cabeça o quanto aquilo afetava Christopher.
— Queria muito ver nosso pai o tratar como sempre fez comigo, com mais carinho e atenção. Não duvido que ele o ame tanto quando a mim, porém a impressão que tenho é de que há algo que o impede de ser mais íntimo de você. Houve algum desentendimento entre vocês que eu não percebi?
— Eugênia, já lhe falei para não se preocupar comigo. Não me importo em como ele me trata. Nosso pai pode fazer ou falar o que quiser para mim, somente não suportaria vê-lo lhe tratando mal. Contanto que ele nunca desconte sua raiva em você, eu aguento qualquer coisa.
— Sobre o que está falando, Christopher? Queria tanto entender o que acontece entre vocês! Tenho cada vez mais a certeza de que você aguenta a forma como ele lhe trata por saber o motivo e eu queria muito participar disso também. Saber o que há de errado entre vocês, talvez eu possa ajudá-los.
— Esqueça isso, minha irmã. Pense no seu baile e em como sua vida mudará a partir disso. Desejo que você encontre alguém muito especial que lhe faça muito feliz.
— Você sabe quem eu queria que me fizesse feliz. Nunca escondi o meu amor pelo seu melhor amigo. — Ele olhou-me sério em desaprovação, porém ao invés de brigar comigo, abraçou-me com carinho.
— Nada me daria maior satisfação do que os ver juntos, mas isso jamais será possível e você sabe muito bem o porquê, então, deixe de sofrer com isso e pense no seu futuro e de quem realmente poderá fazer parte dele!
Sorri e o abracei novamente em agradecimento. Gostava tanto daquele abraço e de ouvir ele contando suas histórias mágicas que me entreguei novamente àquele momento em que ele, sabiamente para mudar de assunto, começou a contar algo que eu ainda não sabia.
— Deixa eu te contar como nascem as estrelas, sei que já lhe contei uma lenda, mas acabei descobrindo outra muito mais interessante...
E assim, mais uma vez mergulhei em suas histórias que me acalentavam, trazendo paz e alegria.
Vitória — Acabo de descobrir que minha bisavó teve um grande amor em sua vida e pelo que entendi não foi correspondido. Até a página que li não aconteceu, ficou a curiosidade agora para saber mais. — Hum, amor platônico então!? — Serena sorriu como se já soubesse de tudo. Conforme prometido, tudo o que lia no diário a noite contava a ela no dia seguinte, em nossos encontros. Curiosamente, ela me dava alguns detalhes que previa antes de minhas leituras, coisas que combinavam muito com que lia. — Você teve alguma premonição? — sempre perguntava para que ela me contasse, se não ela achava que eu preferia o fator surpresa, que era importante, porém confiava muito em suas antecipações. — Até o momento não, porém conforme você me conta o que lê, sinto como se as imagens passassem em meus pensamentos e são tão nítidas que tenho a impressão de ter vivido o que ouço. Não sei explicar o que isso significa?! — minha amiga ainda tentava entender
Eugênia Quase não conseguia respirar. Estava prestes a adentrar pelo salão, naquele baile que seria a minha iniciação no mundo das mulheres. A partir de então, não seria mais considerada uma menina, uma jovem princesa e sim uma jovem mulher. Borboletas dançavam em meu estômago pois sabia que ele estaria presente e por minha adorável mãe, ter conseguido junto de meu pai a permissão para que ele fosse um dos pares com que eu abriria o baile. Claro que minha primeira dança seria com o Rei e a segunda com meu irmão que seria o sucessor a coroa, no entanto a terceira dança seria com ele, já que também era um herdeiro, porém do reino vizinho, mas que mantínhamos uma forte amizade desde muito tempo. Meu pai a princípio achou estranho o pedido de minha mãe, contudo não conseguiu dizer não a sua Rainha. Ele nunca conseguia e no final ela o convenceu de que tornaria o baile muito mais interessante e faria com que meus pretendentes se sentissem ofuscados
— Sinto por isso e por nosso pai nunca ter pensado em me prometer a ele, seria perfeito para a união entre os reinos. — Seria mesmo, Eugênia. Contudo, como você mesma disse, nosso pai não pensou dessa forma. Talvez até tenha pensado, porém já era tarde para propor qualquer compromisso. Lamentei novamente e continuamos nossa dança, dessa vez em silêncio e quando o minueto terminou, Christopher continuou segurando minha mão e aguardou que seu amigo se aproximasse para começarmos a dança seguinte. Quando o vi se aproximando de mim, as borboletas voltaram a voar no meu estômago, minhas mãos começaram a suar e senti minha face toda corar com o sorriso estonteante que ele me lançou. Parou a poucos centímetros de nós e cumprimentou meu irmão. Me olhou e com uma reverência aceitou minha mão para começarmos a dança no minueto seguinte. Foi como se o tempo parasse naquele momento, apesar de todo nervosismo apreciei cada passo, cada ge
Vitória Nos sentamos no jardim e conforme combinamos fiz a leitura das páginas seguintes do diário junto de Serena, enquanto nossos filhos brincavam pelo jardim com a orientação de suas amas. Desejava muito brincar com eles também, no entanto necessitava cumprir aquela primeira aventura, pois a curiosidade me tomava por inteira. Minha amiga ouvia atenta cada palavra lida por mim. Sorria, arregalava os olhos e percebi que desejava falar algo, no entanto combinamos em deixar nossas considerações para o final, e assim o fizemos. — Ah! Vitória. Que romântica sua bisavó. Estou encantada com ela! — Eu também! Adorando esse romantismo todo e a esperança dela em ficar com seu amado. Me fez lembrar de quando me apaixonei por Aron. Entendo bem quando ela se refere às borboletas voando dentro de seu estômago. — Entendo também! Quando vi Arthur pela primeira vez, foi como se uma luz nova surgisse perante meus olhos. Uma luz com uma cor que jamais ti
Eugênia O silêncio do meu pai pegou-me de surpresa. Tinha certeza de que ele estaria ansioso por minha resposta no dia seguinte ao baile, porém não foi o que aconteceu e aquilo me intrigou sobremaneira, porém me ajudaria a ganhar ainda mais tempo. Dias haviam se passado e ele ainda não tinha me procurado para saber a minha escolha. Questionei minha mãe sobre o que estaria acontecendo e a resposta dela foi breve. — Seu pai anda muito ocupado! — respondeu sem me olhar, enquanto terminava um bordado. — A senhora mesma disse que ele me cobraria uma escolha e até o momento ele não fez pergunta alguma sobre isso. Na verdade, quase nem o vi direito, somente em nossas refeições e ele mal falou comigo. A impressão que tenho é de que está sempre brigando com Christopher, eles estão sempre se desentendendo. — Eugênia, seu irmão precisa ser orientado para assumir o trono quando o seu pai necessitar e isso o preocupa muito! Você deve se manter com
Vitória Era bonito descobrir o amor que minha bisavó nutria por seu irmão. Achava aquele sentimento tão maravilhoso que me fazia pensar em meus filhos e desejar que eles fossem unidos daquela maneira, sabia que isso dependia também de mim e de Aron, da forma como educaremos eles. Desejei também ter um irmão e poder sentir o que a Rainha Eugênia descreveu. Uma pena ter sido a única filha. Acreditava que meus pais se concentraram tanto na minha educação e no que eu herdaria que não conseguiram pensar em ter mais filhos, o que eu lamentava muito. Agradeci aos céus por ter tido três, apesar de todas as dificuldades que já tive e que com certeza ainda viriam pela frente, tinha certeza de que foi a melhor escolha que fiz na vida. Meus filhos queridos eram minha maior herança! Fiquei pensando em Christopher, irmão de minha bisavó e no porquê nunca soube nada sobre ele. Aquilo me intrigava de sobremaneira me fazendo imaginar várias possibilidades sobre
Eugênia Enfim, meu pai conseguiu tempo para termos a tão esperada conversa e ele queria uma posição minha, sobre quem seria o pretendente escolhido para o cortejo na próxima temporada. Tinha a certeza do escolhido entre as opções que me foram apresentadas, apesar de preferir alguém que não estava e nunca estaria entre elas. — Sua escolha alegra-me muito, Eugênia. Confesso que dos seus pretendentes, foi ele o que mais me agradou, devido a sua educação, sua base familiar e sobrenome, afinal ele é um Trineth. Uma das maiores preocupações de meu pai era quanto a origem da família e os bens que meu futuro esposo herdaria, fatos que não me diziam absolutamente nada, contudo estava feliz por meu pai ter concordado com minha escolha. Adônis tinha tudo o que ele apreciava e dos meus pretendentes foi o que mais agradou-me. Sua simpatia e educação conquistaram a todos, além disso percebi algo nele que me chamou a atenção: era um rapaz bonito, se expressava mu
Vitória Alguns dias se passaram e meus pais ainda não haviam retornado de Neveri. Dona Felícia aproveitou a oportunidade para acompanhar meu pai, era evidente o amor entre eles, mesmo após tantos anos. Não viviam separados e qualquer chance que tinham de estar juntos, era muito bem aproveitada. Quando ele contou que teria que ir até Neveri, verificar os documentos por lá arquivados e a convidou para ir junto, ela não hesitou em aceitar e ficou exultante com o passeio. — Há tempos não saímos só nós dois para um passeio. É claro que irei. Apesar de irmos perto, valerá a pena por estarmos juntos em algo diferente. Podemos dizer que será uma aventura de investigação. Apreciei muito isso! — Que maravilha, minha querida. Será um ótimo passeio e espero que produtivo. Precisamos descobrir mais sobre esse meu tio avô que nunca ouvi nada a respeito. — Sim, Anthony. É muito estranho nunca terem mencionado a existência dele. Com certeza encontrare