Capítulo 4

Eugênia

          O Baile seria dali algumas noites e a ansiedade por aquele acontecimento me tomava por inteira. O dia da minha apresentação para a sociedade e todos os reinos. A partir desse evento estaria pronta para os cortejos e um futuro casamento, claro que entre os convidados já estariam alguns futuros pretendentes do interesse de meu pai. 

          Rei Lutero chamou-me naquela tarde para o chá com o intuito de conversarmos sobre a festa e como deveria me comportar naquele evento de tamanha importância para o meu futuro e de todo o reino.

          Muitos interesses haviam por trás daquele acontecimento e do que viria no futuro. Meu esposo deveria ser herdeiro de muitas posses para agregar ainda mais riqueza ao reino e servir ao seu Rei.

          — Imagino que sua mãe já tenha conversado com você sobre a importância desse baile, Eugênia. — Meu pai iniciava nossa conversa após um dos lacaios servir o chá.

          — Sim, meu pai. Ela conversou comigo nesses últimos dias, sobre como devo me portar na presença de meus pretendentes, o que dizer e como agir no momento do baile, terei de dançar com todos eles e conversar para fazer uma escolha.

          — Exatamente! Saiba que são poucas as princesas que têm a permissão do Rei para dançar com vários pretendentes a fim de escolher qual o seu preferido para o enlace. A maioria delas tem apenas o dever de aceitar o escolhido por seu pai, sem contestação. Sinta-se privilegiada em ter um pai benevolente e uma mãe com tanta perspicácia a ponto de persuadi-lo quanto a isso! — apesar de sério ele não conseguiu conter um riso de satisfação, isso sempre acontecia quando se referia a minha mãe.

          — Agradeço, meu querido pai. À minha mãe também por ter intercedido por mim e lhe ter transferido a minha vontade em poder ao menos escolher entre os pretendentes.

          — Saiba que são poucos os escolhidos, está cada vez mais difícil encontrar rapazes com heranças dignas de um enlace com uma princesa. Foi possível selecionar apenas três deles, você não se cansará muito no baile, serão três danças. Aproveite o tempo com eles para conversarem sobre suas habilidades e preferências, tenho certeza de que escolherá o melhor entre eles. Todos herdarão grandes riquezas então, como diz sua sábia mãe, escolha com o seu coração!

          — Uma vez mais agradeço, meu pai. Escolherei o melhor e tenho certeza de que lhe agradará muito! — ele sorriu e pegou minha mão depositando um beijo.

         Rei Lutero tinha aquela postura autoritária e até mesmo um olhar cruel para algumas pessoas em determinadas situações. 

          Muitos o temiam mais do que respeitavam, no entanto poucos conheciam esse lado gentil e cortês dele, até mesmo doce em algumas situações. 

         Com Christopher, era sempre mais duro e exigia muito dele em seu treinamento para substituí-lo, e assumir o trono quando fosse necessário. Tenho certeza de que ele também o amava muito e essa era a forma de demonstrar esse sentimento, de um jeito estranho que por mais que eu tentasse, não conseguia entender, mas era assim que ele agia com meu irmão.

         A mim ele podia demonstrar seu lado terno e o fazia com muito amor também. Sabia que o fato dele aceitar que eu tivesse mais do que um pretendente para poder escolher o preferido, era realmente um privilégio que me foi dado e devia isso a minha mãe que estava sempre ao lado de meu pai em todas as decisões, no entanto não poderia ficar totalmente feliz pelo fato de que o único que me interessava de verdade não estaria entre os meus pretendentes.

***

        No dia anterior ao baile, estava em meus aposentos cercada das melhores costureiras do reino que vieram servir-me no castelo e confeccionarem o vestido perfeito para a ocasião.

          Estava realmente ficando deslumbrante. Minha mãe escolheu as cores e texturas dos tecidos, as joias que completariam o conjunto e minhas damas ensaiavam como seria o penteado perfeito para combinar com tudo. 

          Apreciava o que via no espelho, gostava de minha aparência, não que fosse a mais linda das princesas de todos os reinos, porém me sentia bela e tinha um charme especial capaz de conquistar tudo o que quisesse, pelo menos era isso que minha mãe me dizia desde que era muito pequena e é claro que eu acreditava.

          Assim que todas saíram dos aposentos seguindo para terminar seus afazeres e deixarem tudo pronto para me vestir na noite seguinte, ficamos sozinhas e não pude deixar de questionar minha mãe sobre algo que vinha pensando e tirava meu sono nas últimas noites.

         — Minha mãe, preciso lhe perguntar algo que não tive coragem de perguntar ao meu pai, não queria que ele pensasse que sou ingrata e discordo de sua decisão. Sei que o homem que eu não teria dúvidas em escolher não estará entre os meus pretendentes e não dançará comigo no baile, no entanto preciso saber se ao menos ele foi convidado?

          — Mas é claro que sim, Eugênia. Como não convidaríamos o futuro Rei de nosso reino vizinho? Ele virá, no entanto como você mesma já disse, não estará entre os seus pretendentes no baile. Você sabe que isso é impossível!

          — Isso já compreendi, porém será que posso lhe fazer um pedido? — Rainha Clélia olhou-me com estranheza e seu olhar dizia que ela já imaginava qual seria o meu pedido.

          — Só espero que não seja nenhum absurdo!

          — Gostaria de poder ao menos dançar com ele no baile e sei que se a senhora pedir a permissão de meu pai, ambos não recusarão. — Ela olhou-me em reprovação e rapidamente completei — Por favor, minha mãe. Seria apenas uma despedida, como um marco em minha vida, para que tire ele de uma vez por todas de meus pensamentos e de meu coração e consiga seguir em frente.

          — Pensarei no seu pedido e na possibilidade de realizá-lo. — ela virou-se para sair de meus aposentos, mas de imediato voltou-se para completar — Saberá no baile se o que deseja acontecerá ou não, só posso dizer que prometo fazer o possível por você, minha querida.

          Mais uma vez, aquele olhar me confortava e ia além disso, dava a impressão de que ela, me entendendo como sempre, faria muito mais do que havia lhe pedido. 

          Ninguém conseguia contrariar os desejos e pedidos de minha mãe, ela conseguia o que queria e isso sempre foi o que mais admirava naquela nobre e destemida Rainha.

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