Eugênia
O Baile seria dali algumas noites e a ansiedade por aquele acontecimento me tomava por inteira. O dia da minha apresentação para a sociedade e todos os reinos. A partir desse evento estaria pronta para os cortejos e um futuro casamento, claro que entre os convidados já estariam alguns futuros pretendentes do interesse de meu pai.
Rei Lutero chamou-me naquela tarde para o chá com o intuito de conversarmos sobre a festa e como deveria me comportar naquele evento de tamanha importância para o meu futuro e de todo o reino.
Muitos interesses haviam por trás daquele acontecimento e do que viria no futuro. Meu esposo deveria ser herdeiro de muitas posses para agregar ainda mais riqueza ao reino e servir ao seu Rei.
— Imagino que sua mãe já tenha conversado com você sobre a importância desse baile, Eugênia. — Meu pai iniciava nossa conversa após um dos lacaios servir o chá.
— Sim, meu pai. Ela conversou comigo nesses últimos dias, sobre como devo me portar na presença de meus pretendentes, o que dizer e como agir no momento do baile, terei de dançar com todos eles e conversar para fazer uma escolha.
— Exatamente! Saiba que são poucas as princesas que têm a permissão do Rei para dançar com vários pretendentes a fim de escolher qual o seu preferido para o enlace. A maioria delas tem apenas o dever de aceitar o escolhido por seu pai, sem contestação. Sinta-se privilegiada em ter um pai benevolente e uma mãe com tanta perspicácia a ponto de persuadi-lo quanto a isso! — apesar de sério ele não conseguiu conter um riso de satisfação, isso sempre acontecia quando se referia a minha mãe.
— Agradeço, meu querido pai. À minha mãe também por ter intercedido por mim e lhe ter transferido a minha vontade em poder ao menos escolher entre os pretendentes.
— Saiba que são poucos os escolhidos, está cada vez mais difícil encontrar rapazes com heranças dignas de um enlace com uma princesa. Foi possível selecionar apenas três deles, você não se cansará muito no baile, serão três danças. Aproveite o tempo com eles para conversarem sobre suas habilidades e preferências, tenho certeza de que escolherá o melhor entre eles. Todos herdarão grandes riquezas então, como diz sua sábia mãe, escolha com o seu coração!
— Uma vez mais agradeço, meu pai. Escolherei o melhor e tenho certeza de que lhe agradará muito! — ele sorriu e pegou minha mão depositando um beijo.
Rei Lutero tinha aquela postura autoritária e até mesmo um olhar cruel para algumas pessoas em determinadas situações.
Muitos o temiam mais do que respeitavam, no entanto poucos conheciam esse lado gentil e cortês dele, até mesmo doce em algumas situações.
Com Christopher, era sempre mais duro e exigia muito dele em seu treinamento para substituí-lo, e assumir o trono quando fosse necessário. Tenho certeza de que ele também o amava muito e essa era a forma de demonstrar esse sentimento, de um jeito estranho que por mais que eu tentasse, não conseguia entender, mas era assim que ele agia com meu irmão.
A mim ele podia demonstrar seu lado terno e o fazia com muito amor também. Sabia que o fato dele aceitar que eu tivesse mais do que um pretendente para poder escolher o preferido, era realmente um privilégio que me foi dado e devia isso a minha mãe que estava sempre ao lado de meu pai em todas as decisões, no entanto não poderia ficar totalmente feliz pelo fato de que o único que me interessava de verdade não estaria entre os meus pretendentes.
***
No dia anterior ao baile, estava em meus aposentos cercada das melhores costureiras do reino que vieram servir-me no castelo e confeccionarem o vestido perfeito para a ocasião.
Estava realmente ficando deslumbrante. Minha mãe escolheu as cores e texturas dos tecidos, as joias que completariam o conjunto e minhas damas ensaiavam como seria o penteado perfeito para combinar com tudo.
Apreciava o que via no espelho, gostava de minha aparência, não que fosse a mais linda das princesas de todos os reinos, porém me sentia bela e tinha um charme especial capaz de conquistar tudo o que quisesse, pelo menos era isso que minha mãe me dizia desde que era muito pequena e é claro que eu acreditava.
Assim que todas saíram dos aposentos seguindo para terminar seus afazeres e deixarem tudo pronto para me vestir na noite seguinte, ficamos sozinhas e não pude deixar de questionar minha mãe sobre algo que vinha pensando e tirava meu sono nas últimas noites.
— Minha mãe, preciso lhe perguntar algo que não tive coragem de perguntar ao meu pai, não queria que ele pensasse que sou ingrata e discordo de sua decisão. Sei que o homem que eu não teria dúvidas em escolher não estará entre os meus pretendentes e não dançará comigo no baile, no entanto preciso saber se ao menos ele foi convidado?
— Mas é claro que sim, Eugênia. Como não convidaríamos o futuro Rei de nosso reino vizinho? Ele virá, no entanto como você mesma já disse, não estará entre os seus pretendentes no baile. Você sabe que isso é impossível!
— Isso já compreendi, porém será que posso lhe fazer um pedido? — Rainha Clélia olhou-me com estranheza e seu olhar dizia que ela já imaginava qual seria o meu pedido.
— Só espero que não seja nenhum absurdo!
— Gostaria de poder ao menos dançar com ele no baile e sei que se a senhora pedir a permissão de meu pai, ambos não recusarão. — Ela olhou-me em reprovação e rapidamente completei — Por favor, minha mãe. Seria apenas uma despedida, como um marco em minha vida, para que tire ele de uma vez por todas de meus pensamentos e de meu coração e consiga seguir em frente.
— Pensarei no seu pedido e na possibilidade de realizá-lo. — ela virou-se para sair de meus aposentos, mas de imediato voltou-se para completar — Saberá no baile se o que deseja acontecerá ou não, só posso dizer que prometo fazer o possível por você, minha querida.
Mais uma vez, aquele olhar me confortava e ia além disso, dava a impressão de que ela, me entendendo como sempre, faria muito mais do que havia lhe pedido.
Ninguém conseguia contrariar os desejos e pedidos de minha mãe, ela conseguia o que queria e isso sempre foi o que mais admirava naquela nobre e destemida Rainha.
Naquela noite, após cearmos, convidei meu irmão para um passeio pelo jardim. O clima estava quente e a noite iluminada por uma grande lua cheia, podia-se ver muitas estrelas brilhando no céu. Noites como aquela me fascinavam de tal forma que me transportavam para aquele mundo fascinante e cheio de magia que acreditava existir quando era pequena. — Essa sempre foi a sua noite preferida no ano, Eugênia. Se lembra de quando éramos crianças e eu dizia para você que poderia fazer qualquer pedido se visse uma estrela caindo? — Claro que me lembro, Christopher. Adorava ouvir as suas histórias sobre as estrelas, a lua, o sol... Você inventava tantas e as contava com tantos detalhes que me deixavam fascinada! — E quem disse para você que eu as inventava? — ele sorriu de lado e piscou o olho para mim, como quem confidencia um segredo. Meu irmão era muito bonito e elegante. Fiquei imaginando o belo rei que se tornaria um dia. Com certeza devia ter
Vitória — Acabo de descobrir que minha bisavó teve um grande amor em sua vida e pelo que entendi não foi correspondido. Até a página que li não aconteceu, ficou a curiosidade agora para saber mais. — Hum, amor platônico então!? — Serena sorriu como se já soubesse de tudo. Conforme prometido, tudo o que lia no diário a noite contava a ela no dia seguinte, em nossos encontros. Curiosamente, ela me dava alguns detalhes que previa antes de minhas leituras, coisas que combinavam muito com que lia. — Você teve alguma premonição? — sempre perguntava para que ela me contasse, se não ela achava que eu preferia o fator surpresa, que era importante, porém confiava muito em suas antecipações. — Até o momento não, porém conforme você me conta o que lê, sinto como se as imagens passassem em meus pensamentos e são tão nítidas que tenho a impressão de ter vivido o que ouço. Não sei explicar o que isso significa?! — minha amiga ainda tentava entender
Eugênia Quase não conseguia respirar. Estava prestes a adentrar pelo salão, naquele baile que seria a minha iniciação no mundo das mulheres. A partir de então, não seria mais considerada uma menina, uma jovem princesa e sim uma jovem mulher. Borboletas dançavam em meu estômago pois sabia que ele estaria presente e por minha adorável mãe, ter conseguido junto de meu pai a permissão para que ele fosse um dos pares com que eu abriria o baile. Claro que minha primeira dança seria com o Rei e a segunda com meu irmão que seria o sucessor a coroa, no entanto a terceira dança seria com ele, já que também era um herdeiro, porém do reino vizinho, mas que mantínhamos uma forte amizade desde muito tempo. Meu pai a princípio achou estranho o pedido de minha mãe, contudo não conseguiu dizer não a sua Rainha. Ele nunca conseguia e no final ela o convenceu de que tornaria o baile muito mais interessante e faria com que meus pretendentes se sentissem ofuscados
— Sinto por isso e por nosso pai nunca ter pensado em me prometer a ele, seria perfeito para a união entre os reinos. — Seria mesmo, Eugênia. Contudo, como você mesma disse, nosso pai não pensou dessa forma. Talvez até tenha pensado, porém já era tarde para propor qualquer compromisso. Lamentei novamente e continuamos nossa dança, dessa vez em silêncio e quando o minueto terminou, Christopher continuou segurando minha mão e aguardou que seu amigo se aproximasse para começarmos a dança seguinte. Quando o vi se aproximando de mim, as borboletas voltaram a voar no meu estômago, minhas mãos começaram a suar e senti minha face toda corar com o sorriso estonteante que ele me lançou. Parou a poucos centímetros de nós e cumprimentou meu irmão. Me olhou e com uma reverência aceitou minha mão para começarmos a dança no minueto seguinte. Foi como se o tempo parasse naquele momento, apesar de todo nervosismo apreciei cada passo, cada ge
Vitória Nos sentamos no jardim e conforme combinamos fiz a leitura das páginas seguintes do diário junto de Serena, enquanto nossos filhos brincavam pelo jardim com a orientação de suas amas. Desejava muito brincar com eles também, no entanto necessitava cumprir aquela primeira aventura, pois a curiosidade me tomava por inteira. Minha amiga ouvia atenta cada palavra lida por mim. Sorria, arregalava os olhos e percebi que desejava falar algo, no entanto combinamos em deixar nossas considerações para o final, e assim o fizemos. — Ah! Vitória. Que romântica sua bisavó. Estou encantada com ela! — Eu também! Adorando esse romantismo todo e a esperança dela em ficar com seu amado. Me fez lembrar de quando me apaixonei por Aron. Entendo bem quando ela se refere às borboletas voando dentro de seu estômago. — Entendo também! Quando vi Arthur pela primeira vez, foi como se uma luz nova surgisse perante meus olhos. Uma luz com uma cor que jamais ti
Eugênia O silêncio do meu pai pegou-me de surpresa. Tinha certeza de que ele estaria ansioso por minha resposta no dia seguinte ao baile, porém não foi o que aconteceu e aquilo me intrigou sobremaneira, porém me ajudaria a ganhar ainda mais tempo. Dias haviam se passado e ele ainda não tinha me procurado para saber a minha escolha. Questionei minha mãe sobre o que estaria acontecendo e a resposta dela foi breve. — Seu pai anda muito ocupado! — respondeu sem me olhar, enquanto terminava um bordado. — A senhora mesma disse que ele me cobraria uma escolha e até o momento ele não fez pergunta alguma sobre isso. Na verdade, quase nem o vi direito, somente em nossas refeições e ele mal falou comigo. A impressão que tenho é de que está sempre brigando com Christopher, eles estão sempre se desentendendo. — Eugênia, seu irmão precisa ser orientado para assumir o trono quando o seu pai necessitar e isso o preocupa muito! Você deve se manter com
Vitória Era bonito descobrir o amor que minha bisavó nutria por seu irmão. Achava aquele sentimento tão maravilhoso que me fazia pensar em meus filhos e desejar que eles fossem unidos daquela maneira, sabia que isso dependia também de mim e de Aron, da forma como educaremos eles. Desejei também ter um irmão e poder sentir o que a Rainha Eugênia descreveu. Uma pena ter sido a única filha. Acreditava que meus pais se concentraram tanto na minha educação e no que eu herdaria que não conseguiram pensar em ter mais filhos, o que eu lamentava muito. Agradeci aos céus por ter tido três, apesar de todas as dificuldades que já tive e que com certeza ainda viriam pela frente, tinha certeza de que foi a melhor escolha que fiz na vida. Meus filhos queridos eram minha maior herança! Fiquei pensando em Christopher, irmão de minha bisavó e no porquê nunca soube nada sobre ele. Aquilo me intrigava de sobremaneira me fazendo imaginar várias possibilidades sobre
PARTE 1Como consegui respirar quando fiquei mais perto de ti?Não sei dizer o que o meu coração descompassado sentiu quando você se aproximou e dançamos pelo salão.O toque que jamais imaginei sentir, a conversa que não pensei ter contigo. Aquilo realmente aconteceu, ou foi apenas um sonho?Não sei dizer ao certo, pois venho misturando sonho com realidade.Vejo meu reflexo no espelho e o sofrimento está estampado em minha face, por tantas coisas que posso imaginar e sentir, no entanto não posso ter.Tudo se despedaça em vários cacos, tento juntá-los na tentativa vã de me compor, de retomar meus sentimentos para seguir em frente...Mas... O que é seguir em frente sem você?(Breathe No More, Evanescence)“I've been looking in a mirror for so longEstive olhando no espelho por tanto tempoThat I've come to believe my soul's on the other sideQue vim a crer que minha alma, estava do outro ladoAll the little pieces falling, shatteredTodos os pequenos pedaços caindo, quebradosShards of