Capítulo 3

A rotina de minha amiga também não era fácil, então aproveitamos muito esses momentos juntas e na companhia de nossos filhos.

— Conseguiu começar a leitura do diário, Vitória? Em nosso último encontro disse que tentaria ler nos momentos de folga! — Serena fez aquela expressão de quem sabe bem o quanto esses momentos de folga eram raros para as mulheres que são mães e trabalham.

— Então, minha amiga, enfim consegui iniciar a leitura sim! E vou lhe dizer que sinto que perderei meu sono com ele. Até agora li apenas as primeiras páginas porque Aron, chamou-me para descansar, já era bem tarde. No entanto, tenho certeza de que se não fosse por ele eu teria passado a noite inteira lendo e nem perceberia o sol nascer.

— Concordamos então que as escritas de sua bisavó são realmente interessantes, assim como supomos que seriam!? — minha amiga havia me dito que seria muito bom para mim e minha família a leitura do diário, ela não conseguia ver o que de fato as escritas contariam, mas pressentia que viriam grandes descobertas.

— Sim! Muito interessantes! Vou lhe contando tudo, conforme for lendo, assim posso compartilhar com alguém o que for descobrindo, apesar de ainda ter algumas dúvidas sobre o que li, posso já dividir com você para que me ajude a entender melhor, como você sempre faz, trazendo luz para as minhas dúvidas. — Ela sorriu daquele jeito que sempre fazia iluminando ainda mais a minha vida. 

— Amigas são para isso também! Tentamos ajudar da maneira que podemos!

— Você me ajuda muito mais do que imagina, quer dizer, você sabe disso, tenho certeza de que sabe! — Sorri para ela em cumplicidade e ela retribuiu da mesma forma. Somente amigas, irmãs de coração sabiam o que representava aquele sentimento e nós, com certeza, sabíamos.

Contei a Serena o que li nas primeiras páginas do diário de minha bisavó Rainha Eugênia, que estava descobrindo características de meus antepassados que ainda não conhecia e me surpreendendo com alguns acontecimentos. Sentia que seria surpreendida ainda mais no decorrer da leitura.

A demora para começar a ler aquele diário, fazia com que me sentisse culpada. Após recebê-lo de minha avó Condessa Olívia, o guardei no meu baú, entre os meus livros favoritos, para quando pudesse lê-lo. Porém, voltei a reinar, tinha Andrew pequeno para cuidar, logo após veio outra gestação e com o nascimento de James, me vi encantada em participar da vida de meus filhos.    

Cada minuto era precioso demais para desperdiçá-los, não desistia de estar ao lado de meus filhos e há pouco ganhei de presente minha linda princesa Liriel, para completar a felicidade.

Sonhei tanto com meus filhos, e agora que os tinha, não queria sair de perto deles. No entanto, necessitava trabalhar e cuidar dos interesses do reino, atividades essas que apreciava muito também. Aquela era a minha vida, a que fui orientada desde sempre para cumprir e fazia com prazer.

Tivemos também o nosso casamento, Aron e eu assumimos nosso amor e conseguimos viver juntos, formando assim a nossa linda família. Entretanto, não foram somente momentos bons. Aron teve muitos problemas após a guerra, não dormia bem e quando dormia vinham os pesadelos. Ele adoeceu sem motivo aparente e quem o curou foi Serena com seus chás e conversas a qualquer hora que precisávamos. 

Arthur também ajudou muito, ele e Aron tornaram-se grandes amigos também e dividiam as lembranças de tempos ruins, pois apesar do fato de Arthur não ter ido para a guerra, viveu momentos terríveis, enquanto era torturado no calabouço do castelo, o que o deixou também com terríveis traumas devido a experiência de quase morte, coisas que somente eles podiam entender e isso os ajudou mutuamente.

Com o passar dos anos as coisas foram se ajustando e apesar dessas lembranças serem eternas, o tempo foi suavizando um pouco a dor e o convívio com os filhos e família amenizou o sofrimento. 

Os pais de Aron, estavam sempre presentes, Serafim e Amélie, ajudavam o filho com todas as suas forças e não mediam esforços para vê-lo bem, além de mimarem muito os netos também. Sobre meus pais, Anthony e Felícia, nem preciso falar não é mesmo!? 

Viviam grudados em nós, ajudando com os pequenos, com o Conselho e nas tomadas de decisões para o reino e em tudo mais que fosse necessário. Era maravilhoso tê-los em nossas vidas.

Minhas avós se foram devido a idade e partiram dessa vida com a felicidade de a ter cumprido da melhor forma possível. Minha avó Bethany partiu dizendo que encontraria meu avô Richard e estava ansiosa pois sentia muita saudade dele. 

Minha avó Olívia, além da saudade de meu avô Theodore dizia também ter cumprido a missão que lhe foi concedida nessa vida, cumpriu o seu dever e o seu propósito que foi ser incumbida de me passar uma herança e acreditava que eu faria o melhor uso possível dela. Foi após o seu falecimento que tive a certeza de que, necessitava começar a leitura do diário o mais rápido possível. 

Nem sei como consegui controlar a ansiedade. Com certeza devido ao fato de tê-lo esquecido guardado no fundo no baú, por viver tão intensamente o presente, fazendo planos para o futuro e não tendo tempo para pensar no passado. No entanto, havia chegado o momento de resgatar esses acontecimentos. 

Necessitava descobrir e viver esses acontecimentos pelos olhos de minha bisavó Eugênia, através da leitura daqueles escritos. Me sentia em dívida com ela e com o dever de escutar o que queria contar. Foi assim que comecei a ouvir suas palavras e descobrir a verdade sobre sua vida.

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