A rotina de minha amiga também não era fácil, então aproveitamos muito esses momentos juntas e na companhia de nossos filhos.
— Conseguiu começar a leitura do diário, Vitória? Em nosso último encontro disse que tentaria ler nos momentos de folga! — Serena fez aquela expressão de quem sabe bem o quanto esses momentos de folga eram raros para as mulheres que são mães e trabalham.
— Então, minha amiga, enfim consegui iniciar a leitura sim! E vou lhe dizer que sinto que perderei meu sono com ele. Até agora li apenas as primeiras páginas porque Aron, chamou-me para descansar, já era bem tarde. No entanto, tenho certeza de que se não fosse por ele eu teria passado a noite inteira lendo e nem perceberia o sol nascer.
— Concordamos então que as escritas de sua bisavó são realmente interessantes, assim como supomos que seriam!? — minha amiga havia me dito que seria muito bom para mim e minha família a leitura do diário, ela não conseguia ver o que de fato as escritas contariam, mas pressentia que viriam grandes descobertas.
— Sim! Muito interessantes! Vou lhe contando tudo, conforme for lendo, assim posso compartilhar com alguém o que for descobrindo, apesar de ainda ter algumas dúvidas sobre o que li, posso já dividir com você para que me ajude a entender melhor, como você sempre faz, trazendo luz para as minhas dúvidas. — Ela sorriu daquele jeito que sempre fazia iluminando ainda mais a minha vida.
— Amigas são para isso também! Tentamos ajudar da maneira que podemos!
— Você me ajuda muito mais do que imagina, quer dizer, você sabe disso, tenho certeza de que sabe! — Sorri para ela em cumplicidade e ela retribuiu da mesma forma. Somente amigas, irmãs de coração sabiam o que representava aquele sentimento e nós, com certeza, sabíamos.
Contei a Serena o que li nas primeiras páginas do diário de minha bisavó Rainha Eugênia, que estava descobrindo características de meus antepassados que ainda não conhecia e me surpreendendo com alguns acontecimentos. Sentia que seria surpreendida ainda mais no decorrer da leitura.
A demora para começar a ler aquele diário, fazia com que me sentisse culpada. Após recebê-lo de minha avó Condessa Olívia, o guardei no meu baú, entre os meus livros favoritos, para quando pudesse lê-lo. Porém, voltei a reinar, tinha Andrew pequeno para cuidar, logo após veio outra gestação e com o nascimento de James, me vi encantada em participar da vida de meus filhos.
Cada minuto era precioso demais para desperdiçá-los, não desistia de estar ao lado de meus filhos e há pouco ganhei de presente minha linda princesa Liriel, para completar a felicidade.
Sonhei tanto com meus filhos, e agora que os tinha, não queria sair de perto deles. No entanto, necessitava trabalhar e cuidar dos interesses do reino, atividades essas que apreciava muito também. Aquela era a minha vida, a que fui orientada desde sempre para cumprir e fazia com prazer.
Tivemos também o nosso casamento, Aron e eu assumimos nosso amor e conseguimos viver juntos, formando assim a nossa linda família. Entretanto, não foram somente momentos bons. Aron teve muitos problemas após a guerra, não dormia bem e quando dormia vinham os pesadelos. Ele adoeceu sem motivo aparente e quem o curou foi Serena com seus chás e conversas a qualquer hora que precisávamos.
Arthur também ajudou muito, ele e Aron tornaram-se grandes amigos também e dividiam as lembranças de tempos ruins, pois apesar do fato de Arthur não ter ido para a guerra, viveu momentos terríveis, enquanto era torturado no calabouço do castelo, o que o deixou também com terríveis traumas devido a experiência de quase morte, coisas que somente eles podiam entender e isso os ajudou mutuamente.
Com o passar dos anos as coisas foram se ajustando e apesar dessas lembranças serem eternas, o tempo foi suavizando um pouco a dor e o convívio com os filhos e família amenizou o sofrimento.
Os pais de Aron, estavam sempre presentes, Serafim e Amélie, ajudavam o filho com todas as suas forças e não mediam esforços para vê-lo bem, além de mimarem muito os netos também. Sobre meus pais, Anthony e Felícia, nem preciso falar não é mesmo!?
Viviam grudados em nós, ajudando com os pequenos, com o Conselho e nas tomadas de decisões para o reino e em tudo mais que fosse necessário. Era maravilhoso tê-los em nossas vidas.
Minhas avós se foram devido a idade e partiram dessa vida com a felicidade de a ter cumprido da melhor forma possível. Minha avó Bethany partiu dizendo que encontraria meu avô Richard e estava ansiosa pois sentia muita saudade dele.
Minha avó Olívia, além da saudade de meu avô Theodore dizia também ter cumprido a missão que lhe foi concedida nessa vida, cumpriu o seu dever e o seu propósito que foi ser incumbida de me passar uma herança e acreditava que eu faria o melhor uso possível dela. Foi após o seu falecimento que tive a certeza de que, necessitava começar a leitura do diário o mais rápido possível.
Nem sei como consegui controlar a ansiedade. Com certeza devido ao fato de tê-lo esquecido guardado no fundo no baú, por viver tão intensamente o presente, fazendo planos para o futuro e não tendo tempo para pensar no passado. No entanto, havia chegado o momento de resgatar esses acontecimentos.
Necessitava descobrir e viver esses acontecimentos pelos olhos de minha bisavó Eugênia, através da leitura daqueles escritos. Me sentia em dívida com ela e com o dever de escutar o que queria contar. Foi assim que comecei a ouvir suas palavras e descobrir a verdade sobre sua vida.
Eugênia O Baile seria dali algumas noites e a ansiedade por aquele acontecimento me tomava por inteira. O dia da minha apresentação para a sociedade e todos os reinos. A partir desse evento estaria pronta para os cortejos e um futuro casamento, claro que entre os convidados já estariam alguns futuros pretendentes do interesse de meu pai. Rei Lutero chamou-me naquela tarde para o chá com o intuito de conversarmos sobre a festa e como deveria me comportar naquele evento de tamanha importância para o meu futuro e de todo o reino. Muitos interesses haviam por trás daquele acontecimento e do que viria no futuro. Meu esposo deveria ser herdeiro de muitas posses para agregar ainda mais riqueza ao reino e servir ao seu Rei. — Imagino que sua mãe já tenha conversado com você sobre a importância desse baile, Eugênia. — Meu pai iniciava nossa conversa após um dos lacaios servir o chá. — Sim, meu pai. Ela conversou comigo nesses últimos dias, sob
Naquela noite, após cearmos, convidei meu irmão para um passeio pelo jardim. O clima estava quente e a noite iluminada por uma grande lua cheia, podia-se ver muitas estrelas brilhando no céu. Noites como aquela me fascinavam de tal forma que me transportavam para aquele mundo fascinante e cheio de magia que acreditava existir quando era pequena. — Essa sempre foi a sua noite preferida no ano, Eugênia. Se lembra de quando éramos crianças e eu dizia para você que poderia fazer qualquer pedido se visse uma estrela caindo? — Claro que me lembro, Christopher. Adorava ouvir as suas histórias sobre as estrelas, a lua, o sol... Você inventava tantas e as contava com tantos detalhes que me deixavam fascinada! — E quem disse para você que eu as inventava? — ele sorriu de lado e piscou o olho para mim, como quem confidencia um segredo. Meu irmão era muito bonito e elegante. Fiquei imaginando o belo rei que se tornaria um dia. Com certeza devia ter
Vitória — Acabo de descobrir que minha bisavó teve um grande amor em sua vida e pelo que entendi não foi correspondido. Até a página que li não aconteceu, ficou a curiosidade agora para saber mais. — Hum, amor platônico então!? — Serena sorriu como se já soubesse de tudo. Conforme prometido, tudo o que lia no diário a noite contava a ela no dia seguinte, em nossos encontros. Curiosamente, ela me dava alguns detalhes que previa antes de minhas leituras, coisas que combinavam muito com que lia. — Você teve alguma premonição? — sempre perguntava para que ela me contasse, se não ela achava que eu preferia o fator surpresa, que era importante, porém confiava muito em suas antecipações. — Até o momento não, porém conforme você me conta o que lê, sinto como se as imagens passassem em meus pensamentos e são tão nítidas que tenho a impressão de ter vivido o que ouço. Não sei explicar o que isso significa?! — minha amiga ainda tentava entender
Eugênia Quase não conseguia respirar. Estava prestes a adentrar pelo salão, naquele baile que seria a minha iniciação no mundo das mulheres. A partir de então, não seria mais considerada uma menina, uma jovem princesa e sim uma jovem mulher. Borboletas dançavam em meu estômago pois sabia que ele estaria presente e por minha adorável mãe, ter conseguido junto de meu pai a permissão para que ele fosse um dos pares com que eu abriria o baile. Claro que minha primeira dança seria com o Rei e a segunda com meu irmão que seria o sucessor a coroa, no entanto a terceira dança seria com ele, já que também era um herdeiro, porém do reino vizinho, mas que mantínhamos uma forte amizade desde muito tempo. Meu pai a princípio achou estranho o pedido de minha mãe, contudo não conseguiu dizer não a sua Rainha. Ele nunca conseguia e no final ela o convenceu de que tornaria o baile muito mais interessante e faria com que meus pretendentes se sentissem ofuscados
— Sinto por isso e por nosso pai nunca ter pensado em me prometer a ele, seria perfeito para a união entre os reinos. — Seria mesmo, Eugênia. Contudo, como você mesma disse, nosso pai não pensou dessa forma. Talvez até tenha pensado, porém já era tarde para propor qualquer compromisso. Lamentei novamente e continuamos nossa dança, dessa vez em silêncio e quando o minueto terminou, Christopher continuou segurando minha mão e aguardou que seu amigo se aproximasse para começarmos a dança seguinte. Quando o vi se aproximando de mim, as borboletas voltaram a voar no meu estômago, minhas mãos começaram a suar e senti minha face toda corar com o sorriso estonteante que ele me lançou. Parou a poucos centímetros de nós e cumprimentou meu irmão. Me olhou e com uma reverência aceitou minha mão para começarmos a dança no minueto seguinte. Foi como se o tempo parasse naquele momento, apesar de todo nervosismo apreciei cada passo, cada ge
Vitória Nos sentamos no jardim e conforme combinamos fiz a leitura das páginas seguintes do diário junto de Serena, enquanto nossos filhos brincavam pelo jardim com a orientação de suas amas. Desejava muito brincar com eles também, no entanto necessitava cumprir aquela primeira aventura, pois a curiosidade me tomava por inteira. Minha amiga ouvia atenta cada palavra lida por mim. Sorria, arregalava os olhos e percebi que desejava falar algo, no entanto combinamos em deixar nossas considerações para o final, e assim o fizemos. — Ah! Vitória. Que romântica sua bisavó. Estou encantada com ela! — Eu também! Adorando esse romantismo todo e a esperança dela em ficar com seu amado. Me fez lembrar de quando me apaixonei por Aron. Entendo bem quando ela se refere às borboletas voando dentro de seu estômago. — Entendo também! Quando vi Arthur pela primeira vez, foi como se uma luz nova surgisse perante meus olhos. Uma luz com uma cor que jamais ti
Eugênia O silêncio do meu pai pegou-me de surpresa. Tinha certeza de que ele estaria ansioso por minha resposta no dia seguinte ao baile, porém não foi o que aconteceu e aquilo me intrigou sobremaneira, porém me ajudaria a ganhar ainda mais tempo. Dias haviam se passado e ele ainda não tinha me procurado para saber a minha escolha. Questionei minha mãe sobre o que estaria acontecendo e a resposta dela foi breve. — Seu pai anda muito ocupado! — respondeu sem me olhar, enquanto terminava um bordado. — A senhora mesma disse que ele me cobraria uma escolha e até o momento ele não fez pergunta alguma sobre isso. Na verdade, quase nem o vi direito, somente em nossas refeições e ele mal falou comigo. A impressão que tenho é de que está sempre brigando com Christopher, eles estão sempre se desentendendo. — Eugênia, seu irmão precisa ser orientado para assumir o trono quando o seu pai necessitar e isso o preocupa muito! Você deve se manter com
Vitória Era bonito descobrir o amor que minha bisavó nutria por seu irmão. Achava aquele sentimento tão maravilhoso que me fazia pensar em meus filhos e desejar que eles fossem unidos daquela maneira, sabia que isso dependia também de mim e de Aron, da forma como educaremos eles. Desejei também ter um irmão e poder sentir o que a Rainha Eugênia descreveu. Uma pena ter sido a única filha. Acreditava que meus pais se concentraram tanto na minha educação e no que eu herdaria que não conseguiram pensar em ter mais filhos, o que eu lamentava muito. Agradeci aos céus por ter tido três, apesar de todas as dificuldades que já tive e que com certeza ainda viriam pela frente, tinha certeza de que foi a melhor escolha que fiz na vida. Meus filhos queridos eram minha maior herança! Fiquei pensando em Christopher, irmão de minha bisavó e no porquê nunca soube nada sobre ele. Aquilo me intrigava de sobremaneira me fazendo imaginar várias possibilidades sobre