Vitória
— Acabo de descobrir que minha bisavó teve um grande amor em sua vida e pelo que entendi não foi correspondido. Até a página que li não aconteceu, ficou a curiosidade agora para saber mais.
— Hum, amor platônico então!? — Serena sorriu como se já soubesse de tudo.
Conforme prometido, tudo o que lia no diário a noite contava a ela no dia seguinte, em nossos encontros. Curiosamente, ela me dava alguns detalhes que previa antes de minhas leituras, coisas que combinavam muito com que lia.
— Você teve alguma premonição? — sempre perguntava para que ela me contasse, se não ela achava que eu preferia o fator surpresa, que era importante, porém confiava muito em suas antecipações.
— Até o momento não, porém conforme você me conta o que lê, sinto como se as imagens passassem em meus pensamentos e são tão nítidas que tenho a impressão de ter vivido o que ouço. Não sei explicar o que isso significa?! — minha amiga ainda tentava entender muitas coisas sobre as suas habilidades.
Fiquei pensando no que Serena disse e não sabia como explicar a sua sensação também. A minha surpresa era em cada linha, em cada situação.
Estava totalmente envolvida e empolgada com a história. Descobrir o que aconteceria naquele baile e principalmente quem seria o grande amado de minha bisavó.
Sabia somente que não era meu bisavô e sim outra pessoa de seu convívio, um futuro Rei de um reino vizinho. Foi aí que, pensando bem, entendi a quem ela se referia no diário.
— Haverá um baile com o intuito de apresentá-la oficialmente como princesa e iniciar o cortejo de seus pretendentes. No entanto, antes mesmo de conhecer quais serão os felizardos, ela afirma que seu coração já tem um dono e pede que sua mãe interceda perante seu pai para que lhe seja permitido uma dança com seu grande amor, mesmo que ele não seja o seu prometido. Só agora pensando melhor entendi a quem ela se refere!
— Esse é um fato novo para você. Imagino que nunca soube nada sobre um amor não correspondido da Rainha Eugênia. Acredito que ninguém saiba disso, além de nós e a Condessa Olívia.
— Sim! E pelo que estou analisando agora após processar o que li, não consigo tirar isso da cabeça. Esse é apenas o começo do desenrolar de uma grande história, que acredito estar cheia de surpresas. Por isso a insistência de minha avó para ler o diário e pensando também em quando ela disse sobre estar preparada para as descobertas e a minha escolha em poder queimar o diário se não quisesse me aprofundar nessa aventura, as coisas começam a fazer sentido.
— Além de ser uma grande história, deve ter uma grande importância a sua família, já que sua bisavó decidiu deixar tudo registrado como herança a você, desejando que seu passado não se perdesse no esquecimento.
— Isso mesmo! Ela revela sua paixão pelo futuro Rei de um reino vizinho. Pensando na amizade que existia antes da guerra, entre Neveri e Minsk dá para entender que seu verdadeiro amor foi o Rei Serafim, pai da Rainha Malena.
— Fato interessante esse, que nos faz pensar em como essa paixão se desenrolou já que sabemos o destino da família de Malena. Sendo assim foi mesmo um amor platônico, porém nos deixa a dúvida de o porquê sua bisavó queria que você conhecesse essa história? Haverá alguma revelação por trás disso?
— Acredito que sim, minha amiga e descobriremos isso juntas.
— Empolgada com essa nossa nova aventura! — Serena se divertia como uma criança feliz por uma nova brincadeira, me fez recordar de nossas aventuras na infância.
— Eu também! Muito empolgada! Podemos ler juntas em uma tarde dessas? O que acha?
— Uma ideia perfeita!
Rimos daquela nossa felicidade, como se nos aventurássemos pela história de um grande livro. Só que esse livro era um diário, onde continham experiências vividas por uma pessoa de verdade e não apenas um personagem. Não era uma ficção, eram momentos registrados de uma vida muito importante em minha família e em nossos reinos.
Com certeza o que estávamos vivendo era muito empolgante e nos deixava com a imensa vontade de afundar naquelas velhas, porém muito bem escritas páginas.
***
No dia seguinte Serena procurou-me aflita para conversarmos. Aguardou somente terminarmos o desjejum e encontrou-me antes da reunião com o Conselho.
— Você se lembra que lhe disse não ter tido nenhuma premonição clara sobre o diário?
— Claro que me lembro! Fiquei curiosa em saber quando você a teria! — Ela parecia muito ansiosa em contar-me algo.
— Pois então! Tive um sonho que tenho certeza ter sido muito mais, eu consigo sentir quando é uma premonição, não sei explicar o porquê, mas sinto!
— E o que exatamente você sonhou?
— Com um príncipe. Um belo e misterioso príncipe que trará uma grande surpresa a sua família. Talvez seja sobre Christopher, no entanto não tenho certeza!
— E você conseguiu descobrir que surpresa será essa?
— Queria muito ter descoberto e poder lhe trazer a história dele completa, porém não consegui. Ficou somente a certeza de que você irá descobrir isso em breve.
— Agradeço, minha amiga. Decerto será uma das informações contidas no diário, ou algo muito maior que talvez será você quem conseguirá me revelar.
— Espero que sim, Vitória. Você nem imagina o quanto eu anseio por isso. Sinto que se trata de algo realmente grandioso.
A empolgação de Serena era muito grande o que se fazia evidente a importância daquela sua premonição e do que ela sentia estar por vir, e é claro, fato esse que me deixou ainda mais ansiosa para seguir com a leitura.
Eugênia Quase não conseguia respirar. Estava prestes a adentrar pelo salão, naquele baile que seria a minha iniciação no mundo das mulheres. A partir de então, não seria mais considerada uma menina, uma jovem princesa e sim uma jovem mulher. Borboletas dançavam em meu estômago pois sabia que ele estaria presente e por minha adorável mãe, ter conseguido junto de meu pai a permissão para que ele fosse um dos pares com que eu abriria o baile. Claro que minha primeira dança seria com o Rei e a segunda com meu irmão que seria o sucessor a coroa, no entanto a terceira dança seria com ele, já que também era um herdeiro, porém do reino vizinho, mas que mantínhamos uma forte amizade desde muito tempo. Meu pai a princípio achou estranho o pedido de minha mãe, contudo não conseguiu dizer não a sua Rainha. Ele nunca conseguia e no final ela o convenceu de que tornaria o baile muito mais interessante e faria com que meus pretendentes se sentissem ofuscados
— Sinto por isso e por nosso pai nunca ter pensado em me prometer a ele, seria perfeito para a união entre os reinos. — Seria mesmo, Eugênia. Contudo, como você mesma disse, nosso pai não pensou dessa forma. Talvez até tenha pensado, porém já era tarde para propor qualquer compromisso. Lamentei novamente e continuamos nossa dança, dessa vez em silêncio e quando o minueto terminou, Christopher continuou segurando minha mão e aguardou que seu amigo se aproximasse para começarmos a dança seguinte. Quando o vi se aproximando de mim, as borboletas voltaram a voar no meu estômago, minhas mãos começaram a suar e senti minha face toda corar com o sorriso estonteante que ele me lançou. Parou a poucos centímetros de nós e cumprimentou meu irmão. Me olhou e com uma reverência aceitou minha mão para começarmos a dança no minueto seguinte. Foi como se o tempo parasse naquele momento, apesar de todo nervosismo apreciei cada passo, cada ge
Vitória Nos sentamos no jardim e conforme combinamos fiz a leitura das páginas seguintes do diário junto de Serena, enquanto nossos filhos brincavam pelo jardim com a orientação de suas amas. Desejava muito brincar com eles também, no entanto necessitava cumprir aquela primeira aventura, pois a curiosidade me tomava por inteira. Minha amiga ouvia atenta cada palavra lida por mim. Sorria, arregalava os olhos e percebi que desejava falar algo, no entanto combinamos em deixar nossas considerações para o final, e assim o fizemos. — Ah! Vitória. Que romântica sua bisavó. Estou encantada com ela! — Eu também! Adorando esse romantismo todo e a esperança dela em ficar com seu amado. Me fez lembrar de quando me apaixonei por Aron. Entendo bem quando ela se refere às borboletas voando dentro de seu estômago. — Entendo também! Quando vi Arthur pela primeira vez, foi como se uma luz nova surgisse perante meus olhos. Uma luz com uma cor que jamais ti
Eugênia O silêncio do meu pai pegou-me de surpresa. Tinha certeza de que ele estaria ansioso por minha resposta no dia seguinte ao baile, porém não foi o que aconteceu e aquilo me intrigou sobremaneira, porém me ajudaria a ganhar ainda mais tempo. Dias haviam se passado e ele ainda não tinha me procurado para saber a minha escolha. Questionei minha mãe sobre o que estaria acontecendo e a resposta dela foi breve. — Seu pai anda muito ocupado! — respondeu sem me olhar, enquanto terminava um bordado. — A senhora mesma disse que ele me cobraria uma escolha e até o momento ele não fez pergunta alguma sobre isso. Na verdade, quase nem o vi direito, somente em nossas refeições e ele mal falou comigo. A impressão que tenho é de que está sempre brigando com Christopher, eles estão sempre se desentendendo. — Eugênia, seu irmão precisa ser orientado para assumir o trono quando o seu pai necessitar e isso o preocupa muito! Você deve se manter com
Vitória Era bonito descobrir o amor que minha bisavó nutria por seu irmão. Achava aquele sentimento tão maravilhoso que me fazia pensar em meus filhos e desejar que eles fossem unidos daquela maneira, sabia que isso dependia também de mim e de Aron, da forma como educaremos eles. Desejei também ter um irmão e poder sentir o que a Rainha Eugênia descreveu. Uma pena ter sido a única filha. Acreditava que meus pais se concentraram tanto na minha educação e no que eu herdaria que não conseguiram pensar em ter mais filhos, o que eu lamentava muito. Agradeci aos céus por ter tido três, apesar de todas as dificuldades que já tive e que com certeza ainda viriam pela frente, tinha certeza de que foi a melhor escolha que fiz na vida. Meus filhos queridos eram minha maior herança! Fiquei pensando em Christopher, irmão de minha bisavó e no porquê nunca soube nada sobre ele. Aquilo me intrigava de sobremaneira me fazendo imaginar várias possibilidades sobre
Eugênia Enfim, meu pai conseguiu tempo para termos a tão esperada conversa e ele queria uma posição minha, sobre quem seria o pretendente escolhido para o cortejo na próxima temporada. Tinha a certeza do escolhido entre as opções que me foram apresentadas, apesar de preferir alguém que não estava e nunca estaria entre elas. — Sua escolha alegra-me muito, Eugênia. Confesso que dos seus pretendentes, foi ele o que mais me agradou, devido a sua educação, sua base familiar e sobrenome, afinal ele é um Trineth. Uma das maiores preocupações de meu pai era quanto a origem da família e os bens que meu futuro esposo herdaria, fatos que não me diziam absolutamente nada, contudo estava feliz por meu pai ter concordado com minha escolha. Adônis tinha tudo o que ele apreciava e dos meus pretendentes foi o que mais agradou-me. Sua simpatia e educação conquistaram a todos, além disso percebi algo nele que me chamou a atenção: era um rapaz bonito, se expressava mu
Vitória Alguns dias se passaram e meus pais ainda não haviam retornado de Neveri. Dona Felícia aproveitou a oportunidade para acompanhar meu pai, era evidente o amor entre eles, mesmo após tantos anos. Não viviam separados e qualquer chance que tinham de estar juntos, era muito bem aproveitada. Quando ele contou que teria que ir até Neveri, verificar os documentos por lá arquivados e a convidou para ir junto, ela não hesitou em aceitar e ficou exultante com o passeio. — Há tempos não saímos só nós dois para um passeio. É claro que irei. Apesar de irmos perto, valerá a pena por estarmos juntos em algo diferente. Podemos dizer que será uma aventura de investigação. Apreciei muito isso! — Que maravilha, minha querida. Será um ótimo passeio e espero que produtivo. Precisamos descobrir mais sobre esse meu tio avô que nunca ouvi nada a respeito. — Sim, Anthony. É muito estranho nunca terem mencionado a existência dele. Com certeza encontrare
Eugênia Abordei meu irmão, após o desjejum daquela manhã fria de inverno. Ele não parecia muito feliz nos dias anteriores e quase não nos encontrávamos. Estava sempre muito ocupado, ou com meu pai, ou em suas aventuras com Serafim, que sempre quis participar, porém nunca pude. Além do fato de muitas vezes ele sumir por dias e voltar como se nada tivesse acontecido, sem que ninguém soubesse por onde andava. Decidi confrontá-lo na esperança de que pelo menos ele pudesse esclarecer minhas dúvidas, já que não conseguia tirar nenhuma informação de meus pais. — Christopher, meu querido irmão, por favor, conte-me o que está acontecendo com você e nossa família. Estou a ponto de enlouquecer com tantas dúvidas! — Não sei por que me tomas, Eugênia. Você deveria ter essa conversa com nossos pais e não comigo. Não posso lhe ajudar, apesar de querer muito, não posso! — Como assim não pode? Não entendo isso! Nossos pais ficam dizendo a mesm