PARTE 1
Como consegui respirar quando fiquei mais perto de ti?
Não sei dizer o que o meu coração descompassado sentiu quando você se aproximou e dançamos pelo salão.
O toque que jamais imaginei sentir, a conversa que não pensei ter contigo. Aquilo realmente aconteceu, ou foi apenas um sonho?
Não sei dizer ao certo, pois venho misturando sonho com realidade.
Vejo meu reflexo no espelho e o sofrimento está estampado em minha face, por tantas coisas que posso imaginar e sentir, no entanto não posso ter.
Tudo se despedaça em vários cacos, tento juntá-los na tentativa vã de me compor, de retomar meus sentimentos para seguir em frente...
Mas... O que é seguir em frente sem você?
(Breathe No More, Evanescence)“I've been looking in a mirror for so long
Estive olhando no espelho por tanto tempo
That I've come to believe my soul's on the other side
Que vim a crer que minha alma, estava do outro lado
All the little pieces falling, shattered
Todos os pequenos pedaços caindo, quebrados
Shards of me too sharp to put back together
Pedaços de mim afiados demais para serem postos de volta
Too small to matter
Pequenos demais para terem importância
But big enough to cut me into so many
Mas grandes o suficiente para me cortar em tantos
Little pieces if I try to touch her
Pequenos pedaços se eu tentar tocá-la
And I bleed. I bleed
E eu sangro. Eu sangro
And I breathe. I breathe, no more...”
E eu respiro. Eu respiro, não mais...
(Breathe No More, Evanescence)
Eugênia
Seu futuro era reinar. Ele seria o próximo na sucessão a governar o seu reino e já se preparava para isso. Sua linhagem de antecedentes vinha de Reis guerreiros e ele treinava desde muito pequeno para fazer jus a essa herança. Tinha a certeza, de que o seu reinado estaria entre os melhores, no entanto, era suspeita para falar sobre ele. O amava tanto que aquele sentimento se transformava em dor, todas as vezes que pensava na distância que nos separava.
Nossos pais eram amigos, nossos reinos vizinhos e viviam em harmonia. Convivemos desde bem pequenos, porém ele nunca se interessou por mim, nem mesmo minha amizade lhe interessava. Para ele, eu era apenas a princesa que por ser alguns anos mais nova, não merecia sua atenção.
Meu irmão, que era mais velho do que eu e praticamente da mesma idade que ele, era seu melhor amigo. Brincavam juntos quando meninos e agora treinavam com o mesmo tutor, o cavaleiro Rômulo, que era amigo de ambos os Reis. Eles eram orientados para assumir, cada um, o seu reino e manterem a união e amizade entre eles.
O futuro para os reinos seria próspero se conseguissem manter aquela amizade, já que por serem vizinhos e um dos rios banharem as duas partes, seria saudável manter a hostilidade para que as plantações continuassem divididas daquela forma e recebendo a quantidade necessária de água para se manterem saudáveis, além do abastecimento de ambos os reinos.
Gostaria que nossos pais tivessem pensado em unir os reinos nos prometendo desde pequenos, porém, como ele nascera antes já estava prometido a outra herdeira desde o seu nascimento e não possível que isso fosse desfeito, para a minha infelicidade.
Não adiantava sofrer com aquilo, mas sofria. Era orientada para ser apenas a princesa do reino e uma futura boa esposa em um casamento arranjado que trouxesse algum benefício ao reino e quem sabe meu esposo, dependendo de sua posição, trabalhasse no Conselho e fosse o braço direito do Rei. Quem sabe?!
— Minha filha, está muito distraída neste dia. O que há com você? Desde o desjejum percebi que não está bem!
— Perdoe, minha mãe. Acordei deveras distraída hoje, não sei dizer o porquê!? — sabia bem qual era o motivo de minha distração, ele vivia no reino ao lado e estava naquele momento, treinando na clareira entre os reinos, junto de meu irmão Christopher.
— Eugênia, querida. Já que não consegue se concentrar nem ao menos em sua aula de música, que aprecia tanto, venha comigo a um passeio pelo jardim, precisamos conversar, longe dos olhos de seu pai. — Ela falou abaixando o tom de voz e se aproximando de mim, para que ninguém mais a ouvisse.
Saímos para o jardim e tentei corrigir minha postura para que ficasse semelhante à dela, era uma das coisas que mais admirava em minha mãe. Rainha Clélia, era sem dúvida, uma das rainhas mais admiradas da história de nosso reino, não digo isso somente por ela ser minha mãe, mas porque era um fato que ninguém tinha motivo algum para contestar.
Todos concordavam com a sua importância ao lado de meu pai governando Neveri, eles tinham longas reuniões em que o Rei Lutero, fazia questão de levar a ela todos os problemas que surgiam no reino e eram discutidos nas reuniões do Conselho.
Meu pai ouvia as argumentações dos conselheiros e nunca tomava uma decisão no mesmo dia, preferia discutir as possibilidades com minha mãe e ouvir a sua opinião.
Dave, o secretário deles, sugeriu inúmeras vezes que a Rainha participasse também das reuniões com o Conselho, entretanto ela não queria ofuscar a liderança do Rei e prejudicar o respeito que ele havia adquirido com o tempo.
Ela, com toda a sua benevolência, preferia ficar nos bastidores e era feliz em auxiliar dessa maneira, contribuindo para a ascensão de um grande Rei que tinha ao seu lado uma grande Rainha.
Meu sonho era um dia poder ser como ela. Desde muito pequena a seguia e a copiava em tudo o que fazia. Sabia que jamais seria Rainha como ela, pois meu irmão assumiria o trono por ser o primogênito e seus descendentes seriam os próximos na sucessão e assim por diante. Como segunda filha, seria sempre uma princesa.
Minha mãe parou o nosso passeio pelo jardim e virou-se para mim.— Em breve chegará o momento em que será necessário escolher um esposo para você, querida. Seu pai já está cogitando essa possibilidade para a próxima temporada.— Percebi alguns olhares diferentes de meu pai e imaginei que fosse devido a isso. Todavia, não gostaria de casar-me com nenhum desconhecido e sim fazer a escolha de meu pretendente, se assim, me for permitido! — a minha esperança era de que minha mãe entendesse a minha vontade e me ajudasse junto de meu pai.— Entendo, filha. Imagino que já tenha alguém em mente, por levantar essa questão comigo. Está enamorada de algum cavaleiro do reino?— Claro que não, minha mãe. Jamais deixei nenhum cavalheiro nem ao menos se aproximar de mim para que surgisse qualquer sentimento ou lhe desse esperança. A Senhora sabe bem quem seria o meu escolhido! — ela encarou-me e suspirou.— Ainda cultiva essa paixão de menina? Não acredito, Eugênia! Você sabe que ele será coroado em
A rotina de minha amiga também não era fácil, então aproveitamos muito esses momentos juntas e na companhia de nossos filhos.— Conseguiu começar a leitura do diário, Vitória? Em nosso último encontro disse que tentaria ler nos momentos de folga! — Serena fez aquela expressão de quem sabe bem o quanto esses momentos de folga eram raros para as mulheres que são mães e trabalham.— Então, minha amiga, enfim consegui iniciar a leitura sim! E vou lhe dizer que sinto que perderei meu sono com ele. Até agora li apenas as primeiras páginas porque Aron, chamou-me para descansar, já era bem tarde. No entanto, tenho certeza de que se não fosse por ele eu teria passado a noite inteira lendo e nem perceberia o sol nascer.— Concordamos então que as escritas de sua bisavó são realmente interessantes, assim como supomos que seriam!? — minha amiga havia me dito que seria muito bom para mim e minha família a leitura do diário, ela não conseguia ver o que de fato as escritas contariam, mas pressentia
Eugênia O Baile seria dali algumas noites e a ansiedade por aquele acontecimento me tomava por inteira. O dia da minha apresentação para a sociedade e todos os reinos. A partir desse evento estaria pronta para os cortejos e um futuro casamento, claro que entre os convidados já estariam alguns futuros pretendentes do interesse de meu pai. Rei Lutero chamou-me naquela tarde para o chá com o intuito de conversarmos sobre a festa e como deveria me comportar naquele evento de tamanha importância para o meu futuro e de todo o reino. Muitos interesses haviam por trás daquele acontecimento e do que viria no futuro. Meu esposo deveria ser herdeiro de muitas posses para agregar ainda mais riqueza ao reino e servir ao seu Rei. — Imagino que sua mãe já tenha conversado com você sobre a importância desse baile, Eugênia. — Meu pai iniciava nossa conversa após um dos lacaios servir o chá. — Sim, meu pai. Ela conversou comigo nesses últimos dias, sob
Naquela noite, após cearmos, convidei meu irmão para um passeio pelo jardim. O clima estava quente e a noite iluminada por uma grande lua cheia, podia-se ver muitas estrelas brilhando no céu. Noites como aquela me fascinavam de tal forma que me transportavam para aquele mundo fascinante e cheio de magia que acreditava existir quando era pequena. — Essa sempre foi a sua noite preferida no ano, Eugênia. Se lembra de quando éramos crianças e eu dizia para você que poderia fazer qualquer pedido se visse uma estrela caindo? — Claro que me lembro, Christopher. Adorava ouvir as suas histórias sobre as estrelas, a lua, o sol... Você inventava tantas e as contava com tantos detalhes que me deixavam fascinada! — E quem disse para você que eu as inventava? — ele sorriu de lado e piscou o olho para mim, como quem confidencia um segredo. Meu irmão era muito bonito e elegante. Fiquei imaginando o belo rei que se tornaria um dia. Com certeza devia ter
Vitória — Acabo de descobrir que minha bisavó teve um grande amor em sua vida e pelo que entendi não foi correspondido. Até a página que li não aconteceu, ficou a curiosidade agora para saber mais. — Hum, amor platônico então!? — Serena sorriu como se já soubesse de tudo. Conforme prometido, tudo o que lia no diário a noite contava a ela no dia seguinte, em nossos encontros. Curiosamente, ela me dava alguns detalhes que previa antes de minhas leituras, coisas que combinavam muito com que lia. — Você teve alguma premonição? — sempre perguntava para que ela me contasse, se não ela achava que eu preferia o fator surpresa, que era importante, porém confiava muito em suas antecipações. — Até o momento não, porém conforme você me conta o que lê, sinto como se as imagens passassem em meus pensamentos e são tão nítidas que tenho a impressão de ter vivido o que ouço. Não sei explicar o que isso significa?! — minha amiga ainda tentava entender
Eugênia Quase não conseguia respirar. Estava prestes a adentrar pelo salão, naquele baile que seria a minha iniciação no mundo das mulheres. A partir de então, não seria mais considerada uma menina, uma jovem princesa e sim uma jovem mulher. Borboletas dançavam em meu estômago pois sabia que ele estaria presente e por minha adorável mãe, ter conseguido junto de meu pai a permissão para que ele fosse um dos pares com que eu abriria o baile. Claro que minha primeira dança seria com o Rei e a segunda com meu irmão que seria o sucessor a coroa, no entanto a terceira dança seria com ele, já que também era um herdeiro, porém do reino vizinho, mas que mantínhamos uma forte amizade desde muito tempo. Meu pai a princípio achou estranho o pedido de minha mãe, contudo não conseguiu dizer não a sua Rainha. Ele nunca conseguia e no final ela o convenceu de que tornaria o baile muito mais interessante e faria com que meus pretendentes se sentissem ofuscados
— Sinto por isso e por nosso pai nunca ter pensado em me prometer a ele, seria perfeito para a união entre os reinos. — Seria mesmo, Eugênia. Contudo, como você mesma disse, nosso pai não pensou dessa forma. Talvez até tenha pensado, porém já era tarde para propor qualquer compromisso. Lamentei novamente e continuamos nossa dança, dessa vez em silêncio e quando o minueto terminou, Christopher continuou segurando minha mão e aguardou que seu amigo se aproximasse para começarmos a dança seguinte. Quando o vi se aproximando de mim, as borboletas voltaram a voar no meu estômago, minhas mãos começaram a suar e senti minha face toda corar com o sorriso estonteante que ele me lançou. Parou a poucos centímetros de nós e cumprimentou meu irmão. Me olhou e com uma reverência aceitou minha mão para começarmos a dança no minueto seguinte. Foi como se o tempo parasse naquele momento, apesar de todo nervosismo apreciei cada passo, cada ge
Vitória Nos sentamos no jardim e conforme combinamos fiz a leitura das páginas seguintes do diário junto de Serena, enquanto nossos filhos brincavam pelo jardim com a orientação de suas amas. Desejava muito brincar com eles também, no entanto necessitava cumprir aquela primeira aventura, pois a curiosidade me tomava por inteira. Minha amiga ouvia atenta cada palavra lida por mim. Sorria, arregalava os olhos e percebi que desejava falar algo, no entanto combinamos em deixar nossas considerações para o final, e assim o fizemos. — Ah! Vitória. Que romântica sua bisavó. Estou encantada com ela! — Eu também! Adorando esse romantismo todo e a esperança dela em ficar com seu amado. Me fez lembrar de quando me apaixonei por Aron. Entendo bem quando ela se refere às borboletas voando dentro de seu estômago. — Entendo também! Quando vi Arthur pela primeira vez, foi como se uma luz nova surgisse perante meus olhos. Uma luz com uma cor que jamais ti