Helena
Como sempre estou sentada no caramanchão, em um canto do jardim, nem toda a beleza e cuidado dispensado às plantas ao meu redor consegue alcançar o meu coração É uma dor tão profunda que me abate, um medo aterrador que não deixa com que a minha mente e o meu coração descanse. Passo a mão sobre o meu ventre que já está começando a ficar saliente, dando sinal da minha gravidez, a única coisa que me deixa feliz, é sentir os movimentos do meu filho na minha barriga. Mas até isso me traz ao mesmo tempo alegria e medo. Levo a mão ao meu ventre e acaricio essa pequena vida que se desenvolve dentro de mim, levanto meus olhos e vejo toda magnitude da natureza a minha volta. Estou em uma ilha particular, pertencente a meu pai, situada na Costa Verde do Rio de Janeiro, essa região é toda composta por mata Atlântica nativa, uma cordilheira de serras de frente para mar, com várias ilhotas particulares. Meu pai é um homem muito rico e minha mãe faleceu ainda na minha infância segundo os funcionários mais antigos, dizem que ela morreu de tristeza e depressão de tanto que ele a maltratava. Comigo não foi muito diferente. Ele simplesmente era um provedor e sempre exigia perfeição nos mínimos detalhes, não me recordo de ter recebido um abraço um beijo do meu pai, nunca! Todo carinho que recebi nos meus 19 anos de vida, foram desses fieis empregados que serviram a minha mãe antes de sua morte, principalmente a Maria. Ela sempre estava atenta às minhas necessidades, sempre pronta a me acolher quando eu sentia medo. Ela foi a minha babá, era muito jovem nessa época e me acompanha até hoje. A Maria é quem está comigo neste lugar isolado, além dela, tem três soldados e o Antônio um dos homem de confiança do meu pai. Não estou aqui a passeio e nem a descanso por ordem médica, mas sim por uma determinação do meu pai. Infelizmente sofri um desmaio e quando o médico falou que eu estava grávida, foi quando ele descobriu a minha gravidez meu pai me surrou até que as minhas costas estivessem sangrando e eu desfalecida. Ele ficou tão possesso, gritava que teria que dar um fim a esse problema, que minha gravidez não poderia atrapalhar os seus planos, nem ser uma vergonha para ele perante o conselho da máfia local. Ele tentou de todas as formas descobrir o nome do pai do meu filho, mas eu resisti e não falei pois sabia que se eu dissesse o nome dele, eu estaria assinando sua sentença de morte. Mas agora aqui nesse lugar isolado sem contato com ninguém e nem como fugir, sem ter como me comunicar com ele, pois o único que tem um telefone aqui é o Antônio, sei que ele está sempre em contato com meu pai, a angústia tem tomado conta de mim a cada dia. Antônio sempre se mantém distante, mas sempre atento, e eu tenho muito medo de tentar fugir e meu pai me surrar novamente e eu perder o meu bebê. Sei que meu pai não quer saber do meu bebê, e sei que ele é capaz de tudo, nunca que Salvatore Costelo aceitaria um neto bastardo para envergonhar o seu nome, ele prefere me ver morta do que permitir que isso aconteça. As vezes vejo a Maria conversando com o Antônio mas eles sempre discutem, eu sempre pergunto o motivo mas María sempre desconversa. Cada dia que passa eu vejo que meu bebê se desenvolve mais e a minha gravidez vai chegando ao fim, o meu coração se aperta de medo e de pavor. Nem o acompanhamento pré-natal ele permitiu que eu fizesse, estou totalmente isolada nesta Ilha, a única pessoa em que eu confio é a Maria. Maria é como se fosse a minha mãe, mas sei que contra o meu pai ela nada pode fazer! Nunca mais soube notícias de Felipe, desde o dia em que ficamos juntos ele foi enviado a uma missão, isso aconteceu quarenta dias antes do meu pai descobrir a minha gravidez, que na realidade foi uma surpresa até para mim. Eu amo o Felipe e nós nos encontrávamos às escondidas, meu pai sempre acreditou que eu deveria ter o mínimo de preparo físico em lutas e defesa pessoal até como proteção e Felipe era o meu instrutor, ele começou a me treinar após a morte do meu antigo instrutor em uma missão. Ele sempre foi muito atencioso comigo apesar de ser extremamente competente, o meu preparo físico é ótimo. Com o tempo acabamos nos envolvendo emocionalmente e eu sei que o Felipe me ama como eu o amo. Uma tarde após o treino não conseguimos nos controlar e acabamos fazendo amor. Foi maravilhoso! Felipe foi super carinhoso comigo, muito atencioso na minha primeira vez, me senti a mulher mais feliz em seus braços e ele me realizou completamente, mas dias depois o Dom o enviou em uma missão de urgência e até hoje não o vi mais. Meu pai nunca desconfiou do Felipe, por sorte como eu estou fazendo faculdade e ele acredita que algum garoto da faculdade é o pai de meu filho, algum Zé Ninguém Como ele diz. Meu coração sangra de angústia por não saber dele, e vivo aterrorizada pelo que vai acontecer com meu bebê. Não sei qual o real pensamento do meu pai, porém sei que não é nada bom, e isso me deixa muito ansiosa, se eu pudesse meu filho não sairia nunca de dentro do meu ventre, tenho um péssimo pressentimento em relação ao meu parto, e peço a Deus diariamente que guarde meu bebê, sinto que algo muito ruim vai acontecer, e sei que preciso proteger o meu filho. Maria se aproxima com uma bandeja com salada de frutas e sanduíches, eles tem feito o máximo para que eu possa me alimentar de uma forma mais natural possível, desde que meu pai me surrou, quem cuidou de meus ferimentos foi Maria, pensei que iria perder meu filho porém, Maria com sua sabedoria com ervas e chás conseguiu que minhas feridas cicatrizem rapidamente e meu filho sobreviveu às agressões físicas. Como meu pai não permitiu que eu ficasse em casa para fazer o pré natal que como ele disse: — Bastardo não tem direito a nada! Ele me isolou aqui para que ninguém saiba da minha gravidez. María cuida de mim com todo carinho e com uma alimentação mais saudável possível. Ela me ensina a fazer o enxoval do meu bebê em crochê e tricô, na casa tem uma velha máquina de costura a pedal, María costura as roupinhas com tecidos que achamos em um baú e eu bordo com a supervisão dela. Nessas horas consigo esquecer um pouco meus problemas, quando vejo os detalhes tão delicados surgirem nas peças que vestirão o meu filho.Felipe Já fazem meses que estou nessa missão, um trabalho cansativo, pois tenho que aguardar informações, observar o alvo, recolher informações e contatos.Não foi uma missão ao qual eu deva executar o alvo, mas sim investigar os detalhes da sua vida para que o Dom pudesse ter uma estratégia de ataque, por isso o Vicenzo solicitou os meus serviços. Esse é o nome do meu Dom Vicenzo de Luca!No momento, com toda a calmaria que estávamos vivendo, o conselheiro Salvatore Costelo pai da Helena solicitou ao Vicenzo um homem de confiança para fazer o treinamento de sua filha.Como o Dom estava interessado em uma aliança mais profunda com o homem, me enviou para que investigasse de perto se ele seria confiável.Minha estadia na casa estava tranquila até conhecer Helena, ela é linda, uma beleza incomparável, e meus instintos mais primitivos de proteção e posse vieram à tona.Preciso de Helena para mim. Percebi que o pai dela tem uma caráter bem duvidoso mas ainda não tive provas, a cada dia
Salvatore CosteloNesse momento estou pensando em uma forma de como eliminar o problema que a infeliz da minha filha arrumou com essa gravidez inesperada! Não perdi tanto tempo educando essa infeliz para que ela agora me apronte essa jogando meus planos por terra. Nunca tive um sentimento paternal em relação a Helena, simplesmente ela era o meio para que eu alcançasse os meus objetivos. Sentimentos é coisa para pessoas fracas e eu não tenho essa fraqueza, pessoas são objetos para serem usados ao meu favor ou descartados, nada mais! Esse era o propósito de Helena na minha vida, usá-la para alcançar os meus objetivos, a única coisa que me interessa nessa vida é o poder! É ele quem define quem você é! E eu não abro mão de alcançar essa posição não vai ser uma garota que pode me dá o poder pelo casamentoEstava pensando em casá-la com alguém do primeiro escalão do conselho, isso seria mais uma forma de me aproximar de Dom Vincenzo, mas ela teve que estragar tudo! Meus planos meti
Helena Os meses se passaram entre agulhas, bordados, tricôs e crochê e a cada dia o número de roupinhas aumentava e eu ficava tão feliz em poder fazer as roupas que vestiria o meu bebê. Enquanto estava distraída com esses afazeres não pensava no futuro, nem me recordava das promessas do meu pai, era como se eu vivesse em uma bolha toda minha, só existia eu Maria, Antônio e o bebê no meu ventre.Sim, Antônio, pois nesse tempo em que ficamos isolados ele se aproximou mas de mim e de Maria afinal éramos só nós nesta casa e assim nasceu um laço entre nós, eu sabia que ele estava ali encubido de uma missão, eu não sabia qual, mas enquanto isso não acontecia os nossos dias se passavam de forma leve tranquila. Às vezes Maria e Antônio discutiam por algo, sempre há uma certa distância e eu nunca conseguia ouvir, a Maria sempre desconversava, as vezes me dizia que era por causa dos soldados que faziam a segurança o motivo pelo qual eles brigavam.E com isso o tempo passou, eu já estava c
Helena As dores que começaram espaçadas e no começo apenas como incômodas cólicas progrediram a um nível insuportável, e a cada vez mais próximas.Maria sempre ao meu lado me incentivando a cada contração, mas parecia que nada resolvia para ajudar a fazer com que o parto acabasse logo com meu sofrimento. Entre um intervalo e outro, Maria passava uma toalha úmida pelo meu rosto o meu colo me trazendo no mínimo conforto me dava um pouco de água, pois meus lábios estavam muito secos, os intervalos das contrações estão sendo curtos, o que fa que logo após a contração voltava e cada vez mais forte.Eu via no rosto da Maria a preocupação estampada em sua face, mesmo ela tentando disfarçar eu sabia que alguma coisa não estava bem. Nesse momento peço a Deus que permita ao menos meu bebê viver e ser entregue ao Felipe, pois sei que ele vai cuidar bem dele.Eu nunca tive um pai que fosse carinhoso comigo, que eu realmente pudesse chamar de pai no verdadeiro sentido da palavra.Mas meu Lip
Já falei para você várias vezes Maria, tenho que sumir com essa criança essa criança não pode existir!–É ela ou eu! Você sabe que eu não tenho escolha! –Então Antônio eu vou te dar uma escolha, quis Deus que esse parto fosse difícil e que Helena estivesse desacordada. Eu vou pegar essa criança e vou sumir com ela no mundo, me ajude a sair daqui e nunca mais você me verá e nem verá essa criança! Diz Maria.–Me ajude a proteger esse ser inocente e a Helena, por favor Antônio! Imploro–E o que farei? O que falarei para Helena Maria? Ela tem você como mãe? –Diga a ela que a minha tristeza pela morte do bebê foi tão grande, que não tive coragem de olhar em seus olhos e fui embora. Mas que eu a amo, e meu coração ficou com ela!–Tá bom Maria Eu também não estava satisfeito com esse trabalho, é uma criança inofensiva vou ajudá-la a sair de sem que os guardas percebam.Pegue somente o suficiente que você consiga levar eu tenho algumas economias vou te dar. Diz Antônio –Maria, para qu
MariaMaria estava com o coração apertado e a mente confusa. Tudo parecia acontecer de forma tão rápida e caótica, como se o destino estivesse decidindo por ela, deixando-a sem escolhas. Após ser deixada por Antônio no cais naquela madrugada, seu espírito se viu tomado pela incerteza e pela angústia. Não sabia o que faria a seguir, mas uma coisa era clara em sua mente: Ela não podia permitir que Helena soubesse da verdade enquanto estivesse nas mãos de Salvatore. Não enquanto o monstro que era o pai de Helena ainda estivesse vivo. Não enquanto Clara, a pequena bebê que Maria agora segurava em seus braços, fosse uma moeda de troca ou um alvo nas mãos daquele homem.A primeira ação que Maria tomou foi impulsiva, mas necessária. Ela entrou em uma farmácia 24 horas, a única que ainda estava aberta naquele horário, com uma determinação que se misturava à sua desesperança. Não havia tempo a perder. Cada segundo poderia significar mais um passo de Salvatore em direção à verdade. Ele não
Maria Com a carta ainda nas mãos, Maria fez suas últimas verificações. Colocou todos os seus pertences em uma nova bolsa de viagem que comprara em um shopping 24 horas, recolocou a carta no envelope e guardou com cuidado no fundo da bolsa. Escolheu roupas simples e confortáveis, adequadas para a longa jornada que teria pela frente. A bolsa de Antônio foi deixada para trás, mas não sem antes pegar os itens de amamentação de Helena. Aquela parte da história precisava ser guardada para o futuro, não apenas para Clara, mas também para Helena, caso algum dia ela reencontrasse sua filha. Maria nunca desistiria de manter a memória viva.Com tudo preparado, Maria saiu do trocador e seguiu em direção à rodoviária, onde sabia que o destino estava à espera. O único ônibus disponível partia para o sul, para a região rural do país, longe da cidade, longe do alcance de Salvatore. Sem hesitar, comprou a passagem e entrou no ônibus. O veículo estava quase vazio, e Clara dormia em seu colo, tranq
MariaDepois de ser deixada pelo Antônio naquele cais no meio da noite saí daquele lugar desesperada.Imagino a dor que Helena não sentirá ao perceber que não terá sua filha nos braços? Realmente Helena escolheu muito bem o nome de sua filha. A Clara é linda e eu colocarei esse nome o nome escolhido por sua mãe esse será o seu nome de batismo não sei se a Clara algum dia reencontrará sua mãe mas juro fazer o que for possível para protegê-la.A carta escrita por Antônio não me sai da cabeça parece que foi gravada a fogo em minha mente:Lembranças on:Maria você é uma mulher incrível há muito tempo trabalhamos juntos e eu sempre tive muito interesse em você para ser mais sincero nesse mundo obscuro em que vivo o que sinto por você posso chamar de amor você sabe que eu teria que teria que executar a ordem do Senhor Salvatore mas por você Maria e pela pequena Helena Divina sim coloco minha vida em risco nessa bolsa estão as minhas economias espero que você consiga usá-las para te ajuda