Helena
Os meses se passaram entre agulhas, bordados, tricôs e crochê e a cada dia o número de roupinhas aumentava e eu ficava tão feliz em poder fazer as roupas que vestiria o meu bebê. Enquanto estava distraída com esses afazeres não pensava no futuro, nem me recordava das promessas do meu pai, era como se eu vivesse em uma bolha toda minha, só existia eu Maria, Antônio e o bebê no meu ventre. Sim, Antônio, pois nesse tempo em que ficamos isolados ele se aproximou mas de mim e de Maria afinal éramos só nós nesta casa e assim nasceu um laço entre nós, eu sabia que ele estava ali encubido de uma missão, eu não sabia qual, mas enquanto isso não acontecia os nossos dias se passavam de forma leve tranquila. Às vezes Maria e Antônio discutiam por algo, sempre há uma certa distância e eu nunca conseguia ouvir, a Maria sempre desconversava, as vezes me dizia que era por causa dos soldados que faziam a segurança o motivo pelo qual eles brigavam. E com isso o tempo passou, eu já estava com a minha barriga enorme, já não conseguia mais ver os meus pés, que se encontravam sempre inchados, não sabia precisar exatamente com quantos meses de gravidez eu estava, já que meu pai não permitiu que eu fizesse nem mesmo o primeiro ultrasom. Maria me cobria de mimos e cuidados, muitas vezes eu percebia em seu olhar uma certa preocupação, e ela sempre me incentivava a caminhar na faixa de areia que havia na ilha ou pelo jardim diariamente, ela dizia que isso me ajudaria quando chegasse a hora do bebê nascer. E assim nós fazíamos! Todos os dias ao amanhecer caminhávamos na faixa da areia de uma ponta a outra, várias vezes, eu tirava a sandália dos pés e sentia a areia úmida e muitas vezes as ondas até molhavam os meus pés. Conversavamos sobre o futuro e como seria o meu bebê! Eu dizia a Maria que ela seria como avó do meu bebê e que ele seria muito amado, tanto por mim pelo pai, como por ela, pois ela era como minha mãe, falei com ela que se o meu bebê fosse um menino que se chamaria Felipe mas se fosse uma menina se chamaria Clara. Maria me perguntou se esse era o nome do pai do meu bebê, eu fiquei em silêncio um bom tempo pensativa, se havia uma pessoa em quem eu confiaria a minha vida e a de meu filho essa pessoa era Maria. Olhei em volta confirmando que estávamos sozinha. – Sim Maria, o pai do meu filho é o Felipe, se algo acontecer comigo procure ele Maria. Você entende que isso é confidencial não entende Maria, meu pai manda matá-lo, e eu não quero isso para o homem que amo. Posso passar minha vida toda aqui isolada com meu filho. Eu não ligo! Mas não quero vê-lo morto. Digo –Me promete que não contará a ninguém sobre isso Maria? Ela me olhou nos olhos e disse: –Te prometo Helena, pelo amor que tenho a você ninguém saberá disso! Alguns dias depois me chamou atenção Maria sempre deixar lençóis toalhas tesoura e apetrechos higienizados em uma parte do guarda-roupa do meu quarto – Maria, para quê você separou essas peças? Vamos receber visitas? Pergunto. – Não, minha filha. Helena a hora do seu bebê nascer está próxima, seus pés já estão inchando, seu rosto também, sem contar que a sua barriga já está baixa. Acredito que o seu bebê já achou uma posição para nascer. Maria me responde –Você já deve começar a se preparar para o parto e esses utensílios eu já estou deixando preparados para a hora do nascimento do seu bebê, é bom estarmos preparados assim não tem nenhum problema nem correria. Fala me passando segurança. – Fique tranquila Helena, vai dar tudo certo! Fala Maria me passando confiança. Terminamos toda arrumação e limpeza do quarto a Maria me ajudou e após tomar uma boa ducha Maria pediu que eu sentasse na cama que ela iria fazer massagens no meu pé para aliviar a retenção de líquido Ficamos algum tempo conversando e fazendo planos para o futuro enquanto Maria massageava meus pés me trazendo um alívio para o peso e minhas pernas Maria Você acredita que eu serei uma boa mãe às vezes penso que não saberei cuidar do meu bebê. Maria Clara durante um tempo os movimentos que está fazendo em meus pés e diz: Sim Helena, você será uma ótima mãe, que você é uma mulher que sabe amar Isso é o principal para ser uma boa mãe. Então Maria eu serei uma ótima mãe porque eu amo demais esse serzinho que está aqui dentro de mim. Eu sei disso minha filha eu sei disso Após mais algum tempo Maria me traz uma sopa no quarto pois fiquei com preguiça de me levantar foi tão bom o alívio da massagem nos meus pés que eu prefiro ficar quietinha, não levou muito tempo e eu dormi estava cansada e o sono não demorou a chegar. Felipe está me sorrindo aquele sorriso lindo que me encantou desde a primeira vez que eu vi, ele se aproximava e me dizia para que eu fosse forte, beijava minha testa e colocava a mão na barriga fazendo uma leve carinho, nesse momento imagem começa a se desmarcar e eu acordo num susto, percebo que é um sonho. Me levanto para ir ao banheiro, uma coisa que já se tornou normal na minha vida, mas quando me aproximo da porta do banheiro sinto algo quente escorrer em grande qualidade pelas minhas pernas, olho e o chão está todo molhado. – MARIAAAA!!!!! Chamo por Maria, sei que meu bebê está na hora de nascer, sinto uma dor na minha lombar que se irradia pela minha barriga, retiro a calcinha molhada e me dirijo ao box, tomo um rápido banho e coloco uma camisola. Quando entro no quarto Maria já havia preparado a cama e os travesseiros e me pede para deitar e começar a monitorar as contrações. – Já volto minha filha, vou buscar o relógio da cozinha, fique tranquila, estarei aqui com você! Fala Maria.Helena As dores que começaram espaçadas e no começo apenas como incômodas cólicas progrediram a um nível insuportável, e a cada vez mais próximas.Maria sempre ao meu lado me incentivando a cada contração, mas parecia que nada resolvia para ajudar a fazer com que o parto acabasse logo com meu sofrimento. Entre um intervalo e outro, Maria passava uma toalha úmida pelo meu rosto o meu colo me trazendo no mínimo conforto me dava um pouco de água, pois meus lábios estavam muito secos, os intervalos das contrações estão sendo curtos, o que fa que logo após a contração voltava e cada vez mais forte.Eu via no rosto da Maria a preocupação estampada em sua face, mesmo ela tentando disfarçar eu sabia que alguma coisa não estava bem. Nesse momento peço a Deus que permita ao menos meu bebê viver e ser entregue ao Felipe, pois sei que ele vai cuidar bem dele.Eu nunca tive um pai que fosse carinhoso comigo, que eu realmente pudesse chamar de pai no verdadeiro sentido da palavra.Mas meu Lip
Já falei para você várias vezes Maria, tenho que sumir com essa criança essa criança não pode existir!–É ela ou eu! Você sabe que eu não tenho escolha! –Então Antônio eu vou te dar uma escolha, quis Deus que esse parto fosse difícil e que Helena estivesse desacordada. Eu vou pegar essa criança e vou sumir com ela no mundo, me ajude a sair daqui e nunca mais você me verá e nem verá essa criança! Diz Maria.–Me ajude a proteger esse ser inocente e a Helena, por favor Antônio! Imploro–E o que farei? O que falarei para Helena Maria? Ela tem você como mãe? –Diga a ela que a minha tristeza pela morte do bebê foi tão grande, que não tive coragem de olhar em seus olhos e fui embora. Mas que eu a amo, e meu coração ficou com ela!–Tá bom Maria Eu também não estava satisfeito com esse trabalho, é uma criança inofensiva vou ajudá-la a sair de sem que os guardas percebam.Pegue somente o suficiente que você consiga levar eu tenho algumas economias vou te dar. Diz Antônio –Maria, para qu
MariaMaria estava com o coração apertado e a mente confusa. Tudo parecia acontecer de forma tão rápida e caótica, como se o destino estivesse decidindo por ela, deixando-a sem escolhas. Após ser deixada por Antônio no cais naquela madrugada, seu espírito se viu tomado pela incerteza e pela angústia. Não sabia o que faria a seguir, mas uma coisa era clara em sua mente: Ela não podia permitir que Helena soubesse da verdade enquanto estivesse nas mãos de Salvatore. Não enquanto o monstro que era o pai de Helena ainda estivesse vivo. Não enquanto Clara, a pequena bebê que Maria agora segurava em seus braços, fosse uma moeda de troca ou um alvo nas mãos daquele homem.A primeira ação que Maria tomou foi impulsiva, mas necessária. Ela entrou em uma farmácia 24 horas, a única que ainda estava aberta naquele horário, com uma determinação que se misturava à sua desesperança. Não havia tempo a perder. Cada segundo poderia significar mais um passo de Salvatore em direção à verdade. Ele não
Maria Com a carta ainda nas mãos, Maria fez suas últimas verificações. Colocou todos os seus pertences em uma nova bolsa de viagem que comprara em um shopping 24 horas, recolocou a carta no envelope e guardou com cuidado no fundo da bolsa. Escolheu roupas simples e confortáveis, adequadas para a longa jornada que teria pela frente. A bolsa de Antônio foi deixada para trás, mas não sem antes pegar os itens de amamentação de Helena. Aquela parte da história precisava ser guardada para o futuro, não apenas para Clara, mas também para Helena, caso algum dia ela reencontrasse sua filha. Maria nunca desistiria de manter a memória viva.Com tudo preparado, Maria saiu do trocador e seguiu em direção à rodoviária, onde sabia que o destino estava à espera. O único ônibus disponível partia para o sul, para a região rural do país, longe da cidade, longe do alcance de Salvatore. Sem hesitar, comprou a passagem e entrou no ônibus. O veículo estava quase vazio, e Clara dormia em seu colo, tranq
MariaDepois de ser deixada pelo Antônio naquele cais no meio da noite saí daquele lugar desesperada.Imagino a dor que Helena não sentirá ao perceber que não terá sua filha nos braços? Realmente Helena escolheu muito bem o nome de sua filha. A Clara é linda e eu colocarei esse nome o nome escolhido por sua mãe esse será o seu nome de batismo não sei se a Clara algum dia reencontrará sua mãe mas juro fazer o que for possível para protegê-la.A carta escrita por Antônio não me sai da cabeça parece que foi gravada a fogo em minha mente:Lembranças on:Maria você é uma mulher incrível há muito tempo trabalhamos juntos e eu sempre tive muito interesse em você para ser mais sincero nesse mundo obscuro em que vivo o que sinto por você posso chamar de amor você sabe que eu teria que teria que executar a ordem do Senhor Salvatore mas por você Maria e pela pequena Helena Divina sim coloco minha vida em risco nessa bolsa estão as minhas economias espero que você consiga usá-las para te ajuda
MariaO peso da solidão também pesava sobre ela. Maria pensou em Helena, a jovem mãe que havia sido sua razão de viver até aquele momento. Ela sabia que, no fundo, não poderia voltar para ajudá-la. A dor de abandonar a amiga, mesmo sabendo que sua decisão era necessária para salvar a vida de Clara, era algo que a torturava. Como poderia ela viver com o fato de não poder proteger Helena de Salvatore? Maria se pegou pensando em tudo o que a jovem mãe passaria quando descobrisse que sua filha estava viva e longe de seus braços. Como ela lidaria com isso? Como poderia suportar a dor de perder um filho, mesmo sabendo que ele ainda estava vivo em algum lugar distante, em segurança?Maria olhou para Clara novamente, observando os pequenos traços do rosto da bebê e tentando afastar os pensamentos que a consumiam. Ela não podia mais se dar ao luxo de duvidar de sua decisão. A criança precisava dela, mais do que nunca. E era isso que importava. Clara precisava de proteção, de amor, de cuidado,
MariaA estrada de terra parecia interminável, serpenteando entre colinas e campos vastos, onde o vento brincava com os altos capins dourados. Maria ajustou Clara no colo, tentando protegê-la do sol que começava a se inclinar no céu. O cansaço da viagem era visível em seus olhos, mas havia também uma determinação silenciosa que mantinha seus passos firmes. No horizonte, uma pequena cidade começava a se desenhar, com seus telhados de barro e fachadas de madeira desbotadas pelo tempo.Era a cidade que o motorista do último ônibus havia recomendado. "Santa Esperança é pequena, mas é tranquila", ele dissera antes de seguir viagem. Era tudo o que Maria precisava naquele momento: tranquilidade.Ao se aproximar, o som distante de um sino anunciava a passagem das horas. A praça principal surgiu diante dela, ladeada por uma igreja simples, um mercadinho e uma fonte de pedra. Algumas crianças brincavam de correr ao redor da fonte, enquanto os adultos conversavam em tom baixo, como se respeitas
MARIA A madrugada na cidade era silenciosa, com o vento fresco que fazia as janelas rangirem levemente e carregava o perfume das flores do jardim. Maria acordou de sobressalto, como se um pensamento urgente tivesse invadido seu descanso. Clara dormia tranquila no berço, o pequeno peito subindo e descendo em um ritmo constante. Observá-la trouxe a Maria uma sensação mista de alívio e angústia. A segurança daquela pousada parecia temporária, como uma pausa em meio a uma longa corrida. O coração de Maria dizia que o destino ainda lhe reservava desafios. Mas, por enquanto, ela precisava de mais um pouco de calma. Assim, ao amanhecer, resolveu ajudar Dona Célia como forma de agradecer pela hospitalidade. — Vai mesmo querer ajudar? — perguntou a idosa, surpresa ao ver Maria com um avental amarrado à cintura. — Claro. A senhora já fez tanto por mim e Clara. Quero retribuir de alguma forma. Dona Célia sorriu. — Então venha. Vamos preparar os bolos que os hóspedes sempre pedem no café da