Helena
As dores que começaram espaçadas e no começo apenas como incômodas cólicas progrediram a um nível insuportável, e a cada vez mais próximas. Maria sempre ao meu lado me incentivando a cada contração, mas parecia que nada resolvia para ajudar a fazer com que o parto acabasse logo com meu sofrimento. Entre um intervalo e outro, Maria passava uma toalha úmida pelo meu rosto o meu colo me trazendo no mínimo conforto me dava um pouco de água, pois meus lábios estavam muito secos, os intervalos das contrações estão sendo curtos, o que fa que logo após a contração voltava e cada vez mais forte. Eu via no rosto da Maria a preocupação estampada em sua face, mesmo ela tentando disfarçar eu sabia que alguma coisa não estava bem. Nesse momento peço a Deus que permita ao menos meu bebê viver e ser entregue ao Felipe, pois sei que ele vai cuidar bem dele. Eu nunca tive um pai que fosse carinhoso comigo, que eu realmente pudesse chamar de pai no verdadeiro sentido da palavra. Mas meu Lipe seria um bom pai, eu sei disso, eu sinto no fundo do meu coração! Volto a mim com a voz da Maria me dizendo: –Calma menina! Calma logo vai passar descansa antes da próxima contração, eu vou buscar mais água na cozinha e já volto! –Meu Deus permita que meu filho viva! Oro em voz baixa e já cansada. Maria Saiu do quarto encontro Antônio na mesa da cozinheira com uma caneca de café nas mãos. –O que está acontecendo Maria? Pela sua aparência temos problemas, estou certo? Fala Antônio. — Antônio preciso de você, o parto de Helena se complicou, a criança não está coroando para nascer, a barriga dela está alta, aqui não temos recurso e se eu a deixar continuar fazendo força, com as contrações ela vai perder o resto das forças com o tempo, e eu vou perder a minha menina junto com o bebê, me ajude por favor! — Implora a Maria com lágrimas nos olhos. — Mas o que eu posso fazer Maria nunca fiz um parto na minha vida! Seria mais fácil se você me chamasse para matar alguns homens, agora fazer um parto? — Preciso que você suba na cama e empurre a barriga para baixo, não vai ser um procedimento fácil, mas é a única chance que temos de salvá-la! — Explica Maria. — Pelo tempo que ela está no trabalho de parto, o bebê já está em sofrimento, temos que fazer o possível e o momento é agora! Fala Maria com ênfase demonstrando a gravidade da situação. Volto para o quarto com o Antônio, Helena o vê e se apavora. – O que é isso Maria, porque o Antônio está aqui? Mande-o deixar o quarto. – Helena presta atenção! Preciso do Antônio, ele vai me ajudar a fazer o seu parto, é quem nós temos, peço que você nos ajude! Helena olha para Antônio desconfiada, mas acena positivamente com a cabeça. Vejo que outra contração a faz gritar de dor e Antônio me olha totalmente perdido. O aproximo da cama e mostro a ele como ele vai se posicionar, e o que fazer quando chegar a próxima contração. – Helena sei que não vai ser fácil mas preciso que você nos ajude, na próxima contração o Antônio vai empurrar a sua barriga, faça força empurre para baixo, ele vai te ajudar. Explico –Sei que não será fácil, mas tem que ser feito minha filha. Completa María, acariciando meu rosto suado pelo esforço contínuo, já que ela sabe que estou a horas em trabalho de parto. – Está bem Maria, não suporto mais esse suplício! Não vejo a hora de ter meu filho nos braços! – Então nos ajude menina, precisamos que você colabore! – Está começando Maria está começando, eu não suporto mais essa dor!!! – Não fale Helena, simplesmente empurre, empurre! Com toda a força, que você vai ter o seu filho nos braços, empurra, vamos Helena! – E você Antônio empurre! Empurre, a barriga de Helena para baixo! Sei que por mais que Antônio seja um homem da máfia, seu preparo é bem diferente. Eles são preparados para matar e não para que tragam bebês ao mundo. E o nervosismo é bem evidente seus olhos me olham ansiosos e sinto no seu toque o medo de machucar a Helena, já que seu universo é bem brutal. Porém Antônio faz o seu máximo para me auxiliar, sinto sua ansiedade, aliás todos estamos muito tensos. Está sendo um parto difícil e complicado, podemos perder a mãe e o bebê, pois Salvatore não permitiu acesso a nenhum médico, estamos contando com o preparo físico de Helena e a beneficência de Deus, e que o Senhor nos ajude a salvá-los! Helena grita de dor, seus lábios já estão perdendo a cor. Peço a Deus que preserve a vida desses dois seres tão preciosos para mim. Vejo o corpo dela ficar tenso, sinalizo para Antônio que novamente empurra a barriga de Helena. Nesse momento consigo amparar o bebê nas mãos, agradeço a Deus por esse milagre, ele ainda respira! O bebê não chorou e eu sai com ele do quarto, rapidamente entro no outro quarto e limpo sua boca e seu nariz com as mãos e depois com uma fralda de tecido higienizada, nesse momento ele chora fraco, mas chora! Eu o coloco sobre a cama de lado enrolado em uma manta, dou uma última olhada e vou ver Helena. Entro no quarto e aí a encontro desfalecida, mas respirando, peço ajuda a Antônio e troco toda a roupa da cama enquanto ele a segura nos braços após toda a cama arrumada a coloco e vejo que ela está muito fraca após tanto esforço, a recosto nos travesseiros e a cubro para manter a temperatura do corpo, chamo o Antônio para fora do quarto. Nesse momento preciso saber quais serão as atitudes que Antônio pretende ter em relação a Helena e ao bebê, então olho no fundo de seus olhos e pergunto: – Antônio seja totalmente sincero comigo, pela nossa amizade. Peço – O que você vai fazer com essa criança? Pergunto de forma direta.Já falei para você várias vezes Maria, tenho que sumir com essa criança essa criança não pode existir!–É ela ou eu! Você sabe que eu não tenho escolha! –Então Antônio eu vou te dar uma escolha, quis Deus que esse parto fosse difícil e que Helena estivesse desacordada. Eu vou pegar essa criança e vou sumir com ela no mundo, me ajude a sair daqui e nunca mais você me verá e nem verá essa criança! Diz Maria.–Me ajude a proteger esse ser inocente e a Helena, por favor Antônio! Imploro–E o que farei? O que falarei para Helena Maria? Ela tem você como mãe? –Diga a ela que a minha tristeza pela morte do bebê foi tão grande, que não tive coragem de olhar em seus olhos e fui embora. Mas que eu a amo, e meu coração ficou com ela!–Tá bom Maria Eu também não estava satisfeito com esse trabalho, é uma criança inofensiva vou ajudá-la a sair de sem que os guardas percebam.Pegue somente o suficiente que você consiga levar eu tenho algumas economias vou te dar. Diz Antônio –Maria, para qu
MariaMaria estava com o coração apertado e a mente confusa. Tudo parecia acontecer de forma tão rápida e caótica, como se o destino estivesse decidindo por ela, deixando-a sem escolhas. Após ser deixada por Antônio no cais naquela madrugada, seu espírito se viu tomado pela incerteza e pela angústia. Não sabia o que faria a seguir, mas uma coisa era clara em sua mente: Ela não podia permitir que Helena soubesse da verdade enquanto estivesse nas mãos de Salvatore. Não enquanto o monstro que era o pai de Helena ainda estivesse vivo. Não enquanto Clara, a pequena bebê que Maria agora segurava em seus braços, fosse uma moeda de troca ou um alvo nas mãos daquele homem.A primeira ação que Maria tomou foi impulsiva, mas necessária. Ela entrou em uma farmácia 24 horas, a única que ainda estava aberta naquele horário, com uma determinação que se misturava à sua desesperança. Não havia tempo a perder. Cada segundo poderia significar mais um passo de Salvatore em direção à verdade. Ele não
Maria Com a carta ainda nas mãos, Maria fez suas últimas verificações. Colocou todos os seus pertences em uma nova bolsa de viagem que comprara em um shopping 24 horas, recolocou a carta no envelope e guardou com cuidado no fundo da bolsa. Escolheu roupas simples e confortáveis, adequadas para a longa jornada que teria pela frente. A bolsa de Antônio foi deixada para trás, mas não sem antes pegar os itens de amamentação de Helena. Aquela parte da história precisava ser guardada para o futuro, não apenas para Clara, mas também para Helena, caso algum dia ela reencontrasse sua filha. Maria nunca desistiria de manter a memória viva.Com tudo preparado, Maria saiu do trocador e seguiu em direção à rodoviária, onde sabia que o destino estava à espera. O único ônibus disponível partia para o sul, para a região rural do país, longe da cidade, longe do alcance de Salvatore. Sem hesitar, comprou a passagem e entrou no ônibus. O veículo estava quase vazio, e Clara dormia em seu colo, tranq
MariaDepois de ser deixada pelo Antônio naquele cais no meio da noite saí daquele lugar desesperada.Imagino a dor que Helena não sentirá ao perceber que não terá sua filha nos braços? Realmente Helena escolheu muito bem o nome de sua filha. A Clara é linda e eu colocarei esse nome o nome escolhido por sua mãe esse será o seu nome de batismo não sei se a Clara algum dia reencontrará sua mãe mas juro fazer o que for possível para protegê-la.A carta escrita por Antônio não me sai da cabeça parece que foi gravada a fogo em minha mente:Lembranças on:Maria você é uma mulher incrível há muito tempo trabalhamos juntos e eu sempre tive muito interesse em você para ser mais sincero nesse mundo obscuro em que vivo o que sinto por você posso chamar de amor você sabe que eu teria que teria que executar a ordem do Senhor Salvatore mas por você Maria e pela pequena Helena Divina sim coloco minha vida em risco nessa bolsa estão as minhas economias espero que você consiga usá-las para te ajuda
MariaO peso da solidão também pesava sobre ela. Maria pensou em Helena, a jovem mãe que havia sido sua razão de viver até aquele momento. Ela sabia que, no fundo, não poderia voltar para ajudá-la. A dor de abandonar a amiga, mesmo sabendo que sua decisão era necessária para salvar a vida de Clara, era algo que a torturava. Como poderia ela viver com o fato de não poder proteger Helena de Salvatore? Maria se pegou pensando em tudo o que a jovem mãe passaria quando descobrisse que sua filha estava viva e longe de seus braços. Como ela lidaria com isso? Como poderia suportar a dor de perder um filho, mesmo sabendo que ele ainda estava vivo em algum lugar distante, em segurança?Maria olhou para Clara novamente, observando os pequenos traços do rosto da bebê e tentando afastar os pensamentos que a consumiam. Ela não podia mais se dar ao luxo de duvidar de sua decisão. A criança precisava dela, mais do que nunca. E era isso que importava. Clara precisava de proteção, de amor, de cuidado,
MariaA estrada de terra parecia interminável, serpenteando entre colinas e campos vastos, onde o vento brincava com os altos capins dourados. Maria ajustou Clara no colo, tentando protegê-la do sol que começava a se inclinar no céu. O cansaço da viagem era visível em seus olhos, mas havia também uma determinação silenciosa que mantinha seus passos firmes. No horizonte, uma pequena cidade começava a se desenhar, com seus telhados de barro e fachadas de madeira desbotadas pelo tempo.Era a cidade que o motorista do último ônibus havia recomendado. "Santa Esperança é pequena, mas é tranquila", ele dissera antes de seguir viagem. Era tudo o que Maria precisava naquele momento: tranquilidade.Ao se aproximar, o som distante de um sino anunciava a passagem das horas. A praça principal surgiu diante dela, ladeada por uma igreja simples, um mercadinho e uma fonte de pedra. Algumas crianças brincavam de correr ao redor da fonte, enquanto os adultos conversavam em tom baixo, como se respeitas
MARIA A madrugada na cidade era silenciosa, com o vento fresco que fazia as janelas rangirem levemente e carregava o perfume das flores do jardim. Maria acordou de sobressalto, como se um pensamento urgente tivesse invadido seu descanso. Clara dormia tranquila no berço, o pequeno peito subindo e descendo em um ritmo constante. Observá-la trouxe a Maria uma sensação mista de alívio e angústia. A segurança daquela pousada parecia temporária, como uma pausa em meio a uma longa corrida. O coração de Maria dizia que o destino ainda lhe reservava desafios. Mas, por enquanto, ela precisava de mais um pouco de calma. Assim, ao amanhecer, resolveu ajudar Dona Célia como forma de agradecer pela hospitalidade. — Vai mesmo querer ajudar? — perguntou a idosa, surpresa ao ver Maria com um avental amarrado à cintura. — Claro. A senhora já fez tanto por mim e Clara. Quero retribuir de alguma forma. Dona Célia sorriu. — Então venha. Vamos preparar os bolos que os hóspedes sempre pedem no café da
HelenaComo sempre estou sentada no caramanchão, em um canto do jardim, nem toda a beleza e cuidado dispensado às plantas ao meu redor consegue alcançar o meu coração É uma dor tão profunda que me abate, um medo aterrador que não deixa com que a minha mente e o meu coração descanse. Passo a mão sobre o meu ventre que já está começando a ficar saliente, dando sinal da minha gravidez, a única coisa que me deixa feliz, é sentir os movimentos do meu filho na minha barriga. Mas até isso me traz ao mesmo tempo alegria e medo. Levo a mão ao meu ventre e acaricio essa pequena vida que se desenvolve dentro de mim, levanto meus olhos e vejo toda magnitude da natureza a minha volta. Estou em uma ilha particular, pertencente a meu pai, situada na Costa Verde do Rio de Janeiro, essa região é toda composta por mata Atlântica nativa, uma cordilheira de serras de frente para mar, com várias ilhotas particulares. Meu pai é um homem muito rico e minha mãe faleceu ainda na minha infância segundo o