1. Retorno

América Sullivan 

Pouca coisa tinha mudado. 

É a primeira impressão que tenho assim que o carro adentra a cidade. Tinha muito tempo, claro, 7 anos, mas mesmo assim me lembrava de cada detalhe e as memórias boas enchem a minha mente cada vez que os meus olhos alcançam um ponto diferente. Eu estou morando em Charlotte, na Carolina do Norte, e estava retornando a Jacksonville Beach  para o casamento da minha irmã, e iria passar um mês antes de retornar, ela fazia questão da minha presença em tudo que envolve a preparação do seu casamento. 

Jacksonville Beach era uma pequena cidade com pouco mais de 22 mil habitantes, localizada no estado da Flórida. Só não confunda  com Jacksonville, uma das cidades mais populosas da Flórida. 

Foram horas de viagem até aqui. 

Observo tudo no caminho até a minha casa. 

- Está vendo Billy? - pergunto ao meu cachorro, um Golden retriever adulto.- Foi aqui que a mamãe cresceu.- Ele late com a cabeça na janela. 

O taxista me olha pelo retrovisor, deve estar pensando que sou louca.  Dou uma risada.  

Que saudade, tanta saudade como pude passar tantos anos sem vir aqui?  Nem eu sei. 

Acabei de me lembrar, algumas pessoas. Quando somos adolescentes fazemos muitas burradas por causa de corações quebrados, e esse foi meu erro, mas foi um erro dentro de várias reviravoltas da minha vida.. 

Um mal entendido pode corromper uma vida, uma alma.  

E uma mágoa pode afundar todos os sentimentos. 

Mas também não vou culpar o meu motivo por todos os anos, para sair daqui eu uni o útil ao desagradável, eu queria fazer faculdade e apareceu a deixa, então me peguei nela, é claro que nos primeiros anos, os erros, os mal entendidos, a vergonha, a mágoa, foram a real razão, de não querer vir nas férias, ou em feriados, aniversários, mas depois acabei me acostumando, o trabalho me ocupava, depois a faculdade ocupava a outra parte, e acabou que  não deu certo mais vir, porque mesmo depois de tudo, eu continuava amando eles. 

Quando eu fui embora, eu fui como perdedora. 

E tudo isso me machucou. Mas eles também me machucaram, muito.  Família é amor, mas família também machuca.  

E eu estava machucada. 

Prazer, América, não a América Singer, que tem o Maxon, mas América Sullivan, que tem um cachorro, e também é conhecida como a filha ingrata de Matthew e Alicia.  

Eu e a minha mãe já não nos dávamos muito bem, e depois que eu fui embora piorou,aos olhos dela, isso parece ainda pior. Me chamou de covarde, vários xingamentos, que desejava que eu passasse o pão que o diabo amassou por envergonhar a família. 

Falou que eu sempre quis ir embora e largar a família, e que além de tudo acabei com toda a qualidade da família, e quando ela descobriu que tinha ido em uma clínica, foi o ápice para ela me expulsar. 

Eu sei que muita gente me julga, mas ninguém sabe o que eu passei, aquilo lá pode ter sido burrada de adolescente? Claro que sim, mas naquela época parecia a coisa mais certa do mundo, quem nunca errou que atire a primeira pedra.  

Depois de alguns minutos, chegamos ao meu destino. 

Era uma rua com casas grandes e antigas, mas tão bem conservadas que pareciam novas, ao fundo das casas, ficava o mar. Eu amava sentar na areia e ficar vendo as ondas. 

Assim que desço do carro, já vejo meu pai em pé, me olhando. A sua filha, depois de anos, volta com um Golden e uma mala. 

Quanta saudade! De tudo.  

Assim que eu desço do carro corro para os braços dos meu pai, seus braços sempre foram meu porto seguro, sempre.  

— Pai! Quanta saudade! — já começo a chorar, enquanto Billy late.

As pessoas tendem a achar que é fácil sair de casa, morar fora, viver longe de tudo que está com você desde que nasceu. 

Independente de qualquer coisa não é.  

Dói, saudade machuca, você se sente sozinha. Me afasto de seu abraço para olhar ele todo, e ele faz o mesmo.  

— Desculpa todos esses anos pai. - digo olhando em seus olhos — Perdão mesmo.  

— Filha, o importante é que você está aqui agora — fala com seu jeito carinhoso de sempre, me abraçando.

Meu pai sempre  foi uma pessoa muito tranquila, calmo, e nunca mudou, admirava tanto ele. Tinha o coração do tamanho do mundo. 

— Onde está todo mundo? – pergunto olhando ao redor, já na expectativa em eles, e até minha mãe. .  

— Senhora? — escuto um pigarro, e me lembro do taxista.  

— Ô Meu Deus me desculpe! — Volto para pegar minhas malas e pagar ele.  

Escuto a risada do meu pai da área da casa, e volto de encontro a ele com minhas malas na mão. 

— Estão todos trabalhando — fala me ajudando enquanto entramos em casa como Billy logo atrás. — E a bisa está lá em cima.  

Meu pai tinha desenvolvido um sério problema na coluna, então ele não trabalhava mais, mas ele brinca com Billy do modo que dá. 

— É o mesmo quarto? — Pergunto ao meu pai que me olha atentamente — Billy, não saia para fora. 

Ele late concordando. 

— Você ainda parece ter 17 anos — ele fala seu tom de voz parecia até culpado, eu dou um sorriso mas não falo nada e observo a casa. 

A casa não mudou nada, talvez uma reforma, mas sem nada diferente. Era uma casa grande, da época da minha bisavó e que abrigava a maior parte da minha família.  

Moravam aqui, minha mãe e meu pai, vovô Benjamin, meus irmãos gêmeos Justin e Cole, minhas irmãs Susan e Liana, meu irmão mais velho Dylan e a Bisa.  

Ninguém além de mim saiu de casa, e com exceção da minha mãe que não perde oportunidade de falar o quanto eu sou uma decepção, eu sei também o quanto todos eles ficaram decepcionados quando eu fui, e se falam pelo menos não é na minha frente.  

Passo os olhos pela estante cheia de fotos, no geral somos todos parecidos, cabelos castanhos, meus irmãos tinham os olhos castanhos, eu era a única de olhos verdes, eu sou a mais baixa, com 1,65.

Deixo meu pai na sala e sigo para as escadas, em direção ao quarto da bisa.  

Vou abrindo a porta devagar e já vejo ela sentada na varanda do quarto.  

Minha bisa era uma mulher guerreira, sofreu o pão que o diabo amassou para criar o único filho depois de ser expulsa de casa, quando Mattew, seu primeiro filho, tinha 5 anos ela se mudou para Jack Beach e conheceu o grande fazendeiro Jesse Sullivan, que viria a se tornar seu grande e único amor, e com ele teve o vovô Ben, a pequena Amélia.  

Infelizmente a Bisa perdeu seu primeiro filho e sua caçula, antes que estes pudessem desfrutar da juventude, juntamente com seu marido em um trágico acidente. Não conseguiu ficar na casa em que moravam na fazenda, então comprou essa casa e veio morar aqui.  

Agora Dylan e o vovô Ben cuidam das coisas lá da fazenda.  

— Bisa? - falo já sentindo os olhos marejaram, enquanto caminho até ela e me abaixo na sua frente. — Sabe quem eu sou?  

— Conheceria sua voz mesmo que se passasse duzentos anos minha filha. — dá um sorriso.

A Bisa tinha perdido a visão de um dos olhos a um tempo, tinha também perdido a capacidade de se locomover sem ajuda, e foi diagnosticada em uma fase avançada de Alzheimer.  

— Nunca duvidaria disso — eu falo fazendo carinho nas suas mãos.  

— Mais tarde vou pentear seu cabelo Amélia –- fala olhando para frente, e dou outro sorriso.- Está parecendo um ninho de passarinho.  

Eu sei que nesse momento ela deve está me confundindo com a sua filha, mas só consigo me lembrar que desde sempre ela me chama de Amélia, o nome que queria me dar, mas minha mãe não concordou.  

— Quantas vezes a senhora quiser, ok? — falo dando um beijo na sua bochecha, com os olhos cheios de água. — Também quero a canção de ninar para dormir, e que me deixe correr pelo quintal do vizinho. 

— Amélia levada! Sempre querendo mais — fala gentilmente passando a mão sobre minha cabeça — Mas na hora de dormir eu conto uma linda história.  

Dou-lhe outro beijo e saio do quarto antes que eu chore na sua frente. Vou em direção ao meu antigo quarto e suspiro, talvez a parte que eu mais me arrependo, é não ter dito a ela o quanto a amo mais vezes..  

Porque de todos, ela  sempre esteve ao meu lado.

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