4. Palavras machucam

América Sullivan 

Estou no meu quarto procurando alguma roupa confortável na mala, encontro um conjunto de pijama e pego. 

Estava vestindo ele quando escuto vozes altas vindo da sala. 

Eu conheço a voz, era minha mãe.  

Brigando com todo mundo para variar, e o motivo da vez deveria ser eu.  

Eu sei que minha mãe foi contra eu vim para cá depois de anos, ela não me queria aqui, para envergonhar a família novamente ou estragar o casamento de sua filha, e sei que meu pai e Liana que convenceram ela, ele  nunca ia me deixar na rua, ou ficar em outro lugar, e então com o pedido da filha predileta dela e do marido ela resolveu me  "abrigar". 

— Vem como se nada tivesse acontecido! Depois de envergonhar a família! — escuto a voz dela. Isso é com certeza sobre mim, ela não mudou nada. — Você sabia que a fama de puta dela ainda rola? Hipócrita da parte dela, e ainda trás cachorro! 

Billy late. 

— Shiuuuu! — faço para ele. 

— Querida, por favor.. .. — não escuto o restante que meu pai diz. Suspiro e me deito na cama, é melhor eu não descer para o jantar. Na verdade, é melhor eu nem ficar aqui.  

Liana era filha predileta da minha mãe, e ela sempre fazia questão de dizer, depois de Liana vinha Susan.

Eu sei que quase estraguei o namoro de Liana, mesmo sem ter culpa de nada, e eu não sei como vai ser quando tiver que encontrar eles, porque vai ser inevitável. 

Eu não sei minha reação ao encontrar Josh, não sei como vão estar meus sentimentos, me sinto muito confusa na verdade, ele foi o grande amor da minha vida até hoje, eu nunca me envolvi com ninguém como foi com ele. Naqueles primeiros anos que fui embora a culpa e o rancor me dominaram.  Eu senti uma avalanche de sentimentos ruins.  

Eu passei por tanta coisa, mas não voltei, e venci os maiores desafios.  

Algum tempo depois, eu comecei a receber mensagens do meu pai e Liana, como se nada tivesse acontecido.

No começo ignorei, depois eu percebi que ficar com esses sentimentos dentro de mim, não era pior para eles, era pior para mim, que não conseguiria seguir em frente desse modo.

Minha relação com Liana era de realmente irmãs. Sei que poderia contar com ela para tudo, independente do passado. Já com Susan, o negócio era muito diferente, eu a amava, mas a relação era conturbada. 

Escuto fracas batidas na porta, e vejo ela abrir devagar. Era Cole. 

— Oi, posso deitar aí com você? — ele pergunta, carrega na mão um pacote de salgadinhos.  

— Claro — dou espaço e ele se deita comigo olhando para o teto do quarto. — Você escutou o que a mamãe estava dizendo né? — pergunta receoso. 

— Algumas coisas— ele faz carinho no meu cabelo com uma mão e com a outra começa a comer o salgadinho. — E está tudo bem, não me abalo como antes.  

— Não dê ousadia para o que ela fala, tá? — me olha preocupada.  Dou um sorriso a ele.  

— Nunca dei, não vai ser agora. — falo, mas por dentro é outra história. — Onde estão as meninas e o vovô Ben?  

— Liana está com Derek, Vovô Ben está lá embaixo,— ele fala, amava o vovô Ben — Susan, bem, ela não sei onde está, e Dylan também já chegou.  

Eu amo todos os meus irmãos, todos, mas eu e Dylan na última vez que nos falamos, brigamos muito feio, isso tem anos.  

— Acho melhor deixar para falar com o vovô amanhã então.— falo e ele me olha novamente com o olhar triste.  

— Acho melhor também. 

Escuto novamente batidas na porta.  

Encaro Cole, nenhuma outra pessoa viria ao meu quarto. Mas mudo de ideia quando vejo a cabeça branca do vovô Ben, pulo da cama e corro em sua direção.  

— Vovô!! 

— Minha princesa! — ele fala me abraçando. Que abraço bom. — Fiquei sabendo que os meus netos preferidos estavam em um só lugar. 

Eu ri.  

— Ele deve falar a mesma coisa para os outros. — Cole fala. 

— Não mesmo, — vovô fala, e me encara com seus olhos azuis como os meus. — Como você está minha filha?  

O olhar dele dizia a preocupação com o que minha mãe tinha falado lá em baixo.  — Estou muito melhor agora no seu abraço.— falo e o abraço novamente. — E no meu? — Cole fala indignado.  

— Tem para todo mundo! — o chamo com a mão para o abraço.— Vem cá bebezão.  Ele bufa, mas vem para o abraço em trio.  

— Quanta saudade eu estava. — falo.  

— Este foi o melhor abraço do mundo. — meu avô nos solta. — Mas preciso ir tomar um banho, fique com Deus minha filha.  

Me dá um beijo nos cabelos antes de ir, eu e Cole voltamos para a cama.  Olho para o teto novamente e penso na vida.  

Perdemos coisas tão maravilhosas por besteiras. E nos contentamos com tão pouco. 

Perdi anos longe da minha família, mas apesar de me sentir culpada, não me arrependo, foi necessário.  

Em nome de mim, da minha saúde mental e do meu amor próprio.  Eu também vim com outro propósito.  

Mas isso logo será revelado. 

— O que tanto pensa? — Cole pergunta.  

— Na vida e em tudo, né.  

— Meri......... 

— Acima de tudo,— eu o corto delicadamente — estou muito feliz por ter vindo.  Ele me abraça.  

— E eu estou muito feliz que você tenha vindo. Eu amo você Meri.  — E eu amo você Cole.— falo com a voz cortada, e os olhos cheios de lágrimas.  

Acabamos dormindo abraçados, e quando eu espanto já era de madrugada. Pego o celular e olho as horas.  

São 02:44 da madrugada. 

Quando me levanto Billy me olha.  

— Fique aí, vou beber água.— falo baixo. 

Respiro fundo e desço para beber um pouco de água. 

Vou descalço para não fazer tanto barulho, e quando vou chegando perto da cozinha escuto vozes falando bem baixinho. 

— Shiii! Não podemos fazer barulho! — eu reconheço a voz de Susan. — Por que? — franzi a testa quando escuto a voz de um garoto.  

— A idiota da minha irmã chegou de viagem, e o quarto dela e bem na parte acima da cozinha.— ela fala e sinto um aperto no peito.  

— A irmã que você fala é aquela que.......— ele começa, mas para. — Sim, a puta.— o aperto aumenta. 

Ele ri mais ainda e fala:  

— Eu me lembro da época daquele escândalo, coitada da sua família. 

— A minha família ficou arrasada, foi vergonha para todos nós, agora ela volta querendo ser a puritana, e com certeza quer o Josh de volta.

O rapaz ri e eu perco a sede e volto para meu quarto.  

Eu sabia que era esse o pensamento, mas escutar era mil vezes pior.  

Quando entro de volta ao meu quarto, Cole está sentado na cama esfregando os olhos.  

— Já ia te procurar— ele fala, diferente de mim que não consigo pronunciar mais nenhuma palavra.  

Eu simplesmente deito na cama e vejo quando ele deita ao meu lado, ele me abraça novamente e lágrimas começam escorrer pelo meu, rosto acho que acabo molhando o braço dele que estou apoiando minha cabeça. 

— O que foi Meri? — pergunta preocupado, aí senti minhas lágrimas.  Eu só faço que não com a cabeça, e espero que eu consiga dormir novamente. Quando decidi vir, sabia que ia escutar e ver coisas do passado.  Mas meu erro foi pensar que eu tinha superado.  

Que essas coisas não me atingiram, fui tola.  

Se essas simples palavras estão me fazendo ficar assim?  

Como vou ficar quando ver ele?  

Porque não vai ter jeito, vai ser impossível evitar ele, o cunhado da minha irmã.

Meu ex amor. 

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