2. Os Gêmeos

Meu quarto não mudou nada. 

Continuava grande, as paredes brancas com os posters das minhas bandas favoritas, uma das paredes com todas as fotos que tirei na adolescência. A mesma cama de casal, o mesmo guarda roupa, a escrivaninha com o porta retrato da família e algumas antigas coisas, tudo da mesma maneira. 

Me sento na cama e vejo quando Billy abre a porta me procurando e vem até mim. 

— Me achou mamãe? — ele balança o rabo animado.

Billy era 50% da minha vida. Sem ele, não sei o que seria de mim, ele me salvou e eu salvei ele. 

Estava comigo desde que era um filhotinho. Coloquei seu nome assim porque uma vez, uma colega da faculdade me falou que se tivesse um cachorro o chamaria de Billy, ela faleceu 1 mês depois, em um acidente de carro..  

— O que você está achando da casa? — pergunto enquanto afago seu pêlo. Ele late. — Espera só até você ver a fazenda. Você vai amar correr por lá. 

Ele latiu animado. 

— É meu filho, sua mamãe está com um sentimento tão ruim no peito. - falo me deitando e olhando para o teto do quarto. — Acho que é ressentimento e medo.  

Escuto seu latido e sinto o colchão afundar quando ele sobe e deita ao meu lado. 

— Você acha que foi uma boa ideia vim? Sinto que tudo o que eu sentia aumentou quando eu  vi.

Eu tenho medo da minha reação quando ver algumas pessoas, principalmente ele.  

Ele late novamente.  

— Você tem razão, não foi tudo culpa minha. Eu só fui aquela que não mereceu um voto de confiança de ninguém. 

Sinto sua lambida no meu rosto e só então percebo que estava chorando.

— Billy, eu acho que estou com medo de não saber o que me espera ou o que está por vir. Mas eu tenho você né.  

Ele late várias vezes. Aquilo para mim dizia:  

" Claro que você tem a mim mãe, tá louca de pensar diferente" 

Eu ri sozinha. 

— Mas vai dar tudo certo, vamos achar o que estamos procurando.

Ele late.

— Você me faz muito feliz Billy, eu amo você. 

Ele pula em cima de mim me abraçando ao seu modo canino. 

De repente, escuto um barulho lá embaixo, uma gritaria na verdade. 

Levanto da cama como o flash e desço as escadas em direção a grande barulheira, que está vindo da cozinha. A cozinha, também era enorme, tinha a parte aberta que dava para os fundos da casa, e tinha uma grande mesa no centro dela.  

E é lá que vejo duas pessoas idênticas brigando por um pacote de salgadinho. Garotos de 1.80 brigando igual crianças.  

Saudade demais.  

— Vocês não mudaram nada! — assim que falo, os olhos dos gêmeos ficam em mim. 

Demora apenas alguns segundos para assimilarem que eu sou, e em seguida recebi dois abraços de urso. 

— América! 

— Meri! 

— Vocês vão me matar! — gargalhei. 

— Quanta saudade eu estava de você irmã! — Justin fala. 

— Muita, muita! — Cole completa. 

Quem convive nunca se confunde, mas eles eram idênticos, só por fora também, porque os pensamentos são outros.  

Justin era descolado, jogador do time de futebol da escola, enquanto Cole era totalmente ao contrário, não tinha paixão por esportes, preferia livros, e era na dele.  

Eu costumava dizer que Cole era o papai e Justin a mamãe. Estavam muito altos, os dois, mais que Dylan na idade deles, e olha que os dois só tinha 17 anos, e ainda brigavam por salgadinhos.  

- Meu Deus! Vocês estão enormes! - falo olhando para eles. - Vocês eram meus bebês! 

- Méri, já passamos dessa fase. - Cole fala e volta para mesa, vou também e Justin me segue logo atrás.  

- Isso são músculos? - falo pegando no braço de Justin que se sentou ao meu lado. — Cadê os caçulas que eu deixei aqui em?  

- Sim, e vou ficar ainda mais nessa última temporada de treinos — fala orgulhoso

— Deve ser o sucesso das garotas na escola. - falo rindo 

— Com certeza! Sou o capitão do time! 

— Sério?! Parabéns Justin! — falou abraçando ele. — E você Cole? 

Ele fica vermelho na hora.  

— Esse aí de tímido só tem a cara — Justin falou me cutucando, eu olho para Cole e arqueio a sobrancelha.  

— Não é assim.- se defende — Aquela líder de torcida não falou toda verdade! E você é um idiota por terminar de espalhar isso! 

Já vejo nervos exaltados.

— Ei, ei, calma! - falo com medo dos dois brigarem. — Não precisa falar sobre, e Cole fiquei sabendo que é líder do Grêmio da escola? - ele sorriu para mim 

— Sim, como você foi na sua época! - ele me dá um sorriso tão grande — Você sabe, eu me inspirei em você.  

Meus olhos se encheram de lágrimas no exato momento, nem consegui formular uma palavra decente, só o abracei bem apertado.  

— Como pode ficar tanto tempo sem esse abraço ? - Olho para a entrada da cozinha e vejo meu pai, que logo se junta a nós.  

— Porque o abraço da saudade é o melhor! — falo para ele.  

— Não acho que me abraçou tanto assim. — ele fala fingindo mágoa.  

— Vocês estão vendo meninos? — falo olhando para Cole e Justin. — Ele teve meu abraço só para ele quando eu cheguei, e agora se faz de inocente.  

— Pai você é um dramático.— Justin fala.  

Nós rimos.  

— Isso é tão verdade. — eu falo. Meu pai ri ainda mais.  

— Você fez tanta falta nessa casa filha — meu pai falou segurando minha mão.— Você era a alegria.  

— Ah pai! Não me faça chorar novamente! Vou ficar desidratada — brinco com ele

Ficamos conversando, quer dizer, apenas eles porque eu só escutava as histórias dos dois junto com meu pai, ele já deve ter escutado umas mil vezes, mas estava ali novamente para escutar comigo como se fosse a primeira vez.  

 Meus garotos já são quase homens feitos. E eu pude perceber uma coisa, que nenhum dos dois queriam ficar na cidade quando se formassem, seus sonhos eram fora das fronteiras de Jacksonville Beach. 

Eu com certeza levaria a culpa da influência, mais uma culpa para a conta. 

Mas não quero pensar nisso no momento, eu só quero que eles saibam que independente das decisões dos dois, eu estaria ali para eles. Como ninguém esteve, ou pode estar por mim.   

Às vezes até parece egoísmo meu falando, mas lá para frente todo mundo vai entender.  

E meus irmãos, talvez eles também só precisassem de alguém que apoiasse seus sonhos.  

Penso em como muita coisa teria sido diferente se eu tivesse ficado, e em nenhum dos pensamentos seria uma vida muito feliz.  

Não depois do que aconteceu.  

Então porque me culpo tanto? Porque me julgo tanto?  

Será se é porque as pessoas fazem exatamente isso comigo? Me julgam, me culpam, e nem sabem o que aconteceu, se era verdade ou mentira, nem quiseram ouvir a minha versão, a verdadeira versão.  

Preferiram acreditar no que era mais fácil.  

Eu não era digna. 

Nunca fui.  

Meu celular vibra no bolso, eu pego e vejo a mensagem de um número desconhecido.

"Você voltou! Estou ansioso para te ver!” Ignoro, essa já é a quinta mensagem que recebo de números desconhecidos nos últimos dias, e não quero nem imaginar quem é. 

Billy late chamando atenção, podia não se digna para os outros, mas para ele com certeza eu era digna.  

— Meninos, esse é Billy, o sobrinho de vocês! 

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