Meu quarto não mudou nada.
Continuava grande, as paredes brancas com os posters das minhas bandas favoritas, uma das paredes com todas as fotos que tirei na adolescência. A mesma cama de casal, o mesmo guarda roupa, a escrivaninha com o porta retrato da família e algumas antigas coisas, tudo da mesma maneira. Me sento na cama e vejo quando Billy abre a porta me procurando e vem até mim. — Me achou mamãe? — ele balança o rabo animado.Billy era 50% da minha vida. Sem ele, não sei o que seria de mim, ele me salvou e eu salvei ele. Estava comigo desde que era um filhotinho. Coloquei seu nome assim porque uma vez, uma colega da faculdade me falou que se tivesse um cachorro o chamaria de Billy, ela faleceu 1 mês depois, em um acidente de carro.. — O que você está achando da casa? — pergunto enquanto afago seu pêlo. Ele late. — Espera só até você ver a fazenda. Você vai amar correr por lá. Ele latiu animado. — É meu filho, sua mamãe está com um sentimento tão ruim no peito. - falo me deitando e olhando para o teto do quarto. — Acho que é ressentimento e medo. Escuto seu latido e sinto o colchão afundar quando ele sobe e deita ao meu lado. — Você acha que foi uma boa ideia vim? Sinto que tudo o que eu sentia aumentou quando eu vi.Eu tenho medo da minha reação quando ver algumas pessoas, principalmente ele. Ele late novamente. — Você tem razão, não foi tudo culpa minha. Eu só fui aquela que não mereceu um voto de confiança de ninguém. Sinto sua lambida no meu rosto e só então percebo que estava chorando.— Billy, eu acho que estou com medo de não saber o que me espera ou o que está por vir. Mas eu tenho você né. Ele late várias vezes. Aquilo para mim dizia: " Claro que você tem a mim mãe, tá louca de pensar diferente" Eu ri sozinha. — Mas vai dar tudo certo, vamos achar o que estamos procurando.Ele late.— Você me faz muito feliz Billy, eu amo você. Ele pula em cima de mim me abraçando ao seu modo canino. De repente, escuto um barulho lá embaixo, uma gritaria na verdade. Levanto da cama como o flash e desço as escadas em direção a grande barulheira, que está vindo da cozinha. A cozinha, também era enorme, tinha a parte aberta que dava para os fundos da casa, e tinha uma grande mesa no centro dela. E é lá que vejo duas pessoas idênticas brigando por um pacote de salgadinho. Garotos de 1.80 brigando igual crianças. Saudade demais. — Vocês não mudaram nada! — assim que falo, os olhos dos gêmeos ficam em mim. Demora apenas alguns segundos para assimilarem que eu sou, e em seguida recebi dois abraços de urso. — América! — Meri! — Vocês vão me matar! — gargalhei. — Quanta saudade eu estava de você irmã! — Justin fala. — Muita, muita! — Cole completa. Quem convive nunca se confunde, mas eles eram idênticos, só por fora também, porque os pensamentos são outros. Justin era descolado, jogador do time de futebol da escola, enquanto Cole era totalmente ao contrário, não tinha paixão por esportes, preferia livros, e era na dele. Eu costumava dizer que Cole era o papai e Justin a mamãe. Estavam muito altos, os dois, mais que Dylan na idade deles, e olha que os dois só tinha 17 anos, e ainda brigavam por salgadinhos. - Meu Deus! Vocês estão enormes! - falo olhando para eles. - Vocês eram meus bebês! - Méri, já passamos dessa fase. - Cole fala e volta para mesa, vou também e Justin me segue logo atrás. - Isso são músculos? - falo pegando no braço de Justin que se sentou ao meu lado. — Cadê os caçulas que eu deixei aqui em? - Sim, e vou ficar ainda mais nessa última temporada de treinos — fala orgulhoso— Deve ser o sucesso das garotas na escola. - falo rindo — Com certeza! Sou o capitão do time! — Sério?! Parabéns Justin! — falou abraçando ele. — E você Cole? Ele fica vermelho na hora. — Esse aí de tímido só tem a cara — Justin falou me cutucando, eu olho para Cole e arqueio a sobrancelha. — Não é assim.- se defende — Aquela líder de torcida não falou toda verdade! E você é um idiota por terminar de espalhar isso! Já vejo nervos exaltados.— Ei, ei, calma! - falo com medo dos dois brigarem. — Não precisa falar sobre, e Cole fiquei sabendo que é líder do Grêmio da escola? - ele sorriu para mim — Sim, como você foi na sua época! - ele me dá um sorriso tão grande — Você sabe, eu me inspirei em você. Meus olhos se encheram de lágrimas no exato momento, nem consegui formular uma palavra decente, só o abracei bem apertado. — Como pode ficar tanto tempo sem esse abraço ? - Olho para a entrada da cozinha e vejo meu pai, que logo se junta a nós. — Porque o abraço da saudade é o melhor! — falo para ele. — Não acho que me abraçou tanto assim. — ele fala fingindo mágoa. — Vocês estão vendo meninos? — falo olhando para Cole e Justin. — Ele teve meu abraço só para ele quando eu cheguei, e agora se faz de inocente. — Pai você é um dramático.— Justin fala. Nós rimos. — Isso é tão verdade. — eu falo. Meu pai ri ainda mais. — Você fez tanta falta nessa casa filha — meu pai falou segurando minha mão.— Você era a alegria. — Ah pai! Não me faça chorar novamente! Vou ficar desidratada — brinco com eleFicamos conversando, quer dizer, apenas eles porque eu só escutava as histórias dos dois junto com meu pai, ele já deve ter escutado umas mil vezes, mas estava ali novamente para escutar comigo como se fosse a primeira vez. Meus garotos já são quase homens feitos. E eu pude perceber uma coisa, que nenhum dos dois queriam ficar na cidade quando se formassem, seus sonhos eram fora das fronteiras de Jacksonville Beach. Eu com certeza levaria a culpa da influência, mais uma culpa para a conta. Mas não quero pensar nisso no momento, eu só quero que eles saibam que independente das decisões dos dois, eu estaria ali para eles. Como ninguém esteve, ou pode estar por mim. Às vezes até parece egoísmo meu falando, mas lá para frente todo mundo vai entender. E meus irmãos, talvez eles também só precisassem de alguém que apoiasse seus sonhos. Penso em como muita coisa teria sido diferente se eu tivesse ficado, e em nenhum dos pensamentos seria uma vida muito feliz. Não depois do que aconteceu. Então porque me culpo tanto? Porque me julgo tanto? Será se é porque as pessoas fazem exatamente isso comigo? Me julgam, me culpam, e nem sabem o que aconteceu, se era verdade ou mentira, nem quiseram ouvir a minha versão, a verdadeira versão. Preferiram acreditar no que era mais fácil. Eu não era digna. Nunca fui. Meu celular vibra no bolso, eu pego e vejo a mensagem de um número desconhecido."Você voltou! Estou ansioso para te ver!” Ignoro, essa já é a quinta mensagem que recebo de números desconhecidos nos últimos dias, e não quero nem imaginar quem é. Billy late chamando atenção, podia não se digna para os outros, mas para ele com certeza eu era digna. — Meninos, esse é Billy, o sobrinho de vocês!América Sullivan — O que você acha de passear com a mamãe? Ele late animado. — Onde você vai?— Cole pergunta assim que eu chego aos pés da escada. — Vou só passear um pouco Cole, está tudo bem — eu falo sorrindo para ele. — Tem certeza? — Justin pergunta agora.— Sim, podem ficar tranquilos, eu volto logo e vou com Billy. Falo e saio de casa com Billy ao meu lado. — Vou colocar a coleira em você.— falo para Billy. — Vamos ao parque central da cidade. Coloco o boné e o óculos em mim. E eu vou caminhando com Billy. Ele mais queria correr, mas não iria soltar ele aqui na rua. Enviei mensagem para Liana avisando que eu já havia chegado. Liana era querida por todos, ela e Jordan eram considerados o casal perfeito. Jordan era outro que deve ter sido fielmente contra a minha vinda, ele devia no mínimo me odiar. Problema dele.Mesmo sem querer eu ficava sabendo da vida deles, Liana sempre dava um jeito de enfiar eles nas nossas conversas. Eu sabia que Josh era delegado da
América Sullivan Estou no meu quarto procurando alguma roupa confortável na mala, encontro um conjunto de pijama e pego. Estava vestindo ele quando escuto vozes altas vindo da sala. Eu conheço a voz, era minha mãe. Brigando com todo mundo para variar, e o motivo da vez deveria ser eu. Eu sei que minha mãe foi contra eu vim para cá depois de anos, ela não me queria aqui, para envergonhar a família novamente ou estragar o casamento de sua filha, e sei que meu pai e Liana que convenceram ela, ele nunca ia me deixar na rua, ou ficar em outro lugar, e então com o pedido da filha predileta dela e do marido ela resolveu me "abrigar". — Vem como se nada tivesse acontecido! Depois de envergonhar a família! — escuto a voz dela. Isso é com certeza sobre mim, ela não mudou nada. — Você sabia que a fama de puta dela ainda rola? Hipócrita da parte dela, e ainda trás cachorro! Billy late. — Shiuuuu! — faço para ele. — Querida, por favor.. .. — não escuto o restante que meu pai diz. Susp
Assim que pisamos na biblioteca o ar mudou. Eu estava feliz. O quanto esse ambiente me fazia bem não estava escrito. Com certeza um dos meus lugares preferidos na cidade. Se a cidade não mudou, a biblioteca muito menos. Com meu óculos, adentrei a biblioteca seguida de Billy, que ia ao meu lado e Juddie Cole que estavam engatados em uma animada conversa. A biblioteca era muito grande, e existia uma grande diversidade de livros, mas aqui, a parte que mais me interessava era a área musical. Tinha as enormes prateleiras, podíamos olhar para cima e ver os livros do andar de cima e o lindo teto de vidro. Entramos na biblioteca e pegamos o largo corredor a direita que levava para o mini teatro, no palco era onde ficavam os instrumentos musicais e no lugar dos bancos para a plateia, ficava as mesas para as pessoas lerem escutando música, ou simplesmente apreciar a música. O teto é tão lindo quanto o da entrada. Aqui tinha todos os instrumentos imagináveis, eu tocava piano, vio
Josh Adams Ser delegado de Jacksonville Beach não era uma tarefa difícil. Na maioria das vezes era tranquilo, uma vez ou outra aparecia uns arruaceiros, mas nada muito preocupante. Era uma cidade pequena, então as notícias corriam rápido. E a notícia de que ela tinha chegado foi mais rápida ainda, os grupos de fofoca foram a loucura. Era o assunto na cidade, e na minha mente. Eu não me engano, não nego o misto de sensações que eu senti com a notícia, porque acima de todos eu senti saudade, depois veio a amargura. O primeiro amor não se esquece fácil, e eu tentei, juro que tentei, fiz de tudo. Mas cá estou eu, Josh Adams, 27 anos, delegado de Jacksonville Beach, ainda apaixonado pela mesma pessoa. Parece até piada, mas não era, e se eu falasse a alguém isso, com certeza iam me julgar como eu ainda era apaixonado mesmo depois de tudo que ela me fez passar. A resposta seria não sei. A única coisa que consigo fazer em relação a isso é tentar reprimir o que sinto, jogar no fundo d
Já eram mais de duas da tarde quando voltamos para casa. Fazia sol, mas as nuvens pesadas vindo do oeste falavam que a chuva poderia chegar até aqui.Eu ainda estava bem confusa sobre o que tinha acontecido, depois de nos encararmos,quando eu dei o primeiro passo Juddie me abraçou e eu tirei os olhos dele, e quando eu pisquei e ele não estava mais lá.— Você foi maravilhosa América! — ela havia falado no momento. — Você toca muito bem. Naquele momento que retornei os meus olhos, ele já tinha desaparecido. Eu não sei bem definir o que eu estou sentindo, uma mistura de sentimentos que tornam a minha mente uma confusão desenfreada. E ele é o motivo, sempre ele, a causa da confusão na minha cabeça. Mas a raiva também rondava meus pensamentos e minha cabeça quando ele vinha à minha mente.Depois daquela, toquei mais algumas músicas e fomos almoçar no restaurante na entrada da cidade,ainda passeamos pelo parque, fomos em algumas lojas de roupas, só para olhar, e em seguida deixamos Judd
Depois de voltarmos para dentro, fui ajudar meu pai a terminar o almoço, que já estava atrasado, resolvemos deixar Bisa na cozinha e ela parecia muito feliz em está ali. — Cuidado com a faca Amélia. — ela falava. — Todos do mundo — Bisa de segundo em segundos falava meu nome. Para qualquer coisa, e eu amava quando ela fazia isso. — Acho que isso foi a falta que ela sentiu.— meu pai fala. Dou um sorriso. — Pai, como ela ficou assim? — pergunto a ele me lembrando da época.— Lembro que do dia para noite. — O médico falou que uma pancada na cabeça avançou o Alzheimer. — ele fala olhando para ela, que olhava para lá fora. — Mas ela não tinha sofrido nada. Estranho. — Então a partir daí o estado dela foi se agravando. — ele fala. Vou até ela e abaixo na sua frente. — Bisa, a senhora quer alguma coisa agora? — pergunto, já tem uma horinha boa que ela comeu algo. — Quero conhecer James e Amélia. — arregalou um poucos os olhos, mas rapidamente voltou ao normal dando uma risa
O almoço foi incrível. Acho que nunca ri tanto. Até Billy está rindo de seu modo. E Bisa olhava todos nós com um sorriso no rosto. Ainda estávamos ao redor da mesa, e os meninos contando como foi o dia no colégio. — Nossa! A grande família feliz né? — todo mundo se assusta com Dylan parado na porta que dividia a cozinha e o quintal. Atrás dele era possível ver as ondas se formando. — Dylan, meu filho, venha almoçar.— meu pai fala animado. Mas com certeza ele não vinha, eu estava nela, e percebi seu tom desde a primeira frase. — Eu não sento na mesma mesa que traidoras. — toda a mesa ficou em silêncio. — Não sei como vocês tem coragem. — Dylan! — Cole fala. — Dylan, não é hora para isso.— vovô Ben fala. — Não é? — ele dá um sorriso sarcástico sem se mover do lugar. — E quando é? Quando ela for embora e todos aqui falarem dela de novo? Uma faca tentou me atravessar, mas permaneci calada. — Pare com isso Dylan. — meu pai fala se levantando. Até Billy se levantou, mas esse m
Acordo pouco antes das 06:00. Eu costumava acordar esse horário, então não era problema. Vou ao banheiro, escovo os dentes e depois saio. Cole havia dormido novamente comigo, então faço silêncio para não acordá-lo. Não sei muito bem descrever o que aconteceu depois de ver Josh. Pareceu que eu estava no automático. Ele continuava tão lindo, mas estava fazendo de tudo para expulsá-lo da minha cabeça. Troco o pijama por uma calça jeans e uma camiseta qualquer. Depois desço para cozinha, sendo seguida pelo silêncio da casa. Nem Billy levantou. — Bom dia! — falo sorrindo assim que vejo Papai e vovô Ben na cozinha. Vou até eles dar um beijo no rosto de cada um. — Bom dia filha — Meu pai e vovô Ben falam ao mesmo tempo. Eu ri e me sentei na cadeira da mesa. — Como passou a noite filha? — meu pai perguntou me entregando uma xícara de café. — Foi boa. — minto, e dou um sorriso. — Apesar do ronco do Cole. — Ali mais parece uma máquina.— Meu pai ri. — Mas eu fiquei feliz