EvelyneNa terça-feira, a chuva finalmente dá uma trégua. O dia se abriu numa temperatura fresca e agradável, e até me arrisquei a usar algo diferente de meus moletons habituais. O vestido com estampa de flores escuras é longo e solto, indo até meus tornozelos. Ele não cobre minhas botinhas de couro falso marrons, que comprei em um brechó por vinte dólares. Meus cabelos estão soltos e brilhantes debaixo do sol. Eu teria apreciado esse clima interessante com maior entusiasmo se a minha manhã não houvesse sido tão estressante. Me atrasei para a aula apenas para conversar com os responsáveis sobre uma possível transferência de quarto — não iria dar certo se eu continuasse muito tempo dividindo o meu quarto com Eleanor — mas infelizmente me foi recusado, uma vez que todos os quartos estavam lotados e, aparentemente, nenhum estudante relatou interesse em trocar de dormitório. Saí da sala com uma promessa de que me seria avisado caso uma vaga surgisse e um peso de frustração em meus ombros.
EvelyneOs próximos dois dias servem para que eu me habitue ao Joe Bixby e ao restante das aulas. Evitei Cassidy e as Ravens o máximo que pude. O mesmo aconteceu com Eleanor, que sequer me dá bom dia, embora eu não faça questão de conversar com ela. Nós temos uma dinâmica engraçada agora. Sempre que uma chega no quarto, a outra sai. Estamos levando essa coisa de “nada de contato” a um nível absurdo. Na noite passada, ela quase passou meu creme de rosto por engano, e quando descobriu que era meu, foi como se tivesse ácido sulfúrico na coisa.Com Aaron e Ginger, as coisas não estão diferentes. Sinto falta de Ginger e da potencial amizade que teríamos, não fosse o acontecido na festa. Estou com muita vergonha de falar com ela, e embora seu irmão tenha me pedido desculpas, não é como se fôssemos melhores amigos. Além do mais, ela é irmã dele, certo? É natural que, se tiver que assumir um lado, ela escolha o dele. Vi Aaron Ditt duas vezes nesses últimos dias, com seu grupo habitual dos Haw
Eu sigo direto para o meu dormitório. Quando entro, encontro Eleanor revirando suas coisas como se estivesse em busca de um antídoto para a cura mundial.— Está tudo bem? — decido perguntar enquanto ela continua a fuçar suas gavetas.— Cólica — é o que ela simplesmente diz, e eu entendo perfeitamente o seu humor, naturalmente azedo, estar pior hoje. — E não encontro a porra de um absorvente nessa merda de gaveta. Onde eu os coloquei?Eu vou até meu armário e procuro por um pacote. Quando encontro, estendo para ela.— Aqui. Eu tenho uma caixa fechada. Sempre compro caixas extras.Ela aceita o pacote e o segura com as duas mãos, sem olhar para mim.— Obrigada — diz, meio sem jeito. — Hum... você está indo para a casa dos seus pais nesse fim de semana?— Não. Prefiro ficar aqui.Seus lábios se contorcem no que eu imagino ser sua versão de um sorriso.— As coisas devem estar bem ruins com sua família se você prefere passar o fim de semana inteiro aqui comigo.Eu dou uma risada. Ela tem se
AaronHana sempre tem uma expressão clichê para cada situação que eu narro no consultório. Quando eu relatei que tinha medo de não passar nas provas para ingressar no Joe Bixby, ela me lançou um “a esperança é a última que morre” e me disse para tentar de novo caso eu não conseguisse. Vive falando que eu faço “tempestade em copo d’água” e que isso é sobre eu ser dramático em relação à minha vida na maioria das vezes. Com o meu pai, ela sempre me manda arrancar o band-aid de uma só vez, o que, segundo ela, significa que eu não posso postergar por muito tempo o inadiável. Sempre debochei do seu jeito de falar nesses momentos, mas não posso negar que estou fazendo exatamente o que ela sugeriu: arrancando o band-aid de uma vez só.Passo pela porta da sala na casa silenciosa e meu olhar varre ao redor. Está tudo organizado, e eu sei que teve uma ajuda profissional aqui. O meu pai tem tanto talento para limpar a casa quanto eu tenho para preparar refeições. A porta de vidro que dá acesso ao
EvelyneSabe quando descrevem em filmes e livros a sensação de borboletas na barriga, como se um coletivo dessas coisinhas irritantes estivesse batendo suas asas todas ao mesmo tempo dentro do seu estômago? É assim que me sinto neste momento. O guardanapo com o número de Aaron Ditt praticamente queima o bolso da minha mochila, que foi onde eu o guardei depois que cheguei em casa na outra noite. Não sei em que estado ele se encontra, mas não toquei nele desde então. Eu não quero pensar no fato de que Aaron me deu o seu número de livre e espontânea vontade. Isso só pode significar que ele está fazendo um jogo comigo, não é? Não entra na minha cabeça que um cara como ele esteja me convidando para encontros. Ele disse em alto e bom som que gostaria de sair comigo, mas eu duvido muito que seja real. Talvez tudo faça parte de uma aposta? Eu vi isso em livros várias vezes. Já assisti a todas as versões de Carrie, a Estranha. Aaron Ditt não vai me enganar facilmente com seu sorriso bonito, su
Aaron— “O membro grosso e duro do soldado Mosby preenchia o canal molhado de sua amada Emory. Com um suspiro de puro prazer, ele recitou as palavras de um antigo poema em gaélico, provando, assim, que nada nem ninguém os separaria outra vez...” — Leah, a menina ruiva cujo nome eu só descobri há um minuto, suspira sonhadoramente e abaixa o livro. — Esse é meu trecho favorito de Laços de Amor. Eu falaria sobre ele por horas.— É realmente tão bom quanto a declaração de amor no cais — Evelyne diz, com um sorriso. Estamos nesse debate de clube de leitura há quase uma hora, e juro que nesse meio tempo aprendi termos para partes íntimas e posições sexuais que nunca tinha ouvido falar antes. — Mais alguém gostaria de dizer algo a respeito do livro?— Por que Aaron não comenta? — uma outra menina – Rebecca, eu acho – sugere. — Ele esteve aí sentado a tarde inteira e não disse nada.Eu limpo a garganta.— Bem, eu... — estou sem saber o que falar, o que é um acontecimento e tanto. — Eu não li
Quando tudo isso acaba, eu me dirijo para o lado de fora sem pensar duas vezes. Espero Evelyne se despedir de suas colegas e vir até mim. Já estamos perto das 18 horas, quase na hora do jantar.— Eu acho que não foi uma boa ideia ter trazido você aqui — ela diz. — Deve ter sido uma tortura, né?— Eu adorei — minto, arrancando uma gargalhada dela. Ela tem um sorriso bonito. — É sério. Não foi tão ruim.Ela põe a mão nos bolsos do moletom.— Me desculpe pelas garotas. Elas não te infernizaram por mal. Não costumamos ter garotos bonitos em nossas reuniões, então algumas delas meio que ficam... animadas.Ela me acha bonito? Tenho vontade de pedir para ela repetir, mas não quero ser estranho.— Está tudo bem. Sério — eu falo. — Até que foi engraçado.— Sei que parece estranho, mas é o tipo de programa que costumo fazer na maioria das vezes. Para alguns é chato, mas eu gosto muito.— Não é estranho — eu digo. — A vida não gira em torno de festas. Você pode encontrar outros programas pra se
— Eu sei, mas não anula o fato de que estou me sentindo ridícula.Eu dou uma risada.— Se isso te tranquiliza, eu garanto a você que não me importo em nada com o que dizem sobre mim — digo. — E pode acreditar na minha palavra, porque posso ser muitas coisas, menos um mentiroso. Odeio mentirosos, então jamais enganaria você ou qualquer outra pessoa apenas para aparentar ser melhor do que realmente sou.Ela está de cabeça baixa, evitando o contato visual, então eu não faço ideia do que se passa na sua cabeça.— O que aconteceu pra você odiar tanto assim as Ravens?Dou de ombros.— Eu acho que já falei sobre isso. Kendall é o problema.— Mas deve haver um motivo, não é? — diz, recuando um segundo depois. — Desculpe se eu estiver sendo invasiva. Não precisa falar se não quiser. Não é da minha conta.Eu solto um suspiro. Não quero ser rude com ela, mas essa é uma parte da minha vida que eu não me sentiria nada confortável em compartilhar com alguém que conheço tão pouco. Felizmente, Evelyn