O churrasco do fim do terceiro ano da Escola Metódica aconteceu. Mesmo que a maioria estivesse sentada em seu canto para comer ou beber, se encaravam sem ânimo ou confiança. A música de fundo era um pagode, Antônio e Luan estavam na frente da churrasqueira, algumas meninas estavam na piscina, eles tinham alugado um espaço para aproveitar o que devia ser o último dia, ainda estavam fazendo o plano que Valéria tinha montado, a quantidade de comida, o dinheiro a ser arrecadado, até mesmo o lugar.
Era a primeira vez que todos se encontravam, antes de notarem que seus assuntos em comum tinham acabado se abraçaram e perguntaram sobre Enem, sobre fim do ano, sobre como a mídia ainda trazia Valéria como uma pobre coitada que foi influenciada a cometer vários crimes, os nomes dos mortos foram falados, os religiosos fizeram suas preces, então cada um escolheu um lado para ficar. Ísis, Miguel, Emanuel e Janaína estavam felizes, curtiam o momento, Luís ao lado de Ísis exibia algumas cicaEu me levanto e troco de roupa, coloco os telefones e abro minha mochila. Uma música que toca meu cabelo me deixa cada vez mais em foco, por mais viva que seja sua batida como uma balada, minha mente e meu corpo parecem praticamente anestesiados, não sinto nada. Hoje é o dia, eu sei. Esperei tanto por este momento incrível. Primeiro guardo as luvas, eu depois meus olhos de visão noturna, ao que prometi, uma bomba de fumaça colorida, só para fazer efeito, deixar um enredo mais bonito, e por fim, para a faca
Arrastei os pés pelo quarto, peguei o uniforme em cima da cadeira e me arrasrei com uma preguiça extrema, até me enfiar no banheiro. Não estava nenhum pouco animado para ir à escola, era Terça-feira, eu odeio segundas, terças, quartas e afins.Evito o espelho, já sei sobre minhas olheiras enormes, sobre o meu cabelo mal cortado e em péssimo estado, porque diabos eu resolvi que deveria descolori-lo?Voltei para o quarto pensando em me jogar na cama de novo, olhei as horas no celular, estava atrasado. Peguei a mochila e desci as escadas correndo, atrasado como sempre não dava tempo preparar nada, apenas enfiei a mão no armário e peguei um pacote de bolacha recheada. O caminho para a escola era curto, subi a rua rapidamente,acho que morar tão perto da escola é a minha sorte, chego e me misturo com o pessoal que acaba de descer de uma van, o motorista e o porteiro discutem sobre o horário e sobre pneu f
Meu celular passa pela mão de todos e rimos após ler a mensagem. Sei bem que o objetivo do projeto não é esse, deveríamos apresentar algo relativo às aulas, assim como estamos fazendo agora, criando um conteúdo matemático para facilitar o estudo e apresnera-lo no dia, a diretora deve ficar uma fera com o comitê de formatura, mas concordo, vai ser muito bom ver isso, amanhã todos estarão eufóricos como se isso fosse transformar a vida deles para sempre.Observo a expressão de cada um do grupo que está na minha frente. Ísis é praticamente indiferente, Miguel ri como um idiota, Emanuel está soltando algumas piadinhas, Janaína está se divertindo também e lembrando sempre que mentir é pecado.— Isso claramente saiu da minha sala. — Miguel comentaConheço a fama da turma de Miguel, todos os professores dizem que eles são incontroláveis, o terrível terceiro B. O terceiro ano da Escola Metódica é dividido em três turmas, A, B e C, as turmas são pequenas, apenas quinze p
Estou de costas para a escada quando a luz volta a funcionar, todos estão fazendo cara de assustados, posso notar Janaína tremendo de susto, a fumaça parou de sair e ficamos todos sem reação, não sei quanto minutos se passaram, ou mesmo se passou algum tempo direito, franzo a testa, não parecia uma simples brincadeirinha, ou tentativa de pegadinha. Ísis, Miguel, Janaína e eu, andamos para perto um dos outros. Onde Davi se meteu? Ísis nos encara, também contando a quantidade de pessoas, ela franze o cenho e vai até a porta, colocando a mão na maçaneta e a gira, abrindo a porta. Está aberta!? Por que a porta está aberta? Eu mesmo a forcei e estava muito bem trancada. — Cadê o Davi? — Ísis olha para todos os lados, e então passa para o lado de fora o procurando Miguel também sai, ele grita chamando por Davi, depois volta para mim e balança a ca
Estou na minha sala, colocando as coisas na mochila com raiva, ninguém fala comigo, as pessoas estão arrumando suas coisas e começando a sair, paro por um momento para respirar, espero que as pessoas terminem de sair e então me sento e abraço a mochila. Davi estava morto e essa notícia foi assustadora. Me sinto observada, olho para a porta e vejo Pedro parado ali, ele entra e anda até a minha frente, ficamos em silêncio por um tempo. Eu me levanto e o abraço, ele retribui afundando o rosto no meu ombro.Nós odiamos, mas já fomos muito amigos, e nesse momento nossas muralhas parecem desarmadas. Pedro me solta e então nos encaramos, seguro a mão dele, é como se eu estivesse vendo o Pedro, meu melhor amigo de 10 anos, eu não sei muito sobre o que ele sente ou o que faz agora, são praticamnte sete anos sem nós aproximarmos assim, mas Davi era muito importante para ele. Pedro solta minha mão e sem falar nada continua ali olhando para mim.— Estou aqui, ok? Para você.
Eu mal posso dizer como essa quinta-feira começou. Quando eu acordei, minha irmã me ignorou completamente, minha mãe brigava pelo telefone com meu pai e quando eu encostei perto, ela automaticamente desligou o telefone e sorriu, depois disso alguém pegou meu telefone e escondeu, ninguém me deixou usar a Internet, ou qualquer coisa do tipo, a televisão ficou desligada.Eu me sentei na sala depois do café, de braços cruzados, enquanto minha mãe e irmã fingiam que nada estava acontecendo.— Alguém sabe onde está o controle da TV? Ou pelo motivo que ela está fora da tomada? Meu telefone?— Não é melhor explicar logo mãe? — Minha irmã se joga no sofá e coloca os pés no meu coloEu e Lavínia não temos segredos, ela se parece comigo, herdamos o cabelo da mamãe, ondulado, escuro e pesado, ela não gosta muito quando alguém fala da nossa semelhança, odeia ser comparada a irmã mais velha, eu particularmente não me importo. Sei que ela quer me contar algo, os olhos b
Chego em casa e vou direto para o banho, sinto que há um cheiro estranho grudado em mim, me esfrego todo, até ficar vermelho, acredito que o problema mesmo está na minha cabeça, a imagem de Davi no caixão ainda está na minha mente. Como alguém pode simplesmente acabar com uma vida?Saio do banho e o vapor se espalha pelo corredor, visto a minha roupa de ficar em casa, me deito e permaneço ali até ouvir uma leve batida na porta, com certeza é minha mãe, ela me olha de cima a baixo, nos somos pouco parecidos, a nossa maior semelhança é o formato do rosto e a boca.— Como foi lá?— Foi... A mãe, foi um enterro, só foi.— Se precisar me contar qualquer coisa, estou aqui, quiser conversar algo...— Sabe, quando estávamos lá o Pedro surtou... Acusou o Emanuel e a Janina de terem o matado, depois estendeu a acusação para mim e a Ísis... Eu me senti extremamente mal. Nenhum de nós faria isso.— Eu sei meu amor. E se não temos nada a temer, não tem m
Fecho meu notebook, que sexta-feira péssima. Não sei muito bem o que está acontecendo, meus pais queriam que eu fosse para a casa de minha avó, mas insisti em ficar sozinho, lá não tem nada para fazer e, além disso, o que pode acontecer? Não tem aula hoje, claro, quem tem clima para aula depois de um enterro? Foi horrível, não que um enterro deveria ser bom ou animado, mas os ânimos estavam a todos os momentos alterados, Pedro queria uma confusão a todo custo, sobrou até para a coitada da Janaína. Fiquei junto de Fani e Alexandre, Miguel estava desolado de mais e estou com um pé atrás com ele. Não que eu seja um amigo ruim, ou coisa do tipo, apenas não acho que seja um bom momento para estar do lado de alguém acusado de assassinato por um post, alguém que ganhou todos os olhares, desde familiares do Davi até a galera de fora da escola, que estava com ele quando Davi sumiu, para o meu bem, é melhor está longe. Esperei que meus pais saíssem e contin