O início do destino

Amy soltou uma risada nasalada lembrando-se da tarde de piquenique. De fato, boa parte de suas músicas eram as escritas por seu pai, e todas elas eram aclamadas e extremamente sentimentais. Posts em redes sociais elogiavam aquelas músicas e até mesmo eram usadas nas biografias de alguns perfis de fãs.

A cantora saiu brevemente de seu devaneio ao ouvir o homem ao seu lado bufar. Ela olhou de canto de olho e o viu encarar o computador de forma irritada. 

O homem sentindo-se observado olhou para Amy, seus olhos se encontraram por um instante e a cantora se viu perdida no verde dos olhos alheio. Ela tinha a sensação de já o ter visto em algum lugar, mas não sabia ao certo onde.

Quando ele franziu o cenho, Amy pigarreou e desviou o olhar sentindo-se envergonhada por encará-lo, mas logo esqueceu-se da situação e voltou a olhar para a janela.

A cantora olhou para o celular e viu a data, novamente outra lembrança tomou conta de sua mente, uma das últimas lembranças felizes que tinha tido com seu pai.

“— Papai! — Amy correu até o pai que estava completamente sujo de graxa. 

— Olha só quem está aqui! — Jhon se abaixou para que seu rosto ficasse na altura do rosto da filha. — O que veio fazer aqui, minha pequena Aurora?

— A mamãe pediu para chamá-lo para o jantar e ela disse que você não pode dar desculpas! — Amy cruzou os braços encarando o pai. — Você precisa se alimentar, não pode ficar o dia todo mexendo nesse carro.

— Olha só se não é a minha pequena filha dando sermões em mim. — Jhon riu e pegou a filha no colo de surpresa e fazendo arregalar os olhos diante do susto. — O papai sente muito, eu sei que estou trabalhando muito meu amor, mas semana que vem ficarei a semana toda só com você.

— Promete? — Amy esticou o dedo e o pai sorriu esticando o mindinho para cruzar com o da filha e selar a promessa.

— Prometo meu amor. — Jhon beijou a bochecha da filha e caminhou para a porta dos fundos que dava na cozinha.

Melissa estava finalizando o molho do macarrão antes de colocá-lo na mesa, Jhon aproveitou-se para passar por ela sorrateiramente e sentar-se na mesa.

— Jhon. — Melissa fez uma careta ao ver o marido ainda sujo de graxa. — Já disse para lavar as mãos quando se senta a mesa. — Então olhou para Amy que estava balançando os pés sentada em sua cadeira. — E você ainda pegou Amy no colo! 

— Desculpe, minha querida. — Jhon disse enquanto soltava uma risada nasalada, fazendo com que a carranca de Melissa aumentasse. — Irei lavar as mãos, e com relação ao vestido de Amy, eu mesmo lavo, não precisa se preocupar.

— Você — antes mesmo que Melissa pudesse continuar a frase, Jhon roubou um beijo rápido dela e correu para a pia lavar a mão. — Eu juro que vocês dois me enlouquecem!

Amy soltou uma risada e esperou sua mãe servir seu prato enquanto seu pai sentava-se na mesa, agora com as mãos limpas.

— O carro ainda está dando problema? — Melissa serviu o prato de Jhon e então se serviu. — Não é melhor levá-lo em um mecânico? 

— Os freios parecem estar com problemas, ainda não consegui identificar o que pode ser. — Jhon suspirou dando uma garfada em seu macarrão e então ficou pensativo. — Irei levá-lo ao mecânico após o fim do festival, com o festival rolando na cidade, os preços sobem e quase ninguém trabalha.

— Eu tinha esquecido do festival. — Melissa suspirou. — É mesmo, você comprou os ingressos para o parque de diversões?

— Parque? — Amy encarou os pais com os olhos brilhando e a boca suja de molho.

— Semana que vem o meu bebê fará dez anos. — Melissa sorriu limpando a boca da filha com um guardanapo. — Você não disse que gostaria de ir ao parque? 

— Sua mãe não sabe guardar segredos. — Jhon riu e então Melissa arregalou os olhos percebendo que acabara de contar sobre o presente. — Iremos passar o dia todo juntos. Precisamos aproveitar que será sábado e eu não trabalho.”

Amy sentiu o rosto molhado e então percebeu que estava chorando. Por algum motivo não conseguia parar de chorar, qualquer lembrança relacionada ao seu pai a fazia derrubar todas as paredes que havia levantado a fim de esconder-se de todos.

A lembrança de seu último aniversário era boa e ruim ao mesmo tempo. Se ao menos soubesse que aquele era o último aniversário que passaria com seu pai, teria feito diferente? Teria aproveitado mais?

A cantora balançou a cabeça negativamente e fechou os olhos, encostando a cabeça em seu assento. Sentia seu corpo tremer e rezava para que não tivesse uma crise dentro daquele avião; não queria preocupar ninguém, muito menos Ethan que estava alguns assentos atrás dela.

— Acho que precisa disso. — Uma voz calma e masculina se fez presente o que fez com que Amy abrisse os olhos assustada e se virasse.

Era o homem que havia encarado um tempo atrás. Sua mão estava esticada entregando um lenço para Amy, mas seus olhos ainda estavam vidrados na tela de seu computador. Amy esticou a mão e pegou o lenço.

— Obrigada. — Disse com a voz rouca. — Você quer um autógrafo ou algo do tipo? 

— O quê? — Só então o homem fez contato visual com ela e franziu os cenhos. — Não, obrigado. 

— Ah! — Amy corou envergonhada. — Desculpe, achei que estava me entregando o lenço por ser um fã e acabou se preocupando.

— Não, nada disso. — Continuou com o cenho franzido e então balançou a cabeça. — Só ofereci porque o seu choro estava atrapalhando minha concentração.

Amy arregalou os olhos e desviou o olhar. Por algum motivo, os olhos verdes daquele homem a deixavam desconfortável.

— Obrigava, novamente. — Disse baixinho.

O homem apenas balançou a cabeça levemente enquanto Amy limpava as lágrimas. Ela ainda tinha a sensação de que o conhecia de algum lugar, mas ainda não conseguia lembrar.

Sigue leyendo en Buenovela
Escanea el código para descargar la APP

Capítulos relacionados

Último capítulo

Escanea el código para leer en la APP