Amy olhava para as nuvens através da janela minúscula do avião e se perguntava o que exatamente estava fazendo de sua vida. Era estranho pensar que dois anos atrás tinha ido para Los Angeles apenas com uma bolsa de roupa, o violão de seu pai e uma promessa feita para si mesma.
A garota havia saído de Oakland assim que fez 18 anos, sendo incentivada por seu padrasto e sua mãe. Foram longos meses treinando antes de finalmente colocar os pés em um palco, aos 19 anos. Ainda se lembrava da sensação de entrar em um palco para fazer a abertura do show de outra cantora que já estava no ramo há mais de 10 anos.
Ser ovacionada após cantar uma música antiga dessa mesma cantora, seu coração saltava como se tivesse levado um susto. Seus pelos se arrepiaram e ela finalmente percebeu que ser cantora era algo que a deixava animada.
Mas meses após lançar sua carreira, Amy se perguntava se ela gostava realmente de ser cantora, ou se aquilo era só fruto de uma promessa feita para seu pai.
Após a morte de seu pai, a química de seu cérebro havia mudado completamente. Ela ansiava por qualquer fio de esperança para manter a lembrança de seu pai o mais vívida possível. E isso custou o seu verdadeiro sonho, sonho que já nem sabia qual era, mas para ela estava tudo bem, já que o sonho de seu pai estava sendo realizado, mesmo que não estivesse sendo realizado por ele.
O que exatamente significava toda aquela fama? Aquelas pessoas a amavam verdadeiramente? Por que tinha se tornado famosa? Era por si mesma? Pelo dinheiro? Pela fama? Ou pelo sonho não realizado de seu pai? E o seu próprio sonho, onde ele ficaria? Tinha espaço para sonhar com outra coisa?
Amy suspirou profundamente e se lembrou dos momentos felizes ao lado de seu pai, das canções que ele costumava tocar para ela no violão, das risadas compartilhadas e dos sonhos que ele tinha, mas nunca teve coragem de correr atrás. Ele não queria que a filha cometesse os mesmos erros. Amy vendo a felicidade do pai nunca ousou falar sobre o seu próprio sonho, então prometera a ele que seguiria seu sonho de se tornar uma cantora, e agora, de alguma forma, esse sonho se tornara uma realidade.
“— Papai, qual é o seu sonho? — Amy perguntou enquanto colocava as frutas em cima da toalha de piquenique.
Jhon parou por alguns segundos e ficou pensativo, sua visão se tornou distante e um sorriso tomou os seus lábios.
— Um cantor. — Jhon disse finalmente olhando a filha. — Um cantor famoso. Gostaria de levar meus sentimentos em forma de música para todas as pessoas que precisam de um ombro para chorar.
Amy ficou maravilhada com as palavras de seu pai, ela tinha apenas 8 anos, mas adorava quando seu pai pegava o violão e cantava para ela.
— Papai, quando eu crescer, prometo me tornar uma cantora famosa. — Amy sorriu e o pai deu um beijo em sua testa.
— Você será uma excelente cantora. — Jhon riu cortando um pedaço do bolo que Melissa tinha preparado para eles. — E eu prometo que te darei o meu caderno com todas as minhas músicas.
— Promete mesmo? — Amy esticou seu dedo mindinho para fazerem uma promessa. — Assim posso levar os seus sentimentos para todos.
— Eu prometo, minha Aurora. — Jhon esticou o seu mindinho e selou a promessa enquanto dava uma risada. — Tenho certeza que minha Aurora será a cantora mais famosa do mundo.
— O papai cantará junto comigo? — Amy perguntou enquanto dava uma garfada em seu bolo.
— Claro, se você quiser. — Jhon cortou um pedaço de bolo para ele e sorriu. — Podemos cantar juntos em um palco para muitas pessoas, mas você precisa crescer um pouco mais.
— Será que vai demorar? — A pequena garota suspirou cansativa. — Quero poder cantar com o papai, tenho certeza que muita gente vai gostar de te ouvir.
— Vai demorar um pouquinho, mas não tem problema, temos todo tempo do mundo. — Jhon acariciou os cabelos da filha.
— Papai, por que você não virou um cantor se era o seu sonho? — Perguntou curiosa.
Jhon soltou um suspiro e encarou a filha. Aquela pergunta tinha o feito pensar no motivo para não ter se tornado um cantor. Não tinha sido falta de oportunidade, pois seus pais o apoiavam e até mesmo o levavam para fazer audições em programas famosos.
— Acho que nunca tive coragem. — Disse um pouco envergonhado. — Me faltou coragem para seguir o meu sonho, e eu me arrependo um pouco disso.
— Se o papai tivesse se tornado um cantor, teria conhecido a mamãe?
Jhon riu ao ver os grandes olhos de Amy esperançosos pela resposta.
— Claro que sim. Sua mãe é o meu destino. Nossa história foi escrita pelas estrelas, então teríamos nos conhecido em qualquer lugar, em qualquer situação. Mesmo se eu tivesse me tornado um cantor, ainda teria me casado com sua mãe.
— O destino realmente existe, papai? — Perguntou maravilhada.
— Existe, e ele trará a pessoa que você ama quando menos espera. Uma pessoa que fará você se perguntar por onde ela esteve durante todo aquele tempo. — Jhon sorriu novamente vendo os olhos da filha brilharem cada vez mais. — Você precisa achar uma pessoa que a trate como a joia mais rara desse mundo, alguém que tenha olhos apenas para você, que não a machucará em nenhuma hipótese e que a amará com todo o seu coração.
— A mamãe é sua joia rara?
— Ela e você são as joias mais raras na minha vida. Sem a sua mãe, eu nunca teria uma joia tão perfeita como você. — Jhon apertou suavemente a bochecha da filha. — Mas espero que demore um pouco para você encontrar o seu destino.
— Por que papai? — Perguntou confusa enquanto o pai ria levemente.
— Porque quando você achar, você não será apenas a minha joia, mas a do seu companheiro também, e isso significa que ele será a sua joia também. — Jhon disse franzindo o cenho enquanto tentava parecer bravo. — E isso também significa que você irá embora com ele.
— Eu nunca deixarei o meu papai e minha mamãe. — Amy riu abraçando o pai.
— Espero que demore muito. — Jhon riu abraçando a filha. — Quero aproveitar cada segundo com a minha princesa, e não vou deixar nenhum malandro levá-la sem minha permissão.”
Amy soltou uma risada nasalada lembrando-se da tarde de piquenique. De fato, boa parte de suas músicas eram as escritas por seu pai, e todas elas eram aclamadas e extremamente sentimentais. Posts em redes sociais elogiavam aquelas músicas e até mesmo eram usadas nas biografias de alguns perfis de fãs.A cantora saiu brevemente de seu devaneio ao ouvir o homem ao seu lado bufar. Ela olhou de canto de olho e o viu encarar o computador de forma irritada. O homem sentindo-se observado olhou para Amy, seus olhos se encontraram por um instante e a cantora se viu perdida no verde dos olhos alheio. Ela tinha a sensação de já o ter visto em algum lugar, mas não sabia ao certo onde.Quando ele franziu o cenho, Amy pigarreou e desviou o olhar sentindo-se envergonhada por encará-lo, mas logo esqueceu-se da situação e voltou a olhar para a janela.A cantora olhou para o celular e viu a data, novamente outra lembrança tomou conta de sua mente, uma das últimas lembranças felizes que tinha tido com
Após o avião pousar em Los Angeles, Amy pigarreou e saiu logo atrás do homem de olhos verdes. Estava envergonhada, tão acostumada a ter fãs ao seu redor que uma interação com alguém que parecia não a conhecer a deixou desconcertada.Não sabia ao certo como poderia pedir desculpas, e sentia que não podia deixar aquele homem ir embora sem um pedido de desculpas realmente válido. Sentia que precisava falar com ele novamente, era como se o seu corpo estivesse sendo atraído para ele.Assim que saíram do avião, Amy, por um impulso segurou o braço do homem ainda a sua frente.— O quê? — Amy observou o olhar confuso e cansado do homem a sua frente que parecia ter pelo menos uns 35 anos. — O que está fazendo?— Ah! Desculpe. — Balbuciou as palavras sem saber ao certo o porquê de ter feito aquilo. — O lenço. — Pigarreou evitando o olhar dele. — O lenço que me emprestou. — Começou desajeitada, completamente sem graça. — Preciso devolvê-lo. Se me falar qual o seu nome e onde trabalha, posso pedir
— Ela só veio me perguntar onde era o banheiro. — Deu de ombros e voltou a caminhar rapidamente até o seu carro e então colocou sua mala no porta-malas. — Por favor, dirija o mais rápido possível. Minha filha está me esperando. E espero que pare de agir como se tivéssemos algo. — Claro, Senhor Caldwell. — Victoria mordeu a parte interna de sua bochecha e sentou no banco do motorista. Enquanto Victoria ligava o carro, Marcus procurava involuntariamente pela garota do avião novamente, mas não a viu, o que fez com que ele ficasse desapontado. Amy já estava na van a caminho de casa, ignorando completamente o que tinha acontecido no avião. Sabia que a chance de encontrar com o primogênito da família Caldwell era praticamente zero, além de que ele não parecia conhecê-la. — Amy? — Ethan a chamou pela segunda vez. — Está tudo bem? — Uh? — Amy o olhou e então sorriu. — Desculpe, Ethan, sei que está preocupado. Estou apenas cansada, nada mais. — Vou providenciar suas férias após o evento
Amy observava a cortina entreaberta nos bastidores, seu coração batendo descompassado no peito. Os gritos da multidão que clamavam pela famosa Aurora em expectativa a deixava ainda mais ansiosa. A fama, embora brilhante, ainda parecia distante e assustadora.Já fazia um ano desde que Amy mergulhara de cabeça no mundo da fama, impulsionada pela fé de seu gerente, Ethan. Ele, que enxergara o potencial de um astro em ascensão, apostara todas as fichas nela. A responsabilidade pesava nos ombros jovens de Amy, que agora se via no em um novo capítulo de sua vida, tão diferente dos anos tranquilos que viveu em Oakland.— Aurora? — A voz de Ethan rompeu o devaneio de Amy, trazendo-a de volta à realidade pulsante dos bastidores. — Está tudo bem? Está quase na hora de entrar.Amy piscou, forçando um sorriso trêmulo. O nervosismo a envolvia como uma brisa fria, fazendo-a tremer por dentro.— Ansiosa. — Balbuciou sentindo um leve tremor nas mãos. — Não consigo me acostumar com o fato de que há mi
— Sophie, eu tenho muito trabalho... — Marcus começou sentindo-se mentalmente cansado devido à montanha de papéis que ainda tinha para assinar. — Talvez a Grace possa te levar...Os olhos da pequena Sophie se encheram de lágrimas instantaneamente completamente desapontada pela recusa de seu pai.— Mas, papai... — Sua voz tremia, os soluços interrompendo suas palavras, os olhos e nariz ficando vermelhos. — Eu queria que o papai fosse comigo... Pelo menos uma vez ficasse a tarde toda comigo, fingisse que não tem trabalho.Marcus ficou completamente sem chão, a filha era uma cópia de Rose, e quando ela ficava chateada, ela franzia o cenho para segurar o choro igual à mãe.Aquela visão fez seu coração se quebrar, havia prometido que nunca faria a filha deles ficar triste, mas ali estava ele, sendo o motivo pelo choro desolado da pequena Sophie, mais uma vez.— Sophie, minha estrela... — Marcus saiu da cadeira e se abaixou para ficar na altura de Sophie, segurando delicadamente suas pequen
Sophie tinha acordado cedo devido à ansiedade, mas ao sentar-se na mesa do café, percebeu que o lugar onde seu pai normalmente sentava estava vazio, sua xícara já não estava mais ali, o que significava que seu pai já havia saído. Um sentimento de desespero tomou conta dela e então ela se perguntou se talvez seu pai tivesse tomado café e voltado para o quarto. Correu até o quarto do pai e viu que a cama estava arrumada, e então correu para o escritório que também estava vazio. — Tia Grace?! — Sophie voltou para a sala de jantar e gritou ansiosa atrás da sua babá. — Tia Grace! — O que aconteceu? — A senhora de 60 anos entrou na sala de jantar correndo com medo de que a pequena Sophie pudesse ter se machucado. — Sophie, você está bem? Por que não avisou que já estava acordada? — Tia Grace, onde o papai está?! — Sophie perguntou preocupada e Grace suspirou aliviada ao perceber que não era nada grave e que ela não tinha se machucado. — Ele já saiu? — O Senhor Marcus saiu e informo
— Senhor Caldwell. — Grace iniciou a ligação com um suspiro e então se afastou de Sophie para poder conversar com o chefe. — Me desculpe ligar para o senhor, mas preciso falar sobre o comportamento de Sophie. Estou preocupada com a menina.— Como assim, Grace? — Marcus franziu o cenho e se levantou com o celular em sua orelha. — Sophie está doente ou algo do tipo?— Não, ela está bem. — Suspirou ansiosa. — Isso não é algo que eu deveria dizer por telefone, mas é urgente. Será que o senhor poderia vir para casa um pouco mais cedo?Marcus estava ficando ansioso e sentiu vontade de gritar para que a senhora de 60 anos pudesse falar logo o que estava acontecendo, mas sabia que não podia exigir muito dela. Se ela queria conversar com ele pessoalmente, significava que era algo sério.— Vamos fazer o seguinte. — Marcus respirou fundo fechando os olhos por alguns segundos. — Eu terminei o que vim fazer na empresa e estou voltando para casa. Chego em 40 minutos.— Claro, muito obrigada, Senhor
Eram 10 horas da manhã, seu coração batia aceleradamente e suas mãos suavam. Amy estava na frente da casa onde viveu mais da metade da sua vida, mas não tinha coragem para entrar. Fazia dois anos desde que tinha saído de casa em busca de seu sonho, e desde então nunca havia voltado para sua casa, mesmo tendo shows na cidade, se recusava a entrar na casa, por algum motivo sempre estava exitante, preferia dar alguma desculpa e pedir para que sua mãe e padrasto a encontrassem onde estava hospedada. Amy estava tão absorta em seus pensamentos que não ouviu os passos se aproximando da porta e então a abrindo. — Amy? — Charles estava com um saco na mão pronto para jogá-lo na lata de lixo, mas quando viu sua enteada seu coração parou por alguns segundos. Amy o olhou assustada por ter sido pega de surpresa. O homem a sua frente parecia mais forte que o normal, e parecia mais velho também. Por alguns segundos se permitiu analisar o rosto do padrasto sentindo o coração acelerado. Sua bar