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Capítulo 4 — Um olhar vazio

Louise

O raio de Sol que entrava estava deixando o ambiente um tanto claro demais. As demais ainda estavam dormindo, menos Maria. Levantei com muita cautela para não fazer barulho e acordar às demais e fui até o banheiro coletivo, onde eu também tenho direito agora!

— O que faz de pé tão cedo? Sabe que horas ainda são garota — Maria perguntava baixinho para que ninguém nos ouvisse.

— Eu senti sede e vim beber água, preciso usar o banheiro também. — Respondi em um cochicho.

— Então faz logo e volta para o quarto. Aproveite as poucas horas de sono que você ainda tem, o dia será bem trabalhoso hoje.

Não houve mais conversas depois que ela foi em rumo ao quarto, segui até o banheiro onde passei mais tempo que o esperado. Perdi a noção da vida quando me peguei pensando no Parkinson, a minha ficha ainda não caiu e eu tenho medo de dormir e acordar aqui. Um barulho lá fora me chamou a atenção, olhei com curiosidade pela janela do banheiro que ficava no que podemos chamar de "mausoléu", um lugar que era fora da casa, mas que tinha um vínculo com o terreno ainda. E lá estava ele! Maurício estacionou o carro sempre olhando aos redores da casa, acariciou seus cães e finalmente entrou. Por que ele não parece ser tão má quanto demonstra ser?

Não consegui dormir e acabei passando mais uma noite acordada, já posso sentir a fraqueza tomar meu corpo aos poucos e o desânimo cada vez ser maior. Quando o sol finalmente saiu por completo eu tive a plena certeza que agora essa é a minha realidade, Parkinson não veio me buscar e eu não estava sonhando.

(...)

Todas elas falando de uma só vez estava me deixando confusa, sempre mudavam de assunto de repente e eu já não sabia do que estavam falando.

— Então, como você veio parar aqui? Foi fruto de alguma noite e Maurício te pôs aqui por pena? — Maria já tinha me dito que elas não seriam nada legais.

— E do que importa isso? Você por acaso interfere em alguma coisa por aqui? Pois estou vendo que não, não passa de uma qualquer assim como todas que estão presentes aqui também. — Não me pergunte como eu tive coragem de dizer isso a uma pessoa que eu nunca vi na vida. Mas se estamos na mesma, que sejamos todas iguais.

Levantei a mão para trazer um pedaço de pão até a boca e tive um copo d'Água arremessado no meu rosto. Os estilhaços de vidro que caíram no chão fez com que entrasse alguns pedaços de vidro em meus pés, como eu vim descalça para cá do mesmo jeito eu ainda estava.

— Aqui quem manda sou eu. Se quiser se dar bem aqui dentro terá que seguir as minhas regras se não…

— Se não o quê? — Ousei enfrentar ela outra vez e desta vez foi pior. Eu tinha lágrimas nos olhos, lágrimas essas que não são de medo, mas de muita raiva.

— Você verá com seus próprios olhos, coisinha ridícula. Se eu fosse você teria vergonha até se levantar da cama, ridícula.

Depois que todas foram embora eu me movi com cuidado para não espalhar mais os vidros. Maria se pôs ao meu lado disposta a me ajudar, mas eu não quero criar problemas com ela aqui dentro também, e quanto mais longe ela ficar de mim melhor será pra ela.

— Não quero que prejudique por minha causa. Pode ir com elas, deixa que eu limpo isso. Já me ajudou demais você, agora sai daqui e me deixa sozinha. — Foi impossível segurar a lágrima que escapou e escorreu meu rosto abaixo.

Uma voz estridente penetrou meus ouvidos me fazendo ter medo. Maria levantou-se rápido batendo as mãos no avental e se pôs de frente com o homem que parecia uma escultura de tão intacto.

— Bom dia Sr. Monroeli, houve algum problema? — Maria perguntou, mas não houve resposta de sua parte.

— Nos dê licença Maria! — O que eu espero agora? Ser escorraçada ou levar um baita castigo por isso? — Levante-se!

Quando firmei os pés no chão para levantar senti que mais alguns cacos entraram e me controlei para não esboçar nenhuma reação de dor. Segurei os pedaços maiores que eu havia pego e com as mãos e mantive minha cabeça baixa, agora os pés mostrando alguns fios de sangue sujando o chão.

— Pois não, o que o senhor deseja comigo? — Perguntei com um olhar baixo.

— Eu sempre dou as boas vindas aos novos funcionários e vim lhe dizer que seu pai me propôs um acordo, mas não aceitei pois não foi justo e nem valeu a pena.

Meu olhar estava direcionado às minhas mãos que estavam trêmulas. Os fios de sangue do estavam se expandindo mais e mais…

— Deve lhe agradecer por isso? — O silêncio foi perturbador e só então percebi que isso foi um sim. — Obrigado senhor.

— Não há de quê! Agora limpe isso e calce os pés, vidro é um perigo e tenha mais cuidado quando for manobrar alguma peça da casa.

Agradeci internamente depois que ele saiu. Finalmente eu pude sentar e retirar os estilhaços que deram pra tirar, mas no momento em que eu estava de quatro limpando o sangue e apanhando pozinho que ficou ele entrou novamente, dessa vez eu levantei rápido, bati as mãos na roupa em que estava vestida deixando álbuns resíduos de sangue escapar e sujar minha calça.

— Hoje haverá uma festa e preciso que se comporte igual as outras, não quero ouvir um barulho sequer saindo daqui enquanto estiver rolando tudo lá no salão principal, está me ouvindo?

— Sim senhor! — O medo tomou conta de mim quando ele pôs sua mão sobre a minha e segurou, puxando lata perto do rosto e observando-as como se estivesse atrás de alguma coisa.

— Tome mais cuidado com as coisas em que tocar, ou irá acabar sujando tudo com seu sangue. Troque de roupa e jogue fora, não quero nenhum vestígio de sangue aqui dentro da minha casa.

— Mas, senhor! Eu não tenho nenhuma outra peça!

— Providencie o mais rápido que puder. Aqui dentro quem não trabalha não come, e até onde eu sei você come com todas as outras não é? Faça tudo conforme eu ordeno e se dará bem, assim como as outras.

— Ok… — Tentei me retirar, mas tive meu bravo puxado para si e o desgraçado fala Espanhol perfeito, tem uma voz rouca e gostosa do caralho e eu não sei o que eu estou pensando mais.

— Senhor!

— Ok... Sr. Monroeli. Tá bom assim?

— Ótimo. Eu vou subir, daqui a 15 minutos, quero um whisky com gelo no meu quarto.

O olhar que ele me lançou foi muito amedrontador e eu fui procurar outra roupa pra ficar pronta o mais rápido possível. Se eu só tiver a ganhar mesmo irei fazer tudo conforme ele pedir, e na melhor eu mato ele, seria uma boa? Ou mais uma ideia louca e muito aleatória minha? Que seja…

Maurício

Mal entreguei no quarto e Catarina já estava em cima da minha cama totalmente despida, sem roupa alguma e toda entregue.

— O que faz por aqui? Achei que tinha sumido! — Ela me olhou com um certo desdém, mas seu olhar foi direcionado aos botões da minha camisa. — Hoje eu só quero relaxar. Minha vida anda muito agitada e se for pra ter estresse é melhor que você não seja um deles, eu não tô afim de dor de cabeça hoje. Também não tô afim de comer ninguém hoje, melhor você se vestir na sua casa.

— Eu estou grávida de você Maurício, vai mesmo me tratar assim? — Mais uma vez a mesma conversa…

— Vai se foder com essas duas conversas sem sentido, parece que não tem juízo você! Aprende a ser mulher Catarina, aprenda também a saber diferenciar as coisas. Agora por favor… — Estendi o braço em direção a porta. Ela catou as roupas dela, vestiu e saiu batendo a porta com força.

Agora vou tomar um banho gelado pra ver se esse pau abaixa, depois daquele leve encontro com a Louise eu fiquei estranho, estou me sentindo estranho!

Achei que ela iria demorar mais, mas ela já estava batendo na porta.

— Pode entrar! — Em seguida a porta foi aberta e ela entrou segurando uma bandeja com uma garrafa de whisky dentro de gelo.

— Aqui está senhor, como pediu! — Como uma pessoa sábia, ela posicionou a bandeja em cima da mesa ao lado da porta, onde ficam algumas garrafas de Gin e estava saindo quando eu a chamei.

— Onde está indo? Sirva-me, e não suma da minha vista. Você é mais ágil que as outras que trabalham aqui há anos.

— Sim senhor. — O olhar baixo dela e a timidez juntamente com a vergonha dela, deixou estampado no rosto dela o quão sem reação ela está com tudo que está acontecendo.

— O que está olhando, Catarina? — Perguntei a mesma que estava parada no corredor com os braços cruzados e encostada a uma pilastra.

Bebi apenas a dose que ela me serviu e fui ao encontro com Juliana, ela tem que ter uma boa solução para que tudo saia perfeito mais tarde.

Não sei o que aquela garota tem que está me deixando louco, é uma sensação estranhamente avassaladora que está me deixando duvidar sobre meus pensamentos.

Ligação Ativa

— Fala Maurício, tenho boas novas pra gente hoje. — Ela estava entusiasmada do outro lado da linha.

— Espero que seja alguma coisa que realmente me interesse, ultimamente você só me traz notícias sem sentido e ruim.

— Parkinson veio aqui na empresa mais cedo oferecendo uma certa quantia em dinheiro para ter a filha de volta. Espero que você não…

— E o que você disse a ele? — Perguntei com um certo receio.

— Que esse assunto não é comigo, que se ele quisesse obter alguma resposta entrasse em contato diretamente com você. Estou errada?

— Eu não vou fazer negócios com ele, se não sabe ele ainda estava me devendo uma boa grana. Não é uma garota que irá acabar com as dúvidas que ele tem comigo, até que ela é obediente demais e tomara que continue assim. Agora qual é a coisa boa que disse que tem a me dizer?

— Norely ofereceu mais de 200 mil euros na Louise. E aí? Achei uma boa grana por ela, sabe que ela não tem muito valor, não é?

— E aí o que? Eu já disse que ela não vai sair daqui Roberto. Agora esquece esse papo e vai procurar a Juliana, quero que saia tudo perfeitamente perfeito hoje a noite. Matheus vem com seu filho, Joel. É seu aniversário e as mercadorias de hoje serão apenas as que estão aqui por livre e espontânea vontade, entendeu?

— Entendi. Já vi que não está de bom humor hoje, quando mais tarde eu te ligo então.

Ligação Inativa

Louise

Com o cair da noite tudo fica pior. Aqui nós temos apenas os uniformes de trabalho e nada mais que isso. Um cobertor para cada pessoa e o banho é coletivo, a cada momento isso aqui fica cada vez pior e eu já não sei até quando vou ter forças pra suportar tudo isso.

Entrarei no dormitório para me vestir e as outras todas já estavam lá. Todas me olhavam como se eu fosse um ser de outro mundo, cochichavam e riam entre si, fazendo a minha vergonha ser ainda maior.

— Ei, vai ficar aí parada ou vai se apressar? – Maria j**a a toalha em mim e só assim eu saio do transe. — Precisa estar pronta o mais rápido possível.

— Por quê? — Pergunto com a voz baixa enquanto todas estão se maquiando e vestindo roupas muito diferentes da que a mulher me deu mais cedo.

— Hoje é dia de festa para o patrão e temos que estar o mais apresentável possível para servir seus convidados.

Não entendi bem o que ela quis dizer já que não me deram nada de diferente.

— Tá na cara que essa aberração não vai, até parece que o Maurício vai querer espantar seus convidados ricos com a presença disso aí. — Retrucou uma delas, o que me deixava ainda mais desanimada com essa nova vida.

— Cala a boca Geovana, você é ridícula. — Maria debateu como se quisesse me defender, mas eu a impedi que o fizesse para não se dar mal com as outras depois.

Continuei a vestir o meu uniforme. Achei ótimo essa ideia de festa, assim eu não terei que sair e posso até pensar em um jeito de dar o fora daqui ou quem sabe a minha alma dar um fora do meu corpo…

— Boa noite meninas, espero que já estejam prontas. Hoje irão fazer as mesmas coisas de sempre, mas peço que tenham mais cautela com os vidros ou será descontado do salário de vocês depois. — A moça que fala é a que me trouxe até aqui dentro, pelo que estou vendo ela é bem "poderosa" aqui dentro.

— E ela? Vai ficar aqui sozinha? – Maria pergunta e ela logo volta a falar.

— Ordens do Maurício. Vamos meninas… querida, se precisar de algo por favor não saia daqui, espero que alguém venha até aqui.

— Sim senhora.

Após todas saírem encostei a testa na porta e permiti que as lágrimas rolassem rosto abaixo, como se isso fosse diminuir tudo que estou sentindo. Uma sensação de paz e nervosismo, pois os pensamentos não me deixam quieta e as vozes insistem em me perguntarem o tempo inteiro.

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