Louise
Há quatro portas que dão saída dos dormitórios para o restante da casa, mas todas elas estão trancadas por fora, me deixaram presa como se eu fosse algum animal e isso tá doendo por dentro. Mesmo que meu pai não me desse atenção nunca, lá eu estava saindo a hora que eu queria e sem hora para voltar, agora só Deus sabe a hora que eu vou sair daqui ou que elas irão voltar. Tentei abrir as janelas mas todas elas tinham grades por fora, mal dando para ver os raios de luz que ainda habitam lá fora. Tentei amarrar um lençol na grade, assim eu poderia acabar com isso antes que eu me sentisse pior do que estou, ainda mais sabendo que eu não irei sair daqui nunca e depois daqui para onde eu irei? Tentei amarrar mas não havia nenhum lugar com brechas e os móveis não suportavam o peso, decidi pensar em outra forma de fazer isso e por fim me deitei, desligando a luz do abajur e puxando a coberta até cobrir meu rosto também. Mas a luz foi aberta e junto com o Roberto entrou uma mulher mais velha que ele. Levantei rápido, coloquei as mãos para trás e olhei para baixo, a vergonha que eu sinto não tem tamanho para ser descrita. Eu só queria uma momento de sossego, mas se nemcasa eu tenho mais, não posso me dar ao luxo de tirar sonecas.— Você deve ser a Louise! Prazer, Emma. – Senti seus dedos tocarem meu rosto e levantar minha cabeça devagar.— Eu não quero incomodar, senhora. – Disse tentando não me meter em outra roubada.— Me chame de Emma. Agora venha comigo, tenho certeza que você ainda não jantou! Maurício, que tipo de homem você está se tornando ? – A voz dela é doce e calma, muito diferente da outra mulher que vem aqui.— Obrigada, mas eu não estou faminta. Como eu disse; não quero incomodar. – Tentei argumentar mas foi em vão. Emma segurou minha mão e puxou consigo, recebi apenas o olhar de desprezo de Maurício. A sala de jantar da casa estava com a mesa posta e eu juro que a minha barriga iria roncar se eu não tivesse bebido água o suficiente enquanto estava buscando uma saída. Emma praticamente me obrigou a sentar e depois saiu, fazendo minhas pernas tremer e minhas mãos suarem descontroladamente.— E aí, elas não estão fazendo seus gostos? – O par de olhos cinzas que foram direcionados a mim fez minha garganta fechar e o coração errar as batidas.— Eu não quero que ninguém faça meus gostos, apenas… – Pensei em falar algo a mais, mas desistir na mesma hora.— Como adquiriu essas marcas em seu corpo? – É sério que ele quer saber sobre isso logo agora? É como se estivesse dando uma agulhada em meu coração.— Foi um acidente que aconteceu! – Respondi com o olhar baixo porque minha autoestima não me permitia olhar nos olhos de ninguém.— Parkinson teve alguma coisa a ver com isso?— Não, ele não teve nada haver com isso. Foi culpa minha mesmo, desastres pessoais! – Quem me dera tivesse sido desastres pessoais, a marca que habita dentro de mim não teria tanto peso.— Louise, eu não quero te manter como prisioneira aqui dentro, mas quero que entenda que será melhor para você tanto quanto será para mim. Por um momento meu sangue ferveu por dentro e eu então tomei um choque de realidade, se essa será minha realidade até não sei quando eu terei que me acostumar com isso ou só irá ser mais difícil pra mim a cada dia mais.— Então o que eu terei que fazer para não ter que me manter trancada ali naquele lugar? Eu não quero ser vista assim como o senhor não quer que me vejam, mas eu sei fazer várias coisas também. Posso ir lavando as louças e quando surgir alguém eu saio. – Argumentei tentando não deixar transparecer o quão nervosa e sem reação eu estava.— Não será preciso, você já faz isso em seu horário de trabalho. Alguém te deu alguma outra peça de roupa, além destas peças cinzas?— Não senhor.— Venha comigo, eu não sei porque estou fazendo, sei que irei me arrepender depois… O segui até que ele encontrou a tal Juliana, sei quem ela é porque eu já a vi mais de uma vez. A mulher estava sempre muito elegante e ao seu lado estava Emma, sua mãe.— Ju, quero que a leve para trocar essas roupas e a mande para o salão principal também! – Sua ordem foi recebida pela mulher com um sorriso largo no rosto. — Se desperdiçar esta oportunidade naquele quarto será seu fim! Juliana me deu um conjunto de roupas brancas, calça e uma blusa de mangas compridas juntamente com o avental vermelho e sapatos brancos também. Segui suas ordens e ela foi me dizendo o que eu deveria fazer até que chegássemos à cozinha. A mesa era enorme e de fato a festa deveria ter muitos convidados, mas o que me deixou horrorizada foi ver o tanto de mulheres sendo expostas como se fossem troféus, levando em cima do peito uma pequena placa com seus nomes.— Meu Deus… – Sussurrei para mim mesma, mas Juliana me olhou e sorriu meio que sem graça pela situação em que me viu.— Sirva e sempre sorria. Você é linda, simpática e acredito que se sairá bem aqui. Estarei na mesa cinco caso precise tirar alguma dúvida!— Se eu precisar de algo, irei até você, muito obrigada. Segui com a bandeja na mão, servindo as pessoas mais chiques que eu já vi na minha vida.— E aí, como está se sentindo no meio de tanta gente louca? – Esse homem que surgiu do nada não me parece nada estranho, teve a leve impressão que já o vi em algum lugar.— Desculpa, eu não quero atrapalhar, aceita? – Pus a bandeja à sua frente, tentando me sair o mais rápido que pudesse dali, mas foi tudo muito rápido.— Não precisa ter medo Louise. Prazer, Roberto, sou primo do Maurício! — Tá, e daí?— É um prazer, Louise. Agora com licença senhor, preciso trabalhar e como eu disse não quero incomodar e também não quero me prejudicar.— Prejudicar? Alguém já…? — Como assim já? Então estavam tramando algo para mim antes mesmo que eu estivesse aqui?— Não foi o que eu quis dizer, agora com licença. — Caminhei em passos largos e rápidos, sobressaindo de todos que me olhavam e fui até a cozinha. O batom que Emma fez questão que eu usasse estava me deixando com um pouco de autoestima, o blush, rímel e o restante de maquiagem que também estava em meu rosto de fato me deixou um pouco menos feia do que normalmente eu sou. Entrei no banheiro e me encarei por alguns segundos no espelho, soltei os cabelos para ver como eu ficaria e quase infartei quando Maurício entrou sem avisar, me deixando com a cara no chão e sem reação.— Está linda! — Sua voz alcançou meus ouvidos e a única coisa que eu fiz foi agradecer e nada mais.— Obrigada! — Tentei desviar do seu caminho, mas ele não estava me dando brechas e eu estava começando a ficar nervosa, já que era um banheiro feminino.— Louise eu… — Agradeci internamente quando entrou uma de suas "mercadorias". Passei por ele e fui para o mais longe possível. A maquiagem estava me deixando estranha, eu não estava sendo eu mesma e sei lá, esconder apenas uma parte do corpo é terrível.Duas semanas depois…Louise Os dias passaram até que meio rápidos demais, achei que iria ser desgastante e que eu iria acabar não suportando esta minha nova vida, mas Maria sempre me alegra de alguma forma. Ainda estou horrorizada com aquele lance de venda de mulheres, mas cada um faz o que lhe convém e se eu não estou no meio delas devo agradecer por isso! Maria não parava de falar no meu ouvido, ela tem muito assunto e do nada saí de um para outro. Maurício vinha me tratando "diferente" das demais. Às últimas noites ele me pedia para que levasse whisky até o seu quarto, acho que ele é feito de álcool, pois todas as noites ele bebe. Ultimamente Maurício vinha me cumprimentar com um boa noite ou um bom dia, isso é pra lá de estranho. — Você é mesmo cega se não vê como ele te olha. — Maria retrucava enquanto enxugava os pratos que eu estava enxaguando. — É sério Lu, ele te olha diferente. Não sei explicar! Mas, eu nunca o vi assim, ele está diferente e… — Você no mínimo está
— Filho, onde está Roberto que eu ainda não o vi hoje? — Deve estar por aí! Então a senhora deve ter um bom propósito para estar aqui hoje e não apenas querendo saber sobre a minha vida! — Discorreu de forma autoritária, o que me fez rir. — Você está certo, mas eu preciso que pare de implicar com o Norely, ultimamente ando recebendo muitos e-mails, reclamações dos desentendimentos de vocês. Como vejo seu silêncio está consentindo com os boatos, pude ver a desgraça com os meus próprios olhos, o que pretende fazer agora e o porquê de toda essa violência? — Tenho meus motivos, mãe. Agora tenho que sair, preciso refrescar minha mente antes que eu enlouqueça. — Tome cuidado, meu filho. Não faça nada que venha se arrepender depois e lembre-se: previna-se, pois estou muito nova ainda para ser avó. — A senhora nunca muda! Caso eu não retorne até às sete fique tranquila, eu ligarei e por favor, se ver Louise peça para que ela descanse. E a senhorita não vai se meter em enrascada por aí.
Mauricio— Por que mudou de ideia sobre deixar ela ir? — Roberto pergunta relembrando sobre Louise. — Emma apareceu e me fez mudar de ideia! Ela falou alguma coisa que não deveria falar? — Pergunto entre um suspiro e uma certa preocupação.— Achei que havia olhado para ela o suficiente para saber até a cor do seu batom. Mas se quer saber, ela não deu trabalho algum, além disso eu retiro o que disse sobre ela, a garota é legal. Se essa foi uma tentativa de me fazer ciúmes, confesso que ele falhou miseravelmente. Estava alinhando meu terno e senti falta de Maria, não a vi hoje ainda. — Fico feliz por você. Qual técnica usou pra isso? Se bem que você muda de ideia muito depressa. — Ele franziu o cenho e me olhou, perdendo o ânimo que tinha até pouco tempo atrás. — Qual é Maurício? A mina é gente boa e não sei porque destratar ela dessa forma. Eu já disse, eu retiro o que disse. — Não foi você mesmo que disse coisas horríveis sobre ela? Estou admirado com sua mudança de atitude tão
Louise De todos lugares que eu já fui, sem dúvida esse é um dos melhores. Bebida e música eram duas coisas que não faltavam. Assim que chegamos Maria me apresentou a todas elas e eu fiquei muito feliz, pois fui bem recebida por todas elas. Não recordo de ter vivido algo tão bom assim, na verdade eu estava me sentindo leve e feliz. — Maria, e se alguém vier atrás de nós duas? — Perguntei com uma certa preocupação, não muito por mim, mas por ela se dar mal e acabar se dando mal por isso, eu não a queria longe de mim. — Será que dá pra curtir a festa sem se preocupar, garota? Ninguém vem atrás da gente, sabe por quê? Porque não fazemos diferença alguma naquela casa, então aproveita e curte sua primeira noite de muitas aqui com a gente. — Todas levantaram seus copos e garrafas de bebidas e eu fiz o mesmo. — Um brinde a nossa nova amiga, que possamos curtir juntas muito mais vezes de hoje em diante. — A amiga de Matias gritou e todas brindamos. A primeira dose que eu tomei foi de te
MaurícioO dia já estava clareando quando Louise surgiu das árvores, sozinha e cambaleando pelo trajeto. Antes mesmo que eu pudesse falar algo ela olhou para cima e me viu na janela, apressou seus passos e correu para dentro do dormitório, o semblante dela mudou assim que me viu e pelo que eu percebi todo o álcool que ela ingeriu acabou de sair. Passaram quase vinte minutos e Maria não apareceu, então eu resolvi ir até lá ver o que rolou nessa saidinha e o porquê dela não ter fugido quando teve oportunidade. Não sei explicar o alívio que senti em vê-la. Hoje é dia de folga para todas, menos para Louise, deve ser por esse motivo que Maria não retornou. (...) As luzes do quarto estavam apagadas e ela não estava na cama. Entrei sem fazer barulho algum e pude ouvir barulho vindo do banheiro, a porta estava aberta e pude ver ela ajoelhada com as mãos apoiadas ao sanitário e seu rosto com uma aparência muito bêbada. — Onde você estava? — Ela enxugou o canto da boca e me olhou com um olh
Juliana Maurício me chamou muito cedo, não era nem seis da manhã quando ele entrou no meu apartamento, como entrou eu não faço ideia. Não imaginei que ele fosse mudar de ideia em relação aquela garota, não estou a julgando ou achando ela inferior às outras, mas há mulheres muito mais bonitas que ela, que caem matando em cima dele, tentando ter algum lance e ele nem dá a mínima. Pelo que ele me disse ela voltou de algum lugar a pouco tempo, e sozinha. — Está preocupado com ela ou o quê? Afinal, o que você quer que eu faça Maurício? Já te disse que não devemos misturar vida pessoal com negócio, aliás, você mesmo disse isso. — Quero que você me ajude com isso. Eu não quero que ela se junte às outras novamente, retire ela de sua lista no próprio leilão. Não estou sabemos lidar quando ela está muito perto. — Não está sabendo como exatamente? Um homem não pode se apaixonar apenas pelo que vê? A garota tem suas deformidades e tals… mas ela não deixa de ser bonita e principalmente educad
Laerte A propostas de Norely confesso que é muito tentadora, mas eu não irei tentar convencer ao Maurício apenas para dar Louise de bandeja a Norely depois, todo mundo sabe que ele e Parkinson sempre tiveram uma certa rivalidade. Não vou me meter no meio disso. James sempre foi o filho bastardo de Norely, mas essa fissura dele pela garota me despertou um certo interesse, de fato não é apenas pela rivalidade que ele tenha com Parkinson. Vejo desespero em seus olhos, ele teme que alguém descubra alguma coisa sobre James e agora que eu me interessei pelo assunto irei até o fim para saber do que se trata e porque tanto interesse na garota. Estava na sala do meu escritório quando Vanusa entra com o telefone na mão. — Senhor, é Charlie de novo. Ele insiste que quer falar com o senhor ou não irá parar de ligar. — Peguei o telefone e o trouxe até meu ouvido. Ligação Ativa— Propostas indecentes seu babaca? — Ouvi seu riso cínico do outro lado da linha.— Desta vez não. Fiquei sabendo que
Maurício— Mãe, pode me dizer o que a senhora está fazendo aqui? — Emma me olhou e sorriu, ela sempre faz isso quando quer me dizer alguma coisa e sabe que eu irei discordar. Com licença! — Louise pediu e saiu andando em passos largos. — Ôh! Não se preocupe, amanhã eu estarei indo para casa, mas antes quero te pedir uma coisa. — Eu não gosto quando ela também fala nesse tom, soa muito convincente e eu não consigo dizer "não" para ela. — A senhora sabe que me tem nas mãos, mas por favor mãe, não abuse! — Eu quero levar Louise comigo. Meus desfiles de moda estão indo bem e como eu represento a diversidade ela se encaixa muito bem na categoria de mulher foda. — O que a senhora tem a me oferecer? — Sorri de lado enquanto ela se ajeitava na cadeira para preparar um breve discurso cujo qual eu irei reprovar seja lá o que for. — Uma boa vida para essa garota, Maurício. Eu fui uma mulher muito sofrida e você mais que ninguém sabe o quanto eu sofri para chegar onde eu cheguei, você sabe