~VITOR~A sala de espera do hospital estava preenchida com dor e sofrimento. Cada segundo se arrastava como uma eternidade. Sentei-me numa cadeira dura e desconfortável, tentando manter a calma enquanto aguardava notícias de Luna e Lucas. O som dos meus próprios pensamentos era ensurdecedor, uma mistura de medo e esperança.Cada minuto que passava era uma tortura. As memórias de Luna e eu juntos invadiam minha mente, desde o nosso primeiro encontro até os momentos mais recentes de felicidade e amor. A imagem de Clara, nossa pequena menina, brincando feliz em casa, misturava-se com a visão do futuro incerto. Eu precisava ser forte, por ela, por Luna e por Lucas.A sala de espera estava quase vazia, apenas algumas pessoas sentadas em silêncio, provavelmente passando por suas próprias provações. Olhei ao redor, tentando encontrar algum consolo, mas tudo parecia frio e distante. Fechei os olhos por um momento, tentando acalmar a mente turbulenta. Era quase impossível.O médico finalmente
O frio do ambiente estéril do hospital me envolveu assim que fui levada para a sala de cirurgia. As luzes brilhantes do teto ofuscavam minha visão, projetando halos cintilantes que me deixavam momentaneamente desorientada. O som constante e ritmado dos monitores de batimentos cardíacos ecoava pelos meus ouvidos, amplificando a sensação de urgência que permeava o ar. Eu só conseguia pensar em Vitor segurando minha mão até o último momento permitido, seus dedos apertando os meus com uma mistura de preocupação e determinação. O medo que ele tentava disfarçar espelhava o meu, criando uma conexão silenciosa e intensa entre nós.— Vamos cuidar de você, Luna — disse uma das enfermeiras, tentando me tranquilizar enquanto ajustava os aparelhos ao meu redor. Sua voz era suave e reconfortante, mas não conseguia dissipar a sombra de pânico que pairava sobre mim.Eu apenas assenti, tentando manter a calma. O medo pela minha vida e pela de Lucas era avassalador, uma presença opressora que se instal
O topo da Torre Eiffel brilhava sob as luzes de Paris, uma visão deslumbrante que parecia saída de um daqueles contos de fadas que Clara ainda insistia que os pais lessem para ela antes de dormir. A cidade se estendia abaixo, e o céu noturno estava pontilhado de estrelas, criando o cenário perfeito para um momento tão especial. Vitor e Luna, cercados por amigos e familiares, estavam prestes a renovar seus votos de casamento, simbolizando um novo começo em suas vidas.Luna, usando um deslumbrante vestido branco, segurava a mão de Vitor com firmeza, seu coração batendo acelerado de emoção. Pouco mais de um ano havia se passado desde o dia em que Lucas nascera, e aquele dia marcava não apenas a renovação dos votos, mas também a celebração de um amor que havia superado tantos desafios.Clara, agora com sete anos, era a daminha de honra. Ela estava radiante em seu vestidinho florido, segurando um pequeno buquê de flores. Lucas, nos braços de Lorena, observava tudo com seus grandes olhos cur
Com o coração ainda agitado pelas contrações que parecem ecoar mesmo após o parto, volto à consciência na sala de cirurgia. Pisco confusa algumas vezes, tentando enxergar alguma coisa. A luz branca forte, vinda do teto sala fria, era quase cegante. Um silêncio pesado paira no ar, quebrado apenas pelo eco distante do choro de um bebê. Meu bebê. Minha filha. Meus olhos turvos se esforçam para focar, e meu corpo ainda trêmulo parece não querer obedecer aos meus comandos.– Deixe–me vê-la... – acho que digo, minha voz ainda completamente atordoada de dor.As mãos da equipe médica continuam a trabalhar ao meu redor, mas há uma tensão silenciosa no ar, uma sombra que paira sobre nós. Meus olhos buscam freneticamente o rosto da obstetra em busca de alguma resposta, mas seu olhar evita o meu, uma hesitação passageira que diz mais do que mil palavras.Então, as palavras que eu temia ouvir caem como uma sentença sobre mim.– Luna, sinto muito. Sua filha... ela não resistiu – a voz da obstetra s
Seis anos. Eu tinha passado seis anos comendo o pão que o diabo amassou, mas eu cheguei naquele momento: o dia de dar o primeiro passo em direção a minha vingança e recuperar minha filha.Quando sai do hospital, recebendo um atestado de óbito e tendo visto o corpinho morto de uma criança que em nada se parecia comigo, tentei voltar para a casa dos meus pais. Mas não fui bem recebida. Não eu, a garota que tinha machado a reputação da família ao perder a virgindade antes do casamento com um homem qualquer, engravidar e decidir ter aquela criança mesmo que o pai tenha me abandonado no instante em que soube da gravidez.– Mas... Você tem certeza de que é meu? – Lembro-me dele perguntar.– Como pode perguntar isso? – Respondi, indignada. – Você sabe que foi o primeiro!– Sei que fui o primeiro, mas não posso ter certeza de que fui o único.Lembro-me de ter virado a mão na cara dele. E foi a última vez que o vi.Então, quando tentei voltar para casa naquele dia, a única resposta que tive fo
– Você? – Joyce tenta conter um risinho. – É competente de mais para esse emprego.– Competente demais para ser secretária e competente de menos para a vaga na minha área? – Franzo a testa. Resolvo ignorar Joyce e falar diretamente com Vitor Oeri. – Quero entrar para o grupo Oeri. Sempre foi meu sonho. Se tiver que começar de baixo e aprender as coisas de dentro, não tenho problemas com isso.– Se conseguir acessar o computador da Camilla e imprimir o arquivo que preciso, está contratada.– Eu consigo – garanto.Apesar de que... invadir o computador de outra pessoa não era exatamente a função de uma secretária. Mas eu estava com sorte. Um dos meus melhores amigos da faculdade era hacker e tinha me ensinado alguns truques. Eu não acreditava que a senha dela fosse ser algo muito difícil de quebrar. Não uma senha de um computador de trabalho.– Ótimo. Venha comigo.Vitor Oeri era tão intimidante quanto diziam todas as milhares de reportagens que eu tinha lido sobre ele. Quando ele passav
O problema é que ninguém me treinou. Assim como o emprego na área de engenharia, provavelmente era esperado de que a secretária do senhor Oeri tivesse qualquer experiência além de conseguir resgatar um arquivo no computador e imprimi-lo. Mas eu não tinha. Não sabia nada sobre como ser uma secretária eficiente.Por sorte, ou não, Vitor Oeri gostava muito, muito de mandar. E não gostava quase nada de repetir suas ordens. Então, não demorei a aprender que, todo dia pela manhã, Victor gostava de encontrar seu café esperando por ele junto com a cópia do seu jornal favorito (porque sim, ele ainda lia jornal impresso). Depois disso, basicamente eu passava o dia atendendo telefone, agendando suas reuniões e compromissos, e revisando e imprimindo papeladas.– Sai logo daí, pirralha! Até parece que nunca entrou em um elevador.Meu coração pula uma batida quando ouço a risada de uma criança. Clara Oeri entra correndo pela sala de espera e se joga em um dos sofás de couro, como se estivesse acost
A coisa toda vira um caos depois daquilo. Vitor e Marina gritando um com o outro, Clara chorando, o telefone tocando insistentemente... Eu só pego Clara pela mão e a puxo para dentro da sala de Vitor, tentando poupá-la ao máximo.Depois de alguns minutos, tudo fica silencioso. Abro a porta lentamente para verificar o lado de fora... eles não estavam mais lá.– Tudo bem, já passou – digo para ela. – Gosta de desenhar? – Ela concorda com a cabeça.Coloco Clara sentada na cadeira de Vitor e abro as gavetas e busca de papeis e algumas canetinhas. Acabo me deparando com o motivo de todo o estresse por parte de Marina. Papéis de divórcio.“– Eu não vou assinar. Não vou.” – Lembro-me dela dizendo.De fato, só tinha a assinatura de Vitor.– A curiosidade matou um gato, senhorita Castilho... – me sobressalto, com Vitor parado na porta, me observando. – Sendo tão gata, deveria tomar mais cuidado com o que espiona.Sinto minhas bochechas corarem. Ele consegue fazer com que sua frase soe tão amea